Interlúdio escrita por Djin


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

N.A.: Once Upon A Time não me pertence. Obviamente. Se pertencesse, um raio teria caído na cabeça do August e ele teria ardido em chamas lenta e dolorosamente até virar só cinzas e carvão. Muito merecidamente. As always, todos os créditos aos senhores Edward Kitsis e Adam Horowitz e à ABC.
Um alô pro pessoal do grupo RumbelleBR do facebook. xD
Gratidão inenarrável à minha beta, Mellie. You rock, lady! o/



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A adolescência de Isabelle tinha sido muito tranquila. Ela nunca tinha gostado muito de agitação e muitas vezes preferia a companhia de um livro às superficialidades e farras da maioria dos adolescentes. Ela trocaria facilmente qualquer festa por uma boa conversa ou uma leitura interessante. Sendo assim, ela não ficou muito confortável quando Ruby apareceu para ajudar na mudança para a nova casa e rapidamente reavivou a ideia de uma festa de inauguração.

        Havia também uma sensata preocupação com a integridade do patrimônio do Sr. Gold. Isabelle bem podia imaginar o tipo de destruição que uma festa organizada por Ruby poderia causar no lugar. Uma casinha tão adorável,  pintada de amarelo com portas de madeira. Ela tinha amado o lugar: uma casa de tamanho razoável (até bem grande, se ela considerasse o aluguel muito pequeno que estava sendo cobrado), já mobiliada, localizada perto do Granny’s e relativamente bem conservada, ainda mais depois de algumas reformas que o Sr. Gold fizera questão de realizar (embora Isabelle nem tivesse achado necessário). Ele até mesmo lhe dera um presente de boas-vindas, um lindo relógio de parede de madeira, uma das lindas peças de sua loja.

        Emma havia trazido os poucos pertences de Isabelle no fusca amarelo, e rapidamente tudo foi organizado na nova casa. Só faltava resolver a questão da festa. Após muitos protestos, a ideia foi alterada para uma comemoração mais segura: uma saída noturna para um dos poucos barzinhos da cidade.

        Emma foi arrastada na ideia, sob a alegação de Ruby de que ela não tinha ido à última ‘noite das garotas’, e ainda ficou responsável por convencer Mary Margaret. Isabelle ficou aliviada e até um pouco empolgada com a ideia. Depois de tantos anos presa, a chance de sair para se divertir era atrativa, e seria bom comemorar a casa nova (e a vida nova) com as amigas que tanto a tinham ajudado.

        Mas a noite definitivamente não estava indo como ela havia imaginado. Sentada em uma pequena mesa,  ao lado de uma entediada Emma e uma distraída Mary Margaret, Isabelle pensou que só mesmo Ruby parecia estar verdadeiramente se divertindo, trocando sorrisos insinuantes com uns homens da mesa em frente. A ‘noite das garotas’ era uma decepção.

        O lugar era pequeno, mas agradável, com uma pista de dança em ambiente separado para os interessados. A companhia é que não estava ajudando muito. Emma parecia fazer um esforço consciente para mandar a mensagem de ‘cai fora’ com semblante para cada homem que cruzasse seu olhar. Mary Margaret estava com o pensamento longe, e Isabelle bem podia imaginar onde. Ou em quem.

Depois de dois coquetéis que rapidamente a deixaram muito tonta, Isabelle já estava começando a pensar se não seria hora de ir embora, quando o garçon chegou com dois drinks que não haviam sido pedidos, para ela e Ruby, cortesia ‘dos cavalheiros da outra mesa’.

        “Uau, parece que alguém está chamando a atenção hoje a noite.” Ruby riu, diante da expressão de surpresa de Isabelle. Na mesa em frente, um homem loiro lhe sorriu e elevou o copo, como em um brinde. Isabelle desviou o olhar, sem jeito. Mais sorte teve o que pagara a bebida para Ruby, com quem ela trocava olhares sugestivos.

        “Quem é ele?” Emma perguntou, avaliando o sujeito com um olhar crítico.

        “Não faço ideia.”

        “Eu conheço. Ele é meu dentista, Richard Brody.”  Mary Margaret identificou, com um rápido olhar.

        “Dentista, é? Bom partido.” Ruby gracejou.

        “Eu não me importo com isso.”

        “Está certíssima. Há idiotas em todas as profissões.”  Mary Margaret lançou um olhar afiado para o balcão, onde Dr. Whale conversava muito intimamente com uma mulher.

        “Ah, mas é um gato também!”

        “É... Talvez...” Isabelle franziu a testa, dando mais uma olhada hesitante para a outra mesa. Ele parecia, de fato, muito bonito, mesmo à pouca luz do ambiente. Cabelos loiros um pouco encaracolados, levemente musculoso, e dentes muito brancos. Bom, era um dentista, afinal de contas.

        “Talvez? Você está brincando.” Ruby pareceu avaliar criticamente o homem, com um olhar afiado, antes de voltar um olhar divertido para Isabelle. “Não vai me dizer que isso tem a ver com seu ‘namorado’.”

        “Namorado?!” Emma perguntou, sua expressão de supresa um espelho da expressão de Mary Margret, e Isabelle sentiu seu rosto quente de rubor.

        “O Sr. Gold. O mais novo cliente assíduo do Granny’s.”

        “Ruby!” Isabelle franziu a testa para o sorriso despreocupado da garota. A expressão de Emma passou de surpresa para descrença e uma pontada de quase horror, deixando Isabelle muito desconfortável.

“Isso não é sério. É? Isabelle, eu não consigo colocar em palavras o quanto é uma má ideia se aproximar do Sr. Gold!”

Isabelle se sentiu levemente chateada pelo tom de Emma.  

“Que bobagem! Vocês têm uma ideia muito errada dele. Ele é um homem muito simpático. De qualquer forma, era só uma brincadeira da Ruby.”

Emma lhe lançou um olhar desconfiado e Isabelle sentiu seu rosto ficar vermelho de novo, embora não tivesse certeza do motivo. Mary Margaret colocou a mão no ombro de Emma, e falou em tom conciliatório: “Não seja chata, Emma. Ela já disse que era brincadeira. E você conhece o Sr. Gold, ele não se envolve de verdade com ninguém.”

Emma relaxou visivelmente. Por algum motivo, o fato de elas acharem que essa possibilidade era tão improvável incomodou ainda mais Isabelle. Ela se sentia muito estranha quanto àquela conversa, e não sabia exatamente porque. Talvez tivesse bebido um pouco demais, afinal de contas.

“Calma garotas, era só uma brincadeira.” Ruby riu, despreocupadamente ignorando a tensão da conversa.  “Isabelle é uma garota livre e desimpedida. Não é mesmo, Isabelle?”

“Você sabe que sim, Ruby.” Isabelle respondeu, em um tom ainda chateado.

“Que bom, porque os garotos estão vindo aí.” Ruby lhe deu um sorriso largo, enquanto os homens da outra mesa se aproximavam para convidarem as duas para uma dança. Isabelle já ia abrir a boca para recusar, quando sua amiga acrescentou, rapidamente: “É só uma dança, Isabelle! Só pra se divertir! Não seja chata. Você é livre, não é?”

Ruby se levantou e puxou de leve Belle pela mão. Com um suspiro e um olhar hesitante Isabelle seguiu para a pista de dança com uma animada Ruby, o acompanhante dela e um dentista com dentes brancos muito sorridentes.

-*-*-*-

Isabelle teve que segurar um gemido de frustração quando viu Richard aparecer à porta do Granny’s no dia seguinte. Já não bastava ter acordado tarde, se atrasado para o trabalho (belo jeito de impressionar a ‘nova’ chefe, agora que a avó de Ruby tinha voltado à lanchonete) e ter passado a manhã com uma dor de cabeça chata martelando entre seus olhos...

Não que ela tivesse bebido muito na noite anterior. Mas, tendo tido pouco contato com bebidas durante a juventude, ela não era muito resistente ao álcool. Passar anos dopada por drogas fortíssimas não era exatamente um preparatório para aguentar bem um punhado de drinks.

Mas ela estivera sóbria o suficiente para se arrepender de ter deixado Ruby convencê-la assim que saiu da mesa. Ela não se sentia a vontade na companhia de um desconhecido e bastaram cinco minutos na pista de dança para dar uma desculpa qualquer e voltar para a mesa. Infelizmente, o fato de ela ter ido com ele à pista de dança, e de ele conhecer também Mary Margaret, aparentemente fez Richard achar que era mais do que natural que ele lhe acompanhasse de volta, sentando-se no lugar que Ruby deixara vago.

Isabelle tentara ser educada e dar atenção a ele, mas a verdade é que rapidamente achou sua conversa enfadonha e tediosa. Ele parecia capaz de falar por horas, não precisando de mais incentivo do que um aceno de cabeça esporádico da garota. Ele também parecia especialmente fascinado por carros, o que rendeu quinze minutos de um monólogo torturante, para seu desespero.

Foi com imenso alívio que ela recebeu o socorro de Emma, que comentou como já estava ficando tarde e elas deveriam ir embora. Isabelle rapidamente se despediu de Richard. Ela tinha imaginado que, com a saída apressada, dispensando seu convite de carona e ignorando a sugestão de que deveriam se encontrar novamente, aquele devia ter sido o fim de sua interação com o dentista. Até que ele resolveu aparecer no Granny’s...

Isabelle observou, meio chateada, enquanto ele se aproximava do balcão onde ela estava. Ruby não ajudava nada  a melhorar seu humor, com sua atuação exagerada, dando olhares significativos para ela e se abanando dramaticamente com o cardápio, do outro lado do estabelecimento, fora da vista de Richard. Pior ainda era o fato de o Sr. Gold estar sentado a poucos metros de distância. De repente Isabelle sentiu um nó no estômago, receando que ele escutasse o quer que Richard tivesse a dizer. A sua dor de cabeça pareceu ficar ainda pior.

“Bom dia, Isabelle!” Ele lhe abriu seu sorriso irritantemente brilhante.

“Bom dia, Richard... Quer um cardápio?”

“Ahn... Não, não. Só estava passando por aqui, pensei em dar um oi.”

“Hm. Oi.”

“Ontem a noite foi ótima. Você dança muito bem!”

Isabelle acenou com a cabeça, olhando por cima do ombro dele, em direção à mesa onde o Sr. Gold estava, mas ele continuou tomando seu café-da-manhã, sem nenhuma indicação que estivesse prestando atenção à conversa do balcão. Não que Isabelle tivesse qualquer motivo para acreditar que aquela conversa iria interessá-lo, de qualquer forma.

“Estava pensando que a gente devia repetir a dose qualquer dia.”

“Acho que já tive o suficiente de dança por enquanto.” Isabelle pensou consigo mesma que, com Richard, ela já tivera dança o suficiente por uma vida inteira. Ela buscava em sua mente a forma mais rápida de se livrar da ‘visita’ indesejável.      

“Talvez um jantar, então! Conversar um pouco, adorei o papo ontem.”

Isabelle teve que se controlar para não revirar os olhos. Aparentemente, o tipo de conversa que ele gostava era de intermináveis monólogos.

“Olha, eu estou em horário de trabalho. Então, se não for pedir nada...”

“Ah, claro, claro. É melhor eu ir indo pro trabalho, também.” Ele pareceu sem jeito pela dispensa abrupta, e Isabelle chegou a ficar com pena por um instante, mas só até ele voltar a mostrar um confiante sorriso e acrescentar, antes de sair: “A gente se fala outro dia, para combinar alguma coisa.”

Isabelle lançou outro olhar para a mesa do Sr. Gold e soltou um longo suspiro. Que começo de dia terrível.

-*-*-*-

Isabelle olhou novamente para o relógio na parede do Granny’s, enquanto via os minutos correrem rapidamente para o fim da tarde. Logo seria hora de encerrar o expediente do dia – o Granny’s só abria à noite aos fins-de-semana. Não que isso importasse muito, ele nunca vinha a noite mesmo. Ela viu os últimos clientes saírem e Ruby colocar a placa de ‘fechado’ na porta, e sentou-se ao balcão, desanimada.

“Algum problema?” Ruby perguntou, parando ao seu lado. Isabelle olhou para ela, espantada, arrancada de seus pensamentos.

“Hm?”

“Você passou o dia olhando do relógio para a porta. Eu já estava ficando tonta. Qual é o problema?”

“Ah, não. Problema nenhum. Problema nenhum mesmo.”

Ruby a observou em silêncio por um instante, e comentou, como quem não quer nada: “Já faz uns dias que o Sr. Gold não aparece aqui.”

Isabelle pareceu sem jeito pela garota saber exatamente o que se passava em sua mente. É claro, o Sr. Gold não ia todo dia ao Granny’s; mas, desde aquela primeira vez em que ela o vira chegar para o café-da-manhã, para espanto de Ruby, ele nunca tinha passado quatro dias seguidos sem aparecer. Isabelle se vira de repente muito ansiosa, vigiando a porta da frente por todo o dia.

“Ele não veio aqui desde o dia em que o Richard apareceu...”

“E você acha que esse é o motivo de ele não ter mais vindo?” Ponderou Ruby, usando o tom mais sério que Isabelle já a vira adotar em uma conversa.

“Oh, não! Claro que não! Digo, eu nem sei se ele ouviu a nossa conversa. E não teria por que ele se importar com isso...”

“Mas você se importa.”

Isabelle se ruborizou de leve e deu de ombros. “Só não queria que ele tivesse uma ideia errado sobre o Richard. Eu não quero nada com ele. Apesar dos seus esforços, Ruby.”

As duas garotas riram de leve. A garçonete pareceu meio sem jeito, por um instante. “Desculpe ter te empurrado para dançar com ele naquela noite. Eu só queria que você se divertisse mais! A noite não estava sendo lá muito proveitosa... Achei que te faria bem dançar um pouco.”

“Eu sei, Ruby. Você é uma boa amiga.”

“Então... você está mesmo interessada no Sr. Gold?”

Isabelle abriu a boca para dizer ‘não’, mas antes que a palavra chegasse aos seus lábios, ela percebeu que não era bem verdade.

“Eu não sei.” Ela admitiu, quietamente.

“Que bobagem! É claro que você sabe. Você está interessada no Richard?”

“Oh, Deus, não!”

“Viu? É uma pergunta fácil de responder. Então, você está interessada no Sr. Gold ou não?”

“Não sei... Eu nunca me apaixonei antes...”

“WOW, calmaí.” Ruby arregalou os olhos para Isabelle, espantada. “Quem falou de se apaixonar?! Eu perguntei se você estava interessada.”

Isabelle sentiu seu rosto queimar de rubor enquanto enfrentava o olhar pasmo de Ruby. “Uau... eu pensei que vocês só tinham se falado algumas vezes.”

“Eu sei... Mas ele sempre foi tão... Não sei, ele sempre foi tão gentil. E educado. E divertido. E ele é tão inteligente, e charmoso...”

Ruby olhou para Isabelle como se ela tivesse criado uma segunda cabeça ou fosse algum tipo de etê, mas ela preferiu ignorar.

“Eu me sinto a vontade com ele. Além disso, ele me ajudou com a casa. Cuidou de tudo, foi muito atencioso. E ainda tem o caso da biblioteca... Tenho quase certeza que ele teve alguma influência na abertura da biblioteca, e ele sabia o quanto eu queria isso. E ele me convidou para tomar uma xícara de chá qualquer dia. Mais ou menos convidou.”

“Como em um encontro?!”

“Uma visita.” Isabelle corrigiu, de leve.

“Uau. Parece que ele está interessado.”

“Você acha?” Isabelle deixou uma ponta de ansiedade escapar em suas palavras. Ruby ficou pensativa por um instante, e deu um pequeno sorriso.

“E eu nem sabia que ele era capaz disso.”

“Ruby!”  Isabelle lhe deu um olhar levemente chateado, mas a garota só riu.

“Olhe, Isabelle, eu já disse que tenho o pé atrás com ele... Acho que é minha obrigação deixar isso claro. ” Isabelle abriu a boca para protestar, mas Ruby levantou as mãos defensivamente. “Dito isso, acho que você deve fazer o que achar melhor. Quem sou eu para julgar alguma coisa. Você que tem que saber o que é melhor para você.”

“Obrigada, Ruby.” Isabelle deu um sorriso sincero para a amiga.

“Além do mais, minha avó só te conhece há pouco tempo e já acha que você tem bem mais juízo que eu, mesmo.” Elas riram, enquanto o clima ficava mais leve no recinto.

“Só me prometa que vai me avisar quando for contar a Emma. Eu preciso ver a cara dela.”

“Uh... Nem me fale.”

“Então, o que é que você pretende fazer agora?”

Isabelle ficou em silêncio por um minuto, e respondeu, resoluta: “Acho que já passou da hora de eu pagar a xícara de chá que estou devendo.”


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Notas finais do capítulo

N.A.2: Não sou muito fã de O.C.s... Mas não pretendo realmente desenvolver o personagem Richard. Ele foi só um trampolim, um mecanismo para alavancar as situações que eu tinha em mente. Não vou me aprofundar nele.
Fiquei imaginando por algum tempo qual deveria ser a contraparte dele em FTL. Mas, sinceramente, têm tantos habitantes aleatórios do velho mundo (guardas, camponeses, ferreiros) que não vi muita necessidade. Ele pode ser um súdito aleatório de um dos muitos reinos de FTL. Mas acho mais divertido pensar nele como a fada do dente. haha



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