Interlúdio escrita por Djin


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

N.A.: Once Upon A Time não me pertence. Obviamente. Se pertencesse, o Giancarlo Esposito (que interpreta o Sidney Glass) teria tido mais destaque. Ele é um ator fantástico e arrasou como Gus Fring na FABULOSA série Breaking Bad. E os créditos, como de costume, aos senhores Edward Kitsis e Adam Horowitz e à ABC.
Meus agradecimentos à minha beta, Mellie, que beta super rápido msm durante o carnaval. Seu sobrenome é presteza! xDDDD



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Havia algo de errado, Isabelle tinha certeza. Ela só não sabia o que. O Sr. Gold estivera estranho durante todo o dia, parecendo inquieto e preocupado. Questioná-lo sobre o que estava acontecendo não levara a nada além de um dar de ombros e uma explicação vaga sobre ‘preocupações com os negócios’.

Que tipo de negócios o estaria consumindo assim, Isabelle não fazia ideia. Ele não parecia disposto a mais explicações, e ela sentiu um leve embrulhar no estômago ao pensar se ele estaria envolvido em mais um de seus esquemas escusos. Ela preferia não pensar muito sobre o assunto, mas ela sabia que ele tinha um passado que não se restringia ao que seria considerado absolutamente legal.

Isabelle preferia se concentrar em quem ele era agora. Quem ele era para ela. Ele estava sendo uma pessoa melhor. O que ele tinha feito de condenável desde que ela o conhecera? Bom, apenas um rápido episódio de agressão física, mas ela não podia dizer que o homem não merecera. Ainda assim, ao passar pela frente da loja ao fim da tarde e encontrá-la fechada, Isabelle não pôde evitar que um mau pressentimento passasse pela sua pele como um arrepio.

Por mais que sua mente vagasse entre mil possibilidades de onde ele poderia estar para fechar a loja àquele horário, ela nunca poderia ter imaginado encontrá-lo saindo do escritório do Dr. Hopper.

“Gold?!”

“Belle.” Ele balançou de leve a cabeça, como se arrancado de seus pensamentos, e pareceu espantado. “O que você está fazendo aqui?”

“Eu vim para minha consulta semanal com o Dr. Hopper.” Ela acenou de leve para o médico, que estava parado à porta do consultório.

“Ah, claro. Bem, eu já estava saindo.” Ele respondeu, em tom de despedida, já se afastando em alguns passos.

“Espere! Por que você estava aqui? Algum problema?”

“Ah, não.” Ele voltou-se para ela, ainda parecendo distraído por outros pensamentos. “Só resolvendo alguns problemas.” Ele acenou vagamente com a mão, não parecendo disposto a maiores explicações.

“Bem, Srta. French, não gostaria de entrar?” Archie perguntou, com um sorriso simpático.

“Hm, bem...” O que ela queria mesmo era sair com o Sr. Gold e perguntar exatamente o que estava acontecendo, mas o médico dera a deixa ideal para a saída dele.

“Boa sessão, Belle. Nos falamos depois.”


Isabelle assistiu ele sair, enquanto o Dr. Hopper segurava a porta aberta para que ela entrasse e sentiu, mais do que nunca, que havia alguma coisa errada.

–*-*-*-

“Então, hm, o que o Sr. Gold queria aqui?” Isabelle tentou soar casual, tomando sua posição habitual no sofá do consultório.

“Desculpe, Isabelle, mas você sabe que eu não posso falar sobre essas coisas.”

“Ah, claro. Desculpe.” Isabelle sentiu suas bochechas queimarem em leve rubor, envergonhada pela pergunta, mas a verdade é que a própria resposta evasiva do Dr. Hopper já esclarecia algumas coisas. Se o Sr. Gold tivesse vindo pelo aluguel, ou algum outro negócio qualquer, ele não teria respondido como se protegesse algum segredo pela relação médico-paciente.

“Você pode perguntar para ele depois.”

Isabelle riu. “Claro.”

“Você parece incomodada de tê-lo encontrado aqui.”

“Não, não. Ele precisava falar com alguém, hm?”

“O que isso quer dizer?”

Ela deu de ombros. “Ele não tinha muito a dizer para mim quando eu perguntei se tinha alguma coisa errada.”

Ele olhou-a em silêncio por alguns segundos. “Então o que a incomoda não é que haja alguma coisa errada? Ou que ele tenha vindo aqui? Mas apenas que ele não tenha falado com você?”

Isabelle remexeu-se no sofá, sentindo-se desconfortável. “Eu só queria que ele se abrisse mais comigo. Eu nunca virei as costas, por nada que ele tenha feito...”

“Então você acha que ele fez alguma coisa?”

Isabelle olhou para o Dr. Hopper, um pouco surpresa. “Bom, eu só pensei...” A frase morreu no meio.

“Isabelle, eu quero que pense bem no que estamos conversando. É importante, se você pretende manter uma relação saudável. O quanto te incomoda as coisas que ele possa ter feito no passado?”

Ela franziu o cenho, parecendo chateada. “Ele é uma boa pessoa.”

“Sim, claro, não é disso que eu estou falando. Isabelle, é muito bom que você esteja ciente que o Sr. Gold não é perfeito. Ninguém é, é claro. Muitas vezes as pessoas tendem a idealizar a pessoa amada, e ignoram muitas coisas. E, quando essa imagem é quebrada, e percebemos que tem muita história por trás de cada pessoa, pode ser chocante.”

“Eu sei que há muito por trás do Sr. Gold.” Isabelle falou, muito seriamente. “Mas isso não importa. Eu confio nele, eu vejo quem ele é. Eu só queria que ele se abrisse para mim. Nada que ele me contasse iria mudar alguma coisa.”

“Nada, Isabelle?” O Dr. Hopper olhou-a intensamente, com aquele jeito que ele tinha de incentivá-la a refletir de verdade sobre uma questão.

E Isabelle refletiu. Sobre incêndios e agressões com bengalas. Sobre a desconfiança de Emma e, basicamente, de toda a cidade. Sobre disputas de poder e rusgas com a prefeita. Sobre tudo que ela já tinha ouvido falar, e sobre o que só podia especular.

Ela encarou o médico, um olhar decidido. Ela sabia quem ele era.

“Nada.”

–*-*-*-

Mais um dia dia estranho, quase sem a oportunidade de trocar duas palavras rápidas com o Sr. Gold, e a loja fechada durante a tarde. Isabelle pensou que quaisquer questões que ocupassem sua mente antes, sobre a velocidade de ‘evolução’ da relação deles, pareciam agora bastante insignificantes. Claro, ela sempre podia contar com Ruby para retomar os assuntos que ela achasse mais divertidos.

“Aaah, eu tenho um presentinho para você na bolsa!” A garçonete anunciou, com um largo sorriso, virando-se para o banco traseiro do carro e segurando o volante de forma instável com uma só mão.

“Deixa que eu pego!” Isabelle apressou-se em pegar a bolsa, assegurando-se que Ruby mantivesse os olhos à frente enquanto dirigia. Por mais que ela adorasse fazer as entregas de tortas, bolos e lasanhas do Granny’s com a amiga, aqueles divertidos passeios de carro pela cidade já tinham feito com que ela temesse pela sua vida algumas vezes, devido à tendência da garota a se distrair facilmente.

“Pode abrir.” Ruby anunciou, com um brilho travesso e ansioso no olhar. Isabelle a encarou, desconfiada, imaginando o que a amiga teria armado dessa vez. Ela abriu o zíper e tirou da bolsa uma pequena sacola de plástico com o símbolo da farmácia do Sr. Clark. Abrindo-a, Isabelle encontrou uma única cartela de remédio. Ela lançou um olhar indagador para Ruby.

“Para ajudar no seu ‘probleminha’ com o Sr. Gold.” Pareceu a Isabelle que Ruby estava tentando com muito afinco segurar uma gargalhada, seu tom artificialmente sério. Ela olhou intrigada para a cartela de remédios, notando os pequenos comprimidos azuis em forma de losango. Ela estava prestes a abrir a boca para perguntar o que era aquilo, quando ela entendeu. O rosto de Isabelle se coloriu em um vermelho muito vivo.

“Ruby!!! O que... Como... O que você...” Ela gaguejou, arrancando uma boa risada da amiga. “O que você espera que eu faça com isso?!”

“Ah, Isabelle, não me diga que você não sabe!”

“Esse tipo de coisa não é necessária, eu garanto!” Isabelle tentou lhe lançar um olhar zangado, mas era meio difícil manter a compostura enquanto suas bochechas queimavam como brasa, e Ruby apenas riu ainda mais.

“Oh, não leve a mal, Isabelle! Tem muito jovenzinho por aí que usa.”

“Bom... bom, pois não deviam! Esse... hã... medicamento tem um uso muito específico, e garanto que não é necessário no nosso caso em particular.”

Isabelle guardou a sacola na bolsa e jogou-a de volta no banco de trás do carro dramaticamente.

“Você que disse que, se eu tivesse mais alguma ideia, eu te falasse.” Ruby colocou uma máscara de inocência por um instante, e Isabelle balançou a cabeça, rindo, e se perguntou de onde a amiga tiraria aquele tipo de coisa.

“Tá certo, Ruby. Obrigada, eu acho.”

“Se mudar de ideia, é só me avisar.”

“Ah, não. Acho melhor você guardar, caso algum de seus próximos namorados precise.”

A única resposta da garota foi uma leve risada. Isabelle voltou sua atenção para a janela, com um meio sorriso, e ficou observando as árvores passarem enquanto elas se afastavam mais e mais do centro da cidade para fazer a entrega de uma torta já nos limites de Storybrooke. De certa forma, era bom contar com a amiga para tirar sua cabeça das preocupações, ainda que o preço fosse aturar algumas troças às suas custas.

Sua mente vagou despreocupadamente por alguns minutos, sem se deter em nenhum pensamento em particular, até que Ruby lhe chamou a atenção: “Ei, aquele não é o carro do Sr. Gold?” Isabelle virou o rosto a tempo de ver o cadillac sumir ao longe, dobrando em uma pequena estrada de terra que partia da estrada principal, adentrando o bosque. “O que ele está fazendo aqui?”

“Ruby, pare o carro!”

A garota obedeceu prontamente, freando de forma brusca e deixando leves marcas de pneus no asfalto, enquanto o carro parava quase ao lado da bifurcação da estrada. Ela olhou para Isabelle, elevando uma sombrancelha inquisitiva.

“Ahn... Eu acho que ele deve estar indo para a cabana que ele tem no bosque. Eu preciso falar com ele, acho que vou até lá.”

Ruby olhou para o relógio, franzindo o cenho. “Não dá para fazer um desvio, vamos atrasar a entrega.”

“Ah, não foi isso que eu quis dizer. A cabana não é longe, eu posso ir a pé, se você não se importar de fazer a entrega sozinha.”

“Isabelle, já está tarde. Você não pode ficar andando pela floresta à noite sozinha!”

Ela mordeu o lábio inferior, pensando no que dizer a seguir. A verdade é que não existia uma razão lógica para seguir o carro do Sr. Gold pelo meio do bosque àquela hora. Mas ele tinha parecido tão preocupado, ainda mais na saída do consultório do Dr. Hopper, e ela não podia afastar a sensação de que havia alguma coisa errada. Era muito estranho vê-lo indo para a cabana à noite – se é que era para lá que ele estava indo – e ela simplesmente tinha que ir ver o que estava acontecendo.

“Não se preocupe, Ruby. A cabana fica aqui perto. É rápido, mesmo a pé. Depois eu posso voltar de carona com o Sr. Gold, sem problema.”

Ruby pareceu indecisa. Não era de sua natureza tentar impedir a amiga de fazer alguma coisa, mas ela parecia verdadeiramente preocupada.

“Certo, mas você me manda uma mensagem pelo celular, para garantir que está tudo bem. Se não eu volto pessoalmente para te rastrear por essas árvores. Ok?”

“Certo. Prometo.” Isabelle tentou lhe dar um sorriso confiante, e se despediu, acenando para o carro que partia. Os seus faróis sumiram com a última luz decente do lugar, deixando a garota apenas com o pálido brilho de uma lua meio encoberta por nuvens, iluminando pobremente o caminho à frente. Ela começou a adentrar o bosque, se perguntando se teria sido mesmo uma boa ideia.

–*-*-*-

Um vento frio fez a pele de Isabelle se arrepiar, e ela esfregou os braços, tentando se aquecer. O caminho de terra era bem marcado à frente, apesar da noite pesada, mas ela estava começando a ficar insegura à medida que o tempo passava e ela não encontrava nada além de mais árvores à frente.

A verdade é que Isabelle nunca havia realmente ido à tal cabana, apesar do que fizera parecer para Ruby. O Sr. Gold já havia falado sobre o lugar em uma conversa qualquer, comentado vagamente onde se localizava. Ela lembrava bem que tinha imaginado que seria um bom lugar para passar um fim-de-semana tranquilo, longe de todos, aproveitando a companhia um do outro.

Ele havia dito que a cabana não ficava muito longe da estrada, entrando pelo estreitao caminho de terra, e parecia lógico que devia ser para lá que ele estava indo àquela noite, embora Isabelle não pudesse ter certeza. O Sr. Gold havia dito que quase nunca utilizava a cabana para nada, o que só deixava Isabelle mais inquieta sobre sua visita ao local, aumentando nela a necessidade de ir verificar o que estava acontecendo.

Isabelle parou no meio de um passo, apurando os ouvidos. Ela pensava ter escutado vozes vindo da floresta, as palavras indistinguíveis entre os sopros do vento. Ela olhou para a estrada à frente, indecisa sobre o que fazer. Não parecia uma boa ideia se desviar do seu único ponto de referência, mas não adiantaria nada chegar à cabana e encontrá-la vazia, caso o Sr. Gold tivesse saído. Ouvindo as vozes se distanciarem, ela tomou sua decisão e começou a caminhar para a direção aproximada de onde elas vinham.

Afastando com as mãos os galhos mais baixos que insistiam em se enroscar em seus cabelos, ela avançou a duras penas no terreno irregular, amaldiçoando o sapato de salto que decidira usar aquela noite. Após alguns minutos, ela já não conseguia mais ouvir nenhum barulho além dos sons noturnos de grilos e o vento correndo entre as árvores. Isabelle olhou em volta, apreensiva, tentando decidir que caminho tomar a seguir.

Alguns passos à frente, Isabelle pensou ter ouvido o leve murmúrio de um riacho, e se lembrou que o Sr. Gold dissera que havia um pequeno lago perto da cabana e imaginou que o fio d’água deveria desaguar nele. Aliaviada, ela começou a seguir o barulho, feliz de ter uma direção exata para onde seguir. Seria uma vergonha se sua incursão noturna terminasse com uma ligação para Ruby ir pegá-la de carro na cabana, mas era melhor que morrer congelada ou comida por um animal qualquer no meio do bosque.

Isabelle estava tão concentrada no terreno aos seus pés, tentando não tropeçar nos galhos caídos e pedras soltas, que quase não percebeu os homens parados diretamente à sua frente. Ela congelou por um segundo, surpresa por encontrar o Sr. Gold parado no meio do bosque, conversando com alguém. Rapidamente, ela se escondeu por trás de uma árvore, ao mesmo tempo tentando achar um melhor ângulo de visão para tentar entender o que estava acontecendo.

Ela reconheceu o segundo homem como August, o escritor que estava hospedado na pousada da viúva Lucas, e por quem Emma parecia nutrir muita simpatia. O Sr. Gold estava estendendo alguma coisa para ele, e Isabelle teve que afiar o olhar para tentar reconhecer o objeto. Por fim, a lua se refletiu em um leve brilho metálico quando August estendeu a mão, e ela notou que era algum tipo de faca ou adaga, embora a lâmina lhe parecesse muito estranha, toda ondulada.

‘O que diabos está acontecendo aqui?!’ Isabelle tentou chegar mais perto, para conseguir ouvir o que eles falavam, mas de repente August deu um passo para trás e levantou a adaga, apontando-a para o Sr. Gold. ‘Oh, inferno, isso não é bom!’ Ela sentiu a cor fugir do seu rosto, enquanto uma descarga de adrenalina percorria seu corpo, e olhou freneticamente ao redor, tentando pensar em algo para fazer. ‘Droga, droga, droga!’

Ela se abaixou e pegou uma pesada pedra do chão. O inferno que ela iria permitir que o Sr. Gold fosse atacado sem fazer nada! Isabelle pesou a pedra na mão, tentando avaliar quão exata seria sua pontaria daquela distância. Sua testa se franziu em preocupação enquanto ela via o Sr. Gold levantar o dedo em riste para August, fazendo um discurso exasperado, incompreensível para Isabelle, mas que definitivamente não lhe parecia o tom que se devia usar para alguém que lhe apontava uma faca. Por que o homem não podia ficar calado por uma vez na vida?!

A garota levantou a mão, segurando firmemente a pedra, e deu um passo para o lado, procurando o melhor ângulo para o ataque. Porém, antes que pudesse de fato fazer alguma coisa, viu o Sr. Gold avançar em um movimento rápido e arrancar a faca das mãos de August, que pareceu muito atordoado para ter qualquer reação. Oh, bem, talvez as palavras fossem mesmo a sua arma.

Isabelle soltou um longo suspiro de alívio, vendo o estranho diálogo recomeçar, agora com o sr. Gold no controle. Ela tentou captar alguma coisa da conversa, mas só algumas palavras eram ininteligíveis em meio ao farfalhar das folhas no vento noturno, e ela não se atrevia a chegar mais perto da cena, temendo ser notada. Logo seu alívio se perdeu em outra onda de tensão, quando o Sr. Gold começou a apontar a faca para August e, em seguida, o pressionou contra uma árvore, a lâmina contra seu pescoço. Ele parecia a um passo de realmente matar o homem.

Ela não conseguiu reunir muita simpatia pelo escritor, àquela altura. Ainda assim, por mais que ela tivesse dito ao Dr. Hopper que nada a afastaria do Sr. Gold, ela não tinha parado para pensar na possibilidade de homícidio. Seu coração palpitou fortemente em seu peito e sua testa se cobriu de suor frio, enquanto ela avaliava o que devia fazer a seguir. Ela não tinha a menor pretensão de passar o resto da noite ajudando a enterrar um cadáver no meio do bosque.

Isabelle estava prestes a dar um passo à frente e interromper o estranho diálogo que prosseguia, mesmo na estranha situação em que eles estavam. Ela só podia rezar para que sua presença fosse o suficiente para impedir que o Sr. Gold tomasse uma atitude mais extrema. Porém, de repente, ele se afastou de August diante de algo que ele tinha dito. Isabelle se perguntou, atordoada, que tipo de discussão bizarra eles estariam travando.

O Sr. Gold começou a se afastar do local, vindo mais ou menos na direção dela, e a garota se escondeu rapidamente, encolhendo-se atrás de uma árvore. Ouvindo seus passos a poucos metros de distância, Isabelle pensou que era quase um milagre que ele não tivesse notado o coração dela batendo como um tambor, quase gritando enquanto martelava forte em seu peito.

–*-*-*-

Isabelle o seguiu, mantendo-se a alguns de distância. Ela não tinha muitas outras opções, além de ficar e ir embora com o escritor, o que não lhe interessava em absoluto, ou tentar seguir o riacho até a cabana, onde provavelmente encontraria o Sr. Gold de qualquer forma. Ela estava pensando se deveria simplesmente aparecer para ele e perguntar o que estava acontecendo, afinal de contas, ou ficar apenas observando, caso ainda fosse acontecer alguma coisa. Não é possível que a aventura da noite não tivesse acabado ainda!

O destino acabou resolvendo a questão por ela, quando uma pedra deslizou sob seu pé, tranformando sua passada já instável em uma barulhenta queda. O Sr. Gold virou-se em um susto, levantando a mão com o punhal em um movimento tenso.

Isabelle se viu de quatro no meio do bosque, suas mãos enterradas entre os galhos e folhas secas do chão, sob a mira de um olhar tão afiado quanto a lâmina que lhe era apontada. Quando o Sr. Gold não abaixou a arma após alguns segundos, ela sentiu seu um arrepio de inquietação, mas, reunindo toda compostura que pôde, subiu aos seus pés, balançando a terra de sua roupa.

“Oi.” Ela começou, com um aceno hesitante, sem saber o que dizer.

O Sr. Gold piscou algumas vezes, parecendo confuso, antes de finalmente abaixar a arma, como se só então a estivesse vendo. “Belle?! O que você está fazendo aqui?”

“Eu, hm, vi seu carro entrando pela bifurcação da estrada e pensei que você estava indo para a cabana. Resolvi passar para... hã... dizer ‘oi’.” Isabelle sentiu suas bochechas queimarem de rubor e pensou que a resposta era próxima o suficiente da verdade, mas soava ridícula aos seus ouvidos. Por outro lado, parecia ainda mais ridículo que ela ficasse tão envergonhada em dizer que o tinha seguido, quando era ele que tinha algumas explicações muito mais complexas a dar, depois de tudo que ela vira.

“Você estava lá atrás? Enquanto eu... ‘conversava’ com o escritor?”

Isabelle apenas acenou, e os olhos do Sr. Gold se alargaram em alarme. “O que você ouviu?”

A garota pensou que aquela era uma pergunta estranha. Não seria mais natural que ele perguntasse o que ela havia ‘visto’? O que poderia ter havido naquela conversa que o fizesse temer que ela escutasse mais do que temer que ela visse toda a cena com a adaga?

“Hã, nada, na verdade. Eu estava meio longe, e não podia chegar mais perto.” Ela corou novamente pela admissão clara de que estivera assistindo a tudo escondida, mas o Sr. Gold não pareceu incomodado. Na verdade, a única coisa que ele realmente parecia estar era muito atordoado e Isabelle podia notar uma tensão clara em toda sua postura. O que quer que tivesse acontecido, ele estava muito abalado.

“Gold?” Ela falou, após alguns segundos de silêncio. Ele balançou a cabeça, como se acordado de seus pensamentos. “O que estava acontecendo lá?”

“Nada.”

“Certamente não pareceu ‘nada’ de onde eu estava olhando.” Isabelle franziu o cenho. “Eu mereço saber o que está acontecendo. Por favor...”

“Não está acontecendo nada. Já acabou.”

“Acabou o que?!”

O Sr. Gold apenas soltou um longo suspiro, com um dar de ombros derrotado. Isabelle deu um passo hesitante em sua direção, segurando a mão livre da adaga.

“Por favor, Gold. Confie em mim.”

Ele segurou seu olhar por um instante, parecendo indeciso. Por fim, desviou o rosto, soltando sua mão. “Certo. Mas não hoje. Já chega por hoje...”

Isabelle pensou que ele soava incrivelmente cansado e achou melhor não insistir. Mas ela não desistiria de ter suas respostas, no tempo certo.

“Vamos embora daqui.” Ele falou, simplesmente, antes de se virar e começar a se afastar. A única coisa que ela pôde fazer foi apressar o passo, voltando a seguí-lo entre as árvores no seu caminho de volta para a cabana e, presumivelmente, seu velho cadillac.

–*-*-*-

“Eu não vou descer!” Isabelle cruzou os braços, resoluta, quando o Sr. Gold estacionou em frente à sua casa.

“Belle, por favor...”

“Eu não vou ficar aqui e passar a noite especulando sobre o que aconteceu, preocupada!”

“Não há nada com o que se preocupar.”

“Bem, então você me explica direito o que aconteceu e me deixa decidir.” Ela segurou seu olhar com uma expressão teimosa e o Sr. Gold balançou a cabeça, derrotado, antes de engatar a marcha e começar a se afastar pela rua.

Isabelle pensou que uma boa prova de que ele não estivesse bem era o fato de ter desistido tão facilmente da discussão. Ele continuou olhando à frente, mas sua atenção não parecia estar realmente na direção. Para Isabelle, ele pareceu quase parecia perdido, um vulto estranho tendo coberto seus olhos, sua expressão dura durante todo o caminho. Ele nem mesmo lhe dirigira uma palavra por todo o caminho da cabana até sua casa. E nem por um minuto largara a adaga, embrulhada em um pano velho e firmemente segura em sua mão, mesmo enquanto dirigia.

Foi ainda em silêncio que ele estacionou em frente à mansão cor-de-rosa e Isabelle o seguiu a alguns passos de distância enquanto ele entrava na casa. Ela ficou observando quando ele parou no meio da sala, olhando vagamente ao redor, parecendo incerto sobre o que fazer. Isabelle queria gritar, arrancar aquela adaga de sua mão e quebrar a névoa pesada de tensão que parecia ter se estabelecido ao seu redor, mas ela apenas ficou parada, sem saber como agir.

Isabelle deu um leve pulo de susto quando um barulho inundou repentinamente a sala, e só quando o Sr. Gold virou-se para olhá-la, com uma sobrancelha elevada, ela percebeu que o som vinha do seu celular. Ela abriu o aparelho apressadamente, interrompendo o toque insistente. “Ruby! Ah, eu esqueci. Não, não, está tudo bem! Sim, já voltei. Estou na casa do Sr. Gold, na verdade. Desculpe, eu esqueci mesmo de mandar a mensagem. Certo. Nos vemos amanhã. Tchau.”

Isabelle guardou o celular de volta na bolsa, com um sorriso sem graça. “Desculpe, era a Ruby.” Ela não sabia exatamente por que estava se desculpando; não era como se a ligação tivesse interrompido alguma coisa além do pesado silêncio entre eles. O Sr. Gold apenas acenou de leve.

Ainda sem falar nada, ele foi até uma estante e enfiou o embrulho da adaga no fundo de uma gaveta, sob uma pilha de papéis. Ele deu um passo para trás e ficou olhando para o esconderijo, como se refletindo se seria uma boa ideia deixar o objeto lá, ainda que fosse apenas por essa noite.

“Gold...?”

Ele voltou-se para ela novamente, como se tivesse esquecido de sua presença por um segundo.

“Me acompanhe, por favor.” Ele disse, começando a subir as escadas. Isabelle nunca tinha estado no segundo andar da casa, e o seguiu por um longo corredor até pararem em frente a uma porta. Ele abriu-a, indicando que Isabelle entrasse. O quarto era de um bom tamanho, limpo e bem mobiliado, embora Isabelle tivesse a impressão que não era usado há muito tempo.

“Você pode ficar a vontade. Você vai encontrar tudo o que possa precisar no banheiro, na porta em frente.” Ele parou à porta, e abriu a boca por um instante, como se procurasse algo mais a dizer, mas apenas acrescentou, antes de sair, fechando a porta atrás de si: “Boa noite, Belle.”

Isabelle ficou olhando para a porta, um pouco atônita pela dispensa repentina. Ela olhou ao redor, enquanto uma sensação de desânimo se abatia sobre ela, e ficou refletindo sobre a noite muito estranha que tivera. Então ela franziu o cenho, e uma expressão decidida tomou seu rosto. O Sr. Gold estava muito enganado se pensava que podia terminar a noite assim, sem dar nenhuma explicação, um minuto de conversa ou pelo menos um mísero beijo de despedida!

Ela abriu a porta, rsoluta, só para se encontrar olhando de um lado para outro no longo corredor, sem fazer ideia de onde ficaria o quarto do Sr. Gold – supondo que ele teria ido para lá, de qualquer forma. Ela mordeu o lábio, tentando decidir que rumo tomar, quando escutou um alto barulho. Seu coração deu um pulo, e ela temeu por um segundo que August tivesse invadido a casa, ou algo do tipo.

Isabelle correu, seguindo os sons de impacto e objetos se quebrando, e abriu bruscamente a porta de um quarto, sua respiração rápida e os nervos à flor da pele. À sua frente, em vez de uma luta entre os dois homens, ela encontrou um Sr. Gold muito alterado, atacando brutalmente o guarda-roupa do quarto, que já estava com a porta arrancada aos pedaços.

Urros lancinantes saíam abafados de sua garganta a cada vez que seus músculos se tensionavam, agitando repetidamente a bengala no ar, terminando em fortes impactos contra o guarda-roupa, o que fazia pequenas lascas de madeira voarem por todo o quarto. Mesmo em meio à surpresa assustada que a dominou, Isabelle não pôde deixar de pensar que, por Deus, aquela era uma bengala bastante resistente!

Em um pulo, ela jogou-se à sua frente, os braços esticados, tentando deter sua fúria destruidora. Em análise posterior, Isabelle pensou que tinha sido uma sorte tremenda não ter sido acertada acidentalmente por uma bengalada ou algum estilhaço afiado de madeira.

“Gold! Gold, pare!”

Ele lhe lançou um olhar selvagem, queimando em ódio cego, que não parecia nem conseguir se focar de verdade em seu rosto. Isabelle podia quase palpar o tormento que o envolvia, e sentiu seu estômago revirar em angústia. Ela segurou seu rosto entre as mãos, tentando prender seu olhar no dela.

“Gold, por favor... por favor! Pare! Está tudo bem.”

Ela sentiu um pouco da tensão fugir de seu corpo, enquanto sua respiração desacelerava lentamente.

“Shh, está tudo bem. Eu estou aqui. Eu te amo.” Ela tentou dar um tom confortador a sua voz, e lhe deu um pequeno sorriso.

De repente, o olhar dele se concentrou agudamente sobre ela, e Isabelle viu um fogo intenso no fundo dos seus olhos que quase a assustou. Antes que percebesse, ela se viu jogada na cama, o peso do corpo do Sr. Gold sobre ela, sua boca sedenta cobrindo seus lábios. Ele segurou as mãos dela sobre sua cabeça, segurando-as pelos punhos, e Isabelle se viu, surpresa e sem fôlego, presa sob ele.

Seu quadril se encaixou entre as pernas dela, pressionando-a fortemente contra o colchão, e Isabelle sentiu um arrepio inesperado de prazer subir pela sua espinha. Ela tentou acompanhar o ritmo do seu beijo, mas sua língua invadia a boca dela bruscamente, esfomeada e egoísta, e ela mal podia respirar.

A mão do Sr. Gold desceu pela lateral do seu corpo, apalpando cada curva em um toque possessivo, queimando sua pele como brasa. Ele puxou-a pela bunda, aproximando seu quadril, e Isabelle pôde sentir o volume em suas calças empurrando-se contra ela.

Ela estava começando a se sentir zonza, e tentou afastar o rosto para respirar. O Sr. Gold desceu a boca pelo seu pescoço, seus dentes e língua marcando o caminho pela sua pele arrepiada, enquanto ela puxava o ar em longas golfadas. A mão dele subiu, ávida, por dentro de sua blusa, afastando seu sutiã em um movimento rápido, e ele encheu a mão com seu seio, com um aperto forte e quase doloroso, fazendo um gemido surpreso e levemente assustado escapar da garganta de Isabelle.

O som teve um efeito imediato sobre o Sr. Gold, que se afastou em um pulo, ficando de joelhos na beirada da cama, as mãos levantadas à frente como se tivessem sido queimadas. Isabelle ficou olhando-o, atordoada, respirando pesadamente, seu cabelo bagunçado espalhado sobre o colchão, os lábios inchados sob o batom manchado, a blusa meio suspensa, exibindo seu ventre nu.

O Sr. Gold desviou o olhar para suas próprias mãos, parecendo absolutamente chocado. Ele voltou o olhar para Isabelle, enquanto seus pensamentos se organizavam lentamente, e ficou congelado por um instante, enquanto uma expressão de terror dominava seu semblante.

“Desculpe... eu... sinto muito.” Foi tudo que ele conseguiu balbuciar, desviando o olhar do rosto de Isabelle e levantando-se da cama o mais rápido que sua perna permitiu. Isabelle observou, espantada, ele se inclinar para pegar a bengala, que caíra sob a cama, e começar a se afastar com passos apressados. Ela se descongelou de sua surpresa muda a tempo de voar sobre a cama, esticando a mão e agarrando seu braço fortemente, detendo sua retirada.

“Gold, pare! Por favor, só pare!”

Isabelle permaneceu na borda da cama, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas de frustração, sem saber mais o que fazer ou falar, apenas segurando-o no lugar com seu toque, encarando suas costas rígidas.

De repente, ela o sentiu tremer inteiro, e escutou um abafado soluço escapar por sua garganta. Isabelle o puxou firmemente, e ele se deixou cair sobre a cama, abandonando-se em seu colo. Por muito tempo, ela apenas o segurou contra si, sentindo as lágrimas encharcarem sua blusa, enquanto ele chorava por todas as desgraças da vida, todos os erros e enganos, e por um filho perdido muitos séculos antes.


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