Ryder P.O.V

— Bom dia. – disse em voz baixa entrando na cozinha onde só Marley estava, e ela me ignorou – Cadê a Beth e o Jacob?

— Foram dar uma volta e ter uma conversa de irmãos. – disse ela com a voz ressentida.

— Ótima ideia... Que tal termos uma também? – perguntei me sentando na bancada e ela me encarou incrédula – Qual é Marley, me dá um desconto. Eu sou tão inocente nessa história quanto você.

— Ah claro... Foi você que viu seu pai mergulhar em uma depressão após ter botado sua mãe porta afora na sua frente, ou ainda queimar todas as fotos na casa depois de descobrir que ela tinha um filho com outro. Realmente, você é só um pobre inocente. – desdenhou ela e eu desci da bancada, a segurando pelo braço.

— Você pode parar de ficar na defensiva? E me deixa contar o que eu sei? – pedi e ela tentou desdenhar da proposta, mas sua curiosidade era maior e ela por fim cedeu – Ótimo, vamos sentar primeiro, por favor.

Peguei um copo de suco e algumas torradas e me sentei a sua frente. Ela estava só com um copo de água e eu franzi o cenho.

— Não vai comer? – perguntei e ela negou.

— Estou de dieta. – resmungou e eu revirei os olhos.

— Para sumir só se for. – brinquei me levantando e pegando um copo de suco – Pelo menos isso, por favor.

Ela deixou o copo de lado, mas ficava o olhando furtivamente. Cedo ou tarde ela beberia. Mordi e mastiguei uma torrada, antes de começar.

— Quando mamãe conseguiu o papel de figurante em West Side Story ela ainda não sabia que estava, bom, grávida de mim. Aparentemente ela andava discutindo com nosso pai sobre o rumo que sua vida tinha tomado. E um dia Brody ligou dizendo que havia esse papel disponível e ela decidiu ir.

“Como você mesma disse, Finn ficou uma fera. Ele a colocou para fora de casa e nos meses seguintes cortou todo o contato com ela... Inclusive entre vocês duas. Até que, aparentemente, Quinn descobriu onde mamãe estava trabalhando e convenceu ele a ir até ela, mesmo que fosse só por você.”

— E quando chegamos lá, presenciamos o espetáculo de família feliz. – disse ela com a voz embargada, circulando a borda do copo com os dedos.

— Pelo que eles me contaram, mamãe descobriu que estava grávida cerca de três semanas depois de chegar à Nova York. Mas ela não conseguia reunir coragem para encarar nosso pai e ele não atendia as ligações, então a gravidez dela foi caminhando. – continuei enquanto eu a via finalmente beber o suco.

“Quando ela entrou em trabalho de parto, ela tentou falar novamente com Finn, mas não conseguiu. Então Brody a levou para o hospital e ficou com ela enquanto ela me trazia ao mundo. Então ele foi até o cartório e me registrou como filho dele. E mamãe estava tão machucada, tão solitária, que aceitou.”

— E aquele dia em que nós vimos vocês? – perguntou ela – Mamãe viu eu e papai saindo.

— Sim. – confirmei – E foi direto para casa arrumar as malas para ir comigo até Ohio. Mas quando se preparava para sair, o telefone tocou. Era o pai dela, Hiram. Finn já havia falado com eles e bom, ele falou as maiores barbaridades do mundo para mamãe e depois daquele dia, cortou contato com ela. O mesmo para LeRoy e Shelby, ou até mesmo Quinn.

— E ela nunca te disse nada? – perguntou ela e eu neguei.

— Nem ela, nem Brody. – respondi sentindo um aperto no peito – Ele me tratava como filho, dizia que eu era o garoto dele... Quando eu descobri toda a verdade, fiquei com raiva. Ele tentou por diversas vezes voltar a se aproximar de mim e me levar com ele, mas eu tinha um pai, e ele era o Finn. Não importavam os motivos, Brody havia me privado do meu verdadeiro pai... E me privado de você.

Ela ergueu os olhos me encarando surpresa e eu dei um sorriso torto, pegando sua mão.

— Quando eu fiquei sabendo que eu tinha uma irmã e que talvez eu nunca fosse conhecê-la, eu abracei nosso pai e chorei. Ele me mostrou suas fotos, as gravações das suas apresentações e contou sobre você. E então conheci Beth e ela falava tanto sobre você e o Jake. Eu sentia inveja dela ter conhecido vocês tão bem e eu nunca sequer ter te visto. Quando ela decidiu tentar voltar no tempo, eu agarrei a chance. – admiti e ela sorriu – Você pode estar ressentida e não acreditar em mim Marley, mas eu sinto muito por termos ficado tanto tempo separados, do fundo do coração. Você é minha irmã mais velha e eu te amo, mesmo tendo te conhecido há apenas um dia.

Ela sorriu apertando minha mão e limpando as lágrimas dos olhos com a outra.

— Que tal você me falar como o papai anda? – disse ela – Enquanto comemos algumas torradas?

Beth P.O.V

Ela havia me deixado. Novamente. Primeiro meu pai, depois Jake e agora minha mãe havia ido, como quando eu nasci. A dor no meu peito parecia que ia me sufocar.

— Beth? – a voz dela vinda da sala foi como uma música que eu quase chorei em ouvir. Sai correndo de meu quarto, descendo as escadas correndo e parando surpresa no meio delas.

Mamãe estava parada no pé da escadaria com o mesmo vestido que havia saído de casa havia dias. Seu cabelo estava preso num coque frouxo e sua expressão era cansada. Mas não era isso que me surpreendia.

No centro da sala, com uma jaqueta gasta de couro, camiseta esgarçada, jeans largos e botina, a caixa da guitarra apoiada na perna e uma sacola nas costas, meu pai me encarava.

— Oi princesa. – sua voz era rouca e ele deu uma forte tossida, balançando o corpo extremamente magro – Papai voltou para casa.

~*~

— Ainda não acredito que a mamãe foi atrás dele. – resmungou Jake enquanto caminhávamos pelas ruas – Ele não se interessava por nós mesmo, que diferença faria.

— Jake... O papai estava doente. – eu disse com um suspiro e ele me encarou – Quando você sumiu a mamãe já sabia, não sei exatamente como. Ela tentou manter distância, mas ela tava sofrendo muito. Então ela foi buscá-lo em Denver, na Carolina do Norte, onde ele estava internado. Ele não podia ter saído do hospital, mas ele queria estar por perto, de mim e de casa, para quando você voltasse.

— Isso não justifica o que ele fez. – acusou meu irmão e eu concordei.

— Ele tem os motivos dele Jacob, e eu já te disse isso. Ele vai ter explicar quando vocês se verem, eu prometo. – garanti apertando sua mão – O que importa é que ele sofreu tanto quanto nós, quanto a mamãe... Como eu disse, demorei a voltar a me aproximar dele e quando o fiz, sei lá, senti paz entende? Eu sofri muito por ter sido deixada por ele novamente, depois de tudo que ele e a mamãe fizeram para me ter de volta.

— Mas você perdoou ele de novo. – observou Jake.

— Não podemos culpar as pessoas pelo que elas fazem por amor. – afirmei e ele me olhou de soslaio – Uma hora você vai entender maninho, te prometo isso.

— Espero que sim. – disse ele com um suspiro e encarou o relógio – Tenho aula logo. Vamos voltar? Marley e Ryder estão sozinhos.

— Eles precisavam de um tempo a sós para conversar. – observei e meu irmão concordou – Mas vamos logo que não quero você indo mal na escola.

— Se eu for papai vem aqui e me dá na cabeça. – disse ele e eu o encarei surpresa – Para eles eu sou o meio-irmão mais novo e perdido do papai, lembra? Sr. Schue já chamou o papai uma vez para me dar uma bronca por ser “desleixado”... E galinha.

— Galinha é? – brinquei e ele me fuzilou – Genes Puckerman não falham...

— Cala a boca Elizabeth. – rosnou ele e eu ri.

— Mas e a Marley? Achei que a essa altura, com vocês dois sozinhos aqui... – observei e ele murchou.

— Marley e eu somos só amigos.

— Achei que Marley e Eu era um filme. – fiz a piadinha clássica e ele revirou os olhos.

— Você só cresceu em tamanho nesses cinco anos Beth, porque continua imatura. – afirmou ele me puxando pela mão – Agora anda que eu to com fome.