Skyfall escrita por Fitten


Capítulo 17
Capítulo 17 - Última noite




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Eu nunca imaginei que a fortuna e as propriedades dos Cullen fossem tão abrangentes. Eu sabia dos carros caros, dos imóveis espalhados pelo mundo – droga, eu nem sequer tinha cogitado a ilha de Esme até perguntar para meus pais onde eles passaram a lua de mel. Ok, talvez eu soubesse de toda aquela grana, mas nunca tinha de fato me importado muito com isso, ou parado para pensar a respeito por cinco minutos. O dinheiro facilitava as coisas – e muito. Minha família estava cruzando o país num jatinho particular no momento e eu e Jake recebemos instruções para aguardá-los em uma das casas de Rosalie e Emmet nos arredores de Surrey. Partimos assim que desliguei o telefone, deixando toda minha família em estado de total tensão. Mas o que eu poderia fazer? Não podia deixá-los no escuro quando havia uma conspiração medonha se formando nas sombras. Já era hora de parar de fugir. Parte de mim temia o reencontro, afinal, como eu iria explicar minha aparência? Eu tinha pulado a parte da história em que eu matava três humanos e secava suas veias, assim como a parte em que eu pirava e começava a expandir meus pensamentos para a mente dos outros sem tocá-los – ou a parte em que usei isso para matar dois vampiros mais velhos e mais experiêntes do que eu. É, eu não tinha muitos pontos positivos ao meu lado, e não me sentia muito otimista com a perspectiva de ter de explicar tudo isso à eles. Eu estava morrendo de medo de decepcioná-los, como eu iria encarar os olhos pacíficos e acolhedores de Carlisle e dizer a ele que em um lapso de controle eu simplesmente tinha arruinado toda crença e luta de nossa família? Como eu poderia não parecer um monstro quando olhasse para meus pais – especialmente meu pai, que lutou contra sua sede tão dolorosamente para proteger minha mãe?

As doze horas do prazo de viajem que Alice me deu estavam se esgotando mais rápido do que eu gostaria. As paredes aveludadas da casa de Rosalie estava me deixando ainda mais apreensiva. Aquela casa era de longe, a casa que mais se encaixava no estereótipo vampírico de nossa família. Esme preferia usualmente tons mais claros e leves para suas decorações, assim como a modernidade sofisticada. Mas Rose, bem, ela meio que montou uma cripta. Os tons vermelhos, cobres e pretos cobriam do chão ao teto com tapetes, cortinas, e móveis antigos. As paredes eram cobertas com veludo vinho e por todo lugar estavam espalhados castiçais, pratarias antigas e obras de artes renascentistas. A sala era de longe o cômodo mais amplo da casa – que eu não me interessei em explorar mais a fundo com medo de encontrar algum caixão. Me perguntei se Rose usava a casa quando estava com humor negro ou algo do tipo.

A loira pscicopata é realmente...pscicopata. – A voz de Jacob me arrancou de meus devaneios. Ele andava pela sala olhando tudo com espanto e com uma certa curiosidade. –Essa sim é uma típica casa de vampiros. – Ele riu, e eu imaginei que Rosalie provavelmente teria de aguentar muita gozação quando...bem, quando tudo isso terminasse. E só o que eu desejava era poder voltar à respirar e observar Jacob e Rosalie se atacando verbalmente, parecia o paraíso. Ele me olhou quando eu não respondi e torceu o nariz para minha expressão atônita.

Ah qual é Ness. Eles vão entender, e afinal de contas você não matou nenhum inocente, eles eram assaltantes. Sabe-se lá quantas outras pessoas eles já machucaram.

Jake, você não está ajudando. – Não mesmo. Nada justificaria matar humanos, eu não era Deus, como eu poderia julgar quem era bom ou mal? Quem viveria, quem morreria por minhas mãos?

Desculpe. Me diga o que eu posso fazer pra ajudar então. Eu costumava te distrair bem antes. – Ele se sentou ao meu lado no tapete junto a lareira e sorriu pra mim, como quem pede para brincar. Deus, eu era algum tipo de pervertida mórbida, ou Jake tinha algum poder de introduzir pensamentos impróprios em minha mente, já tão superlotada de coisas estranhas. Não, não, não. Repeti pra mim mesma mentalmente, me convencer estava ficando realmente difícil ultimamente. E, bem, Jacob não estava ajudando muito. Eu olhei pra ele, e fiquei pensando como as coisas tinham mudado entre nós. Saber do imprint tinha mudado muitas coisas, mexido com a ordem em que as coisas usualmente ficavam em minha cabeça. Agora eu não sabia se eu podia beijá-lo, abraçá-lo, mas definitivamente, era o que eu queria fazer.

Você é tão ridiculamente linda... – Ele suspirou e tocou meu rosto. Droga, lá se ia meu tão sofrido autocontrole.

Eu devo aceitar isso como um elogio? – Isso, falar era bom, ajudava a manter o foco.

Absolutamente. – Lentamente, ele estreitou o espaço entre nós. Era como se ele fosse um enorme imã no qual eu estivesse presa completamente, sem poder algum sobre meu próprio corpo. Só a atração, puxando e puxando cada vez mais partes de mim para ele.

Jake. – Sussurrei, à um centímetro de seus lábios.

O quê. – Ele respondeu suavemente, sua respiração quente tocando meu rosto. Bem, eu esqueci o que ia dizer. Era algo importante, mas mesmo assim foi facilmente substituído.

Você cheira tão bem... – Joguei-o de costas no chão e toquei seus lábios com violência. Ele revidou com a mesma pressão, sabendo que não me machucaria. Seus braços se estreitaram como prenças em volta do meu corpo enquanto minhas mãos agarravam sua camisa. Ela virou trapos em segundos e foi só quando eu deixei minha boca explorar a base de seu pescoço que percebi que eu estava desejando mais do que seu corpo. O calor estuporante no meu corpo cedeu lugar à queimação ardente em minha garganta. Jacob parecia alheio a minhas reações, ele estava em toda parte, dificultando – e muito – meu trabalho para não matá-lo. Todo meu corpo pedia, chamava por ele, e minha sede parecia explodir para meu olhos, meus ouvidos, minhas narinas... Sem perceber eu apertei levemente meus dentes em seu lábio inferior, era pra ser um beijo, mas o “beijo” foi mais forte do que eu pretendia. Jacob afastou meu rosto por um momento, percebendo o filete de sangue escorrendo pelo canto de sua boca. Alguma parte mais consciente de mim ficou envergonhada e com medo que ele se chateasse – e com toda razão. Mas meus olhos – eu podia sentir – ardiam de desejo pelo seu sangue. Ele me encarou por um instante interminável, e apesar de toda vontade gritando dentro de mim, eu não lutei contra o espaço que ele colocou entre nós. Apenas fiquei alí, devolvendo seu olhar inexcrutável, meio fora de mim, mas ainda dentro do meu controle, ainda ciente de que aquele era o homem que eu amava, e eu não o mataria. Era algo realmente estranho, eu estava acomodando dentro do meu corpo duas forças impossivelmente grandes. A sede e o desejo. Ambos fortes e poderosos, ambos dominando todo meu ser, mas alí, presa naqueles olhos escuros que brilhavam como tochas na escuridão, eu senti que podia controlar. E Jacob parecia ter tido a mesma concessão.

Quando ele me beijou de novo, o corte em seu lábio já estava fechado. O ritmo diminuiu, ele passeou por meu corpo com uma delicadesa que parecia ser impossível para mãos tão grandes. Ele não se importava que eu o mordesse, e eu não sabia se ceder à esse novo prazer era algo seguro para mim. Parecia errado, parecia vulgar, em qualquer outro momento de minha vida eu teria repudiado essa idéia, mas alí, presa sob o corpo quente dele, todo princípio moral-ético-religioso derreteu.

Você sabe que eu me curo rápido. – Ele sussurrou em meu ouvido. O quê era aquilo? Uma permissão oficial? Ele queria que eu mordesse ele? Meu corpo reagiu antes dos meus próprios pensamentos e quando falei, eu não fazia idéia de como minha boca tinha conseguido se mover independente dos meus comandos cerebrais.

Me avise se eu te machucar.

***

Eu acordei meio desnorteada, e a princípio eu estava completamente segura de que eu tinha adormecido e sonhado coisas que me deixariam muito embaraçadas se meu pai estivesse por perto. Mas então eu me sentei, e eu estava numa cama, num quarto desconhecido e escuro. Iluminado apenas por três velas, o que não provia muita luz, tendo em vista o tamanho do cômodo. E bem, eu estava desprovida de roupas – por falta de termo menos embaraçoso. Droga, droga, droga. Nada bom.

Encontrei minhas roupas jogadas pelo chão e desci as escadas correndo. O cheiro de bacon vindo da cozinha me avisou onde Jacob estava. A cozinha de Rosalie era pequena, mas organizada, e era o cômodo mais “normal” da casa. Jacob usava um avental branco por cima do jeans, e eu me perguntei onde estaria a camisa dele. Talvez rasgada no chão da sala?

Oi. – Ele sorriu pra mim, seu rosto estava iluminado. Ele mexia alguns ovos numa panela enquanto despejava bacon num prato. Jacob não era nenhum chef nem nada, mas ele se virava bem. Conhecimento culinário adquirido nos anos em que ficou conosco - vampiros raramente preparavam o jantar.

Oi. – Me sentei na bancada e encarei minhas mãos. Tinha mesmo acontecido? Enquanto eu sucumbia de vergonha, Jacob arrumou a mesa e os pratos. Um silêncio constrangedor encheu o ar, então, algo me veio a mente.

Que horas são? Quantas horas para eles chegarem?

São oito horas. Mais uma hora, duas talvez. – Ele começou a mastigar e o silêncio retornou. Mesmo sem ter certesa de que nós dois fizemos o que eu achava que tínhamos feito, não consegui evitar o desconforto. Jacob estava mais tranquilo, mas eu podia ver lá no fundo – por tráz da expressão de contentamento – uma leve apreensão.

Não vai comer? – Ele perguntou.

Claro. – Puxei um prato para perto de mim e me servi. Era uma boa desculpa para não falar. Alguns minutos se passaram assim, apenas o barulho de nossa mastigação e os olhares constrangidos, constantemente flagrados um pelo outro.

Mas que droga, eu pensei. Eu estava agindo como uma criança. Me acovardando para não ter que lidar com as consequências dos meus atos. Sexo nem de longe era a coisa mais grave na minha lista de infrações. Mas até onde eu podia me lembrar – e era muita coisa – eu tinha...mordido ele. Toda nova mordida durava apenas o tempo de uma respiração. Ele se curava no mesmo instante, e tudo que eu podia sentir era um leve dislumbre de seu sangue. Eu não o matei, não bebi de seu sangue, nada disso. Não era tão ruim, era? Bem, parecia muito bom pra mim.

Jake. – Eu comecei, mas logo Jacob estava de pé, retirando seu prato.

Não precisa se explicar Ness. Eu entendo que não era para acontecer aquilo, e peço desculpas por meu atrevimento. Foi culpa minha, não precisa dizer nada. Não vai acontecer de novo. – Eu o encarei, perplexa. Ele achava que eu me arrependia? Que eu estava tentando evitá-lo? Que ótimo, fiz um grande trabalho agindo como uma pirralha.

O quê? Não... – Eu levantei, aquele mal entendido estava me matando. Meu comportamento covarde não estragaria tudo. – Jake, olhe pra mim. – Ele se mateve de costas para mim, curvado sobre a pia, encarando a parede. Vários minutos se passaram – talvez nem tantos assim, mas parecia o bastante para mim.

Ok, vai ser do seu jeito. – Agarrei um prato em cima da mesa e arremecei em suas costas. A louça partiu em mil pedaços, nenhum deles nem sequer fez cócegas na pele de Jacob, mas o susto o fez se virar – boquiaberto – para mim e me encarar.

Agora me ouça. Eu não me arrependo de nada. Nada. E isso faz de mim uma indecente pervertida, mas quer saber? Dane-se. Eu gostei e se nós sairmos dessa vivos, eu vou querer repetir. Então, Jacob Black, me desculpe se abusei de sua inocência, mas eu não lamento por isso. – Eu gritei e atirei as palavras nele como adagas pontudas, mas eram tão verdadeiras e chocantes, que eu duvidei por um minuto que eu as tinha dito de verdade. Eu estava orgulhosa de mim, jamais – nem em um milhão de anos – eu teria suposto que diria algo assim algum dia, muito menos para Jacob. Ele ficou parado, me encarando com aquelas sobrancelhas contraídas e aquela testa vincada - ele sempre fazia isso quando estava em grande confusão mental.

Não precisa ter um derrame cerebral, Jake. – Eu resmunguei, ainda sustentando seu olhar.

Estou me decidindo se te beijo antes de te devolver a pratada. – Ele rebateu, e apesar da brincadeira, sua voz e expressão ainda estavam sérias e pensativas. Aquilo me fez sorrir.

Será que eu tenho que decidir tudo por você? – Chutei os cacos do prato do meu caminho e joguei meus braços envolta do pescoço dele. Ele laçou minha cintura e me puxou para cima, sustentando meu peso nos braços. Nossos beijos pareciam serem sempre inflamados, tinham uma característica que condizia muito com nossas personalidades. Eram intensos, fortes e instintivos, como se houvesse uma quantidade de combustível inexgotável em nós. Nós tínhamos descoberto essa paixão em tempos muito conflituosos, tudo estava um caos agora, e mesmo assim, ainda havia espaço para amá-lo e desejá-lo, era quase como um oases no meio do deserto. E era impossível de se parar. Bem, quase...

Três batidas na porta talvez fosse o suficiente. Nós nos encaramos por um minuto, constrangidos de novo, mas dessa vez não com nós mesmos, mas com minha família que obviamente estava na porta da frente.

Essa foi rápida. – Disse ele, olhando em direção a sala.

Jake, dê um jeito nisso. Eu vou atender a porta. – Arrumei minhas roupas – tortas, amassadas e capengas – e meu cabelo e fui para porta.

Estavam todos lá, me encarando com seus olhos tão familiares. Eu senti meu peito esquentar à medida em que – um por um – eles me abraçavam. Deus, como senti falta deles!

Eu nunca estive ausente por tanto tempo, nunca se passou nem mesmo vinte e quatro horas sem que eu os visse, falasse com um deles. Era difícil de se imaginar, mas vampiros também podiam ser tumultuosos. Todos queriam saber detalhes, desde a noite em que saí de casa com Jacob, até a ligação para Alice. Eu também queria fazer inúmeras perguntas, mas eu estava com uma estranha sensação de que meu tempo estava se esgotando.

Hei, gente. – Tentei me fazer ouvir no meio do tumulto e das conversas paralelas, teorias e extratégias sendo discutidas freneticamente.

Ela quer nos mostrar o que aconteceu. – Eu odiava quando meu pai fazia aquilo. – Desculpe.

Tudo bem pai. Olhem, eu tenho um jeito mais prático de contar a vocês. – Bem, eu tinha prometido a verdade não é? Nua e crua. Minha família já se arrumava em volta de mim – para tocar minhas mãos – quando eu os interrompi.

Não. – Oito pares de olhos confusos me fitaram. Meu pai enrigeceu, isso era o que se ganhava quando se xeretava o tempo todo na mente alheia. – Apenas, não se movam. – Lancei um olhar nervoso à Jacob, sentado no outro lado da sala. Ele acenou, me encorajando. Fechei os olhos e deixei todas aquelas sensações estranhas que eu sentia quando expandia meus pensamentos para fora de mim me alcançarem. Quando senti a conexão, tentei organizar meus pensamentos em ordem cronológica. Eu me esforçei para isso, mas mesmo assim, a coisa toda ficou um pouco caótica. Sonhos, visões, fatos... Tudo se misturava de uma forma homogênea, quase não dava para se notar as nuances daquilo que era real, e do que era ilusório. Minuto por minuto dos últimos cinco dias passaram por minha mente, e eu senti toda angústia de novo, como se ela fosse um bônus incluso no pacote. Quando terminei, eu senti a tensão no ar em volta de mim. O choque nos rostos de pedra. Minha mãe e Alice me olhavam espantadas, Esme, Rose e Emmet estavam mais para...bem, orgulhosos, o que era bem estranho por quê eu não poupei nenhum detalhe sórdido. Carlisle e meu pai dividiam a mesma curiosidade no olhar, eu só esperava que os dois não queisessem me estudar ou algo assim. Só Jacob, do outro lado da sala me olhava normalmente – bem, normalmente no estilo de Jacob pelo menos.

Como isso aconteceu? – Perguntou minha mãe. Ela se aproximou e pegou minhas mãos, como se quisesse checar se eu continuava sendo a filha dela.

É o que eu tenho tentado descobrir mãe. – A sala ficou em silêncio, e eu podia ver as engrenagens funcionando na mente de cada um. Eu queria ouvir logo os sermões por mentir, trapacear, e principalmente por matar três humanos. Queria passar logo por isso. A angústia da espera tinha sido amarga demais até agora. Naquele silêncio repentino, eu olhei nos rostos deles, e uma agulhada fria passou por meu estômago. Era tanta informação, tanta coisa que mostrei a eles... Talvez até vampiros precisassem de tempo para digerir uma avalanche de más notícias como esta. As próximas horas seriam tensas naquela casa, momentos difíceis nos expreitavam das sombras. Um frio repentino passou por mim, eu não sabia de onde vinha, se era só o medo. Vampiros não deveriam temer a escuridão, éramos filhos da noite, as sombras sempre andaram ao nosso lado. Mas agora, era como se eu pudesse vê-las nos alcançando, se espandindo de cada canto, descendo sobre nós como um manto de silêncio e escuridão. Nos engolindo, um a um.

Demorei apenas um segundo para perceber que estava acontecendo de verdade - minha mente não seria capaz de produzir uma sensação tão real - mas então já era tarde, e tudo escureceu à minha volta. Tudo sumiu, como se eu mesma nunca tivesse existido.


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