Presos escrita por kethycia


Capítulo 5
Capítulo 5 - Faltas


Notas iniciais do capítulo

Nem demorou tanto! u.ú Então, leitor, este foi o capítulo que eu mais gostei de escrever, até agora. Neste, vamos nos focar em outro lado do Matteo... Bem, quero opiniões, ok? Então fale fale fale! (eba! capítulo não gigante.)



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Mantinha um sorriso fechado, porém forte no rosto, desde que viu Lisa virar a cabeça e procurar por ele pela janela traseira do ônibus. Matteo acenou e Lisa baixou a cabeça e mostrou os dentes, estava só sorrisos.

Quando compreendeu que o ônibus já estava fora de seu campo de visão arrumou o celular no bolso e deu uma tapinha no local e desembalou o sanduíche. Frango com molho branco. Boa escolha. E algo bem raro, em relação a sua Universidade.

Com o sanduíche desembalado, deu-lhe uma primeira mordida; assim que o sanduíche fora triturado e misturado à saliva de Matteo, o seu estômago deu seu primeiro sinal de vida do dia. Talvez ele estivesse muito ocupado por “borboletas”.

Agora Matteo se via um pouco mais calmo. Como podia isso? Ele não sabe nada da menina, mas só de vê-la já tem a sensação de calmaria invadindo sua alma e a lavando. Talvez soe um pouco exagerado, mas foi assim que Matteo se sentiu.

Mais alguns passos feitos. Mais mordidas dadas. O loiro encaracolado chegou à entrada do Prédio. Cumprimentou o humilde porteiro que sempre está escondido por trás de sua janelinha – agora que Matteo parou um segundo para pensar, nunca viu o rosto do senhor Porteiro; somente seu bigode cinza ou a parte superior dos lábios pelada. Na verdade, sequer já ouviu a voz do senhor. O máximo que já viu foram os acenos feitos por trás do vidro ensebado por insulfilm.

Pelo seu entusiasmo, estaria disposto a subir os lances de escada, porém, estava muitíssimo cansado para isso. Decidiu pelo elevador. Apertou o botão para abri-lo, se deu alguns segundos e as portas metálicas foram abertas. Não havia ninguém. Adentrou e pressionou o botão de seu respectivo andar. Ponderou a dar mais algumas mordidas enquanto esperava as portas serem reabertas e ser permitido a chegar a seu loft poder tomar um bom e gelado banho.

Quando chegou ao seu andar, já havia ingerido todo o seu sanduíche, sobrando somente o seu pacote plástico nas mãos de Matteo. Quando se foi dado abertura do elevador, Matteo seguiu até sua porta e adentrou em seu loft. Deu-se de cara com a maquete que ele e seus amigos haviam feito dias atrás, um navio grandiosíssimo e negro, que acabou por receber oito e meio. O trabalho valia nove.

Não sabia exatamente o que fazer com a maquete; jogá-la fora estava fora de questão, não querendo ser egoísta, porém não queria ter que dá-la para Douglas ou Louis. E não estava preparado para entrega-la a senhora Bergstrom.

Balançou a cabeça e deixou para pensar sobre isto depois, bem depois.

Jogou sua mochila no sofá e começou a se despir em direção ao banheiro.

***

Lisa vinha caminhando em sua direção lentamente e com aquele sorriso que sempre estampava seu rosto quando eles dois se encontravam. Foi chegando, foi chegando. Chegou. Olhou bem nos olhos de Matteo, aqueles olhos verdes, e encaixou sua mãozinha nos cabelos dele, no lugar exato onde ele sempre põe a mão quando está confuso ou nervoso. Começou a brincar com alguns cachinhos. Pousou os lábios no maxilar de Matteo e pressionou até fazer um estalo. Lisa moveu os lábios um pouco mais para cima e encontrou o canto da boca de Matteo, beijou lá, também. Ela sentiu o sorriso de Matteo aparecer.

Matteo abraçou ela pela cintura e pousou o queixo em seu ombro e inspirou todo ar que aguentaria – tudo para poder registrar a fragrância de Lisa em sua mente.

Lisa voltou a se movimentar e no lugar de beijar o canto da boca de Matteo, optou por tocar o centro da boca dele. Beijou-o. Ele, sem saber o que fazer, tomado pela surpresa, só fez o que era o mais possível na hora: aceitou o beijo.

Com o beijo finalizado, Lisa aquietou a sua cabeça no ombro de Matteo e o abraçou. Matteo deve ser pelo menos, vinte centímetros mais alto que Lisa.

Ouviram alguns passos atrás deles.

– Aê! Finalmente, irmão! – Gritou Douglas com um pandeiro e um pequeno graveto amarelo. – Ele beija bem ou mal, Lisa? Por que, né, você fugiu dele! – Dito isso, Douglas e Louis só conseguiam ri.

Matteo não fazia ideia como reagir a isto. Sua reação inicial, com toda certeza, seria rir com os amigos e os mandar calar a boca. Porém, não conseguiu fazer isso. Parecia que havia um fecho ecler em sua garganta e tudo que ele conseguia falar, eram meros murmúrios cuspidos.

Matteo abriu os olhos e viu-se em um quarto escuro, com uma mínima iluminação vinda da lua. Estava em seu quarto. Foi um sonho. Matteo pegou sua coberta e viu-se com um samba-canção azul e branco com uma camiseta branca folgada. Aquilo com total certeza era uma realidade estupidamente distante, este sonho.

– Mas... Que droga.

Direcionou-se à cozinha e encheu um copo de água. Bebeu vagarosamente e com o silêncio ouviu seu coração bater. Além de ouvi-lo parecia sentir a pulsação em todo seu corpo. Agoniante.

Olhou para o relógio de parede que residia acima de sua geladeira, marcava quatro horas e vinte e três minutos da manhã. Tinha mais algumas horas de descanso. Não iria desperdiça-lo por um simples pesadelo... Ou sonho.


***


Matteo pôs o copo em alguma parte do seu balcão da cozinha e ficou observando-o com a iluminação o luar. Observou, viu e riu.

Ainda mantinha a mão no copo quando resolveu tentar voltar a dormir. Coçou os olhos, que estavam pesados e implorando por descanso – assim como seu corpo.

Deitou-se e endireitou-se sobre seu sofá, trançou as mãos e as colocou, por trás da cabeça, no canapé do sofá. Apesar de estar somente de seu calção azul e o clima estar um pouco mais friorento, Matteo sentia-se bem confortável.

Confortável, sim. Disposto a dormir, sim. Conseguindo? De modo algum. Sua cabeça pesava e sua mente turbilhoava em pensamentos. Confusão, faculdade, problemas, estresse... Lisa.

Viu-se pateticamente pensando em Lisa. Ele mal a conhecia. Foi saber seu sobrenome ainda mais cedo. De Marco? DeMarti? DePandi, talvez. Lisa provavelmente descendia de italianos... Independente disso notou que talvez andasse um tanto obsessivo por Lisa.

Talvez a moça não merecesse esta total atenção e espaço em sua cabeça. Mas... Matteo queria isso, acreditava que merecia tal distração... Supôs que Lisa era uma incribilíssima novidade. A área em sua mente que particularmente se era voltada a meninas e flertes estava bem enferrujada. De qualquer modo, agora, as engrenagens que há tempos não funcionavam, estavam a todo vapor.

Deu de ombros, mesmo deitado e virou-se no sofá e dormiu.

***

De longe ouviu o som estridente do despertador e bufou.

Matteo levantou aos trancos e barrancos de seu tão confortável e aconchegante sofá; deu um tropeço quando levantou e emburrou a cara.

Caminhou até sua pequena cozinha e serviu-se de um copo d’água diretamente da torneira. Sentiu o gosto ruim descer por sua garganta. E uma sensação gélida e deliciosa invadiu sua garganta e tronco.

Abriu sua geladeira e viu uma luzinha lateral acender-se. Seu conteúdo estava relativamente vazio, contendo, somente, uma caixa de leite já vencido e uma bacia verde recheada de frutas. Tal tigela havia sido presente de sua mãe. Pescou uma maçã e tascou uma mordida. O presente tinha sido dado quando se despediu de seu lar de infância e adolescência.


No dia que saiu de casa.


Lembrando-se do dia, sentiu o mesmo frio na barriga que sentiu quando se despediu se sua família. De sua casa. Quando fora obrigatoriamente, mesmo com tempo suficiente, se preparava para uma nova e temerosa, vida.

– Pegue, querido. – Entregou-lhe, a mãe de Matteo, um pacote robusto todo embalado desconsertadamente.

Os olhos da mãe (e do filho) estavam marejados e os lábios trêmulos.

Assim que o filho recebeu o presente, a mãe o abraçou e gritou em choro. Matteo sem reação, chorando e tremendo, agarrou os ombros inseguros da mãe e deu leves tapinhas.

Com as lágrimas drenadas, Matteo acionou a alça de sua mala e foi em direção ao táxi que esperava em frente à sua futura antiga casa.

– Olha aqui, querido, se lembre, ok, do que eu disse, tudo, tá? – Aconselhou Sônia. – Qualquer coisa, Matteo, é sério, Matteo, me liga, tá me ouvindo? – Arrumou a gola da camisa do filho e limpou sua bochecha.

Matteo com os olhos vermelhos virou-se para seu pai, que sentava a uma poltrona próxima:

– Eu já vou, pai. – Falou timidamente.

– Tchau, Matteo. – Disse Felício, pai de Matteo, sem sequer tirar os olhos do jornal que lia para se despedir do próprio filho.

Matteo tentou afastar estas lembranças dispensáveis, já sentia seus olhos ardendo e seu estômago revirar.

Por um momento rápido, Matteo pensou em Sônia. Apesar de ela continuar ligando para ele, Matteo vinha ignorando as chamas há mais ou menos... Uma semana.

Tempo que conhece Lisa. Que egoísta. Matteo não fazia ideia do que queria com Lisa! Se era amizade... Relacionamento sério? Não, não mesmo...! Sequer a conhecia. A única coisa que genuinamente queria era vê-la.

Voltando a mente à sua mãe, Matteo resolveu pegar seu telefone e discar o número da mãe. Atualizá-la de sua vida, petrificar a saudade... E se aliviar de seu remorso.

Quando pegou seu celular e foi à agenda telefônica digital, viu antes de encontrar o número de Sônia, o de Lisa. Por dois segundos, chateou-se por Lisa não ter o ligado... Daí lembrou que Lisa não tem seu número, portanto, quem deveria ter ligado e consecutivamente, sido magoado, seria Matteo e propriamente dito, Lisa.

Encontrou o número de sua querida e amada e apertou tecla verde.

Dados exatos cinco segundos, Matteo fora atendido:

– Matteo, meu filho! – Gritou sua mãe com a voz trêmula. – Por que diabos você não estava me atendendo?!

– Ah, bem, mãe, desculpe... – Tentou perdoar-se Matteo, mas o remorso o apunhalou pelas costas.

– Cale a boca. – Ordenou a mãe. – Não ouse falar nada, não fale nada. Você sabe que eu não posso me preocupar querido. Por favor! – (a mãe de Matteo é hipocondríaca) – Você não sabe o quando comodista foi... Por que você está rindo, Matteo?!

– Ah, mamãe. Você não é doente, meu amor. – Disse o filho carinhoso e um pouco mais aliviado.

– Ah, meu filho, não sei... Hoje em dia tudo é tão perigoso... – E assim começou uma conversa que abordaria tantos assuntos e Matteo viria comer outra maçã e uma mexerica. – Matteo, você já tomou seu banho? Aqui em meu relógio faltam quinze minutos para você ir à faculdade, meu querido.

– Mamãe, ainda falta mais de uma hora para o meu horário. A senhora não quer mais falar comigo?

– Ah, não, claro que não, meu amor. Mas é que eu fico preocupada, vidinha.

– Ah, tá. Bem, mamãe, irei desligar, tenho que ir me arrumar, sabe.

– Tudo bem, meu bem, fique com Deus, ok? Deus lhe abençoe, meu amor. – Assim o telefone, a linha de Sônia, desligou, ficou muda.

Matteo olhou para a tela piscando “Chamada Encerrada” e seu lábio tremeu.

Serviu-se de mais um copo d’água e foi até seu quarto e buscou sua toalha.

Assim que entrou no banheiro, assim que se despiu, assim que recebeu a primeira chuveirada, Matteo desmoronou. Não se podia saber o que era lágrimas nem o que era as gotas do chuveiro.


***

Finalizada toda a sua higienização, Matteo passou a dar várias jorradas de água em seu rosto. Amenizar um pouco a vermelhidão.

Já enxugado, Matteo resolveu decidir que roupa usaria. Sem pensar muito acabou escolhendo roupas que lhe remetessem à sua mãe. Um jeans velho e desbotado e uma camiseta verde com escritos dourados.

Esperava roupas apertando-lhe o quadril e braços, mas para sua surpresa, faltava espaço para preencher a calça jeans que caia. Os únicos indícios de idade que a camiseta representava era que estava um pouco mais curta, deixava tiras de pele para fora caso Matteo levantasse os braços.

Olhou-se pelo reflexo que seu espelho fornecia, seu coração deu um aperto e respirar tornou-se uma atividade escandalosamente difícil.

Via um Matteo com calças folgadas, ombros curvados e uma camiseta que deixava escapar o umbigo. A intenção, em usar tal roupa, era assemelhar-se ao Matteo de 18 anos, mas em reflexo, o Matteo de 23 anos estava patético. Ele havia se esquecido de ter feito a barba e não importava quantas vezes tivesse lavado o rosto, seus olhos continuavam vermelhos. E estava com olheiras.

Já previa que seu dia seria péssimo, nem um pouco ensolarado e o clima seria horrível, igual a sua aparência.


***

Antes de prostrar caminho a universidade, decidiu firmar o jeans com um cinto escolhido a esmo. Mas optou por trocar de camiseta. Visou à mesma quadriculada que usara no dia da montagem da maquete. Precisava lavar suas roupas.

Aí, quando pegou sua mochila, listou mentalmente suas pendencias:

Ir ao supermercado;

Ir a uma lavanderia (caso o final do mês permita);

(talvez nem devesse ter incluído este último item a lista, até hesitou):

Ligar para Lisa.


Tinha total certeza de que só iria lembrar-se de qualquer um dos itens quando colocado contra a parede por algum deles.

Sabendo disso, pegou o bloquinho de post it que estava em uma das estantes ao lado do sofá, com o papelzinho amarelo em mãos, listou o que listar e colou na maçaneta do lado de fora do loft.

Quando chegou a rua, sentiu finas gotas de chuva aterrissando a cabeça e ombros; se auto amaldiçoou por não ter pegado uma jaqueta ou chapéu.

Seu cabelo já estava menos úmido quando chegou à rua, porém, após alguns passos e chegado à esquina, gostas d’água passeavam pela cabeleira loira de Matteo e corriam pela face.

Assim que chegou a esquina, correu até o ponto de ônibus. Sentou em um dos bancos de concreto.

Hoje fazia, oficialmente, uma semana da queda e de seu relógio quebrado, uma semana que conhecia Lisa e tantas coisas já haviam de acontecido – neste curtíssimo período de tempo.

Em contraste a exata semana atrás, haviam lá suas diferenças: anteriormente, estava frio, hoje, chuvoso; Matteo, antes, vinha dopado de irritação, agora Matteo foi obrigado a permitir-se de um pouco de tristeza. Há uma semana, era quase impossível de contar quantas pessoas estavam naquela parada e hoje, só há Matteo, um Matteo sem pressa alguma.

Curvado, com as mãos dadas e com a mochila dando peso as suas costas, Téo levantou-se e partiu ao Portão da Universidade.


Um grupo um tanto exagerado de pessoas estava aglomerado em frente ao quadro de avisos em frente ao “Lanche do Pete”, incluindo Douglas, Lisa e Louis.

Os rapazes viram a interrogação brilhando na testa de Matteo de longe; Douglas encaminhou-se ao loiro quando Louis terminava de se informar com o pessoal.

– Olá Matteo. – Acenou Douglas chacoalhando a própria franja.

– Oi, Douglas. O que há?

– Os professores – juntos com o reitor – inventaram uma peça de teatro e tal.

Como a semana anterior, está terá suas surpresas.


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Notas finais do capítulo

Então, o que achou? Maior parte do capítulo foi escrita em um caderno... Que rendeu alguns comentários lá na minha escola, rs. Aliás, devo agradecer ao meu querido amigo-irmão Emidio Filho que me emprestou o nome de sua mãe para ser o nome da mãe do meu Matteo. E créditos do nome de Felicio. Obregada, irmão. ♥
Fica com Deus, leitor(a) lindo(a).

Ahh, galere, antes que você comente... Queria compartilhar contigo uma nova ideia... Digamos... Novo projeto... É algo beeeeeem diferente de Presos... Mas o protagonista terá a inicial do nome com M, também!