Silver Moon - Me Chame Cantando (tritão) escrita por Oribu san


Capítulo 4
Capítulo 4 - Meu maior troféu. (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

O quarto é o melhor *.* tão grande e cheio de movimento, que tive de dividir em duas partes antes do final da historia no quinto capitulo. espero te ver lá...



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No centro da praça marinha, um aglomerado de seres. No centro do aglomerado de seres, uma plataforma de lutas. E no centro da plataforma, obviamente os lutadores. Quinze dos tritões mais fortes de todo a mar estavam ali, se preparando para a disputa.

– Aísha. Você está com Malaquias ai? – Seu garoto lhe perguntou, apertando os braceletes nos pulsos.

– Claro que sim. E com Anabeth também.

Ela vasculhava em sua bolsinha enquanto Lenny fitava o objeto. Curioso para saber o que sairia dali. “Afinal o que seria um Malaquias? Que droga era Anabeth?”

Revelaram-se apenas duas caixinhas. Da preta, Risal tirou dois anéis, e os colocou um no maior dedo de cada mão. A outra ele já tinha visto antes. Claro. Era a mesma caixa que Tristan fora buscar na loja de Zed Rubber. O que seria? Outro par de anéis?

Não. Não era. Suas perguntas foram respondidas ao ver sair dali um tubinho metálico, da grossura de um lápis, porem menor que um.

– Vai torcer por min? – Os olhos azulados surpreenderam o garoto mais uma vez. Quando ele havia chegado tão perto?

Sua boca abriu inconscientemente preparando-se para beija a outra tão próxima. Aproveitando que a traidora já estava aberta, Lenny solto as palavras antes de se trair por completo.

– Vou. Vou sim.

Uma criatura meio homem meio polvo abriu a enorme bocarra no centro de um palanque, alertando a toda a multidão ansiosa e aos lutadores o inicio dos confrontos.

– Bem vindos senhoras e senhores a mais uma competição desportiva tsukimarine! – Sua voz era audível e animada. Qualquer um poderia escuta-lo anunciando as regras, como o apresentador que era. – Este ano nossos guerreiros de ferro terão de se enfrentar corpo a corpo. Deixando suas armas apenas para a batalha final. É emocionante ou não é? – Ele puxava bem a euforia do publico, deixando aquela multidão ainda mais barulhenta mostrando o troféu dourado em forma de serpente marinha. – Qual deles ira levar pra casa o troféu Titã do mar?!

– Xi. Olha só, o troféu tem o mesmo nome que você Titã.

– Que nada. – Marcel corrigiu o pardo. – Ele que tem o nome do troféu. Nosso Titã aqui já ganhou três competições seguidas. E esse ano vai ser a quarta né Titã?

Ele apenas riu atracando-se a Risal. Que sempre ficava em segundo lugar.

– Não se ele me impedir.

Ao anuncio do homem polvo eles foram onde estavam os demais lutadores. Deixando a garota, o mestiço e o ruivo, para trás na torcida.

– Ei Marcel, você não vai com eles? – Questionava o novato.

– O QUÊ!!! Eu não Lenny. Eu seria massacrado. Meu esporte é outro.

Ele ignorou um pouco a conversa, virando-se para aplaudir junto a todos os guerreiros que entravam. Iniciaram-se as lutas com Inanis o homem crustáceo, sendo desclassificado por ferir seriamente um competidor. Todo tipo de golpe ou estratégia era tolerado, e uma vez começado uma luta ela só poderia ser parada quando ficasse claro o vencedor, mas não havia motivo para a selvageria do golpe que ele aplicou, cortando grande parte das costas de Hivai, seu oponente. A calda negra de Risal movia-se incontrolável enquanto este furioso precisava ser segurado por quase todos os lutadores, para não avançar sobre Inanis.

– Seu fracote, trapaceiro. O cara já tava quase perdendo. Precisava fazer aquilo!? Você tem sorte de tá fora, se não eu mesmo ia abrir essa sua casca oca... Tá me ouvindo?!  Inanis!!!

Risal podia tolerar e não dar importância a muitas coisas, mas injustiça contra os mais fracos não era uma delas.

Bruno lutou com Ícaro, que perdeu pra Leone enfrentado por Karon. Leone havia perdido porque seu longo cabelo carmesim ficara preço no ringue. Ele, que só tinha ido ali para lutar com Risal, na esperança de vencer e pedi-lo em namoro. Foi melhor que tivesse perdido mesmo, pois se enfrentasse o outro e por um milagre vencesse. Só Deus sabe o que aconteceria.

Karon arrastou-se para a força de Tristan. E os demais foram caindo um a um entre ele e Risal a qual as lutas não custavam a demorar mais de trinta segundos.

– Penúltima luta, senhoras e senhores o vencedor enfrentara o já famoso Titã, na grande final!!!

Do lado esquerdo da arena surgia Luca o desafiante. Postado ao lado direito vinha o terror de calda negra. Ele era forte, tinha músculos, mas Luca conseguia ser ainda maior do que ele. Antes de soar o sinal, Luca disparou-se sobre ele tentando lhe prender aos braços. Só o que ele conseguiu agarrar foi água.

– Cadê? Onde você está?

– Atrás de você.

Quando Luca percebeu o par de olhos cor de sangue surgia por sobre seus ombros. A simples visão daqueles olhos frios e medonhos fez seu sangue gelar, ficando paralisado onde estava. Dando tempo para que o outro lhe aplicasse o golpe de misericórdia. Um soco na direção do chão, com força suficiente para Luca não sair mais dele.

– Vinte... Vinte e dois segundos meu povo. É um novo recorde!!!!

Ele apertou o punho que estralava, a cara de Luca com certeza era muito dura. Foi ao solo, aproximou sou rosto junto ao do perdedor e então lhe disse convencido.

– Da próxima vez. Espera o sinal tocar tá?

Ergueu-se de novo, rompendo sua cara seria apenas por um momento para mandar um beijo a Aísha. Esperando o confronto final. Lenny ficara boquiaberto com o espetáculo. Certamente não iria querer topar com nenhum daqueles caras numa briga por ai.

– Eu te disse. É um massacre. – Marcel insistia na piada. – Agora vem a melhor parte. A luta com armas.

– E como é que eles vão lutar com aquilo? – Ele questionava vendo os dois amigos na final recebendo suas caixas.

Risal recolocou seus anéis. Cruzou os braços em forma de “x” e ao fechar as mãos, os anéis se armaram como garras. Três grandes lâminas metálicas em cada mão.

– Ah. Isso é Malaquias.

– Isso...  E aquela é Anabeth.

Tristan apertou seu “brinquedinho” na mão e ele cresceu se tornando um lindo tridente que reduzia.

Só não brilhava mais do que o fogo da batalha em ambos os olhos e sorrisos dos garotos sobre a arena. As centenas de pessoas (se é que se pode chamar assim) gritavam seus nomes. Principalmente as garotas, que Titã acenava com simpatia. As fãs de Risal eram mais eufóricas e sempre havia duas ou três que desmaiavam. Só por ele lhes olhar com sua cara fechada.

– Estão prontos? – Se puseram em posição. – VÃO!!!

A luta começou com eles chocando suas armas no centro da plataforma uma contra a outra com tanta força que os metais faiscariam se não fosse pela água. Separando-se depois com a mesma força. Permaneceram assim por um tempo, entrando em choques de força e velocidade. Risal trancou as Malaquias na arma de Titã tentando o forçar a larga-la. Ele girou o tridente e o corpo com mais força, desvencilhando o objeto e ainda acertando um ataque de calda contra Risal lhe arranhando um pouco o braço.

– Você tá bem parceiro?

– Nunca estive melhor.

Continuava a avançar sobre Titã, que se defendia velozmente com seu tridente. Uma distração, por um minuto, quase o fez perder a luta. Não pode resistir a imaginar que tipo de cara linda Lenny estaria fazendo ao ver a partida. Seu amigo não percebeu sua distração. E por pouco lhe arrancou a cabeça. Cortando-lhe apenas alguns fios de cabelo. Dois ou três.

– Presta atenção Titã! Não quero vencer se for assim. – Continuava a desferir e sofre golpes.

Nadando com agilidade na forma de um oito Risal derrubou Tristan, usando sue próprio tridente contra ele, para prendê-lo ao chão. Ambos estavam usando muita força para empurra-lo, mesmo que em direções opostas. Tendo aquela barra de ferro lhe imprensando o peito contra o solo, Titã perdia cada vez mais o folego. Olhou então para o humano a beira da arena, que exibia uma expressão pasma no rosto, e então um grito.

– VOCÊ NÃO PODE PERDER TITÃ!!!

Aquilo gritou mais auto dentro dele do que qualquer som vindo da multidão.

– Arrg... – Ele ergueu-se com uma força sobre humana. Transformou sua calda no par de pernas com bermuda e as usou pra derrubar e segurar Risal no solo, enquanto Tristan ficava de pé sobre ele lhe apontando o tridente recuperado contra o pescoço numa pose heroica. Era o fim.

– Sempre tem o ano que vem – Ele ofegava recuperando o folego debaixo d’agua. – Não é parceiro? – Estendeu a mão num ato de camaradagem para ajudar Risal a se levantar.

– Sempre. – Agarrou a mão de seu melhor amigo.

O publico ia à loucura. Todos os anos eles se enfrentavam, e a cada um deles aquilo ficava melhor.

– É. Muito bem. E pelo quarto ano consecutivo. Titã é o grande vencedor. – O ser erguia seu braço um dos tentáculos enquanto ele ria para todos. – Muito bem garoto. Volte no fim das outras competições para a entrega dos prêmios ok?

Ele assentiu, então pegou Risal e desceram da plataforma em direção aos demais. Recebendo ambos aplausos, assobios, e comemorações.

– Que droga. Eu quase ganhei... – Virou sua atenção para Lenny. – Ei garoto! Me faça um favor... Ano que vem... Fique em casa.

– Meu anjinho! – Aísha atracou-se a seu namorado. Exagerando o machucado em seu braço, cuja água salgada já havia estancado.

– O quê? Estou bem. – Ele tentava desata-la, mas sempre se rendia.

– Me deixa cuidar disso. – Ela o abraçou com cuidado para não apertar muito as costelas feridas. E à medida que cantava o corte e o resto foi cicatrizando.

Titã estava ao lado de seu convidado e pondo a mão sobre o pescoço insinuou.

– Acho que também tô precisando de uma canção dessas.

Antes de poder pôr suas mãos sobre o mais novo, suas fãs o agarraram.

– Eu canto!

– Não. Eu!

– Eu é que vou cantar pra ele!

– Ai me larga. Solta meu cabelo!

– Não. Solta você!

Aos poucos Lenny foi ficando pra trás enquanto Titã tentava lhe achar. “Ele realmente se dá bem com as mulheres. Não é?” Era o que pensava se afastando dessa vez por conta própria. Suas lagrimas não podiam ser vistas debaixo d’agua, mas queria ficar um pouco a sós com seu pensamentos. Foi então que ao passar próximo a um beco ouviu uma conversa estranha, com uma voz que ele já havia escutado antes.

– Você me entendeu não é? Têm que vencer a prova da corrida. – Era Ula. Estava dando ordens a um ser que era da cintura pra cima homem e dela para baixo tubarão. Um lacaio com certeza. – O único ponto fraco de Titã, são seus amigos. E como Risal é tão poderoso quanto ele, e aquela seca da Aísha está com ele. Só me resta pegar quem?

– Quem?

– Marcel. Seu idiota! Tenho que esmaga-lo como o inseto laranja que é.

Lenny recuou com aquilo e deixou um ruído escapar de onde ele estava. Tentou sair dali, mas quando se virou o servo de Ula já estava atrás de si. De certo era burro como uma porta, mas muito veloz.

– Ora, ora, ora. Mas vejam só o que nós temos aqui Golias. Se não é o mais novo amiguinho do Titã. – O apertava as bochechas com as unhas negras enquanto o maior o segurava pelos braços.

– O que vai fazer com Marcel? – Ele puxou o rosto. – Não vou deixar que faça mau a nenhum deles!

– Humn... Valente. E que espirito puro. Sabe... Era justamente isso que Tristan dizia que faltava em mim. Claro. Isso e um coração, mas isso não importa agora. – Ela sempre falava entre o deboche e o veneno. Isso deixava o cativo ali rosnando.

– Não sou valente. O seu tipo de criatura nojenta é que me deixa assim.

Ula mal conhecia Lenny, mas já estava tomando ódio por ele. Quem era ele que não a temia? E o brilho em seus olhos castanhos? Tinha uma força vinda de seu espirito, que criaturas malignas como ela não aguentavam. Não poderia feri-lo diretamente nem que tentasse. Então lhe rogou um feitiço.

– Torturar esse seu coraçãozinho vai ser mais divertido do que te matar agora. – Com a ponta da unha do dedo indicador, tocou seu pescoço apertando. – Você não vai conseguir pronunciar uma palavra sobre o que viu aqui, até que a corrida termine.

A cor negra em sua unha invadiu o pescoço do garoto serpenteando, e depois sumiu. Golias o largou e ele saiu nadando o mais rápido que pôde.

– Isso... Vá. Vá e tente contar alguma coisa. Ver o desespero em seus olhos por saber que não pode avisa-los, nem ajuda-los, depois de acabar com o coração de Titã, será o meu maior prazer.

– Titã! Marcel...

– Ei, onde você estava..?

– Marcel o que vai acontecer na prova da corrida esse ano? Qual são as regras? – Ele parecia desesperado para saber do que a feiticeira estava falando.

– Deixa eu ver... É... Ah é. Vamos nadar daqui até o desfiladeiro, passar pela toca dos cogumelos fosforescentes, pegar uma bandeira no navio fantasma e depois voltar por dentro da cidade até aqui.

– Só isso? – “Ela pode ter armado alguma coisa em qualquer um desses lugares”

– Não... Esse ano vou dar uma de Titã também. O primeiro e segundo lugar vão ter de lutar pelo troféu.

“Então era isso! Ela sabia que Marcel venceria e Golias o enfrentaria no final pelo troféu.”

– Marcel você não pode... Não deve... – Sua voz travava na garganta.

– Do que está falando? Não tô conseguindo te entender. – Colocou as mãos sobre o ombro Dele com seu típico sorriso amigável.

– Nadadores. Por favor, comparecer as suas posições na linha de largada. – Tocava o sinal sonoro acelerando o coração enfeitiçado. “Essa não”.

Quanto mais tentava, menos as palavras de alerta saiam. Era como se algo em sua garganta estivesse devorando as palavras quando elas subiam e o castigando por tentar.

– Anda logo seu burro-marinho ou vai perder a largada. – Risal o pegava pela orelha.

– Torçam por mim! – Ele se foi.

“NÃO!!!” Gritava alto sua mente na esperança de que alguém pudesse ouvir. Lenny afastou-se rápido dali, indo na direção oposta. Largando os outros que ficaram para ver a corrida de onde Marcel não voltaria vivo.

– Lenny! – Titã tentou segura-lo, mas ele já havia sumido entre a multidão.

– Deixa... Não deve ser nada importante. – O outro que ficara deu de ombros. – Se fosse, ele teria dito, não é?

Os tritões de corrida já estavam prontos, o publico a espera, os juízes terminavam de avaliar as inscrições. Só faltava mesmo agora a partida. A figura sombria de Golias apareceu por ultimo, amedrontando alguns dos tritões de porte menor. Sua pele acinzentada com cicatrizes por todo o corpo grande e monstruoso, as orelhas pontudas e os olhos totalmente negros, tanto dentro quanto fora da íris. Um dos participantes tentou lhe espiar com o canto da visão. Sua percepção animalesca o alertou e ele virou a cabeça do nada, encarando o menor. A testa enrijecida e um sorriso cínico, mostrando os enormes dentes entramelados que eram mais facas do que qualquer outra coisa. Ele todo fedia a morte. Abriu a boca com um bafo de cadáveres, e então sussurrou com uma voz rouca para o ruivo, dois competidores a esquerda dele.

– Boa sorte... Vai precisar.

Marcel não o temia. Tinha em mente que só precisava vencer a corrida. Um corpo daquele tamanho não poderia ser tão rápido, certo? Então não ficara preocupado que ele chegasse nem em quinto. O que dirá em segundo.

– Estão prontos? Todos em suas marcas, preparar...

O juiz Clampbell levanta o peixe buzina em sua mão. Eram os ultimos segundos antes de ele apertar dando a largada.

– ESPEREM... PAREM A CORRIDA!!! – O apresentador interrompeu a largada. Deixando todos cochichando entre si, sem entender o que se passava – Parece que temos uma inscrição de ultima hora. Vindo de fora de Silver Moon... Lenny!

– Lenny?

– Lenny?

– Eu não vou repetir também. Não estão vendo que é o moleque?

– O que ele está fazendo lá? – Tristan o observava, reparando sua cara nostálgica e em seguida descobrindo uma figura suspeita se aproximar furiosa de seu monstro.

– Ula!

– Ula?

– Arg... Tão de brincadeira é?!

As regras da prova, o desaparecimento repentino de seu amado, e o desespero dele ao regressar. Tudo se encaixara em suas mentes agora.

– Então era isso que ele queria disser! – Titã avançou seguido depois pelo casal.

– VÃO!!!

– Marcel. Pare!

Era tarde demais a largada havia sido dada já iniciando com dois participantes feridos.

– Quando foi isso?

– Eu não sei. Quando vi já estava sangrando. – Resmungavam sendo tirados da areia.

– E agora anjinho? O que agente faz? – Ela escondia o rosto em seu peito, enquanto ele a abraçava olhando na direção dos que partiram.

– Agente torce pequena. Agente torce.

Os tritões de corrida eram muito velozes cortando as correntes marinhas, ultrapassando os cardumes. Marcel seguia na liderança, seguido pelos adversários e pelo humano em ultimo lugar, que de ultima hora teve a brilhante ideia maluca de entrar na disputa. Não estava acostumando a utilizar sua outra forma dessa maneira. Os outros eram tão rápidos. Sempre que ele se aproximava de algum, se atrapalhava pela grande quantidade de bolhas que a corrida provocava e ficava em ultimo de novo.

De repente viu Golias reduzir aos poucos a velocidade, propositalmente. “O que vai..?” nem chegou a concluir o pensamento. Sua mente ficou em branco ao perceber qual era seu truque sujo. O movimento que a calda dos outros fazia era para cima e pra baixo, mas a que ele fazia era direta e esquerda, como nada o tubarão. As cartilagens que ele tinha nas laterais do corpo lhe serviam para cortar. Associando a velocidade mais o movimento de sua calda, era assim que ele prejudicava os oponentes e ninguém percebia. Ninguém exceto ele e Lenny que só pode perceber isso graças à posição perdedora em que se encontrava. Claro. Como todo predador Golias não atacava a todos de uma só vez. Esperava sempre a hora certa para dar o bote, sem que ninguém percebesse.

Desciam agora pelo desfiladeiro nadando rápido pra baixo, sempre esperando pelo fundo, para depois nadar em frente formando assim um “L”. Dois desatentos não perceberam o fim do desfiladeiro, e só não se esborracharam nele porque se esbarraram antes de tocar o solo, reduzindo assim a velocidade, mas não impedindo que se ralassem muito, embolando no solo arenoso erguendo uma nuvem de areia que Lenny avistou olhando pra trás preocupado.

“Não posso... tenho que terminar isso primeiro.” Seguiu aumentando aos poucos sua rapidez. Podia sentir as duas perolas amarradas em seu cabelo balançarem frenéticas à medida que ele ia ficando mais rápido. As bolhas já não o atrapalhavam. Como tudo naquele corpo, aprendeu sozinho a proteger os olhos com uma membrana invisível qual nem fazia ideia que possuía. Superou três participantes antes de entrar no túnel escuro que era a caverna dos cogumelos fosforescentes.

Vista de fora o túnel aparentava-se a uma cobra, cheia de voltas o nós. Por dentro onde eles estavam agora, a única coisa que os impedia de bater nas paredes eram os próprios cogumelos que delas brotavam. Além de um pouco estreito mal podiam nadar um ao lado do outro. Na velocidade em que estavam era preciso muita agilidade para não esbarrar nas paredes barrosas que iam em todas as direções, círculos e voltas tal qual uma montanha russa. Finalmente veio a luz que provinha da saída no fim do túnel.

 Quando saiu viu a sua frente apenas Marcel e Golias.

– O quê? Estou em terceiro? – “Como assim? ninguém me passou. Nem eu passei por ninguém”.

De fato. Ninguém mais passou pela boca de saída da caverna. “Será que se perderam?” Contando com o que sabia sobre o monstro ali em frente, a melhor coisa a acontecer, seria que estivessem mesmo perdido.

Logo à frente surgia a o enorme navio, afundado na época da colonização. O inimigo cor de cinzas avançou de bocarra aberta contra o ruivinho, tal qual o animal de que provinha. Marcel tentou e conseguiu desviar-se, porem essa manobra o obrigou a parar, perdendo a liderança e até mesmo o segundo lugar para Lenny que do nada dobrara sua velocidade ficando a apenas “um” metro de distância do monstro que parecia surpreso ao vê-lo.

– O que está fazendo aqui?!

– Quase não tenho amigos... Não vou deixar que acabe com os poucos que tenho! – Ele agarrou-se a calda assassina de Golias que deu um ricochete com o membro, infelizmente para ele, lançando Lenny a sua frente graças ao impulso. Antes mesmo de chegar à velha embarcação naufragada ele pode ver um das bandeiras da prova na sala do capitão. Cruzou os braços em forma de “x” sobre a cabeça e adentrou ali quebrando a janela com o impacto. Não havia tempo para parar. Agarrou o baú cheio de bandeiras e tentou tira-lo dali para joga-lo na vala escura que rodeava o naufrágio, assim atrapalharia tanto Marcel quanto...

– Golias?!

O homem tubarão dera um rasante tentando lhe colher a cabeça. Lenny largou o pesado baú que o atrapalhava para poder desviar-se da mordida, que destruiu o objeto de madeira, espalhando as bandeiras coloridas por toda a parte. Ele agarrou uma e acelerou seguido por Golias que já possuía uma que ficara presa entre os dentes. Marcel passou por eles na direção contraria ainda indo ao navio fantasma, encarando o menor quando se cruzaram no caminho.

As ruas de nova Silver Moon eram semelhantes à dos humanos isso o ajudara a não se confundir. Quando passara como um jato entre as pessoas desviando entre os prédios e casas, eles gritavam animados com o esporte. Quando o predador vinha de encontro a ele, os gritos eram de pavor. Aquilo era mais uma caçada. Ele vinha destruindo tudo o que tocava, com sua calda de afiadas cartilagens ou mesmo abocanhado o que vinha em seu caminho.

Já podiam ver a linha de chegada. Bem longe, mas ainda assim podia ver. Notou então uma grande sombra cobrir a sua. O outro estava sobre ele. Tinha de fazer algo logo ou encontraria seu fim antes mesmo de chegar ao fim daquilo.

– Ei filhote de Deus me livre! Sua mestra não te mandou vencer?

“Você me entendeu não é? Têm que vencer a prova da corrida.” Ecoava a voz de Ula, dentro da cabeça vazia do ogro marinho. Ele tirou sua atenção da caça e investiu na liderança.

Justo quando Lenny pensou que as coisas haviam melhorado um pouco, uma fagulha distante atrás dele fez-se por notar.

– Ah... Não! Agora sei por que te chamam de idiota.

Era Marcel vindo à velocidade de um relâmpago. Seus olhos faiscavam, o cabelo ficara vermelho cor de fogo a mesma cor das listras tigre que apareceram em sua calda braços e costas. Era sua forma suprema, que só brotava quando ficava furioso. Não faltava muito para o fim quando ele o alcançou.

– Então é por isso que você não queria que eu corresse esse ano não é? Você queria vencer.

– Não! Não é isso. – Os dois ainda disputavam.

– Então o que é? Eu pensei que fossemos amigos. – Ele esbarrou de proposito em Lenny. Já estavam no fim. Menos de dez segundos e empatavam por centímetros.

– Desculpa Marcel. Mas não posso te deixar vencer. – Ele esticou os braços pra frente no ultimo segundo. Os três cruzaram a linha de chegada. Golias em primeiro, seguido por Lenny e Marcel que ficou em terceiro por causa dos braços do outro que tocaram a chegada cinco centímetros antes de seu rosto.

– Uwau... Que virada impressionante dos fatos. O visitante venceu o competidor local!

– Espero que esteja feliz. – Marcel passou esbarrando com força em Lenny que boiava de cabeça baixa. Sendo chamado em seguida por uma assistente, para se preparar a luta com o vencedor.

– Estou.

Deu um sorriso fraco e depois ia a seguir, quando Titã o agarrou agitado pelo braço.

– O que pensa que vai fazer? Está na cara que isso é uma armadilha.

– O que parece que vou fazer? Eu tenho que brigar com ele Titã.

– Ele tem razão Titã. – Risal interferiu. – Se ele quer lutar...

– Eu não quero... Não vou deixar ele subir lá!

Lenny teria de ir, ou seria considerado desistente e Marcel entraria em seu lugar, estragando tudo pelo qual ele passou. As palavras descontroladas estavam irritando Risal o fazendo crescer em gritos sobre Tristan.

– Admita logo seu imbecil. Você teria feito o mesmo que ele por qualquer um de nós... Por nós?! Por qualquer um.

– Mas... Ele vai ser destruído.

– Parem vocês dois. – Aísha se colocou entre eles implorando para que parassem. – Um combate já não é o suficiente?

– Eu...

– Cale a boca, só está deixando todos ainda mais nervosos.

Somente após ver toda aquela discussão foi que o corredor se deu conta do que realmente se passava. Sua raiva logo se converteu em sentimentos misturados, gratidão, arrependimento, tristeza, fazendo assim o sangue esfriar e as listras sumirem a pele.

O Garoto finalmente subia a arena para encontrar seu destino seja ele qual fosse. A bruxa do mar se sentiu ameaçada pela presença de todos eles juntos ali. Então resolveu fugir antes que decidissem procurar por ela. Foi embora com o plano estragado, mas ainda assim mantinha um sorriso no rosto e o pensamento na cabeça. “Não preciso mais ficar aqui. Não importa o que aconteça, eu já venci”.

Postos na plataforma, Golias mal podia esperar para lhe tirar a vida. Um vez dado o sinal nada o poderia parar. Apertou os punhos e o juiz autorizou. Até mesmo ele rezava para que o forasteiro tivesse um plano.

– “Comecem”.

Ao som da ultima silaba ele já possuía o pescoço do adolescente em suas mãos, o arremessando para fora da arena. O corpo nem chegou a tocar o chão ele o arrebatou com agilidade, levando-o para fora da cidade, indo próximo ao desfiladeiro rochoso com grandes paredes de pedra.

– Não se preocupe. Vou me divertir um pouco, antes de te matar.

– Quem diria. Então você fala coisa feia? – Tentava não dar o braço a torcer, mas a corrida o tinha esgotado, e o único golpe que levara, foi o suficiente para deixa-lo mole.

A população inteira os seguiu até ali, nada nas regras impedia que mudassem de local. Entre os inúmeros curiosos, o pequeno grupo de amigos permanecia sem poder fazer nada, se não assistir de mãos atadas. O ser malicioso largava o outro corpo sem forças na água, sempre o atropelando em seguida. Repetindo essas batidas inúmeras vezes.

– Não está tornando as coisas divertidas. Achei que teria de te caçar pelo menos. – Ele bronqueava cansando da brincadeira.

Largou-o mais uma vez, esperou que o corpo afundasse devagar e quando finalmente chegou próximo ao chão deu-lhe um soco no estomago com tanta força que elevou uma cortina de areia. Afastou-se um pouco do corpo e permaneceu como os demais, aguardando que ele se movesse.

Não moveu.

Aísha escondeu novamente seu rosto, enquanto Marcel agarrava a própria calda, até mesmo Risal se calara. Tristan caiu de joelhos, quais ainda tinha, segurando firme o fecho em sua mão enquanto o rosto se apertava como se estive saindo lagrimas que não podiam ser vistas.

– Lenny... Lenny. – Uma voz calma e macia o chamava dentro de sua cabeça.

Estava quase morto. Não via nada. Apenas o escuro de dentro de sua mente. A voz era tão suave e sem pressa. Que qualquer um se sentiria flutuar.

– Mãe... É você?

– Oh meu querido. O que está fazendo?

– Eu perdi mãe. Não consigo abrir os olhos. Nem sinto meu corpo.

Tristan sentiu-se arrepiar, levantou rápido a cabeça, olhando pra frente, e parecia que só ele podia ver aquela linda mulher negra de longos cabelos cacheados e vestido branco flutuando sobre o corpo de Lenny lhe tocando o rosto com a mão transparente.

– xiii. Fique calmo meu anjo, não chore. Vou provar que você ainda está vivo. Lembro que adorava brincar de adivinhações. Vamos ver se sabe o que é isso... É azul, gentil e tem um sorriso que faz seu coraçãozinho bater mais rápido.

– Titã. – A resposta saiu de seu corpo deitado na areia.

– É bonito e adora doces.

– Titã. – A voz ia ganhando força.

– Isso mesmo amor. É ele. – O vozear se calou por alguns segundos. – Eu já deixei você e seu pai sozinhos por muito tempo. Não o deixe ficar sozinho de novo.

O espirito feminino do lado de fora virou a face para Tristan, fechou os olhos castanhos que ele já havia visto iguais, e depois se evanesceu.

– E então querido. O que vai fazer agora?

– Eu não sei... Mas... Não posso morrer ainda!!! – Os olhos se abriram de relance e ele levantou-se assustando a todos. – Ei monstrengo. Quer um pedaço de min? Então venha pegar!

Ele nadou rápido na direção do céu onde a lua cheia o convidava. Golias partiu atrás agitando sua calda de predador o mais rápido possível. Lenny continuava subindo velozmente. Suas forças haviam voltado e agora algo maravilhoso brilhava em seu peito. Subiam e subiam a cem quilômetros por hora num rapidez tão tamanha que quando finalmente alcançaram a superfície em alto mar, foram catapultados tão alto que por um instante poderia até se dizer que não voltariam mais.

Quando a gravidade fez-se presente começaram a despencar do céu. A fera sem cérebro não sabia o que fazer. Já o garoto sabia exatamente o que estava fazendo, inicio uma sequencia de vários giros em pleno ar. Giros que iam ficando mais fortes e mais fortes até que quando chegou próximo o suficiente do outro lhe deu uma tapa de calda de força tão monstruosa que a outra criatura foi arremessada para dentro d’agua sem perder a velocidade da queda indo de encontro às pedras do desfiladeiro.

O impacto com fez ele ficasse desnorteado incapaz de perceber ou de escapar, a uma enorme rocha que se partiu, caindo sobre ele o levando para as profundezas escuras do penhasco, provando o diz o sábio. “A história sempre se repete”. Mais uma vez uma pedra derrubou o Golias. Só que dessa vez, a culpa não foi de Davi.

Houve um pequeno brilho roxo e um tubarão tão normal e inocente quanto os outros, saiu nadando livre de lá.

– Então essa era a sua verdadeira forma.

Só agora que outro caia no mar ainda meio zonzo com a nova manobra que havia acabado inventar. O grupo reunia-se de novo, com sua sereia favorita lhe apertando de um lado e Marcel o apertando do outro tentando dizer algo, mas Risal o impediu.

– Não é preciso. Seja lá o que você queira dizer acho que o moleque já sabe. Então fica calado pra não dizer besteira. – Ele ficou cara a cara com o que tinha a calda violeta, agora falando com ele. – Você é o mais estupido, magrelo, metido... – Era uma bronca seria. – teimoso, e corajoso humano fraco que já tive o prazer de chamar de amigo.

– Então... Nós somos amigos?

– Somos. Mais não espalha. Tenho uma reputação a zelar.

Tristan não sabia o que fazer, se o admirava, se falava, se apertava. Resolveu então fazer tudo ao mesmo tempo. O tomou pra si o segurando firme, deitava a cabeça do jovem em seu ombro sem armadura, ditando de olhos fechados o que sentia.

– Eu fiquei com tanto medo. Pensei que ia te perder. – “O que ele quis dizer com aquilo? Titã tinha mesmo medo de alguma coisa?” – Tem algo eu que queria lhe... – Sua confissão foi interrompida, pelo grito de dor que Lenny deu. – Desculpa tô apertando muito forte, algum machucado?

Iniciando na garganta, uma cor negra foi se espalhando pelas veias do corpo mestiço.



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Notas finais do capítulo

('.../') Não disse que era grande!
(◕.◕) Aqui é Oribu-san agradecendo "Arigatou gozaimasu"
(,,)(,,) ATÉ BREVE...



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