Chegamos então na grande casa. Peço para que o porteiro abra o portão e deixe que eu entre com o carro. Sei que posso levar Harry para dentro, mas não quero transparecer isso para os empregados da casa. 

Paro o carro em alguns passos antes da porta da casa, onde Harriet está toda animada me esperando.

- Allie, Allie, Allie- diz, saltitando.

- Psiu meu anjinho. -digo. - Me ajude aqui com seu irmão, sim? 

Ela me olha assustada depois se aproxima da porta aberta e observa o corpo que está imovel. Ela faz uma cara horrizada.

- Oh, Harry! - é tudo que diz. 

Harriet fica calada enquanto me ajuda a levar Harry para dentro. Dou graças ao pai dele ter mandado colocar novamente a porta no umbral. Isso facilita um pouco. 

Deito-o na cama com a ajuda de um dos mordomos da casa. Se eu ao menos me lembra-se de seu nome.

- Obrigada. - agradeço a ele e o mesmo apenas faz que sim com a cabeça depois nos deixa. Me viro para Harriet, que nos seguiu.

- Não quer ir assistir Barbie enquanto cuido de seu irmão? - pergunto a ela. Ela acena e sai. Inteligente essa minha pequena.

(n.a: agora você coloca a música para tocar.)

Observo o rosto sereno de Harry, dormindo docemente. Sorrio e passo a mão em seus cabelos. 

- Meu docinho. - digo baixinho. 

Fecho a porta do quarto para ter 'privacidade' por assim dizer e libero minhas asas de seu esconderijo. Preciso delas para fazer agora o que devo fazer. Sinto quando minha aura resolve aparecer acima de minha cabeça e sorrio. 

Harry continua dormindo, tendo sonhos que eu queria poder saber quais seriam, mas não posso. Me levanto e vou para o banheiro, pegar um pouco de água para ajudar-me no processo.  Minhas asas quase ficam presas quando passo pelo umbral do banheiro. Sim, elas são enormes. Um pouco maior que minha altura e várias vezes a largura de meu corpo. 

Coloco um pouco de água em um potinho que achei no banheiro e tento não deixar minhas mãos entrarem em contato com a água. Ao menos não agora.

Volto para onde ele está e me ajoelho, colocando o pote a minha frente. Cantaloro uma música que anjos cantam quando parece que não há mais nenhuma esperança para o mundo. 

Minha mão entra em contato com a água e está brilha ao sentir o toque angelical. Ainda cantando, começo a passar a água no rosto dele, molhando-o um pouco. Minhas asas estão envolvendo-nos e brilham para me auxiliar na cura dele.

Vejo que suas palbebras tremem e recolho as asas rapidamente. Ele abre os olhos, sonolentos e eu sorrio.

P.O.V Harry.

Abro meus olhos ao ouvir uma canção doce em uma voz angelical. Sinto como se várias asas de passaros estão me envolvendo.

Assim que meus olhos entram em foco, vejo um lampejo daqueles olhos azuis que parecem me conhecer. 

- Olá. - ela diz depois que para de cantar. 

Vejo uma aura nela e depois pisco. A Aura some.

- Oi.- respondo-a, ainda não compreendendo o que ela está fazendo.

- Onde estou? - pergunto.

- Em seu quarto. - ela responde.

- Mesmo?

- Sim.

- E por que estou todo molhado?

- Estou limpando seus ferimentos.

- Ah.

Ficamos calados por alguns instantes enquanto ela continua a passar seus dedos pelos cortes que se encontram em minha cara. Ela volta a cantar novamente. 

- Alison... - começo.

- Pode me chamar de Allie, se quiser. - ela diz, sorrindente e depois vontando a cantar.

- Obrigada. - agradeço.

- Pelo que?

- Por ter feito o que fez. Eu deveria estar com vergonha, mas não estou. Tenho que dizer que você deu uma bela surra no Joe.

Ela começa a dar risada junto comigo mas depois para. Percebo que há um misto de triste e culpa em seu olhar.

- Eu não deveria ter feito isso. - ela diz. - Mas eu precisava lhe proteger.

Não entendo o que ela quer dizer com isso. Ela tira as mãos de mim e depois as seca. Acho que finalmente parou de limpar meus machucados.

Fito-a por um instante até que finalmente consigo perguntar:

- Por que você fez isso, Allie? 

P.O.V Allie.

 - Por que você fez isso, Allie? - ele pergunta.

Seus olhos verdes me fitam, e isso me deixa um tanto quanto nervosa.

- Qual é mesmo seu problema, Harry? - pergunto, fingindo estar irritada com ele. Mas não estou. Maldito humano que me deixa nervosa só com aqueles olhos.

- Por que você nunca me diz qual é seu verdadeiro proposito, Allie?- pergunta ele, como se não tivesse escutado que eu não estou nem um pouco afim de lhe responder.

Dou um enorme suspiro e olho para minhas mãos,que ficam entrelaçadas e tremulas.

- Meu proposito é cuidar de você, Harry. - respondo.

- Mas você é tão frágil!- diz ele, balançando a cabeça de forma negativa.

Dou o mais minusculo dos sorrisos e tenho vontade de lhe responder 'É que você ainda não viu minhas asas', mas não é o que eu respondo, é claro

 - Eu coloquei o maior brutamontes da escola para dormir, se esqueceu disso? - pergunto, dando um risinho forçado. Ele sorri e concorda, mas depois diz.

- Mas mesmo assim. Você é frágil, Allie. Me vejo protegendo você, mas você me protegendo é estranho pensar nisso.

Reviro os olhos.

- Nem sempre é assim. - resmungo. Minhas asas querem novamente sair de seus esconderijos, mas não deixo. Me levanto e dou um beijo na testa dele, como uma benção.

- A onde vai? - ele pergunta.

- Tenho que ver sua irmã. Sou babá dela, lembra? - digo, rindo.

- Ah... 

Olho para ele e depois pego um pacotinho de pastilha no bolso de meu shorts. Dou para ele.

- O que é isso? - pergunta.

- Coma. Só isso. Vai ajuda-lo a dormir. - respondo.

- Não quero dormir.

- Tem que dormir para sarar.

- Mesmo assim, não quero.

- Você está parecendo uma criança, Harold Benjamin Johnson!

- E você está sendo muito mandona, Alison Smith!

Balanço a cabeça.

- Come, por favor. Tem gostinho de morango. - digo.

Ele finalmente para de ser teimoso e coloca a pastilha na boca. Dou um sorriso para ele e saio de seu quarto. Harriet está me esperando, como eu desconfiava que estava. Ela me olha com um sorriso lindo.

- O que foi, meu amor? - pergunto.

- Você tem asas lindas! - é tudo o que ela responde. 

- Você só pode estar brincando comigo, Ettie. - digo, tentando não demonstrar o quanto fico com medo.

- Tudo bem. - ela sussurra. - Seu grande segredo está guardado comigo.

Ela faz um xis perto do peito e depois sai correndo, dizendo que está comigo no pega pega mais uma vez. 

Sorrio e saio correndo atrás dela.