Eu ainda não tinha me acostumado a isso, acho que nunca vou me acostumar, não ter mais o Fred aqui comigo é tão doloroso, não sei como descrever tamanha solidão, quando o Fred se foi naquele dia junto com ele foi uma parte de mim, uma grande parte de mim que residia nele, passar pelos corredores da toca e não o ver mais ali era terrível, falar algo e ele não estar ao meu lado para completar a frase me deixava triste, na verdade desesperado, entrar dentro daquele quarto e não o ter mais ali dentro era sufocante, o Fred não estava mais comigo, não estava mais ao meu lado e eu não conseguia me acostumar com aquela solidão que ficou quando ele partiu.

Para não precisar dar de cara com tudo o que me lembrava ele, sai da toca e fui morar em um aposento do Gemialidades, não era nenhum apartamento de luxo, mais o bastante para mim.

Eu estava agora entrando no cemitério pra visita-lo como faço todas as sextas, geralmente eu só fico lá, pensando nos momentos que passamos juntos em hogwarts, o que aprontamos e as meninas que nós dividíamos, aquilo me deixava muito mais triste, mais dessa vez eu quis fazer diferente, conversar com ele, ver se me fazia sentir melhor. Cheguei ao tumulo, não, eu não estava acostumado com aquilo, e tenho certeza que nunca irei me acostumar, o Fred não está mais aqui entende? Não tem mais “Os gêmeos”, agora sou só eu e o vazio que ficou quando ele se foi.

–Oi irmão- Falei sentando-me na ponta do tumulo e sorrindo fraco.- Ta tudo bem por ai? Onde quer que você esteja espero que sim, não sei se isso vai adiantar muito, mas pensei em hoje fazermos uma coisa diferente, todas as sextas eu venho aqui e fico sentado, isso deve ser entediante pra você, desculpa, não devo estar sendo a melhor companhia no momento, então por que a gente não conversa um pouco? Eu te conto coisas que estão acontecendo por aqui e acho que assim você não vai ficar me xingando por ficar aqui sentado calado. – Eu já estava com um aperto no peito, um nó se formava em minha garganta. – Então, o Rony está namorando com a Mione, pois é, finalmente nosso irmão desencalhou, o Harry e a Gina agora também estão namorando, torço muito pro namoro dos dois, só espero que o Harry consiga aguentar a tagarela da Gina, a mamãe continua chorando, as vezes a pego nesses momentos quando perco o sono a noite e vou para a sala ela está lá, olhando fotos nossas e chorando, sento com ela e a gente relembra alguns momentos, as vezes é bom, mais só de lembrar dói também. – Eu já estava chorando, quase sem conseguir falar, já não aguentando mais me ajoelhei ao pé do tumulo e continuei. – Desculpa irmão, desculpa Fred, me desculpa por não estar lá para te proteger, era meu dever não era? Um proteger o outro, é isso que os irmãos fazem, se protegem, mais não, eu não estava lá quando você mais precisou, eu não estava junto de você, por favor Fred, me desculpa, eu nunca deveria ter te deixado só, deveria ter te arrastado comigo para o outro lado do castelo, não deveria ter deixado que você morresse desse jeito. Me desculpa. Eu sinto tanto por isso.

Eu já estava sem conseguir falar, não conseguia mais soltar uma palavra, e eu tentando nem eu mesmo entendia o que estava dizendo, já soluçava em meio as lagrimas e com as mãos no seu tumulo, mais nada do que eu falei foi besteira, era o que eu achava, eu deveria ter o protegido, mais do que qualquer um era meu dever estar ao lado do Fred na batalha, mais não, eu falhei e ele morreu, morreu e não pude fazer nada.

Ainda sem conseguir parar de chorar encostei minha cabeça no mármore frio e fiquei ali sussurrando “ Me desculpa”, “Me desculpa Fred”, “Me desculpa irmão.” Fiquei acho que pouco mais de uma hora ajoelhado me desculpando e chorando, depois me levantei, despedi-me dele e ainda com os olhos vermelhos e ardendo desci para a Gemialidades, subi para meu apartamento e assim, pensando na minha visita ao Fred adormeci.

– George? Sempre preguiçoso, acorda irmão.

Senti algo me balançando na cama, e quando pude reconhecer a voz acordei em um pulo e levantei-me da cama.

–FRED! – Ele estava na minha frente, minha réplica perfeita estava diante de mim novamente, ali, comigo, eu podia toca-lo, sem pensar em nada o abracei, quanta saudade. – Fred, mais como? O que? – Não conseguia falar, gaguejava as palavras vendo o Fred sorrir.

– Oi cara, não me abraça, isso soou muito gay, não é depois de morto que você vai sujar minha reputação George, assim como vou conseguir algumas coisas com as anjinhas lá em cima hein?

– Mais eu não entendo, você está morto, e como está aqui comigo? Eu tenho tanto a te dizer Fred, antes de tudo queria me desculpar por não estar com você, eu deveria...

– Não George, eu vim aqui já para tirar isso a limpo e dizer que nada foi culpa sua, não teria como evitar, se eu morri foi porquê Merlin quis e não porquê você não me protegeu, longe disso...

–Mas eu sinto tanto Fred. – Falava já com lagrimas nos olhos.

–Não sinta, não há porque sentir, não tenha pena dos mortos George, tenha pena dos vivos, e principalmente aqueles que vivem sem amor. Você anda se afastando demais das pessoas desde a batalha, não faça isso.

– Mas eu não tenho vontade de falar com ninguém, a companhia deles não é a mesma que a sua, não é a mesma coisa.

– Claro que não é! Eu sou único, ninguém vai me substituir. – Ele falou com um tom obvio. – O que eu quero te dizer é que você não deve perder a alegria da vida só por achar que não estou mais ao seu lado. Eu sempre estarei com você irmão. Sempre estarei aqui.- Fred falou colocando a mão no coração.- Sempre.

– Como você pode estar morto e conversar comigo assim? Isso tudo é real? – Falava já aos soluços.

– Claro que não é real seu completo idiota, você perdeu o juízo por acaso? Eu não sou um zumbi, fantasma ou coisa parecida, estou na sua mente e você está sonhando... Mas isso não significa que eu não esteja aqui, eu posso estar, até por que você me carrega consigo para onde for. Agora eu preciso ir, tenho um encontro com uma menina lá no céu, até que não é tão ruim morrer sabia?

– Mas Fred...

–Até o cemitério cara.

Fred falou desaparecendo com um aceno de despedida, e depois não restava mais vestígios dele ali, então veio uma luz branca me cegando e de repente eu acordei. Estava deitado na minha cama, aquilo fora só um sonho, mais como Fred disse não significava que ele não era real, ainda podia sentir a presença dele ali, então deitei minha cabeça novamente e pude por um momento pensar em sonhar novamente com o Fred.

"We'll find a place where the sun still shines and, i will love you, dear, always"