O despertador tocou e Peter jogou-o tão longe que ele atravessou a janela. Ele acordou assustado.

– Ah, de novo! Mas que droga!

Tia May bateu à porta do quarto, assustada. Tinha ouvido o barulho do vidro da janela se quebrar.

Peter vestiu-se de pressa, pois já estava atrasado para a aula e disse:

– Tudo bem Tia May, eu quebrei a janela sem querer!

– Esses meninos e suas ‘‘radicais idades’’... – disse a tia franzindo a testa e se afastando.

Ao chegar na escola, Peter viu Gwen de longe, conversando com Flash, um inimigo detestável desde que Peter entrou no colégio Midtown. Ele ficou observando por instantes a conversa dos dois, até que Flash tentou beijá-la, mas Gwen recuou e se afastou. Peter apertou as mãos, com raiva e ciúme. O sinal tocou e quando Peter virou-se para vê-los novamente, percebeu que nenhum dos dois estava ali. Resolveu ir para a classe.

Passaram-se três aulas longas e entediantes. A primeira era matemática, a segunda história e a terceira, filosofia. Ao saírem para o recreio, a sala tumultuou. Todos saíram e na classe ficaram apenas Peter e Gwen por último. Ela guardava alguns livros na bolsa e Peter pegava o dinheiro para comprar um refrigerante durante o intervalo, enquanto a observava. Ela não queria falar com ele. Apenas o cumprimentou com algumas palavras e quando ia sair da sala, acabou tropeçando em uma das carteiras, mas Peter imediatamente a segurou antes que ela caísse no chão e se machucasse.

– Você está bem? – ele perguntou olhando nos olhos dela.

– Es... Estou. – ela disse voltando seu olhar para ele.

Peter não conseguia resistir àquele doce olhar que Gwen sempre lançava para ele. Sentiu uma enorme vontade de beijá-la. Mas ela se soltou dos braços dele, se afastando.

– Obrigada por me ajudar, mas... Tenho que ir.

Ele apenas ficou olhando a garota até ela sair da sala.

No intervalo, Peter notou que Flash não parava de conversar com Gwen. Parecia que ele tentava criar certa intimidade com ela. Peter logo percebeu que essa poderia ser a nova estratégia de Flash para se ‘’vingar’’ de Peter. Afinal, Flash era orgulhoso, e não suportava perder para ninguém, principalmente em um jogo de basquete, sendo humilhado por não conseguir tomar a bola de Peter Parker, o garoto esquisito da escola e detestado por todos.

Peter tentava disfarçar, mas não conseguia. No final do intervalo, ele cruzou com Flash e parou o garoto no mesmo instante.

– O que você quer com a Gwen?

– Ah, o garotinho apaixonado não consegue suportar levar um fora. – respondeu Flash num tom de deboche.

– Não foi isso que aconteceu! E você ainda não respondeu a minha pergunta, cara!

– E o que isso te interessa? Você não enxerga? Gwen está cansada de você, é óbvio.

Peter se afastou sem responder Flash. Apenas ouviu atrás de si risos, obviamente de seu grande inimigo e os amigos metidos dele.

O segundo sinal tocou e Peter dirigiu-se para a sala do laboratório de ciências. Era aula prática de química. O professor percebeu que ele e Flash estavam atrasados.

– Vocês deveriam aprender a ser pontuais! Francamente! – resmungou o professor dirigindo-se para os dois.

– Desculpe professor George. – respondeu Peter dirigindo-se para seu lugar.

Como o laboratório de ciências era totalmente diferente e dividia-se em bancadas, com lugares para duas pessoas, com seu respectivo mapeamento, o lugar de Peter era na mesma bancada que a de Gwen. Ele sentou-se imediatamente ao lado dela e ela o fitou.

– Aqui. – disse ela. – o professor já explicou o que precisamos fazer hoje. Temos uma estante com alguns tubos de ensaio. Precisamos modificar as cores de cada substância que contém neles, através de experimentos.

– Certo. Entendi. – respondeu Peter examinando os tubos de ensaio.

Peter não parava de olhar para a garota. Até que tomou coragem e perguntou:

– Você está com o Flash?

– Claro que não... – respondeu ela concentrada nos experimentos. – Ele fica me cantando, mas eu sempre te disse que ele não faz o meu tipo. E não mudei minha opinião.

– Que bom. –sorriu ele. - Fico feliz em saber que você continua pensando assim.

Gwen ficou calada por um tempo e em seguida passou um tubo para Peter que estava com uma substância de cor roxa.

– Que tal? –murmurou ela.

– Ótimo! – respondeu Peter examinando atentamente a substância. – Você realmente é muito boa nisso.

– Biologia e química sempre foram duas das minhas grandes paixões. –sorriu Gwen um pouco animada. – Bom agora você pode responder às questões enquanto eu termino os outros experimentos?

– Claro. – Peter pegou a folha e a caneta e começou a escrever.

Gwen o fitava sem parar, já que ele estava concentrado e não percebia os olhares da garota. Mas por um instante, quando ele virou-se para ela, percebeu que ela o olhava. Ela imediatamente virou-se para frente e descuidou-se deixando cair um béquer que estava em cima da mesa no chão, que quebrou imediatamente.

– Ah, não. – ela abaixou a cabeça nervosa.

Peter a olhava assustado. O professor George imediatamente foi até a bancada deles.

– Mas o que foi isso, senhorita Stacy?! Precisa ter mais cuidado com os instrumentos da escola!

– Me desculpe professor, foi sem querer, eu...

– A culpa foi minha, professor. – Peter interrompeu Gwen, percebendo que a garota estava nervosa.

Gwen tentou dizer a verdade ao professor, mas Peter não parava de falar.

– O que? Mas como senhor Parker? – indagou o professor.

– Eu... Fui perguntar uma coisa para Gwen sobre a questão 4 e esbarrei no béquer sem querer. Gwen apenas tentou salvá-lo, mas ele caiu no chão e se quebrou.

– Estou certo de que foi um acidente. Mas deve estar ciente de que deverá pagar o preço deste material. Afinal, um béquer não é muito barato, o senhor já deve saber senhor Parker.

– Estou ciente professor.

Gwen ficou olhando Peter um tanto surpresa. Não imaginava que ele assumiria a culpa para livrá-la de uma bronca ou outra coisa.

Quando as aulas finalmente acabaram e os alunos estavam indo para suas casas, Gwen dirigiu-se para Peter. Ainda não tivera a oportunidade de agradecê-lo.

– Obrigada. Não deveria assumir a culpa. Eu fiquei nervosa, mas pagaria pelo preço do béquer numa boa...

– Você não estava nervosa só por causa do béquer, não é?

Gwen engoliu em seco. Naquele momento a garota tinha vontade de botar tudo o que estava sentindo para fora. De se declarar para ele, de dizer que o amava. Mas ela não tinha coragem o suficiente para dizer a ele. E as poucas palavras que ela disse, saíram atropeladas de sua boca.

– Eu... Preciso ir... Obrigada mais uma vez Peter.

Gwen já estava se afastando, mas antes disso, Peter segurou o braço dela e sussurrou:

– Espere, por favor. –ele a olhou nos olhos novamente.

– O que? – perguntou Gwen esperando uma reação do garoto.

Peter foi chegando cada vez mais perto de Gwen. Sentia seu coração bater mais forte. Sentia-se cada vez mais atraído por ela. Mas quando ele foi aproximando mais seu rosto do dela, lembrou-se da antiga promessa que fez ao pai da garota e parou no mesmo instante. Pensou consigo mesmo: ‘’não posso fazer isso! Não posso!’’.

– Tudo bem? – perguntou Gwen novamente um tanto confusa.

– Só queria te dizer que... Fiz aquilo porque não queria ver você levar uma advertência e nem perder nota no trabalho, ainda mais na matéria de química que você gosta tanto. E você fez praticamente todos os experimentos sozinha... Não era justo.

– Ah, imagine Peter. Agradeço mesmo assim. Mas ainda sim a culpa foi minha. Afinal, eu quebrei o material, e não você. Eu deveria levar a bronca...

– Desculpe, mas fiz o que achei certo. Tenha um ótimo dia Gwen. – Peter virou-se para ela e beijou o rosto da garota.

Gwen ficou parada, apenas olhando Peter se afastar. Fechou os olhos e tocou sua bochecha. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, mas ela imediatamente a enxugou com a manga da blusa e sussurrou:

– Ah, Peter... Por que tem que ser assim? Por quê?

Gwen então se afastou e foi para sua casa na mesma hora.