Fechei meus olhos, não queria levantar. Hoje, especialmente, eu não queria ter que sair da cama, de casa. Me sentia incrivelmente idiota, mas não queria. Durante 11 nunca quis. Respirei fundo e as imagens se formaram em minha cabeça.

Daniel. Daniel era meu melhor amigo quando eu tinha 8 anos, nossas mães trabalhavam juntas e como tínhamos a mesma idade dividíamos a babá, isso nunca foi problema, eu amava aquele guri. Tudo, tudo mesmo, que fazíamos eram juntos. Porém um dia minha família se mudou de BH para o Rio de Janeiro e nós nunca mais nos falamos. Bom, nos primeiros meses ainda conversávamos por telefone, todos os dias, mas chegou uma época que eu esquecia, ele também, e resultou isto. Saudade.

Meu único medo é que ele não sinta mias o mesmo, que ele já tenha se esquecido de mim, de que ele tenha outras amigas, e pense que eu não sou importante. Que eu nunca fui.

Respirei fundo, se ele nunca me procurou é porque não se lembra mais de mim, então farei o mesmo, irei esquecê-lo. Simples. Levantei e fui tomar um banho, não que ele tenha melhorado o meu humor, porque este está péssimo.

– Vaaal, vem cá, rápido, vem ver o que eu e meu pai fizemos pra ti. – Daniel falava me arrastando pelo quintal, até chegarmos na garagem.

– Fala o que é Dani, eu to curiosa poxa. – Fiz bico e ele riu.

– Não posso é surpresa. Fecha os olhos. – Pediu quando chegamos. Fiz o que ele pediu e senti sua mãozinha me guiar. – Pronto, agora pode abrir.

Minha boca se abriu em um “O” umas três vezes, nem tava acreditando naquilo, era mesmo o que eu estava vendo? Uma casa de boneca quase do meu tamanho.

– Ho meu Deus, Dani, obrigada! – Falei o abraçando.

– Haha, olha lá dentro. – Haviam móveis de brinquedo.

Nunca me desfiz daquela casinha, ainda tenho ela até hoje.

Estacionei o meu carro no estacionamento da faculdade, peguei minha bolsa e fui caminhando normalmente até a sala aonde eu teria a primeira aula. No caminho eu encontrei com Dalila, e Joana, minhas melhores amigas. Fomos conversando sobre coisas aleatórias, na verdade, elas conversavam, algo sobre o novo aluno de arquitetura, eu não prestava muito atenção.

Entrei no meu quarto chorando, minha mãe veio logo em seguida.

– Valerie querida, me fala o que aconteceu. – Ela pediu preocupada.

– O Daniel mamãe. Eu nunca mais vou falar com ele. – Falei fungando.

– O que? Mas o que aconteceu? – Ela falou visivelmente assustada.

– Ele nem falou comigo hoje, tudo porque aquela nojenta da Pamela ficou sentada com ele. Eu não quero mais falar com ele!

– Valerie, olha como fala das pessoas. E o que tem de mais ele falar com ela?

– Nada! Mas ele nem olhou pra mim. Eu não quero mais falar com ele. – Falei birrenta.

– Senhora Megan? – Luci, a babá, chamou.

– Sim?

– Daniel está aqui, quer falar com a Valerie.

– Pois diga a ele que eu não quero! – Falei de pronto.

– Por que não? – Daniel perguntou.

Bom, depois desse dia fizemos uma promessa do dedinho, nunca mais ignoraríamos um ao outro.

– HEM VAL? – Joana gritou.

– Que? Que foi? – Falei ainda um pouco lerda.

– Já sabe do aluno novo? Tão falando que ele é um gato, e tem sotaque! Que sonho! – Falou animada.

– E você já viu ele? – Perguntei.

– Não, mas todas estão falando. – Jo respondeu animada.

– E você acredita nelas? – Perguntei incrédula. As duas bufaram e resmungaram.

O professor logo entrou na sala e pela primeira vez no dia eu realmente prestei atenção em alguma coisa.

(...)

Sai da faculdade morrendo de fome, fui a pé até a Starbucks que tinha ali perto. Na fila para pedir meu café, eu estava novamente perdida em pensamentos, piorou quando eu resolvi mexer no celular. Peguei meu café e fui caminhando até a saída, no caminho tropecei e se não fosse por um alguém me segurando eu teria caído com tudo no chão.

– Tá tudo bem? – o guri perguntou.

– Sim, tudo. Obrigada. – Agradeci.

– É pequena, toma mais cuidado. Aiai Val, imagino todo esse tempo que você passou sem eu cuidando de você. – Estreitei os olhos.

– Te conheço? – Perguntei.

– Nossa, fico ofendido, mas não tem problema, Deixe-me apresentar: Prazer, sou Daniel Rodrigues. – Fiquei em choque durante alguns segundos. – Pela sua reação acho que se lembre de mim. – Não falei nada, apenas pulei em seu colo, lhe dando um forte abraço.

– Mas isso não é possível, não pode ser!

– Na verdade, uma guria, a muito tempo atrás me falou que quando queremos muito uma coisa ela acontece. Não sei você, mas isso era o que eu mais queria. E veja, aconteceu, pelo visto essa menina tava certa...

O abracei novamente, chorava baixo em ombro. Ele me afastou o suficiente para poder olhar em meu olhos. Respirou fundo.

– Posso te pedir um favor? – Falou baixo.

– Claro. – Falei, minha voz um pouco embargada pelo choro.

– Não vá embora, nunca mais.

– Eu não irei. Eu nunca fui, sempre estive em seu coração. – Respondi.

– Te quero em meus braços. – Falou de pronto. – Fica comigo hoje? – Pediu.

– Sempre.