Alguns anos depois...

Lia suspirou quando abria os olhos. Ela observou enquanto sua visão voltava ao normal - estava embaçada pelo sono - e depois se levantou com esforço. Tatá, sua irmã mais nova, já havia acordado e estava na cozinha, junto da avó das duas. Seu pai havia saído para o trabalho. 

Ela vestiu as roupas de sempre. A blusa que era o uniforme de seu colégio, o casaco xadrez, a calça colada e rasgada, botas pretas e imundas. Raramente usava maquiagem, mas quando usava, era escura e esfumaçada. 

Lia Martins nem sempre fora assim na verdade. Antigamente ela era um tanto meiga, sorridente e sempre usava as roupas rosas que sua mãe escolhia. Mas quando Raquel simplesmente desapareceu de casa, o coração de Lia se apertou e ela raramente o abria para alguém. Graças a isso, resolveu se esconder do mundo. E fazia isso através de suas roupas e atitudes. 

Mas talvez o motivo dessa transformação não tenha sido apenas o sumisso de sua mãe. Tinha também haver com um garoto. Dinho. 

Adriano, antigamente, fora um grande amigo de Lia. Eles eram muito próximos e sempre andavam juntos. Isso durou pelo menos cinco anos. Mas quando os dois completaram dez anos, Dinho fez uma coisa terrível. Ele a humilhou na frente de todo mundo. Depois, ela ficou sabendo que a culpa era de Orelha. Ele tinha desafiado Dinho a fazer aquelas coisas. E ele fez. 

Desde então os dois não falaram mais um com o outro. 

Adriano até tentara se desculpar. Mas Lia, enfurecida e cega pelo mágoa e ódio, gritou com ele. Depois de um tempo, ele foi desistindo e não falou mais com ela. 

A campainha tocou e uma garota bonita e cerelepe apareceu no apartemento. Seu nome era Juliana, mas ela gostava de ser chamada de Ju. Lia e Ju eram melhores amigas desde pequenas e nunca se separavam. 

- LIA! - berrou Ju da sala. - Anda marrenta! Ou nós vamos chegar atrasadas no nosso primeiro dia de aula!

Lia riu e saiu correndo do quarto. Ju era sua vizinha, mas mesmo assim ela não se cansava da presença dela. 

- Estou aqui, patricinha - brincou Lia. As duas tinham esses apelidos uma para outra. Lia era a 'marrenta'. E Ju a 'patricinha'. Lia pegou uma maçã da fruteira e foi em direção a porta. 

- Tchau Tatá, tchau Vó! - exclamou e antes que elas pudessem dizer alguma coisa, correu para fora do apartamente. Ela e Ju desceram do prédio, disseram, bom-dia para o porteiro e caminharam para a escola. Não era muito longe, então podiam ir a pé. 

- Já de maquiagem Juliana? - brincou Lia enquanto passavam pelos portões do colégio. Ju mostrou as lingua para ela. 

- É o primeiro dia de aula, Lia. Eu não vejo problema.

As duas passaram algum tempo só entre elas até que algumas pessoas se aproximaram. 

- Morgana! Rafa! - exclamara Ju. - É tão bom ver vocês!

Eles se abraçaram e sorriram. Morgana era uma grande amiga das duas. Tinha uma mente um tanto avoada. Amava livros e tinha olhos verdes e um cabelo ruivo de dar inveja. Rafa era gentil, o melhor amigo de Morgana e Lia sabia que a amiga tinha uma quedinha por ele. 

- Bom dia, meninas - cumprimentou Morgana. Eles conversaram por um tempo, até que outra pessoa aparecesse. Fatinha. 

Fátima era uma menina muito bonita e que achava que reinava na escola. Usava roupas coladas e curtinhas e sempre pegava todo mundo. 

- Bom dia, Liazinha. Julianinha. - brincou Fatinha. As duas só sorriram de volta. Nem uma das duas era muito fã de Fatinha. Nesse momento o sinal tocou e todos foram para a aula. 

- oo -

Depois da aula de matemática e de uma discussão feia com orelha no corredor, garças ao fato de que ele estava tentando gravar para seu programa 'Tv Orelha' Lia trocando de roupa no vestiário feminino, Lia foi até o seu armário. 

Mas encostado na frente do armário dela, parecendo esperar alguém, estava a pessoa que Lia menos queria ver. 

Dinho.