The 29th Hunger Games! escrita por Lançassolar


Capítulo 23
Capítulo Kayleigh


Notas iniciais do capítulo

"Os sonhos morrem primeiro..."



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Doía. Eu não tinha a menor dúvida disso. A dor era lancinante, mas não podia me dar ao luxo de me preocupar com isso. O céu era mais escuro agora do que nunca, percebi que talvez começasse a chover a qualquer momento. Mas não podia me preocupar com nada disso. Na verdade, assim que vi Robbie ser jogado do penhasco, a dor quase desapareceu. Morgan se virou para mim, e eu sabia que ele iria me matar, mas isso também não era importante agora.

- Robbie! – Chamei, encarando o loiro com expressão cansada a minha frente. – ROBBIE!

- Kayleigh, eu estou bem! – A voz veio fraca, e cheia de dor. Mas era a voz dele. Ele não caíra. E isso já era suficiente para mim. – Não tenho como subir agora, mas não vou cair daqui. Tenha calma, confio em você.

Ao ouvir isso, minha expressão endureceu diante do rapaz de beleza estonteante a minha frente. Morgan não era um Carreirista tradicional. Não era violento, nem agressivo por natureza. Mas eu o odiava mais que tudo. Especialmente agora.

Odiava ter que mata-lo. Odiava ser perseguida por ele. Odiava o medo que ele trazia, e a certeza do fim dos Jogos. A certeza da morte de dois, dos três tributos restantes... Robbie...

Eu não sabia o que sentia por ele, mas com certeza era mais que amizade. Era uma sensação tão grande de segurança. Como se todos os problemas fossem menores com ele por perto. Era alguém pelo qual havia valido apena nascer, e por quem eu não hesitaria em morrer. Exatamente como ele se comportaria em relação a mim.

- Onde está sua espada Morgan? – Perguntei dura, com raiva do Carreirista desarmado.

Ele apenas riu, sem humor ou a menor diversão.

- Acho que perdi. Não se preocupe. – Ele respondeu convicto. – Não preciso dela para liquidar você.

Aquela subestimação, depois de tantas outras, deu-me ainda mais raiva. Uma raiva descomunal, maior do que eu lembrava ter sentido. No fundo, eu sabia. Era a raiva da impotência. A minha incapacidade de salvar a Robbie e a mim, ou quem sabe até mesmo apenas um de nós dois. Robbie havia me salvado diversas vezes na Arena, me protegera e tomara conta de mim. Era a hora de eu retribuir. Pois tudo que eu quero agora é protege-lo, não importa o tipo de dor que eu tenha que suportar.

Não se preocupe, não preciso dela para liquidar você...

- Veremos... – Respondi a pergunta, sem medo ou hesitação na voz. – Você está me subestimando agora, e se agente parar para pensar... É o que você tem feito muito. Desde o começo da luta, me joga de um canto para o outro, tentando se isolar com Robbie, como se eu fosse um alvo de menor importância. Um alvo já condenado. Mas eu vou te dizer Morgan, agora eu luto por mim e por Robbie. E nesse momento, para mim perder não é uma opção. Portanto, não importa o quão bom seja ou quão invencível pareça. Eu vou cruzar meus limites. De algum jeito irei vencê-lo.

Ele pareceu impressionado, apesar dos olhos frios. Eu sabia. Ele odiava isso tanto quanto eu... E estava menos motivado. Talvez eu pudesse realmente vencer. Meu machado estava envenenado. Só precisava acertar um golpe...

Morgan se abaixou e pegou a lança. A arma do Robbie. Ela seria usada contra mim agora.

- Já que esse é o caso... – Ele disse, se colocando em posição de combate. – Eu lhe desejo a melhor sorte do mundo! – Falou, com um sorriso amarelo no canto da boca.

E o combate se iniciou novamente. Os minutos mais importantes da minha vida. Eu estava com tanta adrenalina, que mal percebia quando a lança de Morgan me fazia um corte. Estava focada em acertar o golpe que o mataria em questão de segundos.

Mas a lança era uma arma imensa, e eu não conseguia me aproximar dele o suficiente para tentar um golpe verdadeiramente efetivo.

E Morgan lutava de maneira paciente. Ele sabia que o tempo era seu aliado. Não parecia ter pressa ou vontade de acabar comigo, e deixava meus ferimentos abertos e o sangramento me enfraquecerem progressivamente.

Vez por outra, ele tentava um ataque mais finalizador. Foi uma dessas vezes, que ele se aproximou mais do que devia. E pude aproveitar.

Bloqueei o golpe com o cabo do machado e o gume voou contra seu peito. O Carreirista esquivou milésimos antes do impacto. Não, porque? Não tão perto... E o troco veio. O golpe circular da lança foi tão forte, que o machado foi arremessado de minha mão, e jogado alguns metros para trás.

A estocada veio em seguida. Eu cai no chão para não ser atingida.

- Reconheço que você evoluiu e lutou com coragem. – Morgan disse. Era evidente que aquilo estava acabado.

Tateei o chão rapidamente, usando qualquer coisa que eu pudesse achar. Me recusava a aceitar a derrota e a morte. Não sem antes ter pelo menos a certeza da segurança de Robbie. E localizei o punhal, o mesmo punhal que me causara um grave ferimento no ombro minutos antes, sem Morgan perceber. Talvez minha sorte estivesse começando a mudar.

- Adeus Kayleigh! – Ele disse sem emoção, e jogou a lança contra minha cabeça.

Me joguei para o lado, o que ele já esperava, pois usou o pé direito para me pressionar violentamente contra o chão logo em seguida. O que não esperava, foi à punhalada que recebeu na coxa. E Morgan gritou de dor, sem nem saber direito ainda o que havia acontecido. Eu lhe dei uma rasteira. Ele caiu, derrubando a lança. Eu a chutei rapidamente, para o mais longe que consegui, no meio da grama alta, e tentei me distanciar dali, rastejando.

Morgan agarrou meu pé. Pela primeira vez desde que a luta começou, vi raiva em seu olhar. Não tive a menor dúvida. Enfiei o punhal com gosto na sua mão que restringia meus movimentos. Não consegui puxá-lo de volta dessa vez, só que não importava, afinal havia lhe ferido e estava livre. Corri na direção do machado.

Não tive dificuldade em encontra-lo, afinal sabia exatamente aonde ele havia caído. E me virei para ver Morgan de novo. Seus movimentos estava debilitados e ele agora estava armado apenas com o punhal. Talvez doesse procurar a lança, talvez eu tivesse atingido sua veia principal da perna, e ele precisasse me matar logo, ou simplesmente não tivesse como usar a arma com apenas uma mão, já que a sua outra estava incapacitada até o fim da Arena, pelo menos.

E ele avançou. Nunca foi exatamente arrogante, mas agora, sua confiança o havia abandonado. Ele agora acreditava que podia realmente perder, e queria matar logo essa possibilidade, juntamente comigo.

- Isso acaba agora! – Disse colérico.

- Sim! – Respondi.

Eu realmente desejava o fim. Estava ferida e cansada de lutar. O sofrimento e a dor. Já era insuportável para mim.

Eu quase agradeci a Deus quando Morgan veio com toda sua força e raiva para me matar.

Com o punhal, ele tinha que se aproximar muito mais. E estava muito mais lento, devido à dor alucinante na perna. A força de Morgan era a velocidade. Agora, ele já não era nem de perto, invencível. Sim, eu acreditava cada vez mais na minha vitória naquele combate.

E comecei a ver um padrão nos ataque de Morgan. Ele lançava a primeira estocada para distrair minha atenção, para me forçar a desviar, e o segundo era o golpe verdadeiro. Tive uma ideia maluca. Talvez desse certo.

Não importa o quão bom seja ou quão invencível pareça. Eu vou cruzar meus limites. De algum jeito irei vencê-lo...

A estocada veio. Um golpe ilusório. Para me forçar a desviar. Mas eu não fiz isso, não fiz o lógico. Apenas joguei meu corpo com tudo na direção do punhal.

A lâmina perfurou minha carne e dessa vez doeu. Meu planejamento saiu errado. Pude sentir que um órgão interno foi perfurado, mas isso não importava agora. Já havia ido longe para voltar atrás. Engoli a dor e o choro, e segurei a mão dele com força, sem permitir que a arma fosse retirada do meu organismo.

Ele me olhou verdadeiramente espantado pela minha coragem. Eu sorri com toda a dignidade que tinha coragem de reunir.

- Agora não vai mais fugir.

E o golpe de machado saiu. A arma envenenada voou na direção de Morgan, que fez o que pode. Sua mão esquerda era agora inútil, então ele flexionou o corpo, me dando algo próximo a um golpe de judô, me forçando a passar por cima do seu corpo e me derrubando do outro lado. Não sem antes ter o peitoral aberto por minha arma.

Sua expressão era indescritível. Ele não acreditava no que havia acabado de acontecer, pois agora havia perdido sua vida. Mesmo que me matasse, e depois o Robbie... Não havia tempo suficiente. Morreria em questão de minutos.

- Não. NÃO! – Berrou, enquanto se colocava em uma posição melhor, acima de mim. Puxou o punhal e o levantou acima da minha cabeça. Me olhava com raiva, me odiava, eu podia sentir.

Incrivelmente, todo meu ódio pelo rapaz morrera, mesmo sabendo que ele iria me matar agora. Eu cumprira meu objetivo aqui. Sempre soube que não venceria. Não era forte como Morgan, ou determinada como Robbie. Não tinha nada de especial. Nem ao menos teria chegado na metade da distancia que cheguei, não fossem Robbie, ou alguns patrocínios que eu nem sabia que tinha.

- Algo a declarar? – Ele perguntou.

Sorri, com o coração pesado, mas feliz ao mesmo tempo.

- Eu sempre cumpro minha palavra.

Fechei os olhos e esperei o golpe. Ele não veio. Um segundo, dois, três. Nada da lâmina me matando. Talvez eu já estivesse morrido, e nem soubesse disso. Só que eu corpo estava relaxando, e a dor dos ferimentos abertos agora eram bem presentes. Então eu ainda não havia morrido. Por quê? Não sabia dizer.

Abri os olhos. Morgan ainda estava acima de mim, na mesma posição. Só que bem mais debilitado. O corte no peito não era profundo, mas o veneno entrara, e era visível que Morgan estava morrendo. Matamo-nos um ao outro.

Só que o ódio o abandonara. Através das primeiras convulsões, da tosse seca e do excesso de suor, podia ver o verdadeiro Morgan. O garoto de bom caráter, que estava aqui por obrigação, não por vontade. No fim, ele iria pagar com sua vida, por algo que não teve a menor intenção de conseguir.

Eu mesma, não estava muito melhor. Sabia que minha morte era questão de tempo. Estava perdendo sangue de maneira desenfreada, e a hemorragia já atingira meu pulmão perfurado. Foi nesse momento que o céu cinzento se dissolveu em água. Sorri. Sabia que isso obra dos idealizadores, para acrescentar mais drama a edição. Mas eu sentia que a chuva estava ali para lavar nossos pecados. E não sabia porque. Tinha certeza que Robbie venceria a edição. Não podia pedir mais.

Era um bom jeito de morrer. Tudo que Morgan precisava fazer...

- Tudo bem... Kayleigh... – Morgan disse, me surpreendendo ao abaixar o punhal.

Não entendi o que ele quis dizer. Morgan já não tinha força para mais nada. Estava acabado. Mas deveria querer minha morte. Era o lógico. Por isso, estupefata, assisti ele se levantar de cima de mim, e caminhar cambaleante na direção da lança.

Seu corpo não deveria mais ser capaz de se mover assim, muito menos andar. Qual era o tamanho da força de vontade daquele garoto e por que essa motivação não aparecera antes?

Ele pegou a lança, e caminhou na direção da amurada.

Não.

- NÃO! – Berrei. – ROBBIE, CUIDADO!

Meu corpo não reagia. Queria me levantar e correr até ali, queria salvá-lo. Não imaginava que Morgan fosse mesquinho ao ponto de me deixar viva, apenas para que eu o assistisse matar Robbie. Como punição pela minha audácia de tê-lo condenado a morte.

- NÃO, POR FAVOR! MORGAN, POR FAVOR, NÃO FAÇA ISSO! Não faça isso... – Minha voz morreu fraca, e em tosse. Eu sentia a vida sendo arrancada de mim, não podia fazer nada.

Eu amava Robbie. Percebi isso agora. Gostaria de poder sair da Arena com ele, e viver junto com ele. Queria me casar e lhe dar filhos. Seriamos uma família feliz. Mas a impossibilidade desse sonho nunca o deixou se revelar.

Robb... por favor... faça essa dor parar...

Morgan chegou à amurada.

Se a vida era como uma peça de teatro, Morgan e Robbie eram os personagens principais. Herói e vilão. Sempre são eles que resolvem tudo. Eu era apenas a donzela indefesa.

Eu nunca fui mais que uma coadjuvante.


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Notas finais do capítulo

Thanks for read!



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