P.V.O Abby Jazz

 A noite estava fria em seu novo quarto, Abby não tinha certeza se ficara satisfeita com a arrumação que acabara de fazer no local. Havia arrumado seus livros em algumas prateleiras que seu pai pregara na parede no mesmo dia, estava se sentindo vazia mexendo em certas lembranças. Normalmente quando se mudava levava coisas consigo que lembravam sua mãe e sua vó, isso lhe trazia uma nostalgia triste e dava vontade de chorar por que todas as lembranças delas, mesmo quando eram boas, vinham junto com o fato de que nunca mais ia poder tê-las por perto e isso era o pior.
 
 No dia que houve o acidente Abby não sentiu nada de ruim como os filmes diziam que acontecia. Era uma manhã bem comum pra ela, nunca imaginária que seria o dia que mudaria sua vida. Sempre acordava cedo com sua vó a chamando no quarto e quando descia as escadas da casa sua mãe estava na cozinha preparando seu café, depois as três seguiam juntas para seus destinos do dia-a-dia. Abby ia para a escola e as duas mulheres para o trabalho. Era essa a rotina normal.

 Um pouco antes do acidente, elas costumavam pegar um ônibus lotado nas manhas quentes, e isso sempre foi motivo de reclamações para Abby. ‘’O que suas amigas pensariam quando ela chegasse em um ônibus? E o que ela mesma sentia quando estava lá dentro. Nada disso era algo bom’’. Abby as convenceu de que precisavam de um carro! E foi no natal, depois de muito economizar que sua mãe achou o carro perfeito para as três e o comprou. Foi aí que tudo começou a mudar, a partir da rotina delas. A mãe de Abby, Kamile dirigia até sua escola e deixava a menina lá, depois continua o trajeto até o trabalho com sua mãe, Kurti onde as duas vendiam roupas em sua própria loja.

 Em um pequeno prazo, a vida nunca fora melhor pra Abby, acontece que naquela época ela não sabia disso. Até o dia em que sua mãe a deixou mais cedo na escola e partiu rumo ao interior da cidade com sua vó, para irem buscar novas roupas para loja, só depois disso que ela sentiu, pois foi depois disso que Abby nunca mais as viu. Depois que elas a deixaram na escola.
 E quando ela viu caixão ele não estava aberto para ela dar beijos de despedida nas mulheres mais importantes da sua vida. Ela nunca teve um ‘Adeus’, nem disse o seu último ‘eu te amo’ e não aproveitou os momentos em que as viu naquele último dia. Foi definitivamente o pior momento da sua vida e depois dele só vieram outros. Então, tudo se transformou no que é, ela foi viver com seu pai. Um jornalista que não tem paradeiro e não pensa nem por um segundo nela, um cara que não respeita o jeito que ela vive nem seus limites.

 E se Abby pudesse voltar, se ela ao menos pudesse consertar as coisas ou mudar como agiu na noite que exigiu um carro de sua mãe, tudo podia ter sido diferente. Agora estaria em sua antiga casa, lendo algum livro interessante ou escutando uma musica alta e dançando em frente ao espelho. Sendo feliz novamente, sem interrupções sem e finais tristes, como a sua vida tinha se transformado. Queria estar com a sua mãe novamente, abraçar ela e dizer o quando a ama e sente sua falta. Queria rir com sua vó de piadas internas e comprar leite com nata na padaria ou simplesmente assistir tv ao seu lado. Queria fazer tudo de novo de muitos modos diferentes. E se não tivesse sido tão fútil e infantil como fora, isso ajudaria bastante...
 Mas ela não podia fazer nada disso e agora só lhe resta esta vida. Esses pedacinhos de vida.