Perdão? (em hiatus por tempo indeterminado) escrita por Samantha Grace


Capítulo 5
Líquido verde e um livro de capa dura


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ^^



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Luke observou Thalia Grace deixar a sala. O ar era denso, repleto de angústia e medo. Ele estava completamente assustado. Achava que Thalia relutaria em deixá-lo ficar no navio, e seria Percy ou Annabeth que a convenceriam a mudar de ideia. Havia passado algum tempo preparando-se psicologicamente para aquela situação. Mas o que aconteceu foi completamente o oposto, deixando-o vulnerável. Como se ele quem tivesse levado um soco na boca do estômago, e não Percy. O filho de Hermes não tinha mais fome. Levantou-se, pronto para ir para uma cabine e descansar na maneira do possível. O único problema era que ele não tinha uma cabine para a qual ir. Quando Thalia correu para o quarto depois do incidente no deque, Luke foi levado para aquela sala.  Não conhecia outros lugares do navio, e não tinha a intenção de retornar ao deque. Tendo consciência de que não poderia ficar de pé para sempre, olhou para os outros e disse:

- Ahn...não quero ser rude nem nada, mas alguém pode me indicar a minha cabine? Ou qualquer que seja o lugar que vou ficar. Se é que há lugar para mim.

- Há sim um lugar para você. Tem uma cabine vazia. Vou levá-lo até lá.

Aquela garota de longos cabelos cacheados cor de chocolate, Hazel, proferiu essas palavras do outro lado da mesa, então se levantou e caminhou até uma porta. O garoto chinês lançou-a um olhar preocupado. Ela abriu a porta e começou a andar, então parou e se virou.

- Você não vem? – disse, referindo-se a Luke, que ainda estava parado no mesmo lugar.

- Claro. Estou indo.

Ele colocou a cadeira no lugar e seguiu-a, passando pela porta de madeira. Pode ouvir vindas da sala.

- Ele não pode ficar aqui! – Annabeth disse.

- Eu sei. Mas acho que vamos ter que nos adaptar. Não podemos matá-lo, pois as Portas da Morte estão abertas. Ele voltaria. Além disso, não teríamos sangue frio suficiente para isso. Matar monstros é uma coisa, mas um amigo...

- Luke Castellan não é nosso amigo, Percy! Esse garoto nos traiu e não hesitou em tentar nos matar em nenhum momento. Será que você esqueceu?!

- Não. Mas sei que não teria coragem de matá-lo, e nem você. O que nos resta é observar. Vai que as intenções dele realmente são boas?

O filho de Hermes caminhou pelo longo corredor cheio de portas atrás de Hazel, evitando ao máximo ouvir a conversa. Apesar disso, não pode evitar ouvir aquele trecho.  Teria de encarar daquele momento para frente que seria uma presença incômoda no navio. Que se quisesse provar para os outros que estava arrependido, teria de se esforçar para fazer as coisas certas dessa vez. Não poderia pisar na bola de novo. Suas ações seriam observadas. E ele fingiria que não via. E faria tudo certo. Sem “mas”.

Hazel tirou algumas chaves do bolso da calça jeans. Seus dedos eram ágeis. De vez em quando, ela lançava alguns olhares para Luke. Olhares rápidos. Como se tentasse descobrir o que havia por trás daquela cicatriz que o fez agir da maneira como agiu. Mentiroso. Traidor. Assassino. Algumas vezes, o filho de Hermes também se questionava o mesmo. Por que havia feito todas aquelas coisas? Adjetivos odiosos surgiam em sua mente. O pior de tudo era ter que admitir um fato: ele era todas aquelas coisas.

Finalmente, a filha de Plutão conseguiu achar a chave certa. Girou-a duas vezes na fechadura e a porta se abriu. Ela se afastou um pouco e abriu o braço, indicando que Luke deveria entrar. O garoto deu um passo a frente e olhou para o quarto. Eram bem simples. Uma cama de solteiro com lençóis brancos, um pequeno banheiro, um guarda-roupa e uma janela, que deixava os raios de sol entrarem, iluminando o ambiente. Era o suficiente. Luke se virou para Hazel. Ela trocava o peso de um pé para o outro, visivelmente nervosa com o olhar dele.

- Obrigado por me mostrar o quarto. É ótimo.

- Ficará bem aqui?

- Sim. É mais do que mereço, para falar a verdade.

- Ok. Nós jantamos às sete e meia, desde que não estejamos sob um ataque, sabe. Monstros geralmente não respeitam nossos horários.

- É. Monstros são mesmo inoportunos. Tudo bem. Sete e meia. Vou lembrar.

Ela assentiu e se retirou. O filho de Hermes pensou em dizer algo, mas o que? Não tinha intimidade com a garota. Não poderia dizer nada para convencê-la de que não havia motivo para temê-lo. Ela tinha sim motivos para tal atitude. Talvez nem fosse temor o que ela sentisse, e sim um desconforto. Quem sabe não era tímida? Não houve como descobrir, pois Hazel já havia voltado para a sala nesse ponto.

Luke se deitou na cama. Era confortável, mas ele parecia um tanto quanto deslocado naquele ambiente. Não pertencia ali. Não deveria estar ali.

“Bom, mas essas são as circunstâncias. Vou ter que encará-las de cabeça erguida. E tenho que parar de me lamentar.”

Ele colocou seus poucos pertences (a bolsa tipo carteiro com o restante das coisas dentro) encima da mesinha que ficava ao lado da cama e olhou para o teto de madeira. Tudo era de madeira ali, obviamente. Estava em um grande navio. Por mais que houvesse sido construído por filhos de Hefesto, que geralmente lidam com metal e fogo, a maior parte da estrutura era de madeira. Bem sólida e cheia de armadilhas para pegar inimigos, obviamente. O filho de Hermes não conhecia bem o tal garoto, Leo Valdez, mas ele havia construído o navio. E parecia ser bem engenhoso. Se tinha sido capaz de projetar e construir aquilo, ele confiava que a estrutura era sólida e segura.

Convencendo-se de que olhar fixamente para o teto não seria nada eficiente, e levando em conta o fato de estar bem cansado, Luke resolveu dormir. Tirou os sapatos, suas pálpebras ameaçando se fechar a qualquer momento. Encostou-se novamente no travesseiro e não demorou muito para cair em um sono profundo. E, sendo um semideus, claro que sonhos não poderiam faltar. Sonhos sobre um certo par de olhos azuis elétricos.

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Ele estava em um quarto pequeno. Era como se observasse a cena de cima, pairando sobre os dois corpos lá em baixo. Um garoto loiro de quatorze anos. Um senhor que não falava. Ele entregou um livro ao garoto. Um livro de capa verde e dura. O garoto tentou recusar, mas o senhor insistiu. Ele pegou o livro e o guardou. Saíram do quarto. Uma garota com o cabelo preto repicado desordenadamente e olhos azuis elétricos. Ela segurava um pequeno frasco com um líquido verde dentro. Então, aconteceu. As jaulas se ergueram. E os monstros atacaram.

A cena mudou. Luke estava fora da casa. Ele estava em seu corpo novamente, deitado no gramado da frente da casa ao lado de Thalia. Teve a sensação de que algo próximo pegava fogo. Olhou para o lado. Deparou-se com uma imagem terrível: o rosto de Medusa encarando-o, com seus cabelos de serpentes e olhos aterrorizantes. Luke correu mais do que achava que era capaz de aguentar, seus pulmões clamando por ar e o rosto da criatura ainda em sua mente.

Ele parou. Após algum tempo, Thalia parou ao seu lado. Eles olharam para a casa em chamas. Então, era aquilo que pegava fogo. O filho de Hermes teve a sensação de que havia deixado algo para trás. Alguém. O livro verde estava em suas mãos.

Eles caminharam. Caminharam. Caminharam. Pararam para comer e voltaram a caminhar. Por algum motivo, entraram em um beco. Ouviram um barulho vindo de um canto. Thalia se armou com seu escudo, a cabeça de Medusa podendo assustar qualquer um que ousasse enfrentá-la. Aproximaram-se. Logo viram que seu oponente era uma garotinha precariamente armada, com cabelos louros desgrenhados, joelhos cortados e olhos cinza assustados. “Monstros, monstros!” Ela repetia. Thalia tentou acalmá-la, sem sucesso. Então, Luke se aproximou e conversou. Sua voz era calma e suave, tranqüilizadora. Ele perguntou se ela queria juntar-se a eles, então nunca mais ficaria sozinha. A garotinha sorriu. Disse que era forte. Ela era. Ela é. Annabeth é extremamente forte. E então, estava formada uma família, uma família a qual Luke havia prometido proteger. E a quem havia desapontado.

Ele se sentou de repente na cama, respirando rapidamente. Lembranças fortes demais. Era coisa demais para um dia só.  Luke não havia aberto os olhos ainda. Acalmou sua respiração antes de abrir um dos olhos. Arrependeu-se de tê-lo feito. Tudo o que viu foi um caleidoscópio de cores. E longos cílios. Aquele era o olho de Piper. Ela o havia vigiado enquanto dormia?! O filho de Hermes se afastou bruscamente, sem querer batendo a cabeça na parede. Preocupada, a filha de Afrodite se aproximou um pouco.

- Você está bem? Desculpe-me, não queria assustá-lo.

- Não queria me assustar?! Você quase me matou aqui! Ai minha cabeça. Por que estava olhando para mim enquanto dormia? Alguém a mandou aqui para ver se eu não estava planejando algo maligno para a hora do jantar?!

Ela se levantou e andou até uma pequena geladeira no canto do quarto, que ele não havia notado antes. Tirou de lá uma bolsa de gelo, voltou para a cama e estendeu a bolsa para ele. Luke pegou o objeto e colocou na parte de trás da cabeça. Piper se certificou de sentar a uma distância respeitável dessa vez.

- E então?

- Sim, me mandaram aqui para vigiar. Achamos melhor garantir que nosso jantar não fosse interrompido por algo maligno. Eu em grande parte vim porque estava bastante curiosa a seu respeito. O comportamento de Percy, Annabeth e Thalia em relação a você foi bem estranho. Por mais que tenham explicado a história bem, e faz completo sentido, pois falam direto sobre isso e Silena no meu chalé, não consigo imaginá-lo fazendo aquelas coisas. Deve ser porque eu não estava lá quando aconteceram.

- É. Deve ser.

- Jason quis me impedir de vir. Mas eu não liguei.

- Quem é Jason? – ele fez uma cara confusa.

- Meu namorado. Sabe, aquele louro de olhos azuis? Irmão da Thalia.

Ele riu baixinho.

- É bem estranho aceitar que Thalia tem um irmão. Sempre pensei que ela não tivesse família. A família que tínhamos construído foi destruída completamente. Arrendo-me de tudo o que fiz.

O quarto ficou em silêncio por um momento.

- É. Bom, você tem algo maligno planejado?

Luke riu.

- Não. Nada de planos malignos. Nem agora e nem nunca.

Ela sorriu e se levantou.

- Bom, acho que meu trabalho aqui está feito.

Piper caminhou até a porta da cabine, mas então parou e se virou, encarando Luke com aqueles olhos que tinham todas as cores do arco íris. Você poderia perder-se neles se os encarasse por muito tempo.

- Quero que saiba que, se precisar de algo, é só me procurar. Não tenho nada contra você. Mas vou ter que “me manter alerta”, porque os outros estão muito preocupados com a sua presença aqui.

- É, eu sei. Não sou exatamente uma visita desejada.

- Frank só fica preocupado que você faça algo com a namorada dele. O Leo só quer saber de comer pizza e de cuidar do navio. Jason está com bastante raiva, mas é mais por causa da reação da irmã dele. Por isso ele o considera uma ameaça. Mas eu e Hazel... bom, não temos nada contra. Então, se precisar de alguma coisa, é só nos procurar. Ok?

- Ok.

Ela sorriu mais uma vez e saiu. De algum modo, Luke conseguiu extrair um pouco de felicidade daquela situação. Porque agora ele tinha alguém em quem podia contar. 


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?



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