- Adeus, mãe. - dizia Rose enquanto beijava meu rosto.

- Voltaremos semana que vem. - fala Hugo, abraçando-me.

Dou um sorriso como resposta.

Desde o derrame, minha voz parou de funcionar. Também uso um aparelho no ouvido esquerdo, pois não ouço bem dele.

- Sentiremos saudade. - fala Rose, dando um último sorriso e saindo pelo portão do jardim da casa de repouso.

Muito coisa aconteceu nos últimos sessenta e cinco anos.

Ainda me recordo da felicidade que senti ao conhecer minha filha.

Flashback On

" - Apresento a você sua pequena. - fala o médico, entregando-me um embrulhinho de gente. Os fios ruivos saltavam de sua cabecinha. Os lábios de Rose estremecem ao eu tocá-la.

- Olá, Rose... - digo, emocionada. - Como vai?

- Nossa pequena Rose. - diz Rony a o meu ouvido, claramente sorrindo.

- Nossa pequena Rose. - repito, deixando uma lágrima rolar."

Flashback Off

Claro que eu também me recordo do nascimento do caçula.

Flashback On

" - Olha só a intensidade dessa cor! - dizia Rony, acariciando o pequeno tufo de cabelos vermelho-berrante.

Sorrio e coloco meu dedo indicador no meio dos pequenos dedinhos frágeis de Hugo. Ele aperta meu dedo e se remexe em meus braços.

Agora a família estava completa. "

Flashback Off

Recordo-me do crescimento dos dois, e de como aprontavam...

Flashback On

" - Mamãe... - fala uma Rose de cabeça baixa e mãos entrelaçadas ao pé da escada - A professora McGonagall deixou um bilhete na agenda hoje.

- Mais um bilhete? - digo, parando de despejar ração à tigela de Bichento, nosso gato felpudo.

- Sim senhora. Aqui está. - Rose vem até mim e me entrega a agenda em uma página cheia de rabiscos e assinaturas.

Lá se lia o seguinte recado:

' Cara Sra. Weasley,

Hoje, no intervalo, seus dois filhos deixaram o pátio imundo com bolinhas de papel e pontas de lápis que foram jogados para todo o lado. Para completar o desgosto total, Rose Weasley escreveu nas paredes do corredor palavras as quais não consigo escrever em um bilhete tão sério e formal. Peço que compareça à escola amanhã para conversarmos sobre isso. Caso não esteja presente, convidaremos seus dois filhos a se retirarem da instituição escolar.

Atenciosamente,

M. McGonagall."

- Vocês dois não levam jeito, não é? - falo, rindo. "

Flashback Off

Me lembro perfeitamente de cada fase da vida dos dois. É difícil e até impossível esquecer momentos como esses.

Uma fase dolorosa da minha vida foi quando, após casar-se com o filho de Draco e Astoria, Rose mudou-se para um prédio afastado de nossa casa. Ela e Scorpius vivem até hoje naquele pequeno apartamento com seus três filhos: Josh, Carter e Megan. Hugo optou por viajar sozinho pelo mundo, mas se deixou levar pelo encanto da prima Lílian Luna, filha de Gina e Harry. Hoje eles moram em um apartamento com seus cães Spike, Caramelo e Au-Au (batizado por Megan quando a mesma tinha três anos de idade)

Helena, minha irmã, se formou em medicina e hoje leciona em Harward, do qual emprego recebe muito bem para sustentar a grande família de oito filhos que criou com Adam, seu esposo.

Minha mãe infelizmente morreu dois anos após o nascimento de Hugo. Tinha um câncer muito grave no pulmão.

A cafeteria em que Rony trabalhou até se aposentar virou de nossa propriedade quando o chefe a abandonou. Transformamos a cafeteria em um lugar para encontrar romance e amor. Todos os sábados de noite, várias pessoas se encontram lá para conhecerem-se. Já recebemos milhares de cartas de pessoas que encontraram o cônjuge na cafeteria.

Posso, com toda a certeza do mundo, afirmar que tive uma vida para lá de feliz.

Moro hoje em uma casa de repouso muito grande, rodeada de amigos com a mesma idade que eu (87, acho. Perdi as contas quando fiz 70). Aqui, me fornecem comida, remédios e várias enfermeiras ao meu dispor. Toda semana Rose e Hugo vêm me visitar. Ás vezes, recebo a visita de Helena, duas vezes por ano no máximo. Ás vezes, os meus netos acompanham os pais. Mas minha data preferida é o meu aniversário, quando todos da família vêm: netos, primos, amigos, sobrinhos, afilhados... É sempre uma grande festa.

Estou na casa de repouso há cinco anos. Vim para cá pois tive meu derrame, e meus filhos não conseguem cuidar do seu trabalho e da sua família com uma idosa muda e surda que necessita atenção.

(http://www.youtube.com/watch?v=F-4wUfZD6oc)

O derrame ocorreu logo depois que Ronald faleceu. Ah, Ronald... Meu Rony...

São incontáveis os momentos felizes que tive ao lado dele. Na verdade, sempre que estava com ele, um sorriso tomava conta do meu rosto. Ele dizia que era isso que o fazia respirar todos os dias. O meu sorriso.

Também dizia que via toda a sua vida nos meus olhos, e que a dança dos meus lábios nos dele o motivavam a me amar cada vez mais, cada dia mais. Dizia que o leve balançar dos meus cabelos ao vento transmitiam o ar da paixão, o ar que ele respirava. Tudo o que disse tornou-se sólido há cinco anos.

Rony dirigia para seu destino, a nossa casa, ao pôr do sol. Foi atingido por outro carro quando se aproximava da garagem.

Como o acidente foi na frente da nossa casa, corri para o local ao ouvir o barulho. Quando vi as mechas ruivas no chão asfaltado, corri ao encontro de Rony, que se encontrava deitado no asfalto em cima de uma poça imensa de sangue.

- Rony, não! - lembrei-me do primeiro episódio na cafeteria. Quando ouvi seu nome. Não fazia ideia do que significava, até agora. - Rony!

Olhei-o nos olhos. Minhas lágrimas encharcavam sua face.

Ele sorriu.

- Hermione... - falou com a voz fraca - Por favor, me dê um último sorriso.

Eu estava desesperada. Não sabia o que fazer. Não podia ser um último sorriso, ele não podia morrer.

- Por favor... - repetiu, com uma voz mais fraca.

Lembrei-me dos dias em que nos divertimos na praia, das noites em claro que passávamos conversando, dos beijos que trocávamos todos os dias em função de lembrar que o fogo no coração continuava crescendo a cada momento.

Dou um sorriso, ainda olhando nos seus olhos. Ele abre mais o seu sorriso.

- Agora, por favor, me beije.

Sem prensar, colo meus lábios nos dele, dando início a um beijo romântico curto. Afasto meus lábios e o olhos nos olhos mais uma vez.

Uma brisa se cria e meus cabelos dão um leve balanço. Rony volta a sorrir.

- A morte nunca vai nos separar. Eu te amo, Hermione. Eu... - sua voz começa a falar - Eu... Eu te amo.

E, ao falar isso, um último suspiro sai de sua boca e o sol finalmente desaparece atrás das montanhas.

Encosto minha cabeça ao peito dele, e sussurro:

- Eu também te amo.

(http://www.youtube.com/watch?v=CQv2j3THp48)

[...]

Rony me fez viver. Ele me tirou do inferno e me colocou na leveza do infinito. Atendeu às minhas maiores preces e súplicas de amor. ele me deu a  vida que sempre sonhei em ter. Ele me ensinou que as histórias sempre podem ter um final feliz, basta confiança. Desde o momento em que vi seu olhar e senti seu toque, confiei nele. Confiei no meu futuro, na mudança de rumo da minha vida. Rony não só me deu força como me deu amor, carinho e atenção. Rony salvou a minha vida.

Do jardim da casa de repouso, olho para o céu limpo. Os olhos de Rony, do meu Rony, tinham a exata cor do infinito céu. O infinito céu, que guarda cada estrela, cata sonho e cada esperança.

Fecho os meus olhos e vejo, como toda a vez que fecho os olhos, o rosto de Rony. O rosto de Rony jovem. Seu cabelo balança e seu sorriso brilha mais que o Sol. Leio em seus olhos as palavras "Eu te amo".

Sinto a pressão da minha pulsação cardíaca diminuir. Dou um leve sorriso.

O meu coração vai perdendo a velocidade e meus pulmões começam a lutar para absorver o ar.

O vento balança meus cabelos e meus membros enfraquecem.

O sorriso some de meu rosto.

Consigo, por fim, ouvir a voz de Rony sussurrando:

" - Senti saudades. É bom ter você de volta. "