Ao Seu Lado É O Meu Lugar escrita por Olive Bb


Capítulo 12
Culpa


Notas iniciais do capítulo

Podem me matar.



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Uma dor de cabeça insuportável me fazia despertar naquela manhã. Depois que abri meus olhos, a claridade do quarto fez com que a dor piorasse e os fechei de novo apenas pra logo depois sentir a necessidade de abri-los novamente para analisar o local em que estava. Eu tento falar algo, mas minha voz quase não sai.

Eu me viro um pouco e percebo que esse quarto é totalmente diferente de qualquer outro que eu tenha visto na casa da floresta.  Aqui o quarto era quente e claro e lá a casa inteira era gélida e escura. Devagar, eu viro minha cabeça para o lado e vejo pela janela alguns arranha-céus. Dentro do quarto eu percebo ao meu lado uma máquina que emitia um bip e a parti dali concluo que estou em um quarto de hospital. Novamente eu tento chamar por alguém, mas minha voz não sai.

Eu tento me mover, mas a dor que erradia das minhas costelas me impedem de fazer maiores movimentos. Novamente viro minha cabeça lentamente, agora para o outro lado e só então percebo que não estou sozinha e que há alguém sentado em uma cadeira ao lado da minha cama e que a mão dessa pessoa está entrelaçada a minha.

—_Mac. _eu falo quase que em um sussurro.

Ele não escuta, pois está dormindo. Eu sorrio pra mim mesma pensando há quanto tempo será que ele está aqui. Pode parecer egoísta de minha parte, mas a última coisa que eu queria era que ele fosse dormir em casa agora. Eu o chamo mais uma vez, mas minha voz ainda estava fraca e ele deveria estar bem cansado. Eu resolvo apertar sua mão e com isso ele logo desperta. Um pouco desorientado ele passa a mão no rosto e olha pra mim. Seus olhos surpresos meio arregalados fez com que meu sorriso fraco aumentasse um pouco mais.

—_Stella. Você acordou. Você está bem? Quer alguma coisa? Ou está sentindo alguma coisa? Quero dizer...  Como você está? Acordou tem muito tempo? _Mac diz praticamente me bombardeando com todas aquelas perguntas.

Eu sorrio pra ele.

—_Oi Mac. _eu digo sem muita força.

Ele me olha. Respira fundo. E depois também sorri pra mim. Ele beija a mão que estava segurando.

—_Oi Stell. _ele diz com um ar culpado.

Com sua mão livre ele acaricia meus cabelos enquanto me olha profundamente nos olhos como que se ainda não acreditasse que era real que esse pesadelo finalmente tinha ganhado um ponto final e eu lhe retribuía esse olhar. Praticamente viajando no oceano sem fim de seus olhos. Velejando em um mar de águas misteriosas onde mil perguntas eram expressas, mas nós dois sabíamos que aquele não era o momento de respostas.

—_Eu senti sua falta.

—_É claro que sentiu_ Eu respondo arrancando um sorriso dele.

Eu tusso e uma dor erradia por toda a extensão da minha costela. Ele me olha preocupado, mas eu disfarço.

 __Pode me dar um pouco de água?

—_Claro. _ele diz prontamente se levantando e eu me arrependo do pedido assim que ele solta a minha mão.

—_Minha garganta está seca.

—_Você ficou desacordada por umas boas horas, Stella. _ele comenta enquanto me serve um copo d’água

Ele me ajuda a me acomodar melhor na cama e depois ajeita meus travesseiros. Põem o canudo no copo e depois em minha boca. Não bebo muito.

Ele volta a se sentar no mesmo lugar em que estava antes, e ele volta a me olhar, e ele volta a segurar a minha mão e eu sabia que ele queria me fazer dezenas de perguntas mas eu também sabia que se eu não quisesse contar ele não iria insistir.

Eu levo minha mão à tala que envolvia minhas costelas ao sentir uma pontada forte de dor. Ele se assusta com a minha expressão e logo o vejo gritar por alguém na porta. Eu nem ao menos tenho tempo de convencê-lo de que estava bem quando vejo um homem e uma mulher entrando no quarto.

—_Senhorita Bonasera, que bom que já despertou. _eu não o conhecia, mas já imaginava quem ele era e porque estava ali. __Sou o Doutor Sherman. Eu estou cuidando de você desde que chegou aqui.

A jovem ruiva de cabelos amarrados firmemente em um coque e feição suava certificava-se da minha situação atual enquanto Doutor Sherman me atualizava dos fatos e da minha real condição. Doutor Sherman era um senhor negro sério e com a face já marcada pela idade, mas ao conversar comigo pude perceber a suavidade em seu rosto como se tentasse me confortar de qualquer baque que eu pudesse ter. Ele me faz algumas perguntas sobre como me sentia, perguntas todas que eu respondo monossilabicamente.

—_Você me entende, Senhorita Bonesera? _é o que ele me pergunta ao final de cada sentença e eu apenas aceno com a cabeça, mas a verdade é que tudo aquilo parecia muito estranho pra mim ao ouvi-lo falar eu conseguia sentir Kevin executando cada ferimento no meu corpo novamente.

Depois de mais algumas palavras sobre medicamentos e recuperação ele me faz a pergunta que faz ao final de toda sentença novamente e me pergunto se ele usa essa linguagem fática com todos os seus pacientes ou se eu parecia tão mal assim

—_Você me entende, Senhorita Bonasera? _eu aceno mais uma vez. Mas ele só ganha minha total atenção depois que escuto isso:

—_Você vai ficar bem detetive. Provavelmente ficará apenas mais um dia até estar totalmente estável e mais forte. Se tudo correr bem será liberada pela manhã. Por enquanto isso é tudo. A enfermeira Dalton voltará depois para fazer o TE.

—_TE? Teste de estupro? _eu digo já com a voz embargada. __M-m-mas eu não fui estuprada. Eu não me lembro de ter, de ter sido estuprada. _eu digo com o nojo estampado em minha fala.

—_Stella... _Mac tenta me interromper, mas serve apenas pra que eu me altere ainda mais.

—_NÃO. Não. Não. _eu digo sem consegui pensar nessa possibilidade.

Minha cabeça doía. Minhas costas doíam. Meu corpo todo doía desconfortavelmente.

Eu não queria me descontrolar assim. Não na frente deles. Não na frente do Mac. Mas as memórias dele me tocando vindo em flash em minha mente apenas me fazia ficar mais nervosa. Só que tudo era muito confuso, muito incoerente. E todas essas dores fazia tudo ficar ainda mais obscuro.

—_Tudo bem que eu não me lembro de algumas coisas, mas... _eu tento raciocinar.

—_O remédio pode ter afetado grande parte da sua memória. Ela voltará aos poucos conforme se estabilize. Senhorita Bonasera, o teste é apenas pra tirar uma incerteza não quer dizer muita coisa até o resultado sair.

—_É claro que quer dizer muita coisa. Se cogitaram essa possibilidade é porque tem algum indício. Não é? _eu os indago querendo obter alguma resposta deles, mas eles apenas se entreolham.

—_O detetive Taylor vai saber explicar melhor isso pra você. Vou lhes dar licença. Voltarei depois.

Eu olho meu médico sair do quarto e vejo Mac esfregar as mãos uma na outra e espero Mac começar a me dar alguma explicação.

—_Quando nós conseguimos a localização de um dos imóveis de Kevin Morgan, nós achamos você no porão da casa. _ele dá uma pausa e percebo que ele estava tentando ser o mais profissional possível. __Você estava... Você estava...

—_Nua. Eu estava nua, Mac. É isso que você quer dizer.

Eu nem noto quando essa frase sai mais como uma afirmação do que uma pergunta.

—_Não. Não Stella. Você estava com as roupas de baixo.

—_Nossa! Muito melhor. _eu digo com nojo de mim mesma e ainda lutando contra a vontade de desmontar.

—_A Lindsay veio aqui fotografar e recolher qualquer tipo de evidência e ela encontrou sinais de subjugamento na parte interna de suas coxas, indicando que...

—_Eu sei o que isso quer dizer, Mac.  _Meu olhar estava vidrado enquanto as piores imagens da minha vida passavam pela minha cabeça.

Meus olhos fitavam a parede a minha frente: a pequena rachadura que tinha entre o teto e a parede, a faixa azul que ia de uma ponta a outra, e se você olhasse bem poderia perceber que aquela parede já tinha sido verde há um tempo; mas de algum modo tudo isso começou a ficar meio distante como se a parede estivesse sendo empurrada para trás e de repente a rachadura da parede não era mais tão nítida assim e quanto mais longe ela ficava mais rápido outra coisa ia tomando conta de todos os meus pensamentos.

“Agora você pode começar, meu bem.” Ele diz com o sorriso mais nojento estampado em seu rosto.

Eu começo a tira minha camisola e ele leva a mão ao seu membro o massageando por cima da roupa.

“Vire-se de costas. Puta merda! Como você é gostosa”.

—Stella? Está tudo bem? Você sabe que precisa de sua permissão pra fazer isso.

Eu passo minhas mãos pelo meu rosto tentando afastar as lágrimas que já insistiam em correr pela minha face; eu tentava afastar aquilo da minha mente e pensar racionalmente, mas não era uma missão fácil.

—_Eu só não queria ter que passar por isso de novo. _digo mais pra mim mesma. _Por favor, chame a enfermeira diga a ela que venha aqui e faça isso o mais rápido possível, minha cabeça dói insuportavelmente.

—_Sim. Claro. Eu vou estar aqui por você, Stell. Eu...

Eu não sei o que ele iria falar e naquele momento eu nem queria saber. Porque tudo o que saísse da boca dele só me deixaria com mais raiva de mim mesma, dele e de todo mundo. Minhas mãos tremiam e minha cabeça doía muito pelo choro que teimava em vir.

—Mac. _eu o corto. _Vá.

—_Sim.

—E me faça um favor.

—_Claro.  _ele diz em prontidão

—_Não volte mais hoje. _minha voz embargada me traía.

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Eu demoro um pouco pra entender o que ela estava querendo dizer. Quando entendo saio do quarto sem dizer mais nada. Conforme vou andando posso ouvir os soluços vindos do quarto dela aumentando e aquilo era capaz de dilacerar o meu peito por dentro como não sentia há muito tempo. Naquele momento eu percebi que Stella era capaz despertar em mim os sentimentos mais intensos – tanto bons quanto os ruins. E ouvi-la chorar me deixou totalmente atordoado tanto que nem percebi quando comecei a socar a primeira parede que vi a minha frente e nem ao menos entendi quando lágrimas começaram a sair dos meus olhos sem que eu permitisse. Eu não consegui protegê-la. Novamente eu não consegui protegê-la. No meu trabalho eu tento defender toda uma cidade, mas não fui capaz de cuidar dela que estava bem na minha frente.

Eu encosto a cabeça na parede tentando retomar minha respiração e seguir enfrente o que leva alguns minutos. Eu peço pra que enfermeira vá até o quarto da Stella e em seguida, ligo para o Don pra que ele possa vir tomar o depoimento dela. Depois disso eu faço a última coisa que me resta: ir até a delegacia falar com Kevin Morgan.

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—_Mac, como ela está? Flack me disse que ela acordou. Ele acabou de sair daqui _Angel me diz muito preocupada.

—_Ela está bem. Dentro do possível. _eu repondo tentando ser breve.

Ela aquiesce simplesmente sem mais perguntas sobre Stella, a preocupação em seu olhar era evidente. Ela me encara por um tempo antes de eu tentar fugir dessa situação.

—_Kevin Morgan já está aqui?

—_Sim. _ela responde. Eu ia andando em direção à sala de interrogatório quando ela se põe na minha frente

—_Você está bem, Mac? _Eu já estava pronto para responder quando ela reformula. __Você está bem pra isso? _eu não respondo.

Desde quando me perguntam se estou bem pra fazer o meu trabalho? Afinal, é apenas isso. Trabalho.

—_Detetive Taylor. _ele me cumprimenta formalmente quando eu entro na sala. __Como a detetive está? _ele pergunta como se se importasse e eu tenho que segurar meus punhos pra que eles não o soquem

—_Poupe-me, Morgan. Eu estou aqui pra tomar sua confissão. Então retenha-se a isso.

—_Confissão? Desculpe detetive, mas acho que não entendi.

—_Nós sabemos o que aconteceu lá, Morgan.

—_Não, meu amigo. Só eu e a Stella sabemos o que aconteceu naquela casa. _ele diz com um sorriso no rosto. __Só eu e ela sabemos o quanto nos divertimos nesses dias.

—_Okay. _Angel toma as rédeas do interrogatório ao notar minha pequena instabilidade. __Então por que não nos conta o que aconteceu durante esses dias?

—_Oh! Não sei se o detetive Taylor gostaria de ouvir, sabe? Acho que ele tem uma quedinha por ela. Acho que ele não gosta da ideia dela preferir eu a ele. _ele diz baixo olhando pra ela como se aquilo fosse um segredo e eu não pudesse ouvir.

—_Você sequestrou uma policial, a manteve em cativeiro por quatro dias. Uma confissão te ajudaria.

—_Uma confissão? Okay. Mas, sabe? Acho que isso é assunto pra homens. _ele olha pra mim e em seguida pra Jéssica.

Eu aceno pra Jéssica indicando que estava tudo bem. Ela sabia que ele não confessaria nada com ela ali na sala. Pra ele tudo é um jogo, uma questão de controle e enquanto ele achar que está no comando da situação, melhor será pra nós. Ela sai. E ele começa.

—_Você quer que eu confesse? O que quer que eu diga? Quer que eu diga como entrei em sua casa a noite, como ela tentou gritar quando percebeu que eu estava lá, como ela foi perdendo as forças e ficando inconsciente com o efeito da droga. Ou será que você quer que eu diga como ela me implorou de joelhos pela própria vida e como ela gostou quando eu a fiz se sentir mulher?

—_Sério? Você acha que isso aqui é um jogo? Heim? Que estamos com tempo pra isso? _minha mão bate na mesa. __Você vai a julgamento e pode acreditar o júri não vai ter pena de você vai pegar prisão perpétua.

—_Wow! Sério? É o máximo que você pode fazer pela sua detetivezinha? Me prometer prisão perpétua? Eu fugi da cadeia, detetive, eu já cumpria perpétua, então isso aqui se resume a... Nada?! É o máximo que pode fazer pela honra dela?!

—_Você tem razão não quero levar isso a julgamento. Quero uma confissão.

—_Vamos lá, Mac. Essa pose de detetive certinho não lhe cai bem. Eu vi você de verdade, na floresta. Eu sei que não é a justiça do júri que quer alcançar. Você acha que uma perpétua é suficiente pro que eu fiz?

—_Você sabe que não. Mas isso não vem ao caso...

—_Não? No nosso primeiro caso juntos disse que eu tinha sorte por você não quebrar meu dentes pelo que fiz aquelas mulheres e agora? Será que eu vou continuar tendo sorte? _ele me questiona com um sorriso sádico no rosto; um gatilho no meu cérebro é acionado.

—_Quer que eu te mostre o que sou capaz de fazer? Okay! Eu mostro.


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