The Hunger Games: We Always Were escrita por Beatriz Costa


Capítulo 7
Treinando


Notas iniciais do capítulo

MAS QUEM SERÁ? MAS QUEM SERÁ? MAS QUEM SERÁ QUE VIU O BEIJO DE KATNISS E PEETA NO DESFILE? QUEM ESTÁ NO QUARTO DO PEETA? NESTE CAPITULO SERÃO RESOLVIDOS ESSES MISTÉRIOS.
DEDICADO A:
Raquel V
LiviaDella
Rock Roll
Luli Melo
E
Daniela Everdeen.
BEIJOS E BOA LEITURA:)



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“Pensei que tinha dito para você ir para a cama”. Haymitch encarou Peeta e tomou um gole de sua garrafa.

“Pensei que os adultos estivessem conversando?” Peeta se sentou na beira da cama.

“E estivemos. E agora terminamos.” Haymitch puxou uma cadeira e se sentou em frente a Peeta. “Cinna disse que você está dentro. Você está?” A conversa tinha que ser um pouco codificada, de maneira que a Capital não apanhasse a essência do plano de Haymitch.

“Sim”, Peeta entendeu seu significado.

“Bom”, Haymitch tomou outro gole de sua garrafa e disse “Tudo bem… Me fale sobre Katniss.”

“O que quer saber?” Peeta colocou os cotovelos sobre os joelhos e apoiou o queixo sobre as mãos dobradas.

“Tudo.”

“Ela é do Seam.” O Seam era a parte mais pobre do Distrito 12. Peeta vivia numa área mais conhecida como Cidade, onde os comerciantes trabalham. Eles tinham lojas lá. A família de Peeta era dona de uma padaria e viviam por cima dela. Katniss e Peeta tinham crescido em dois mundos completamente diferentes. No Seam, a causa mais comum de morte era a fome. Sendo da cidade, Peeta geralmente tinha comida na mesa, era velha e mínima, mas ele comeu pelo menos duas vezes por dia. As pessoas da cidade não morriam realmente de fome, mas de doença vezes o suficiente.

“O pai dela morreu numa explosão nas minas quando tinha 11 anos de idade. Desde então, ela tem alimentado a família”, continuou Peeta.

“E sua mãe? Ela não podia cuidar delas?” perguntou Haymitch.

“Katniss disse que a mãe meio que… desistiu, depois da morte de seu pai. Ficou realmente deprimida ou algo assim. Ela não gosta muito de falar sobre o pai. Posso lhe dizer que ela ainda está bastante zangada com a mãe. Ela está melhor agora, mas Katniss ainda não a perdoou. Sua mãe é curandeira. Pessoas de todo o distrito vão ter com ela quando o médico não pode ajudar. Meu pai a conheceu quando eram jovens. Eu acho que ela era da cidade, mas a deixou para casar com o pai de Katniss.”

Haymitch conheceu a mãe de Katniss, quando os Pacificadores costumavam chicotear as pessoas. O Distrito 12 tinha sido muito diferente nos seus tempos de adolescente. Ele acenou para que Peeta continuasse.

“Depois que o pai morreu, Katniss teve de descobrir uma maneira de alimentar a família, então ela começou…” Peeta olhou em torno do quarto, que a Capital iria os ouvir. Ele não queria trazer problemas para Katniss por causa da caça ilegal. “…hum… ela arranjava comida para eles. Você sabe… cuidava deles.”

“Com 11 anos?” Haymitch se perguntou como uma criança poderia fazer isso. “Como uma criança faz algo assim?”

Peeta olhou ao redor do quarto e deu um olhar a Haymitch dizendo, “Aqui não!”

“Tudo bem, garoto. Eles vão juntar dois mais dois.” Haymitch o tranquilizou.

Peeta suspirou e sussurrou baixinho, “Ela caçava na floresta e quando fez 12 se inscreveu nas tesserae.”

Haymitch assentiu e encontrou uma profunda admiração para com a garota que enfrentou a floresta e quebrou a lei, sendo tão nova, para caçar e ajudar a família a sobreviver.

“Depois disso, ela meio que construiu esta proteção á sua volta. Quando ela era mais nova, ela sorria muito. Ela cantava o tempo todo quando estávamos na escola, mas então ela parou quando o pai morreu. “ Ele fez uma pausa. “Ela mudou depois que ele faleceu. É como se uma parte dela morresse com ele.” A face de Peeta se encheu de remorsos. “E… você vê…” Ele suspirou. Ele precisava que Haymitch entendesse Katniss e o porquê dela agir como agiu. “Olhe… Eu sei que ela parece um pouco fria ás vezes, mas ela não é. Katniss… ela tem um fraquinho por almas gentis… por pessoas com necessidades. E as pessoas no distrito realmente a respeitam.” Haymitch sabia que isso era verdade. Todos no Hob pensavam muito bem dela. “Ela é dura, mas não excessivamente agressiva ou algo do gênero. Ela é meio solitária, mas isso é porque quer. Todo mundo na escola a acha corajosa. Todos querem falar com ela… para a conhecer, mas eles têm medo. Ela é um pouco intimidante.”

“Você fala com ela.”

“Eu não tenho medo dela.”

“E o que seus amigos acham disso?”

“Eles não sabem sobre nós.”

Haymitch lhe lançou um olhar interrogativo.

Peeta se corrigiu. “Bem… duas pessoas sabem, e mais ninguém. O resto não faz ideia.”

“Você quer dizer, que ninguém na escola sabe sobre vocês dois?” Haymitch ficou aliviado ao saber que não havia muita gente a saber sobre Peeta e Katniss.

“Não. Em todo o distrito, ninguém sabe que falamos um com o outro. Como eu disse, só duas pessoas sabem e elas não vão dizer nada.”

“Quem são essas duas pessoas?”

“Minha amiga Delly Cartwright e uma garota que Katniss conhece, Madge Undersee.”

“Undersee?” O nome soou familiar a Haymitch. “A filha do prefeito?” A imagem de uma garota dos Jogos Vorazes de Haymitch entrou em sua mente. O pensamento o fez querer beber até esquecer, mas logo o tratou de expulsar.

“Sim, Madge e Katniss costumam almoçar juntas o tempo todo. Ninguém fala com Madge, porque ela é filha do prefeito, e como eu disse, a Katniss é…” Peeta apenas encolheu os ombros.

“Portanto, essas são as únicas pessoas que sabem que vocês dois têm uma amizade…”

Peeta deu a Haymitch um olhar questionador e disse, “Eu não chamaria exatamente de amizade, mas sim.”

“Ela sabe que estás apaixonado por ela?”

“Não.” Peeta desejava ter dito quando eles estiveram na floresta na manhã da Colheita, mas ele teve medo.

“Ela já disse que está apaixonada por você?”

“Não.” Peeta sabia que não havia maneira de Katniss ser a primeira a admitir algo assim para ele.

“Quantas vezes vocês se viam?”

“Não muito. Durante o almoço na escola ou tentávamos nos encontrar quando eu ia fazer alguma entrega, mas não era sempre.”

“E quando se encontravam, o que faziam?”

Peeta não ia contar a ninguém os detalhes íntimos do seu relacionamento com Katniss, mesmo que tivessem sido apenas alguns beijos. Eram momentos privados entre eles os dois. “Falávamos sobre coisas.”

“Falavam? É isso?”

“Sim” Peeta olhou para ele. “É isso!”

Haymitch levantou as mãos e disse, “Tudo bem. Então, você tem certeza de que mais ninguém sabe além das suas duas amigas?”

“Sim… bem… meu pai sabe que fui louco por ela toda a minha vida, mas ele não sabe que nós começamos algo. Alguns dos meus amigos sabem que tive uma queda por ela, mas não ligaram muito. Ma verdade, as pessoas assumem que Gale é seu namorado.” Peeta olhou para Haymitch e perguntou, “Porquê? Qual é o problema?”

“Eu só acho que você deveria manter isso só para si um pouco mais, é isso. Mantenha seus sentimentos em segredo por um pouco e no momento certo… vamos dizer… um dia ou…” Haymitch calculou em sua cabeça quantos dias faltavam para as entrevistas aos tributos. “… talvez quatro dias ou assim… antes de a deixar saber que a ama. Quero dizer… deve ser difícil para você falar com ela esse tempo todo… ser seu amigo e estar secretamente apaixonado por ela?” Haymitch olhou para Peeta, dando o seu melhor para o fazer entender seu significado. “Você dever estar sofrendo por dentro, garoto. Amar uma garota como essa e ela não ter a menor ideia.” Haymitch colocou a mão sobre o ombro de Peeta e olhou em seus olhos. “Enfrentarem os Jogos e não serem capazes de expressar seu amor um pelo outro… Eu não posso nem imaginar o que as pessoas dessa cidade fariam se descobrissem uma coisa como essa.”

Era como se, de repente Peeta pudesse ler a mente de Haymitch. Como se eles compartilhassem do mesmo cérebro. Duas crianças que não tiveram a oportunidade de expressar seu amor um para o outro com certeza chamaria a atenção de patrocinadores. “Sim, tem sido muito difícil para mim, Haymitch, mas apenas estar ao lado dela vale a pena. Só estar aqui com ela é suficiente.”

Haymitch com um brilho no olhar, acenou com a cabeça. Então de repente se lembrou, “Quem diabos é Gale?”

Peeta riu e disse, “O melhor amigo dela.”

“A sério que melhor amigo dela é um garoto?”

“Não é?” Ele tinha um olhar de inveja.

“Acho que você não é um grande fã do Gale?”

“Não muito.”

“Existe alguma coisa… engraçada acontecendo entre eles?” Haymitch precisava saber se esse outro cara ia ser um problema.

“Ela diz que não, mas eu acho que ele tem sentimentos por ela.”

“Mas ela não tem nenhum por ele, certo?”

“Não de acordo com ela.”

“Você acredita nela?”

Peeta pensou no beijo que haviam compartilhado no telhado. Ele olhou para suas mãos e disse, “É, eu acredito nela.”

“Ótimo. Eu não tenho certeza como vamos explica-lo, mas…”

Peeta começou a rir para si mesmo. “Eu realmente pensei que eles fossem parentes por muito tempo.”

“Porquê?”

“Eles são muito parecidos.”

“Hum… talvez eles sejam parentes? Você nunca sabe, garoto.” Haymitch gostou da ideia. Ele a guardou no fundo de sua mente apenas no caso de precisar dela mais tarde.

Tinha sido um dia longo e Peeta estava exausto. “Ouça Haymitch, estou um pouco cansado. Se isso é tudo por hoje…”

“É. Claro, claro.” Haymitch se levantou e tomou outro gole do seu frasco quase vazio. Ele realmente gostava desse garoto. Ele odiava o fato de que, quando lhe dissesse adeus em poucos dias, seria seu fim. O que ele não conseguia entender era porque estava tão disposto a morrer por Katniss. Ele era apenas um garoto. O que sabia ele sobre o amor? Quando ia a sair do quarto, Haymitch se virou e disse, “Ei, garoto… você tem certeza disso?”

“Sobre o quê?” Peeta não sabia do que Haymitch estava falando.

“A arena. Katniss.”

Peeta percebeu que Haymitch lhe estava perguntando se ele tinha a certeza de estar disposto a morrer por Katniss.

Peeta olhou para o chão entre seus pés. “Sim, eu tenho.” Quando encarou Haymitch, nem piscava. “Eu sou completamente apaixonado por ela, então não há realmente razões para eu ganhar. Minha vida não tem sentido sem ela.”

Haymitch ficou impressionado com o garoto. Ele orientou alguns filhos de comerciantes no passado, mas nenhum deles tinha tido este tipo de força interior ou determinação antes. Haymitch teria dado a própria vida para salvar os dois. Este pensamento instantaneamente o preocupava. Ele sabia que estava em apuros. Pela primeira vez desde que deixou sua própria arena, ele realmente se preocupou com o bem-estar de outros seres humanos. Ele tentou empurrar essas novas sensações para o fundo de sua mente, mas não estava funcionando e seu frasco estava agora seco. “Bem, boa noite, garoto. E lembre-se… vamos manter você e Katniss para nós mesmos por enquanto.”

“Claro que sim.” Os olhos de Peeta se encheram de pânico. Ele se lembrou de algo que acontecera mais cedo. “Haymitch! Espere!” Peeta se levantou e disse, “Distrito 2… Eles viram Katniss me beijar depois do Desfile dos Tributos.”

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Pesadelos invadiram seu sono. Pesadelos mostrando morte dela. Visões de uma faca penetrando seu coração. De uma lança atravessando sua garganta. Um tijolo esmagando seu crânio.  Ele tinha visto Katniss morrer de várias formas durante a noite. Uma vida inteira a ver os Jogos na televisão lhe proporcionou vários cenários. Gale acordou numa poça de suor frio. Ele olhou em volta. Um quarto escuro. Um par de pés minúsculos, pertencentes a seu irmão, estava debaixo de sua perna. Seus outros irmãos estavam dormindo na cama ao lado. Eles pareciam tranquilos. Ele passou os dedos pelos cabelos do irmão e, lentamente, saiu da cama. Ele precisava de um pouco de ar. Enquanto caminhava pelo corredor, ele abriu a porta do quarto da irmã, e espiou lá para dentro. Ela também estava dormindo enrolada com uma boneca, um maltrapilho, recheada com pedaços de material que saiam pelo topo como cabelo. Quando foi para a cozinha, ficou surpreendido ao ver sua mãe preparando um bule de chá.

“Hey. Que você está fazendo?”

“Ouvi você fazendo barulho. Pensei que você poderia querer um pouco de chá.” Sua mãe, Hazelle, havia ficado viúva e deixada com quatro filhos e mais um a caminho, muitos anos antes, mas ela tinha aguentado. Mesmo que pudesse ter o bebê a qualquer momento, ela continuou a lavar a roupa de outros para sustentar a família. Ela deu á luz um menino uma semana depois de ficar viúva e uma semana depois que começou a trabalhar. Gale admirava a força de sua mãe.

“Eu não percebi que tinha feito barulho. Desculpe se a acordei.”

“Não precisa se desculpar. Sente-se”, disse Hazelle. “Quer comer alguma coisa antes de ir para a floresta?”

 “Claro.”

Hazelle começou a preparar grãos quentes. Não era muito, mas era algo. “Quer falar sobre isso?”

Gale não sabia o que dizer. Foram apenas alguns pesadelos. “Tive um sonho ruim. É só.”

Sua mãe balançou a cabeça e disse, “Só isso?”

“Sim.”

“Não quer falar sobre outra coisa?”

“Como o quê?”

“Ela já se foi faz alguns dias. Talvez você queira falar sobre isso.”

“O que há para falar, mãe? Ela está nos Jogos. Eu não posso fazer muito.” Mas Peeta podia, pensou consigo mesmo.

“Não, você não pode.” Hazelle parou o que estava fazendo e se virou para o filho. “Ela pode não voltar, Gale.”

“Não diga isso, mãe.”

“Eu não quero dizer, mas é verdade.”

“Ela tem de voltar”, disse ele com a voz cheia de dor. “Ela tem de voltar.”

Hazelle sabia que os sentimentos do filho por Katniss iam além da amizade. “Gale, eu também não quero que nada de mal aconteça a Katniss. Eu a amo como se fosse minha filha, mas eu tenho assistido os Jogos toda a minha vida e sei o que pode acontecer até ao mais forte dos concorrentes. Você tem que ser realis…”

“Mãe! Você não pode pensar assim”. Gale se levantou e estendeu a mão para a mãe.

Hazelle pegou a mão do filho. “Eu sei que você quer acreditar que ela pode vencer, mas e se não conseguir?” Ela estava tentando consolar o filho, mas precisava que ele fosse realista também. “Gale, as chances não estão a seu favor. Ela vai ficar sozinha lá.”

Gale ergueu os olhos e disse: “Ela não vai, mãe. Peeta está lá.”

“Peeta? Você quer dizer o garoto do padeiro? O que ele tem a ver com isso? Ele vai ter suas próprias batalhas para enfrentar, querido. Ele não se vai importar se a Katniss…”

“Não, mãe. Você não entende.” Gale estava ficando animado. “Ele prometeu que ia lutar por ela. Que a iria proteger.”

Hazelle tinha um olhar enigmático no rosto. “Você está certo. Não entendo.”

“Ele está apaixonado por ela.” Gale explicou toda a conversa que ouvira entre os pais de Peeta e a que ele próprio tivera com o garoto no Edifício da Justiça. “Peeta irá se certificar que ela volta para casa.”

Hazelle estava preocupada quando era apenas Katniss na arena, agora ela estava preocupada com Peeta e Katniss. O filho do padeiro pode ser capaz de ajudar Katniss, mas o mais provável era que fosse ela a protege-lo. “Gale, você tem certeza que Katniss não sabia que Peeta tinha sentimentos por ela?”

“Mãe, Katniss me teria dito se tivesse algo rolando.” O café da manhã de Gale estava pronto e ele começou a comer. Todos os pensamentos sobre seus pesadelos desapareceram. Em seu lugar, estava a esperança de que Peeta e Katniss estavam treinando duro e aprendendo habilidades para sobreviver aos Jogos. Quanto mais Gale pensava nos sentimentos de Peeta para com Katniss, mais certeza ele tinha que ela não fazia ideia sobre eles. Ele a conhecia há anos. Eles tinham compartilhado todos os segredos, todos os desejos, tudo em suas vidas. Se Katniss tivesse começado um relacionamento com alguém, especialmente um garoto da cidade, Gale saberia.

Hazelle começou a limpar os pratos do café da manhã e se lembrou de uma tarde quando Katniss tinha parado por lá. Ela tinha deixado um pequeno pedaço de pão de canela e passas para o aniversário de sua filha Posy. Tinha sido parcialmente queimado, mas ainda assim era delicioso. Quando Hazelle perguntou como ela tinha conseguido, Katniss disse que era o presente de um amigo. Hazelle se perguntou se Peeta seria esse amigo. Ela olhou para o filho enquanto ele comia e se perguntou o que mais partiria seu coração. O fato de que Katniss poderia estar morta em algumas semanas, ou de que ela poderia estar apaixonada por Peeta.

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Peeta acordou um pouco mal-humorado. Não era comum se sentir assim, mas havia muita coisa acontecendo em sua mente. Precisava falar com alguém, mas normalmente apenas falava com Katniss. Já que isso não era uma opção, ele teve que guardar para si.

Seu sono era cheio de sonhos. Sua mãe estava na arena. Numa cidade abandonada, cheia de escombros. Peeta se refugiara num prédio antigo. A dupla do Distrito 2 procurava por ele e Katniss. Ele podia ouvir a voz de sua mãe atrás de si. “Peeta! Sua criança estúpida! Eu lhe disse para ter cuidado com o pão!” Ele sentiu a colher de pau atingir seu rosto com tanta força, que sua cabeça virou. Ele queria pedir para ela parar, mas nenhuma palavra saía. “Jogue para os porcos! Ninguém vai comprar isso!” Ele tinha queimado dois pães. Ele queria que a mãe parasse de gritar. O Distrito 2 poderia a ouvir e matá-lo, mas ele não se conseguia mexer. Não conseguia falar. Ele estava paralisado. “Eu disse VAI!” Só então ouviu os passos que significavam sua morte eminente. “Mate-o. Ele é inútil para mim.” Sua mãe estava com o garoto e a garota do Distrito 2. Ela riu e disse, “Criança estúpida e patética. Você sempre foi inútil.”

Ao longe ele ouviu Katniss chamando seu nome. “Peeta? Peeta onde você está?”

Peeta estava congelado no lugar. O garoto do 2 olhou pela janela do edifício e disse, “Aqui está ela. Vá busca-la.” A garota do 2 correu e a próxima coisa que Peeta soube era que Katniss estava deitada a seu lado. O garoto do 2 estava prestes a largar uma rocha enorme em sua cabeça.

“Eu pensei que você me iria proteger, Peeta. Você prometeu me proteger.” Katniss gritou, mas ele não podia vê-la. A risada de sua mãe ecoou pelo prédio vazio. O enorme pedregulho estava prestes a esmagar o crânio de Peeta, quando de repente, se endireita na cama.

Seu coração estava disparado. Seus olhos correram o quarto. Ele ainda podia ouvir a voz de sua mãe ecoando em sua cabeça. Ela o perseguia.

Morrer na arena era menos aterrorizante do que os espancamentos de sua mãe. Pelo menos sua morte seria rápida, ou assim esperava. Uma vez estando morto… Tudo estaria acabado. O abuso por parte da mãe estaria acabado. Ela iria bater nele, dizer que estava arrependida, culpá-lo por isso, e depois fazer tudo de novo. Por vezes, no dia seguinte. Outras, uma semana mais tarde. Peeta nunca sabia quando a raiva viria, mas ele sempre soube que estaria lá. Seus irmãos nunca foram receção para sua raiva. Ela gritava com eles, mas nunca lhes levantou a mão. Eles até já assumiram a culpa por algumas coisas para o tentar proteger, mas nunca funcionou. Mesmo que eles fizessem alguma coisa errada, Peeta levava com a culpa e o castigo.

Uma vez faltara á escola durante uma semana inteira, porque ela lhe tinha batido tanto, que não podia andar. Seu pai teve que o levar no médico. Quando o médico perguntou o que tinha acontecido com a perna de Peeta, seu pai disse que ele tinha caído da escada. Foi parcialmente verdade. Sua mãe lhe havia dado um tapa tão forte, que Peeta acabou por cair da escada e fraturar o tornozelo. Peeta tinha 10 anos na altura. Foi então que percebeu que o pai nunca iria ficar contra sua mãe. Ele se perguntou se sua mãe já teria levantado a mão contra seu pai também. Se ela não o tivesse atingido fisicamente, suas palavras fariam. Abuso verbal podia ser tão mau quanto abuso físico.

Peeta precisava tirar sua mãe da cabeça, então entrou no chuveiro. Ainda não tinha conseguido tirar da cabeça e não ficou muito feliz ao sair do chuveiro e cheirar como um buquê de flores.

Ele e Haymitch haviam falado até tarde, tanto que Peeta ficou surpreendido ao ver seu mentor sentado em sua cama com um conjunto de roupa.

“Saudades minhas?” Peeta perguntou.

“Dia de treino. Eu quero que você sugira fazê-lo juntos.”

“Katniss não vai querer. Ela quer que a gente mantenha a distância em torno dos outros tributos.”

“É por isso que você vai sugerir fazê-lo juntos.”

Peeta ainda estava com um humor azedo, mas ele não queria descontar em ninguém, então apenas concordou. “Não tem problema. É isso que vou vestir?” Ele apontou para as roupas que Haymitch segurava.

“É. Se troque. Vou esperar aqui.”

Peeta entrou no banheiro e se vestiu. Ele pensou na conversa com seu mentor na noite anterior. As instruções de Haymitch eram muito simples, se você considerar tentar matar mais de 20 pessoas uma coisa simples. Eles tinham que trabalhar num plano contra os Carreiristas. Peeta teria que relatar a Haymitch todos os pontos fortes e fracos que eles tinham, todos os dias depois das sessões de treinamento. Se livrarem deles na arena ia ser difícil, mas eles estavam determinados a descobrir uma maneira. Haymitch tinha uma sessão agendada com Katniss antes das entrevistas, onde ele ia tentar ajudá-la nesse quesito. Enquanto isso, Peeta poderia tentar trabalhar com ela também, mas somente quando estivessem no telhado. Peeta tinha que manter Katniss por perto em público, o que não seria difícil; ela estava querendo que ele fizesse isso desde que entraram nos Jogos. Segundo o raciocínio de Haymitch, eles tinham que parecer amigos, não amantes. Peeta discutiu com Haymitch lhe dizendo que não eram namorados, mas no final, era mais fácil fazer simplesmente o que seu mentor queria. Não deveria haver mais intimidade entre o casal. O que fez Peeta pirar. Ele tinha que manter a distância. Não segurar sua mão. Não abraçar. E nem beijar. Peeta tinha que levar a sério a cena do amor não correspondido. ˈBem, ele pensou, eu tenho 11 anos de prática, por isso devo ser um profissional nisso.ˈ Se olhou no espelho e lembrou do beijo com Katniss na noite anterior, pensando, ˈVou lembrar esse beijo para o resto da vida… minha curta vida.ˈ Haymitch não estava satisfeito com o facto do Distrito 2 ter visto Katniss o beijar depois do Desfile dos Tributos, mas ainda tinham tempo para tentar descobrir como dar a volta a isso.

Ele e Haymitch caminharam até á sala de jantar para o café da manhã. “Então, porque é que vou sugerir treinarmos juntos? Ela vai ficar zangada comigo se eu fizer isso.”

“Amigos em público, lembra?”

“Eu não tenho certeza se ela vai querer fazer isso.” Peeta e Haymitch viram o motivo da discussão ao fundo do corredor. “Mas você é o mentor. Vamos.”

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Effie bateu de leve na porta do quarto de Peeta a pedido de Haymitch. “Eu não sou bom nessas coisas, Effie”, lamentou Haymitch. “E essas duas crianças têm de ser um par feliz quando descerem. Não um par de tributos briguentos. Vá cuidar disso.” Ela não estava feliz por ter de ficar no meio da pequena briga no café da manhã de Katniss e Peeta, mas era seu trabalho apesar de tudo.

“Oh. Oi, Effie. Já são 10h00? Estou atrasado?” Peeta olhou para o relógio.

“Não. Não. Nem um pouco. Posso entrar?” perguntou ela.

“Claro.”

Effie fechou a porta atrás de si e se sentou o mais longe possível da cama de Peeta. Estar no quarto de um tributo masculino não era um comportamento adequado, tanto que Effie estava preocupada e isso a fez se sentir desconfortável. “Peeta, eu gostaria de falar algo com você.”

Peeta assumiu que ela teria mais instruções, então se sentou em frente a ela de ouvidos atentos.

“Eu gostaria de falar sobre sua conduta durante o café da manhã.”

Peeta fechou os olhos e imediatamente sentiu remorsos. “Sinto muito, Effie.” Ele não conseguia acreditar no que tinha feito. “Eu não devia ter agido daquela forma. Peço desculpa.”

“Bem… sim, foram maus modos, mas… “ Effie pensou por um instante sobre o que ele tinha dito. Teria sua mãe mesmo pensado que Katniss iria ganhar os Jogos e não o próprio filho? Ela sentiu uma pontada de tristeza no fundo do estômago, pelo jovem. “Eu pensei que talvez… talvez… você quisesse falar sobre isso?”

“Não há realmente nada para falar, Effie. Eu fui rude com a Katniss e vou pedir desculpas a ela assim que a vir.” Peeta lamentou ter dito as palavras de sua mãe a Katniss sobre ela ser uma sobrevivente.

Peeta tinha feito uma promessa a si mesmo na primeira vez que mentiu a Katniss sobre a surra que tinha apanhado da mãe. Ele nunca lhe iria contar sobre essa parte de sua vida. Nunca diria a Katniss sobre o abuso físico. Nunca deixaria ela saber que viveu a maior parte de sua vida com medo. Ele nunca iria partilhar a angústia mental que ele tinha passado ou repetir os nomes que sua mãe lhe tinha chamado ao longo dos anos. Essas palavras eram para os ouvidos dele. As repetir para Katniss seria como submetê-la aos abusos de sua mãe também. E Peeta não permitiria isso. Ele nunca poderia fazer isso com Katniss… ˈaté hojeˈ, ele pensou consigo mesmo.

Peeta cobriu a cabeça com as mãos e disse, “Sinto muito. Sinto muito. Porque é que eu lhe disse aquilo? Eu não deveria ter dito a ela o que minha mãe disse. Porque é que contei?”

O coração de Effie doía, enquanto assistia Peeta sofrer. Ao longo dos anos tinha visto muitos tributos chorarem pelos pais ou por medo, mas nunca pelo bem-estar do companheiro tributo. Effie olhou em volta do quarto desejando que Haymitch não a tivesse enviado ao quarto de Peeta para remediar a situação. Ela não era exatamente do tipo maternal, ela pensou consigo mesma, mas tentou. Ela colocou a mão no ombro de Peeta e deu uns tapinhas. “Vamos lá. Tenho certeza que Katniss já esqueceu de tudo isso agora”, disse ela num tom encorajador. “Ela provavelmente está lisonjeada com o comentário de sua mãe.”

Peeta lamentou Effie e sua patética tentativa de consolação. Ainda assim, ele sabia que não podia deixar que o sonho da noite anterior com sua mãe, afetasse o resultado do seu dia de treinamento. Ele levantou o rosto e enxugou os olhos. Ele sorriu para sua escolta e disse: “Ela provavelmente se sente lisonjeada, Effie. Obrigado.” Ele entrou no banheiro e pensou, ˈEffie, você é ignorante, mas por algum motivo estranho, eu gosto de você.ˈ Ele lavou os vestígios de lágrimas de seus olhos e disse a Effie que iria ter com ela ao elevador. Poucos minutos depois, todos os pensamentos sobre sua mãe foram embora e ele estava pronto para continuar o dia.

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Katniss e Peeta ouviram Atala, a mulher no comando de todos os tributos, enquanto estavam em treinamento pelos próximos três dias. Ela estava a instrui-los a não se envolverem em brigas uns com os outros, falando de cada estação de treinamento, mas ninguém estava realmente a ouvir. Todo mundo estava muito ocupado olhando para a competição.

Katniss não pôde deixar de notar como quase todos na sala eram maiores que ela e Peeta não deixou de notar nos olhares que estavam recebendo do Distrito 2. Por alguma razão, ele decidiu não desviar o olhar do deles. Ele só olhou para trás deles com um sorriso malicioso estampado no rosto, piscou o olho para eles e se virou. ˈDeixe-os pensar sobre isso um poucoˈ, ele pensou. Naquela fração de segundo, ele decidiu dar aos Carreiristas um alvo que não fosse Katniss. Era a única coisa que podia pensar, e que esperava que funcionasse. A única coisa que sabia era que Katniss estava certa; eles não poderiam mostrar a qualquer uma dessas pessoas medo. Eles iriam ataca-los.

Quando Atala terminou de falar, Katniss e Peeta ficaram no lugar. Nenhum deles disse uma palavra. Eles apenas olharam em torno vendo as diferentes estações.

Peeta sabia que tinha de pedir desculpas a Katniss pelo que aconteceu durante o café da manhã. “Fiquei surpreso por você querer treinar juntos.”

“Porque não iria querer?”

“Eu não sei. Você queria nos manter á distância á volta dos outros tributos.” Peeta olhou para os Carreiristas, fazendo anotações mentais, e viu como o garoto do Distrito 4 começou a fazer combate corpo a corpo com um dos assistentes que a Capital tinha fornecido.

“É um treino, Peeta. Como você disse anteriormente… não é como se tivéssemos segredos um para o outro.” Os olhos de Katniss seguiram os de Peeta.

“É… sobre mais cedo.” Peeta se virou e olhou para ela. “Eu sinto muito por isso. Eu meio que acordei do lado errado da cama e descontei em você. Eu não queria fazer isso.”

“Está tudo bem.” Ela ainda estava olhando o garoto do Distrito 4. Ela não podia fazer nada a não ser se preocupar com o garoto gigante que naquele momento estava atirando o assistente da Capital ao chão como se fosse um pano molhado. Ela esperava que alguém o matasse antes de chegar a ela.

Peeta a cutucou com o cotovelo, “Ei. Onde você gostaria de ir?”

Katniss se puxou para fora dos pensamentos. Ela lembrou das instruções de Haymitch no café da manhã.

Haymitch dissera a ambos para não mostrarem as habilidades que tinham durante o treinamento. Katniss estava acostumada com o arco e flecha, por isso era imperativo que ela ficasse longe dessa área e já que Peeta tinha trabalhado na padaria toda a sua vida, ele passou muitos dias jogando pesados sacos de farinha de modo que lhe foi dito para ficar longe dos pesos.

“Talvez amarrar alguns nós.”

“Você está certa”, disse ele.

Eles aprenderam algumas armadilhas básicas, nas quais Katniss era boa.

“Você já tinha feito isso antes, Katniss?” Peeta olhou para ela.

“Sim. Gale me ensinou a criar esse tipo de armadilha quando eu tinha… 13 eu acho.” Ela mostrou a Peeta como fazer.

“E o que você faz depois de montar a armadilha?” Ele perguntou.

“Eu meio que tenho essa rotina que sigo.” Ela olhou ao redor, se certificando que ninguém ouvia. “Sempre que monto as armadilhas, vou para oeste.”

“Porque não leste?”

“Eu sigo o sol.” Ela olhou para Peeta. “O sol nasce de leste e se põe no oeste. Dessa forma, nunca me perco.”

Peeta sorriu de canto e disse: “Isso é muito inteligente.”

“ Se você encontrar minhas armadilhas na arena, tudo o que você tem de fazer é ir para oeste e irá ter a mim.”

“Vou lembrar disso.”

Ao longo do dia Katniss percebeu que os olhos de Peeta estavam constantemente virados para a estação de camuflagem. “Porque não vamos lá a seguir?” Katniss lutou por manter uma cara séria enquanto Peeta sorria.

“Isso soa bem.”

Katniss viu como os olhos de Peeta pareciam ficar distantes, uma vez que ele começou a misturar os ingredientes, mas sua atenção foi desviada quando viu o flash de algo brilhante pelo canto do olho.

O monstro que era o garoto do Distrito 2 jogou uma lança através do coração de um boneco a 15 metros de distância. Ela não podia deixar de olhar a cena. O garoto do Distrito 2 parecia estar a abater boneco após boneco com as lanças e a garota do mesmo distrito fazia quase ou mesmo tanto estrago com suas facas. Tudo o que mirava, ela acertava.

Quando Katniss foi capaz de voltar a focar-se em Peeta, estava assombrada. Lama, sucos de bagas e pedaços de barro foram misturados em torno de sua pele. Seu braço e mão, que tinham lá estado poucos minutos antes, haviam desaparecido dando lugar a uma casca de árvore. “Oh meu Deus, Peeta! Como você fez isso?”

Ele levantou o braço/casca e mexeu os dedos, os colocando contra o tronco de uma árvore, se misturando completamente com a paisagem. “Eu disse que amava arte, mas aprendi isso fazendo bolos na padaria.”

“Eu sabia que você fazia os bolos, mas… isso é incrível. Eu nunca vi um bolo assim na janela.”

“Eu nunca fiz um bolo e lama e barro antes”, ele riu.

“Não esqueça o suco de bagas”, lembrou o treinador.

“Yeah. O suco de bagas”, disse Peeta.

“Eu vou ter que levar você para a floresta quando chegarmos em casa, para você me fazer um bolo de lama.” Katniss sorriu acompanhada por Peeta.

No espaço de um segundo, Katniss, Peeta e seu treinador se lembraram onde estavam. Os sorrisos que estampavam a face dos três, desapareceu. O treinador disse onde Peeta poderia se lavar. Katniss disse que iria esperar por ele e Peeta apenas acenou em concordância.

No fundo de sua mente, Katniss não podia deixar de ouvir a voz de Effie Trinket dizendo, “Felizes Jogos Vorazes! E que a sorte esteja sempre a seu favor!”

Katniss olhou ao seu redor estudando os adversários. Ela olhou o garoto aleijado do Distrito 10 e soube que não seria ela a matá-lo. Olhou para uma garota ruiva e encontrou seus olhos um pouco evasivos. Então ela notou a briga entre o garoto do Distrito 2 e outro tributo. Ela se moveu um pouco para tentar ver o que estava acontecendo. Ela ouviu o garoto 2 acusando o outro garoto de roubar sua faca. Eles pareciam ter uma discussão acalorada, e assim que Katniss começou a desviar o olhar, ela viu… a garotinha do Distrito 11 estava numa rede no teto, sorrindo… brincando com a faca do garoto do 2 que pensava que tinha sido roubada. Katniss sorriu para si mesma. Ela escondeu um sorriso e respirou fundo. Ela tinha que manter o foco. Ela e Peeta ainda tinham um pouco de tempo juntos. Enquanto estivessem em treinamento, eles tinham de camuflar seus sentimentos, mas uma vez que o treinamento do dia acabasse, eles poderiam passar uns minutos no telhado… ela esperava.

O almoço foi mais difícil do que parecia. Katniss podia sentir olhares sobre eles vindos de todas as direções. Eles foram os únicos que comeram juntos, com exceção dos Carreiristas. Todos os outros tributos se sentaram sozinhos e isso deixou Katniss desconfortável. “Talvez devêssemos ter treinado em separado, Peeta. Isto é estranho.”

“O que é estranho?”

“Isso…” Ela apontou para os outros tributos com a cabeça.

“Não seja boba, Katniss. Almoçamos juntos o tempo todo.”

“Esta não é exatamente o carvalho e essas pessoas não são a Delly e a Madge.”

Peeta olhou para Katniss e estudou sua expressão preocupada. “Que importa onde estamos? Nunca tivemos problemas ao falar durante o almoço antes.”

“Tudo bem. Então fale”, Katniss cuspiu, seu rosto era como uma pedra.

Peeta olhou ao redor e percebeu que os Carreiristas os encaravam novamente. Ele pensou nos almoços com Katniss. Todas as suas conversas terminavam com alguma forma de intimidade e não iriam fazer isso ali. Ele precisa manter a distância. Mais uma vez ele olhou para os Carreiristas. ˈSem medoˈ, disse para si mesmo. Ele sorriu para eles e deu uma inclinação com a cabeça, como se estivesse perguntando ˈcomo vai?ˈ Ele voltou sua atenção para Katniss, que estava escolhendo um pedaço de pão e disse: “É do Distrito 1.”

“Hã?”

“O pão. É do Distrito 1. Está vendo esses pequenos salpicos de cristais em cima? É açúcar. É isso que o torna tão doce.” Ele virou o cesto de pão sobre a mesa. “A Capital colocou aqui pão de cada distrito para nos fazer sentir em casa. O que você está pegando é do Distrito 1. Eu já comi um do Distrito 2. Não era muito bom. Do Distrito 3 está… aqui. Eles são pequeninos, não são? Do Distrito 4 são em forma de peixe pintados de verde com algas. “Peeta continuou com a descrição dos pães de cada distrito. “Os do Distrito 11 têm essas sementes minúsculas em cima, que simboliza a agricultura e… bem, você conhece nosso pão. “Ele voltou a pôr os pães dentro do cesto. “O meu favorito é o do Distrito 7. Tem xarope dentro. Quem teria pensado que o meu pão favorito seria do distrito da madeira, mas… “ ele encolheu os ombros.” Tudo bem. Agora é sua vez. Você fala.”

“Eu não sei o que dizer.” Katniss começou a roer as unhas.

“Sério, Katniss?”

Katniss olhou para o lado e notou que a garota ruiva estava sentada cerca de 3 metros deles. “É difícil falar aqui, Peeta.”

Peeta olhou ao redor e disse, “Não, não é. Nós comemos aqui todos os dias, Katniss.”

Ela piscou os olhos e olhou para ele como se fosse louco.

Peeta empurrou a mesa para o lado e disse, “Esta é nossa árvore Katniss, e atrás de você… aqueles não são tributos, são agrupamentos de árvores onde os mockingjays têm seus ninhos.”

“Boa tentativa, Peeta.” Katniss revirou os olhos.

“Feche os olhos Katniss.” Ela olhou para ele. “Você confia em mim?”

“Sim.”

“Então, feche os olhos”, insistiu.

Demorou alguns segundos até ela fechar os olhos e quando o fez tudo o que podia ouvir era o arrastar de cadeira ocasional ou a risada de um Carreirista de fundo. Em seguida ela ouviu o somo suave da voz de Peeta.

“Nesse momento estamos sentados no Distrito 12.” Ele pausava entre cada frase. “É hora de almoço. Delly está falando no ouvido de Madge e Madge está pronta para ir embora… como de costume. Hoje há uma brisa, mas é refrescante. O sol é quente, mas estamos na sombra, debaixo do carvalho. Você consegue ouvir o chilrear dos pássaros no fundo, Katniss? Os mockingjays estão tranquilos hoje, mas os pintarroxos estão assobiando á distância. Posso ouvir o som das folhas quando o vento sopra. Lá ao longe, posso ouvir as outras crianças na escola. Elas estão rindo… falando. Posso sentir o cheiro do carvão da mina, você pode sentir o cheiro?

“Não”, responde calmamente.

“O que você consegue cheirar?”

“Canela e endro… você”

Peeta tentou não sorrir, mas não conseguiu evitar. “Eu cheiro a canela e endro?”

“Sim.”

“Abra os olhos, Katniss. Fale comigo.”

Katniss não estava mais numa sala cheia de tributos, mas sim almoçando com Peeta no carvalho. “Eu já te disse como fui perseguida por um urso?”

Peeta ergueu as sobrancelhas. “Não, mas me parece ser fascinante.”

“Segundo minha mãe, foi ridículo.”

Peeta riu, e disse: “Me conte a história e eu logo decido se foi fascinante ou ridículo.”

“Ótimo. Eu não me importava de ter outra opinião”, disse ela com um sorriso atrevido. “Pessoalmente, achei que foi brilhante, mas vou deixar isso para você. Eu tinha ido para a floresta no final da tarde…”

“Gale estava com você?”

“Não. Porquê?”

“Só estou tentando ter uma imagem na minha cabeça.”

“Ah. Bem, eu estava voltando para a casa vinda do lago e na volta eu pensei ter visto alguns faisões numa árvore em frente e então joguei umas pedras para os galhos, mas é difícil jogar pedras e disparar flechas ao mesmo tempo, especialmente com um saco cheio de caça, então tive de os perseguir. Ao fazer isso, eu me encontrei numa parte diferente da floresta.”

“Já lá tinha estado antes?”

“Algumas vezes, mas com Gale. É muito fechado com arbustos e árvores… é melhor ir acompanhada por um companheiro de caça. Mas estava bastante determinada naquele dia.”

“Essas aves irritaram você não foi?” perguntou Peeta com um sorriso de quem sabia a resposta.

Katniss o encarou de bom humor. “Sim. No entanto, eu mirei, disparei uma flecha contra a árvore alto o suficiente para os pássaros saírem de lá e em seguida disparei mais três flechas os abatendo um a seguir ao outro.”

“E onde é que o urso entra?” Peeta estava ficando ansioso.

“Já estou chegando nessa parte”. Katniss riu. “Depois de ter recolhido minha caça. Eu trepei na árvore para pegar minha flecha e quando estava descendo notei algo mais abaixo, mas no chão e mais para a direita. Olho por cima do ombro e vejo um urso enorme olhando para a árvore onde eu estava.”

“Oh meu Deus. Você estava com medo?”

“Não realmente. Para ser honesta, eu estava tentando descobrir quantas flechas seriam precisas para o derrubar.”

Peeta estava chocado. “Você queria matá-lo?”

“Claro. Porque não?” Ela encolheu os ombros. “Mas percebi que nunca seria capaz de o levar por mim mesmo, então… Foi quando descobri que ele não estava olhando para mim. Ele estava olhando para outra coisa. Havia uma colmeia cerca de dez metros acima da minha cabeça e eu não a tinha notado.”

“Graças a Deus. Essas abelhas poderiam ter matado você.”

“Elas não estavam lá.”

“Então onde estavam?”

“Não sei.” Ela voltou a encolher os ombros. “Mas sei que havia mel.”

“E como você sabe isso, Katniss?” perguntou Peeta em tom acusador.

“Porque eu subi na árvore, só que dessa vez de maneira a que o urso não me visse. Eu sabia que teria de descobrir uma maneira de conseguir trazer a colmeia para baixo e escapar do urso, mas eu não podia correr de um urso, certo?”

“Certo.” Peeta estava sentado na borda da cadeira.

“Então esse era meu plano. Se eu pudesse obter um favo de mel para fora da colmeia, isso me daria um pouco de mel e ainda sobrava para o urso. Eu deixaria cair a colmeia no chão para ele e saltaria para a árvore mais próxima e descia, passava pela cerca e voltava para a minha vida.”

“Isso funcionou?”

“Não.”

“Katniss! Você está me matando aqui! O que aconteceu?”

Katniss sorriu: “Eu coloquei minha mão dentro da colmeia e arranquei o favo de mel sem pensar que minha mão estaria gotejando com mel, deixando um rasto para o urso seguir. Ou que minha mão ficaria presa dentro da colmeia.”

“Oh não!”

“Oh sim!” Ela riu. “Lá estava eu, tentando esmagar a colmeia contra a árvore enquanto o urso se preparava para escalar. Finalmente consegui arrancar a colmeia e trepei para o maior e mais próximo ramo que encontrei, saltando para a próxima árvore. Infelizmente para o urso, ele me superou por uns 100 quilos e caiu ao chão.” Ela riu ainda mais alto. ”Lá estava eu. Minha mão e braço pingando mel, presos dentro de uma colmeia…”

“Ele ainda estava lá?” Peeta não pôde deixar de rir.

“Sim!”

“E o que aconteceu com o urso?”

“Ele continuou a tentar escalar a árvore, mas os galhos quebravam. Então eu continuei de ramo em ramo, até que a maldita colmeia saiu da minha mão e caiu no chão. Minha mão estava pingando mel e o urso finalmente desistiu de mim.”

Peeta segurava seu estômago e ria, enquanto imaginava Katniss numa árvore, coberta de mel e tentando lutar com um urso.

“Fico feliz que você pense que foi engraçado”, ela riu.

“Katniss, você é destemida! Ridícula, mas destemida.”

“Ah, então você concorda com minha mãe?”

“Sim, eu acho que vou ter que ficar do lado dela dessa vez.” Peeta sorriu para ela. “Só me faça um favor. Não vá brincar com ursos ou colmeias na arena, ok?”

“E o que devo fazer se tiver desejo de comer mel?” Ela riu.

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Após o primeiro dia de treinamento, Peeta e Katniss atualizaram Haymitch sobre os eventos do dia. Quando Haymitch os mandou embora mais uma vez alegando que os adultos precisavam conversar, eles foram para o jardim na cobertura.

Katniss sentiu alivio quando finalmente pôde relaxar um pouco com Peeta na cobertura, mas ele ainda parecia estar em modo de treino. Falar com ela sobre as entrevistas. Sugerindo que ela podia falar de Prim e como foi a sua primeira Colheita.

“Não. Eu não trazer isso á tona.”

“Porque não?”

“Eu não preciso de reviver isso de novo, Peeta. É ruim o suficiente que eles a passarem na televisão o tempo todo.”

Peeta não queria mais nada a não ser a puxar para seus braços e aliviar sua dor, mas ele podia ouvir as instruções de Haymitch em sua cabeça. Não tocar. Não segurar a mão. Então quando Katniss pegou a mão dele, quase se matou para puxar a mão da dela. “O que você sugere para você falar, então?”

“Eu não sei. Quem se importa?” Katniss estava exasperada. Tinha sido um longo dia e estava cansada. Por três vezes ela tentou segurar a mão de Peeta desde que chegaram ao telhado, mas cada vez que o fazia, ele se afastava. ˈTalvez, ela pensou, ele finalmente estava ficando com o mesmo estado de espirito dela. Que eles precisavam tentar se separar agora, antes de irem para a arenaˈ. Ela não tentou outras formas de intimidade com ele depois disso. Embora sentisse terrivelmente sua falta.

Todas as noites antes de dormir, Peeta falava com Haymitch em privado sobre os Carreiristas, bem como qualquer outro tributo que pudesse representar uma ameaça na arena. Com exceção de um punhado de tributos, Peeta falou com Haymitch praticamente sobre todos.

No segundo dia de treinamento, Peeta viu Katniss escalar uma parede pendente feita de cordas atadas. Enquanto os outros tributos caíram no meio da subida, incluindo ele próprio, ela chegou ao topo e voltou para baixo sem parar uma única vez.

Katniss ficou impressionada quando viu Peeta prender o assistente durante uma luta corpo-a-corpo. Ela sabia que ele era um bom lutador, mas depois de o ver prender o assistente uma e outra vez, em menos de dez segundos, ela não pôde deixar de pensar que talvez ele tenha ficado em segundo lugar depois do irmão na competição de luta livre, de propósito.

Na terceira tarde era hora de mostrar suas habilidades. Katniss finalmente iria pôr as mãos num arco e flecha e Peeta iria mostrar suas habilidades com os pesos.

Eles se sentaram numa sala cheia de tributos, escutando cada um ser chamado. Primeiro foi o garoto do Distrito 1, em seguida a garota. Um por um, cada tributo foi chamado.

Katniss e Peeta sentaram e esperaram em silêncio compartilhando um ocasional olhar nervoso. Quando eles finalmente ficaram sozinhos na sala, Katniss falou: “Se lembre de fazer o que Haymitch disse.”

“Eu vou.”

A sala estava vazia, mas eles ainda estavam sentados lado a lado. Quando Katniss deixou a mão cair e a descansou entre eles, Peeta deslizou seus dedos e tocou seu dedo mindinho contra o dela. Não era muito, mas era o suficiente.

Katniss que estava de olhos fechados, respirou fundo. Ela levantou o dedo mindinho e o envolveu em torno do de Peeta.

Ambos olhavam a parede em frente sem pestanejar.

Uma voz no altifalante chamou: “Peeta Mellark.”

Peeta se levantou e começou a andar. Ele parou. Se virou para ela com um sorriso reconfortante e disse: “Katniss.” Ela olhou para ele. “Atire diretamente.”

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A sala de treinamento estava livre de tributos com exceção dele mesmo. Peeta estava sozinho e para a direita era a área onde os Idealizadores tinham estado durante toda a semana assistindo… tirando notas… analisando os tributos. Hoje, o trabalho deles era determinar essencialmente seu valor. Peeta só esperava conseguir algo melhor que um quatro. Os Idealizadores iriam dar uma nota a cada tributo de 0 a 12. Os Carreiristas normalmente têm uma pontuação de oito a dez e todos os outros ficavam abaixo. Peeta esperava apenas não se envergonhar.

Ele não sabia se deveria se apresentar, então apenas se dirigiu para os pesos. Quando lá chegou, ele levantou um peso de trinta quilos, girou em círculo e atirou-a ao redor. O peso voou para longe, mas eram apenas trinta quilos por isso não foi muito impressionante. O peso seguinte, era de 60 quilos. Ele não tinha conseguido uma boa aderência no punho, já que ele escorregou e quase caiu em seu pé. ˈÓtimo, pensou ele, vou ter sorte se conseguir um três agora.ˈ Mais uma vez ele deixou peso voar. Não foi tanta distância como o último, mas não era o suficiente.

Ele olhou para os Idealizadores para ver se eles estavam prestando atenção nele e notou que alguns deles pareciam estar olhando para si, então continuou. Dessa vez, pegou num peso de 100 quilos. Ele sentiu a familiar sensação do peso. “Assim como um saco de farinha”, murmurou para si mesmo. E ele o deixou voar. Ele viu como o peso voou e deixou escapar um pequeno sorriso. Assim que ele se virou para ver se os Idealizadores o tinham visto, ele os ouviu começar a cantar uma canção sobre bebidas. Peeta não podia acreditar no que ouvia. Ele se virou e olhou para eles para então se voltar para os pesos. Ele se aproximou e pegou o último peso de 100 quilos e o atirou, mas não na mesma direção dos outros. Ele o atirou contra o suporte que tinha as lanças a 25 pés de distância.

O barulho das armas caindo no chão fez os Idealizadores pararem o que estavam fazendo. Todos eles olharam para ver o que estava causando tumulto.

Peeta sorriu educadamente para eles e disse: “Boa tarde. Sou Peeta Mellark do Distrito 12.” Ele ficou lá com as mãos atrás das costas e esperou que até que alguém falasse com ele.

O Idealizador-chefe, Seneca Crane, trocou olhares de aprovação com o resto dos companheiros e disse: “Você está dispensado.”


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Notas finais do capítulo

ATÉ AO PRÓXIMO CAPITULO
BJS:)