Acordei com uma dor de cabeça horrenda. Mal conseguia abrir meus olhos e o mínimo barulho que fosse imitido dentro daquele quarto fazia uma revolução em minha cabeça. Bernardo já não dormia de meu lado e também não havia vestígio de sua presença.

Fui até ao banheiro e me olhei no espelho. Tinha o rosto inchado e meus olhos estavam escuros. Isso eram sinais de meu choro na noite anterior. Liguei o chuveiro e me enfiei debaixo dele. Ao principio, o choque das gotas de água que caiam com meu rosto foi grande, mais depois passou. Estava precisando o mais rapidamente de um comprimido para as dores de cabeça.

Me vesti e preparei minha mochila. Desci e sentei na mesa. Só lá estava Carolina. Remexia nuns papeis quaisquer e tomava seu café da manhã. Peguei uma fatia de bolo e enchi meu copo com leite. Ela baixou os papeis e pegou em seu copo cheio de suco.

_Bom dia Leo… Que cara é essa em querida? Você esteve chorando. – ela falou preocupada não terminando a sua saudação de bons dias dirigida a mim.

_Eu chorando? Eu não tenho razões para isso. – falei disfarçando.

Apesar dele ter vindo ter comigo ontem á noite a meu quarto, ainda estava aborrecida e triste com ele. Não sabia sequer como ia olhar para a sua cara e inevitavelmente foi isso que aconteceu.

_Bom dia filho. – Carolina falou e eu revirei meus olhos em direção á porta.

Bernardo estava lá. Usava uns jeans e uma T-shirt. Tinha o cabelo bem arrumado como sempre e um rosto sem graça. Acho que tanto como eu a noite dele não tinha sido muito legal. Ele me olhava no fundo de meu olho. Também o encarei e um clima estranho e diferente daquele que todo o dia estava entre a gente pairava. A minha atenção foi desviada por um movimento de Carolina.

_Pois bem garotinhos, está na minha hora. O trabalho me espera. Se comportem. – ela distribuiu um beijo em cada uma das nossas testas e nos deixou sozinhos na cozinha.

Não me mexi e a vi bater a porta de entrada. Bernardo ocupou sua cadeira e peguei num pedaço de pão de cima da mesa.

Ninguém falava, não porque não tivesse o que falar. Porque na realidade muitas coisas queriam ser ditas tanto por mim como por ele. Levei minha mão no jarro de suco e Bernardo o fez ao mesmo tempo. Nossas mãos se tocaram, nossos olhares se cruzaram e eu engoli em seco. Bernardo também o fez.

_A gente vai continuar com isso, pensei que meu pedido de desculpas ontem tinha sido o suficiente. – ele falou deitando suco em meu copo.

_Então é assim, né! Você acha que basta um simples pedido de desculpa e fica tudo de novo numa boa.

_E não basta? Não me diga que quer que eu faça isso de outro jeito. – ele pegou em minha mão e me lançou um olhar desafiador.

_Eu não estou brincando Bernardo. – o seu sorrido desafiador anterior passou para uma expressão séria.

_Então o que você quer que eu faça para voltarmos a ficar “numa boa”?

_Eu não quero que você faça nada eu quero que me mostre que merece outra chance. Quero que nunca mais me volte a por a prova. Que não volte a me pedir provas sobre aquilo que eu sinto ou deixo de sentir por você!! Eu gosto de você, eu quero estar com você, eu quero você…

_Você me quer? E de que jeito? – ele estava com o seu ar de gozador, acho que foi a forma que ele arranjou para cortar aquele clima tenso e sério. E devo confessar que não deixei de rir.

_Quero você assim, - lhe deu um beijo na mão, - assim – lhe deu um beijo no pescoço, depois outro perto da orelha e finalmente o beijei no lugar onde ele queria.

Troquei minha cadeira por seu colo e fiquei aproveitando aquele gato gostoso.

_Isso quer dizer que estou perdoado? – ele preguntou parando de repente o beijo e me encarando sério e desesperado ao mesmo tempo.

_Talvez. – me cheguei para ele para retomar o beijo, mas ele me afastou.

_Talvez, não é um sim.

_Você é mesmo bobo. Claro que isso é um sim, mais não volte a fazer isso não.

_Tá bom. Eu não vou arriscar me zangar com você de novo.

_Que bom. Porque eu também não ia curtir nada se a gente se separasse.

Bernardo sorriu e voltamos a colar nossas bocas. Tava tudo muito legal mais a gente tinha aula. E se não se despacha-se ia levar falta.

_Bernardo, Bernardo, - falei tentando me desgrudar dele que não gostou de quando descolei nossos lábios e continuou distribuindo beijos por meu rosto. – a gente tem aula, se esquece? Vá vamos embora. Assim a gente se vai atrasar.

_Mas está tão bom aqui! – ele falou fazendo beicinho.

_Eu sei que está bom meu príncipe, mas a gente tem escola e você tem que subir as notas se esquece. – falei falando o obvio e o fazendo perder a razão.

_Se tem que ser tem que ser.

_A gente tem tempo logo de aproveitar. Agora vamo. – peguei sua mão e o ajudei a se levantar, o começando a puxar depois.

_Mas oh, - ele me fez parar e olhar para trás, - eu não vou esquecer desse seu “ a gente tem tempo logo ” .

Sorri para ele fui impossível não voltar a cair nos braços dele e a o beijar novamente. Fomos nos beijando até ao carro e só parámos porque Bernardo tinha que dirigir.

Chegamos na escola e todo o mundo ainda estava fora das salas. Apesar de já ter dado o toque. Fui até minha sala e Bernardo fez o mesmo. Marta estava á entrada da porta onde íamos ter aula, colada a Miguel ás risadinhas e aos beijinhos. Como era possível esses dois não se desgrudarem por um minuto que seja. Passam a vida grudados um no outro e é bebé para cá, meu bem pra lá, coisa linda, coisa fofa,… até enjoava.

_Perdeu a sua sala? – falei para Miguel o provocando.

_Porque? Não gosta de me ver na sua? Ou isso é tudo ciúme da gente?

_Eu não preciso de ter ciúme de vocês. Tenho quem me queira.

_Quem? Não o estou vendo!– Marta entreviu.

_O Bernardo se esqueceu! – eles os dois estavam no zoamento comigo e eu preferi ignorar e entrar na sala.

_Marta, acho melhor se despachar a professora já entrou!! E você, ó coisa perdida, acho melhor ir procurar mapa pois quando chegar na sala, a aula já começou também ...

*Imagem da Leonor.