O Feiticeiro Parte I - O Livro de Magia escrita por André Tornado


Capítulo 9
II.3 O desafio.




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Chegara o primeiro dia da época de exames.

Nos edifícios da universidade já não havia conversas alegres e brincadeiras provocadoras entre estudantes descontraídos. Andavam todos atarefados pelos corredores, em pequenas corridas. Um semestre inteiro de trabalho e de aulas resumia-se àquele mês em que os conhecimentos iriam ser postos à prova.

Tão apressado e ansioso quanto os colegas, Goten saiu do edifício principal, carregando livros e pastas atascadas de folhas soltas. Olhava para o papel que lhe tinham dado na secretaria, onde se discriminavam as salas, os exames e a hora de cada um. Ia tão concentrado na tabela colorida que nem reparou em Trunks que o esperava junto às escadas que acabara de descer.

- Eh! Goten!

Levantou a cabeça. Quando viu o amigo, fez-lhe uma careta entre o cómico e o zangado. Afastou-se sem o cumprimentar, dirigindo-se para o complexo de pavilhões identificados por letras, pois o primeiro exame iria acontecer aí, dizia-lhe o horário, dali a cerca de dez minutos.

- Espera! Que bicho te mordeu?

- Afasta-te de mim, Trunks-kun!

Mas Trunks conseguiu alcança-lo e pondo-se à frente dele, obrigou-o a parar.

- Estás aborrecido comigo por causa de ontem à noite?

- O que é que te parece?

Após uma rápida observação, Trunks assobiou.

- Estás com uma cara horrível! Que cara de enjoado e que olheiras… Não dormiste bem?

- O que é que te parece?

- A Maron ocupou-te os sonhos?

- Estive a estudar, baka!!

Goten olhou para o amigo e desesperou por vê-lo sem livros a atravancar-lhe os braços e tão calmo como se estivesse num qualquer dia de aulas e não no primeiro dia da época de exames. Irritou-se e desatou numa berraria:

- Graças à tua magnífica ideia, cheguei tarde a casa. Fui apanhado pela minha mãe, que me obrigou a estudar a noite toda. Se eu não me deitei, ela também não. Vigiava-me com uma chibata na mão, como se eu tivesse ainda sete anos! E não serviu de nada, porque estou tão cansado que o que estudei durante a noite foi-se a seguir ao pequeno-almoço. Para piorar as coisas, esqueci-me em casa dos apontamentos das fórmulas para o exame. E agora já não tenho tempo para fazer outros! Não percebo nada desta porcaria! Se chumbar, vou ouvir a minha mãe durante meses e aturar as suas comparações com Gohan!

- Calma, Goten-kun.

- Não consigo acalmar-me! E onde estão os teus livros? Não vais ter exames?

- Vou, mas isso não significa que tenha que me apresentar num estado de nervos lamentável. Então, saiya-jin? Controla-te!

- Para de me chamar saiya-jin. Irrita-me ainda mais!

Trunks desatou a rir, mas o seu riso também não servia para acalmar Goten, que o fulminou com um olhar demolidor. Afastou o cabelo da testa, pensando no que poderia fazer para ajudar o amigo que se desfazia em cacos nervosos diante dele, com os braços atados a livros e pastas, a camisa desfraldada, os cabelos despenteados, o corpo a exigir descanso. A universidade não era, de facto, desafio para Son Goten. Este, por seu turno, desistiu de permanecer ali, porque achava que Trunks continuava a troçar dele e que falsificava toda a preocupação que mostrava. Deu meia volta.

- Olá, rapazes.

A voz dela congelou-lhe os próximos movimentos. Trunks exclamou:

- Maron!

Sorria-lhes com malícia, mas estava mais bonita do que Goten alguma vez se lembrava de a ter visto. Corou e, para que ela não se apercebesse como o atingia fatalmente, encolheu-se e pôs-se a cismar com o chão, com os sapatos e com os livros que carregava.

- O que fazes aqui? – Perguntou Trunks. – Não devias estar nas aulas?

- Devia… Mas vim ver como estão a correr os vossos exames.

- Ainda não começaram.

- Ah… Melhor. Assim não chego demasiado tarde.

Levou a mão direita ao bolso de trás das calças e retirou um papel dobrado, escrito de um lado e outro com várias fórmulas e equações. Prendeu-o entre dois dedos e exibiu-o como um prémio. Goten arregalou os olhos.

- Os meus apontamentos! – Exclamou.

- Perdeste isto, ontem à noite, na Capsule Corporation – disse, mas continuava a olhar para Trunks. – Calculei que fosse importante.

- É mesmo… muito importante…

Tinha as mãos ocupadas e não conseguiu recolher o papel que Maron ostentava, mas tentou, deslocando os livros de um braço para o outro, sem conseguir desembaraçar-se dos calhamaços e sentiu-se ridículo por se mostrar tão atrapalhado. Trunks retirou uma mão do bolso do blusão, levantou-a para agarrar no papel, mas Maron moveu o braço e afastou-o.

- Então? Vais devolver isso ao Goten, ou não?

- Com uma condição.

Trunks fez uma segunda tentativa, um gesto rápido e traiçoeiro, mas ela estava atenta e, inacreditavelmente, conseguiu ser mais rápida que ele. Tinha bons reflexos…

- Não estás em posição de exigir nada – ameaçou Trunks. – Se eu quiser, tiro-te o papel e tu nem saberás como o fiz.

- Terás este papel de volta, se prometeres uma coisa – insistiu Maron, não se intimidando com a ameaça dele.

- Mas eu preciso do papel para o meu exame – lamuriou-se Goten.

A teimosia era admirável e Trunks aguardou que ela falasse.

- Promete que nunca revelarás o segredo de Bra.

- Porque é que haveria de te prometer isso?

Maron tornou a mostrar o papel.

- Promete, Trunks-kun! – Pediu Goten em pânico. – Promete! Eu prometo, Maron. Nunca contarei a ninguém que Bra aprende a lutar com Pan. Prometo!

- Vês? – Disse Maron vitoriosa, continuando a olhar apenas para Trunks. – O teu amigo sabe ser razoável.

- Bem, ele que prometa o que quiser. É ele quem precisa do papel.

- Trunks-kun!

Maron recuou um par de passos, agitando o papel entre os dedos.

- Boa sorte para o exame, Goten!

- Trunks-kun! – Tornou Goten cada vez mais desesperado, voltado para o amigo, os livros a pesarem-lhe toneladas.

- Se não lhe devolves o papel, ele desafia-te para um combate.

- Nani?!! Trunks-kun, o que é que estás a dizer?

- Ouviste-me, Maron.

Ela parou de recuar. Assentou as mãos na cintura, provocadora e divertida.

- Desafia-me para um combate?

- Não desafio nada… – murmurou Goten, a fixar-se ansioso no papel dos apontamentos que continuava na mão de Maron.

- Sim, um combate.

- E porque não és tu a desafiar-me, Trunks?

- Os apontamentos são dele. Amanhã, ao fim da tarde. Marcamos o vosso encontro para aqui, os jardins da universidade. Escolheremos depois o local mais apropriado para o combate.

- Tu também vais estar presente?

- Claro! O combate precisa de um árbitro, para decidir quem venceu no fim. E também serei uma testemunha do que irá acontecer.

Maron abanou a cabeça para afastar o cabelo da cara, endireitou as costas e disse com presunção:

- Se pensas que tenho medo de me enfrentar a Son Goten, estás muito enganado. Vou aparecer e iremos lutar, no local que o senhor árbitro escolher.

- Está combinado, Maron.

Virou costas. Atirou o papel por cima do ombro e despediu-se, com um risinho trocista. Afastou-se calmamente, percorrendo os jardins da universidade num andar tão sensual que Goten perdeu a força das pernas enquanto a contemplava. Trunks apanhou o papel.

- Bolas, Goten! Ao pé da Maron ages como um autêntico idiota. Assim, ela nunca vai reparar em ti.

- E o que queres que faça? – Murmurou, concordando com Trunks. Realmente, a filha de Kuririn fazia de conta que ele era invisível sempre que se encontravam e que Trunks estava por perto.

- O que vale é que te estou a ajudar.

- Não preciso da tua ajuda!

Pelo canto do olho espreitou as horas que marcava o relógio que Trunks usava no pulso e soltou um guincho.

- Estou atrasado! O exame vai começar daqui a dois minutos!

Trunks deu-lhe uma cotovelada.

- Calma!... Temos de pensar no teu combate. Ela é maluca, sabes? Acabou de aceitar um combate contra um saiya-jin.

- O exame!

- Para de falar no exame. Vais lutar contra a Maron amanhã. E sabes o que é que isso significa?

- Significa que vou chumbar. O exame vai começar daqui a dois minutos, não sei a matéria, vou chegar atrasado e, por isso, não vou ter tempo de o acabar.

- Significa que é o primeiro passo. Ela vai ficar caidinha por ti depois de lhe mostrares quem manda. Uns quantos truques de saiya-jin serão suficientes para que fique domesticada. Está demasiado convencida nas suas capacidades, se queres que te diga.

Enfiou o papel entre os dentes de Goten, a única maneira de o entregar, visto este ter as duas mãos ocupadas. Prosseguiu, analítico:

- Não a subestimes, contudo. A mãe dela deu, em tempos, uma tareia ao meu pai. E o pai dela treinou-se ao lado do teu. Tem genes de lutadora, tanto como tu.

Goten resmungou qualquer coisa que Trunks não percebeu, porque, com o papel preso entre os dentes, as palavras ficavam guardadas na boca. Concluiu, assentando-lhe uma palmada nas costas:

- Vai ser um excelente desafio. Maron disse que sabia lutar. Pode não ser nada de especial, afinal luta com a minha irmãzinha e tem pouca experiência, mas não sabes do que ela é capaz. Se entrares demasiado confiante, pode acontecer que sejas derrotado… Tal como aconteceu há três anos atrás, naquele último torneio, quando lutaste contra a tua sobrinha Pan e perdeste.

A lembrança fez Goten corar de vergonha. Tornou a resmungar. Trunks mostrou-lhe o relógio e disse:

- Um minuto. É melhor despachares-te. Os pavilhões ainda ficam longe.

Goten guinchou mais uma vez e desatou a correr, livros debaixo do braço, papel preso nos dentes. Trunks sorriu. Trauteando uma cançoneta alegre que estava na moda, enfiou as mãos nos bolsos e também se dirigiu para os pavilhões, logo atrás do amigo. O combate entre Goten e Maron prometia ser divertido.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Reunião de família.



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