O Feiticeiro Parte I - O Livro de Magia escrita por André Tornado


Capítulo 30
V.6 A cura milagrosa.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/287113/chapter/30

Já estava à espera daquela visita e vê-lo ali não foi nenhuma surpresa. Esperou calmamente que passasse a amurada de pedra e se aproximasse.

Ten Shin Han baixou a cabeça numa vénia respeitosa.

- Saudações, Karin-sama.

- Bem-vindo sejas, Ten Shin Han – respondeu o mestre.

Uma rajada de vento atravessou o lugar, uivando com fúria. Ten Shin Han não se mexeu, nem o mestre. A torre sempre fora ventosa, dada a sua considerável altura.

- Já deves saber ao que venho – disse Ten Shin Han.

O mestre acenou afirmativamente.

- Observo-te desde que saíste das montanhas.

No silêncio que se seguiu, o vento tornou a falar.

Por detrás de uma coluna, apareceu Yajirobe no seu habitual estilo simpático e despretensioso.

- Ten Shin Han! – Exclamou. – O que fazes por estes lados?

- Yajirobe, venho à procura de feijões senzu.

- Senzu? E para que queres tu feijões senzu, hein? – Perguntou Yajirobe com um sorriso. – Não me digas que estamos outra vez a braços com um combate contra uma qualquer criatura muito poderosa e esquisita? Ninguém me contou nada…

- Felizmente, não é o caso.

- Ah, não?

O sorriso desapareceu.

- Preciso de feijões senzu para curar alguém.

Voltou-se para Karin.

- Conheces o rapaz que salvámos?

Karin apertou o bordão que segurava e abanou a cabeça.

- Não posso dizer que o conheça.

- Pelas vestes que envergava, parece ser um sacerdote de um templo.

Ficaram os três calados. Yajirobe retirou um feijão senzu de uma bolsa castanha que usava presa no cinto e entregou-o a Ten Shin Han.

- Aqui está.

- Arigato, Yajirobe. Arigato, Karin-sama – agradeceu. Olhou para a palma da mão onde repousava o pequeno feijão e suspirou. – Espero que não seja tarde demais.

Karin disse:

- Se quiseres saber como está o rapaz, terás apenas de espreitar pelo pote do tempo presente.

Ten Shin Han olhou para os três potes com um losango vermelho desenhado, encostados à parede redonda da torre. Aproximou-se daquele que estava no meio. Era o pote do tempo presente, tal como o mestre indicara. Do lado esquerdo ficava o pote do tempo passado e do lado direito ficava o pote do tempo futuro. Ten Shin Han fixou esse pote.

Desde que recolhera o rapaz que um estranho pressentimento o roía por dentro. Algo lhe dizia que ele era mais importante do que parecera à primeira vista. Os acontecimentos que levaram às profundas queimaduras que o corpo dele apresentava estavam, de alguma forma, ligados ao destino do planeta. Uma ideia aparentemente louca e incoerente, mas que se convertia numa certeza quase assustadora, como se o futuro de todos dependesse da salvação do rapaz.

O futuro estava ali, ao seu alcance, naquele pote. Ten Shin Han poderia sabê-lo. Estendeu uma mão que vacilou. Não, deveria ser mais forte que a súbita curiosidade. Conhecer o futuro poderia ser perigoso. A mesma mão guinou para o centro e agarrou a tampa do pote que estava no centro.

Karin baixou a cabeça e sorriu. Sentira-lhe as dúvidas, mas Ten Shin Han soubera fazer o mais acertado.

As águas do pote estavam agitadas e escuras e teve de esperar para conseguir vislumbrar alguma coisa. As águas acalmaram e ele pôde finalmente ver através delas.

E ele viu o quarto da sua casa. Ao lado da cama estava Lanch, sentada no banquinho, as mãos no colo, a olhar para o rapaz que não se mexia. Chaozu entrou no quarto, falou com Lanch. Os dois olharam para a cama e o rapaz mexeu lentamente a cabeça, voltando-a no travesseiro.

- Viste o que querias ver? – Perguntou Karin.

Ten Shin Han tapou o pote e encaminhou-se para a amurada de pedra que delimitava o recinto da torre.

- O rapaz ainda está vivo, mas duvido que seja por muito tempo.

O vento assobiou numa rajada repentina.

- Deverás apressar-te.

- Boa sorte – desejou Yajirobe. – Espero que consigas salvar esse rapaz.

Após as despedidas, Ten Shin Han saltou para o vazio. Impulsionado pela sua energia vital, desapareceu nos céus, a voar célere em direção ao horizonte. Yajirobe viu-o desaparecer e perguntou:

- O rapaz será mesmo assim tão importante para merecer ser curado com um senzu?

- Se o rapaz for importante e se estiver ligado ao futuro do nosso planeta e do próprio Universo, estou certo que kami-sama está atento.

Karin afastou-se. Yajirobe ficou a pensar se o mestre não saberia mais do que queria aparentar. Mas, como estava com fome, decidiu esquecer o assunto.

***

Três dias depois de ter partido e tal como prometido, Ten Shin Han regressou a casa. Entrou no quarto e Lanch contou-lhe:

- Ele piorou muito, desde ontem à noite. Estou com medo!

- Não te preocupes – sossegou ele. – Tenho o feijão senzu. Se o feijão não o salvar, nada o poderá curar e, então, apenas teremos de lhe aliviar as últimas horas neste mundo o melhor que pudermos.

Ten Shin Han observou o rapaz que respirava com dificuldade. Na testa queimada viam-se pequenas gotas de suor. A febre continuava a atacá-lo sem piedade, o corpo mantinha-se coberto pelas chagas incuráveis.

Com muito cuidado, introduziu o feijão senzu na boca empolada. Sentindo algo entre os dentes, o rapaz começou a mastigar. O feijão estalou. Atrás de Ten Shin Han, Lanch uniu as mãos com força, à espera de ver o efeito mágico daquele remédio. Chaozu susteve a respiração.

Um espasmo violento sacudiu o rapaz. Todos os músculos do corpo ficaram tensos e as mãos arrepanharam o cobertor. Soltou um brado com todo o ar que tinha nos pulmões. Lanch arrepiou-se ao ouvir aquele grito impregnado de dor e agarrou-se ao braço de Ten Shin Han.

O rapaz saltou na cama, em convulsões descontroladas. E enquanto o fazia, o negrume das queimaduras foi desaparecendo, as chagas foram se fechando, os ferimentos foram se esbatendo até não restar nada deles, nem a mais pequena cicatriz.

Estremeceu com um gemido profundo, como que a expulsar o último demónio. Respirou fundo várias vezes como se acabasse de acordar de um sono profundo. Agora já se viam com clareza as feições bem marcadas do jovem rosto. Abriu os olhos, o corpo descontraiu-se.

Toynara estava finalmente curado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Revelações importantes.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Feiticeiro Parte I - O Livro de Magia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.