Abro os olhos lentamente. O sol já invadiu meu quarto pelas janelas, não me lembro te tê-las aberto na noite anterior. Ontem foi um dia relativamente tranquilo, andei a cavalo pelos arredores do castelo. Sonhador está me observando.

-- Bom dia – Falo me espreguiçando. – Parece que estou dormindo a dias.

-- Foi apenas um, Clove – ele responde. – Fiquei torcendo para não haver efeitos colaterais, o portal não era para passagem.

-- Snow – digo.

-- O que? – ele parece confuso. – está tudo bem Clove?

-- Eu sou Snow, Snow White. – Quem é essa Clove que ele está falando? – Tudo bem mesmo? Como conseguiu me confundir? Somos amigos a tanto tempo.

-- Mas segurando na minha crina você deveria se lembrar! – Ele resmunga – O que aconteceu de errado? Pelo menos eu lembro, vou ter que te lembrar também, só espero que você não surte novamente.

-- Comeu feno estragado, foi? – digo – Se precisar de ajuda estarei falando com meu pai, teremos um importante jantar amanha.

Certo, logo ele ficará melhor. Escolho o vestido e me troco, eu conheço esse lugar tão bem, mas é como se eu estivesse distante, é como se eu tivesse esquecido de algo. Logo passa, devo estar com fome. Desço as escadas sem pressa e encontro meu pai, Regina, e o pai dela tomando café. O palácio é realmente enorme, e eu gosto de viver aqui.

-- Snow! Fico feliz que tenha acordado! – Meu pai fala sorridente.

-- Vai se juntar a nós para o café? – Regina pergunta com a voz fria, na verdade tenho dificuldades de me lembrar de quando sua voz era amigável.

-- Sim, eu vou. – digo me sentando. -- Regina, eu pensei que poderíamos cavalgar juntas esta tarde.

-- Seria adorável – ela responde.

-- Antes ou depois da hora do chá?

***

Limpo minhas mãos sujas nas minhas calças. Caminho lentamente a entrada do castelo, meu pai me espera com um enorme sorriso no rosto.

-- Como foi o passeio? – Ele pergunta.

-- Bom – repondo sorrindo.

-- Você cavalga muito bem – ele diz satisfeito. – Snow, agora vá se trocar, não quero que se atrase para o jantar.

Foi impressão ou Regina pareceu chateada com meu pai não falando com ela? Está tudo tão confuso na minha cabeça. Subo as escadas e sigo em silêncio até o meu quarto, estranhamente Sonhador está aqui.

-- Você deveria dar um passeio – digo.

-- Clove. – ele fala.

-- É Snow – digo. Já estou ficando preocupada.

-- Clove, Londres, Vale da Lua. – Sonhador fala.

-- Vale da Lua – repito – isso não me é estranho. Na verdade, mas, essas palavras não parecem ter conexão.

-- Snow, por favor. – ele fala – Não posso ajudar você se você nem ao menos lembra quem é. Ou uma parte disso.

-- No que eu preciso de ajuda? – pergunto. – Não demore muito, preciso me arrumar para o jantar.

-- Se arrume para o jantar, vou dar um jeito de explicar as coisas – ele fala – vou esfriar a cabeça, até logo – e com isso, ele sai do quarto.

Que conversa estranha! Mas não vou me preocupar. Tomo um banho não muito demorado e visto um vestido rosa claro. Prendo o meu cabelo deixando a maior parte solta. No jantar não converso muito, apesar de não querer, não consigo não me preocupar com a conversa que tive com Sonhador, ele está agindo tão estranho... Quando terminamos o jantar, subo para meus aposentos com certa pressa, estou ansiosa pelo que ele quer me contar.

-- Sonhador? Tudo bem com você? – pergunto.

-- Sim. – ele responde – Agora, bem, vou lhe contar uma história.

“Uma maldição foi lançada e você foi enviada a um reino não muito distante, um pequeno reino chamado Londres, que fica na terra sem magia. Sua memória foi alterada para se esquecer da vida aqui e sua vida lá tinha memórias criadas. Com a morte do seu falso pai, sua mãe e você se mudaram para um lugar chamado Vale da Lua, que fica quase dentro da terra sem mágica, mas lá existe, pouca mais existe.”

-- Como assim?? – Pergunto incrédula.

“Outros habitantes da Floresta Encantada moravam lá, e por algum tempo você os conheceu como família. Lutou bravamente contra lycans e lobisomens, ajudou um casal a encontrar seu amor verdadeiro, fez amigos que devem ser guardados com carinho em suas lembranças e quebrou uma terrível maldição. Seu nome lá, era Clove. Quando eu cheguei foi muito difícil de lhe convencer que era a Snow White. Enquanto você estava lá o reino aqui estava congelado! Por pura sorte eu estava observando alguns unicórnios e consegui não ser atingido pela maldição”.

-- Por céus! – Digo apavorada – Você nunca mentiu para mim antes!

-- O que te leva a crer que minto agora?

-- Essa história não tem sentido, e como eu teria voltado? E como eu não me lembro? – Digo com afobação.

-- Eu sou seu amigo – ele fala – Sou um monstro amigável, lembra? Nunca mentiria para você.

-- Você não é um monstro. Nightmare não é um nome apropriado para você. – Digo com carinho. – Acredito em você. Devo fazer alguma coisa?

-- Agora, apenas durma. Seus sonhos lhe trarão lembranças. – ele diz.

Concordo e me preparo para dormir. Não sei se vou me lembrar ou se isso realmente aconteceu, mas sei que ele não mentiria para mim. Jamais.