Abriu os olhos. 8:38AM. Bocejou. Se virou para o lado esquerdo e continuou deitado. A perna estava um pouco dolorida. Suspirou. Ainda estava muito cedo para ir ao hospital. Continuou deitado, agora olhando para o teto. Fechou os olhos. O cheiro de café fresco começou a penetrar no quarto. Esboçou um sorriso.
-Acorda dorminhoco!
Abriu os olhos e lá estava ela. Descalça, segurando uma xícara de café na mão, enquanto terminava de se arrumar.
-Vou chegar atrasada no hospital... Afinal, aonde é que os meus sapatos se meteram?
Se espreguiçou e se ajeitou na cama pra melhor vê-la. Todo começo de manhã era aquilo. Ela com os cabelos levemente molhados, descalça, procurando os benditos sapatos que tinham a mania de se esconder.
-Ahá! Achei vocês!!
Sorriu. Ele adorava a maneira dela de dizer "ahá!". Na verdade, ele adorava tudo nela. A maneira que ela tinha de ficar andando enquanto escovava os dentes, a maneira como ela passava o batom naqueles lábios que ele tanto adorava, a maneira como ela fazia o coque desengonçado nos cabelos, deixando alguns fios soltos.
A viu sair do quarto e voltando com o pequeno frasco de perfume na mão. Enquanto andava, passava, com os seus delicados dedos, o perfume na nuca, orelhas e pulso. Suspirou profundamente e sentiu o leve cheiro de jasmin, que agora preenchia todo o quarto.
Bocejou. Prestou atenção na forma como ela colocava os famosos brincos de pérola de sua mãe, os mesmos que ela usara no encontro no Café Spoleto.
Se ajeitou melhor na cama. Ainda era muito cedo para ir ao hospital. Fechou os olhos e ficou ouvindo os ruídos que vinham, primeiro, do banheiro, depois, da cozinha.
Ele era um homem acostumado à solidão. Agora, deitado naquela cama, sentindo aquela mulher tão presente, não conseguia mais imaginar a vida sem ela. Sem os "ahás!", sem os ruídos, sem o cheiro de jasmin.
Mas não conseguia mais imaginar, principalmente, a vida sem o beijo de despedida.

Ele abriu os olhos e viu que ela entrava no quarto. E a fitou quando ela colocou o blazer e se sentou ao seu lado na cama.
Sentiu a pequena mão lhe fazendo carinho em seu rosto mal barbeado. E se deleitou com o gosto daqueles lábios tão doces.
O beijo era simples. Apenas um leve roçar de lábios.
-Não se atrase. Deixei panquecas prontas para você e tem café fresco dentro da garrafa.
Ele afirmou com a cabeça e a viu desfazendo o coque enquanto sorria para ele.
O sorriso... Ela o matava com aquele sorriso!
-Até daqui a pouco.
A viu se levantar e ir pegar sua pasta. Ouviu o barulho das chaves e o som da porta se fechando.
Agora, o silêncio reinava novamente em seu quarto. Suspirou. Olhou para o relógio. 8:51AM. Se ajeitou na cama e fechou os olhos. Ainda estava muito cedo para ir ao hospital.

*FIM*