Desiderium escrita por Nidaime Lover


Capítulo 1
Capítulo 1




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Algumas nuvens opacas e preguiçosas deslizavam por aquele céu sombrio que se estendia sobre a cidade. Uma noite fria e sem brilho preenchida apenas pelo barulho das poucas pessoas que se aventuravam pelas ruas mortas. Com certeza naquele subúrbio não seria diferente. Alguns becos sujos e com pouca iluminação se escondiam por entre os prédios semi-abandonados, e junto com o lixo, o perigo para quem se aventurasse a passar por eles.

Whiplasher caminhava devagar pelas ruas quase desertas daquele bairro. O barulho dos seus pesados coturnos ecoava ao longe, e ora ou outra ele pisava em alguma poça da água, remanescente da chuva que caíra mais cedo. Alguns poucos carros também passavam pela rua, incomodando-o com a luminosidade dos faróis em seus olhos negros e vazios. Sua expressão sempre sarcástica e maliciosa estava apagada em um rosto sem vida, apático e incógnito. Ele continuava sua caminhada lenta, mórbida, enquanto que por trás de sua máscara inexpressível seus olhos demoníacos procuravam avidamente por uma vítima naquela noite.

Sua caminhada continua lenta, despreocupada, até que o brilho dos faróis de um carro surge no horizonte, fazendo-o curvar seus finos lábios carmesins, os quais quebram a máscara apática que cobria sua face com um sorriso malicioso.

Não muito longe dali, e algum tempo depois...

O local era um depósito abandonado. Escuro, empoeirado e seria silencioso se não fosse pelas goteiras de alguns encanamentos enferrujados que se estendiam pelas paredes. Algumas estantes e containeres também preenchiam o espaço frio e no alto, um sistema de ventilação perto do teto permitia que um pouco de ar invadisse o ambiente, assim como alguma iluminação também, a qual surgia e ia embora com os faróis dos veículos em uma rua próxima dali.

No final de um dos corredores formados por estantes dentro do local úmido e frio, a figura de alguém sentado, escorado na parede. Mais precisamente, podia se dizer que se deixara cair ali. Suas roupas que estavam um pouco sujas e rasgadas, pareciam ter sido um sofisticado conjunto social, composto por um terno e sobretudo de cor clara, o que combinava com sua pele levemente bronzeada. Seus cabelos castanhos, lisos e curtos estavam bagunçados e um pouco caídos sobre seu semblante cabisbaixo. Sua respiração era fraca, quase imperceptível, e seus olhos azuis profundos estavam semi-cerrados e fixos em algum lugar daquele chão empoeirado, o que tornava impossível distinguir  se ele estava consciente ou não. De suas costas, um enorme par de asas se envergava contra a parede e as caixas às quais estava escorado. Suas plumas pareciam ser como lâminas de metal, afiadas e mortais, e o fato de estar sangrando era a única coisa que as denotava como orgânicas.

O barulho de uma porta pesada se abrindo do outro lado do galpão faz com que as pupilas azuis se movam devagar naquela direção. Um feixe de luz rápido invade o local, para em seguida desaparecer, seguido pelo som dos pesados coturnos. Além disso, um choro feminino também ecoava pelo ambiente, e como se esforçasse um pouco mais, ele levanta a cabeça para ver o infernal se aproximar, trazendo uma bela e jovem menina com as mãos amarradas, e semi hipnotizada.

—Então você finalmente acordou hein, Gabriel? —diz o general, amarrando a garota a uma pilastra que havia ali.

—O que aconteceu?

—A Inquisição nos pegou. E quase fez picadinho da gente. —responde o infernal, acariciando a face da menina que tinha uma expressão de pavor estampada no rosto. —Metraton nos abateu, nos torturou e quase nos obliterou...

—E então nós conseguimos fugir. Sim, disso eu me lembro. —diz Gabriel, com a voz rouca. —O que não entendo... Porque você está aqui?

—Estamos fracos e presos às nossas formas humanas. Se não tivéssemos nos unido para sair das prisões de Pristina, não teríamos conseguido escapar.

—Isso não significa que devemos permanecer juntos a partir de então...—resmunga o arcanjo, se mexendo um pouco, pois parecia incomodado com a dor em uma de suas asas que estava quebrada.

—Como assim não? Estamos completamente indefesos e fracos. Olhe para si mesmo... Mal consegue se levantar de onde está. Eu também estou assim... mas pelo menos consegui ir atrás de algo para reabastecer nossas energias...

—Está louco? Nem pense em tocar nessa garota ou eu...

—Vai se levantar daí e cair? —diz Whiplasher, com um tom carregado de ironia. —Não se preocupe, ela não é para mim. Eu já me alimentei lá fora, quando sai para ‘caçar’. Essa linda princesa aqui é para você.

—Está me dizendo que devorou a alma de alguém para se curar? —pergunta o arcanjo com o semblante tenso, e após receber um olhar divertido como resposta positiva, ele continua: —Céus! Você é desprezível. O que o faz pensar que eu devoraria uma alma humana só para me recuperar como você? Sua mácula maldita!

—Se não o fizer, vai morrer com esses ferimentos físicos. —adverte o demônio.

—Que seja então! —diz o arcanjo, obstinado. —Agora liberte-a. E retire o maldito feitiço que colocou nela.

Whiplasher toma um ar descontente e fingidamente triste no seu rosto enigmático. Com um suspiro longo e pesaroso ele vai até a garota, começando a desamarrá-la, o que deixa o arcanjo mais tranqüilo. Gabriel fecha os olhos então, se entregando ao cansaço que poderia lhe adormecer a qualquer momento, sentindo suas forças se esvaírem aos poucos.

De repente, ele sente seu rosto ser tomado pelas mãos gélidas do infernal que estava agachado diante de si. Os olhos negros brilhavam de uma forma diferente, e ele se aproxima do rosto do arcanjo que fica surpreso com o que vê:

—O q... que você fez com ela? —diz Gabriel, olhando para o corpo da garota caído no chão.

—A alma dela está bem aqui comigo. Você precisa tomá-la se quiser sobreviver. —diz o infernal, entreabrindo os lábios do arcanjo com seus dedos finos e com sua garra negra.

—Mas... —Gabriel tem seu protesto abafado pelos lábios gelados que se colam aos seus no momento em que Whiplasher começa a lhe passar o poder vital da alma da garota que estava consigo. Os olhos semi cerrados de ambos brilham intensamente em um tom alaranjado, e lentamente aquela energia começa a percorrer o corpo do arcanjo, curando alguns dos seus ferimentos. Devagar ele sente seu poder voltando, e como se a dispersão da dor lhe acudisse a mente como algo mais do que necessário no momento, ele leva a mão ao rosto do infernal, entrelaçando seus cabelos com os dedos e agarrando-o pela nuca, trazendo-o para mais junto de si. Com esse movimento, suas bocas se encaixam com mais intensidade, e ambos são tomados pela deliciosa e proibida sensação de absorverem aquele poder.

O infernal tenta se manter impassível diante da ação do arcanjo, porém, extremamente provocado a se entregar àquele beijo que precisava apenas do mínimo movimento dos lábios de um deles para acontecer, ele deixa um riso abafado escapar. A energia compartilhada naquele instante ainda os embriagava, deixando-os longe de suas faculdades mentais normais, e Whiplasher aproveita essa deixa para começar a conduzir um perigoso e lascivo beijo, começando a provar com delicadeza e audácia os lábios do celestial. Por um breve instante, Gabriel é tomado pela sensação deliciosa daquele beijo, que o instigava a retribuir aquelas carícias em busca de intensificá-las e satisfazer o desejo que começava a crescer mais e mais dentro de si... Mas nesse momento, como se um lapso de consciência lhe acudisse de repente, ele abre os olhos assustado, empurrando num ímpeto o infernal de perto de si.

—Desgraçado! —grita o arcanjo, ofegante, voltando seu olhar facínora para o demônio que fora jogado para trás pelo seu empurrão. —O que pensa que está fazendo?

—Salvando sua vida. —responde o infernal, com os lábios trêmulos e um olhar misterioso, quase sensual.

—Maldição! Eu disse que não deveria... —Gabriel também tinha os lábios trêmulos, e sente-se incomodado por perceber que o olhar lascivo do infernal lhe instigava como segundos atrás. —Não é só disso que eu estou falando.

—Você ainda não absorveu toda a energia da alma dela. Ainda tem uma parte aqui comigo. Deveria terminar de pegar. —diz o demônio, se aproximando devagar do arcanjo, que o impede de continuar barrando-o com uma mão em seu tórax.

—Já chega Whiplasher!

—Está certo disso? Você poderá se livrar da dor e dos seus ferimentos se terminar de absorver essa alma. —diz o infernal, sua voz grave e rouca, porém baixa, seus lábios carmesins e sexy entreaberto revelavam o brilho da energia espiritual da alma que ele se referia ainda dentro de si. Diante do seu estado abatido e fragilizado, essa visão faz o arcanjo estremecer por um momento pelo desejo de tomá-la para si, e ele se sente confuso ao imaginar que talvez não desejasse apenas o poder para lhe curar.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Bom pessoal, espero que tenham gostado. É a minha primeira fic aqui no Nyah, então ficaria feliz se tivesse coments.
Desde já agradeço pela leitura! E estou aberta a críticas, sugestões, e afins! =)



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