Um Sonho Inesperado escrita por Miss Swen


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sei que demorei demais pra atualizar, e sinto muito por isso. Mas tudo aconteceu ao mesmo tempo e eu não pude nem sequer justificar meu atraso.
Porém não vou ficar aqui dando muitas explicações, já que sei que o que vocês querem mesmo é ler.
Ah, esse capítulo ficou realmente imenso, eu não planejava e até desativei o contador de palavras do word, quando ativei tive uma pequena surpresa com o número, mas não pude retirar nada pois tudo veio na minha cabeça e eu tinha que extravasar.
Não sei se todo curtem capítulos longos, mas enfim...
Enjoy!



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Luz, essa foi a primeira coisa que eu vi ao abrir os olhos, uma intensa luz entrando pela janela.

Senti algo sobre a minha barriga e olhei para mim, onde vi uma mão, virei a cabeça e me deparei com Maura e seus lindos cachos loiros espalhados pelo travesseiro.

Ela parecia tão tranquila, a respiração suave e ainda mais bonita, se é que isso era possível.

Meu corpo estava coberto pelo lençol branco, e ela deitada de bruços com as costas á mostra.

Eu me lembrava muito bem como havíamos chegado até ali, e tudo mesmo depois das minhas tentativas de manter controle sobre meus instintos.

Nunca duvidei que aquela noite seria algum tipo de prova de fogo para mim, mas também não pensei que resistir seria tão difícil.

Cada gesto de Maura, por menor que fosse era capaz de mexer comigo de um jeito que eu não esperava.

Quando a vi nua no chuveiro, logo soube que não conseguiria me controlar então saí o mais rápido que pude, mas fiquei com a imagem dela na minha cabeça e quase queimei o molho, depois eu a vi de lingerie, e então a taça de vinho... Não sei nem como explicar o calor que senti quando ela me olhou daquele jeito.

Eu me conhecia e embora nunca admitisse pra ninguém, sabia que bastava uma coisa para atingir meu limite, alguma espécie de interruptor para “ativar” o lado que eu tanto queria conter.

E no caso, o interruptor foi aquela blusa transparente.

Em seguida eu não me preocupei, simplesmente deixei acontecer, ou ainda mais clichê: dancei conforme a música.

Era como se o amanhã não importasse, e ali na cama a lembrança do que houve depois que fechei a porta, veio na minha mente da maneira mais deliciosa possível:

Meu coração batia muito rápido, Maura estava olhando para mim, esperando que eu fizesse algo, e eu queria muito fazer.

Cheguei perto dela e a beijei de novo, dessa vez com ainda mais urgência, puxei o corpo dela contra o meu com mais força, aquele era sem dúvida o aperto mais gostoso do mundo.

Me surpreendi ao vê-la separar nossos lábios para se concentrar no meu pescoço, pois é, definitivamente eu não era a única que sabia o que devia fazer. E sim, para minha própria surpresa eu sabia, de algum jeito ainda desconhecido mas eu sabia, e queria ir até o fim.

Enquanto ela beijava meu pescoço eu passei minhas mãos pelas costas dela, até chegar ao fim da blusa, por onde enfiei minha mão e acariciei a pele quente e macia.

Ela parou o que estava fazendo e me olhou de novo, nós sorrimos juntas.

Se aproximou e devagar começou a puxar minha camiseta, eu ergui os braços naturalmente, e senti o tecido deslizar pelo meu corpo até saber que ela o havia retirado por completo.

Jogou a peça de roupa no chão e afastou meu cabelo do pescoço, beijou-o calmamente, e desceu até minha clavícula finalmente chegando entre os seios.

Tomou cuidado nessa parte, acho que pensou que a qualquer momento eu poderia sair correndo, mal sabia ela o quanto eu daria para que aquele momento nunca terminasse.

Levantou a cabeça e beijou suavemente meus lábios, eu me entreguei a sensação e de repente senti seus dedos chegarem ao início da minha calça. Ainda sem quebrar o contato ela tentou abaixa-la mas teve certa dificuldade, então resolvi ajudar.

Nos separamos rapidamente, apenas o tempo para que eu tirasse a calça e a jogasse em algum lugar remoto do quarto. Puxei Maura para mim com uma vontade que eu ainda não sabia possuir, ela gemeu e apertou meu corpo de volta, retribuindo ao gesto.

Mais um beijo, impulsionei meu corpo contra o dela e fomos andando vagarosamente em direção à cama, paramos ao chegar ao limite e sermos barradas pela madeira fria.

Ela deitou rapidamente e esperou por mim, que fui logo em seguida e me estabeleci em cima dela.

Mexi a cabeça algumas vezes para me livrar do cabelo que caía sobre meu rosto, então me permiti relaxar sobre ela. Nos beijamos novamente, essa mais lenta e suave, eu ficaria naquilo por horas sem o menor problema, o gosto dos lábios dela em contato com os meus era algo realmente viciante. Mas é claro que meu desejo falou mais alto, eu queria vê-la por inteiro mas sem o receio de antes, eu a queria pra mim, eu precisava tê-la e cada centímetro do meu corpo gritava por isso.

Quebrei o beijo e desci um pouco minhas atenções para a região abaixo do pescoço, onde depositei alguns beijos molhados antes de colocar em palavras minhas verdadeiras intenções:

Sabe, acho que eu estou meio que em desvantagem aqui... - continuei beijando-a delicadamente.

Suas mãos passaram pelas minhas costas, fazendo um delicioso carinho.

Por quê? - perguntou baixinho.

Levantei a cabeça e olhei para ela.

Você ainda está vestida.

Um sorriso e nos ajeitamos até estarmos de joelhos sobre a cama, ela assentiu levemente e eu me aproximei e retirei a fina regata branca e ainda molhada que usava. Lancei a peça para longe e desabotoei o botão da calça dela. Nossas respirações estavam fortes, carregas pela necessidade de consumar aquele ato. Maura levantou brevemente e terminou de retirar a roupa, voltando para perto de mim logo em seguida.

Me preparei para envolvê-la em outro beijo, mas fui barrada pelo movimento inesperado dela, que retirou o sutiã e me olhou de um jeito ainda novo pra mim, uma expressão tão cheia de desejo.

Um novo calor me percorreu e dominou, um que eu não lembrava de ter sentido antes, Maura estava apenas de calcinha, olhando e sorrindo para mim, percorri seu corpo de cima a baixo, mas logo voltei na parte que mais me excitava: os seios.

Sua vez. - ela disse.

Eu sorri e num ímpeto passei minhas mãos pela cintura dela, para logo cairmos sobre o colchão da melhor maneira possível.

Me sentia tão quente, e isso era tão bom...

Capturei os lábios dela com pressa, era como se cada segundo pudesse ser o último, como se tudo pudesse acabar de repente.

Suas mãos chegaram ao fecho do meu sutiã e com agilidade o desfez, eu me ergui um pouco e terminei de tirá-lo. Nos tornamos pele com pele.

As unhas dela desceram pelas minhas costas, onde realizaram suaves movimentos de vai e vem, causando um arrepio por todo meu corpo.

Nós tínhamos chegado até ali, ela estava praticamente nua logo abaixo de mim, e recuar estava completamente fora de questão.

Separei nossos lábios e dirigi minha atenção para seu pescoço, com beijos suaves e molhados explorei cada pedacinho, sabendo que me cansar daquilo era impossível. As mãos de Maura percorreram meu cabelo:

– Seu cabelo está molhado... - não uma reclamação, apenas um comentário – Eu gosto disso!

Sorri contra sua pele e passei para uma região mais baixa, sem ter noção do quanto mexeria comigo.

Assim que percebi a saliência indicando que eu havia chegado aos seios, levantei um pouco a cabeça e olhei para eles.

Se ainda me restava qualquer dúvida sobre aquela noite, a perfeita imagem diante de mim eliminou-as por completo.

Instinto, desejo, paixão... Pode chamar do que quiser, mas o fato é que minhas ações seguintes simplesmente aconteceram e eu não me preocupei em dar motivos a elas, pois logo estava com meus lábios por toda parte. Um seio e cada centímetro dele, a pele quente e cheirosa em volta, e em seguida o mamilo, onde minha língua se dedicou ao máximo antes de passar para o outro.

Ao fundo podia ouvir gemidos baixos vindos de Maura. Parecia que eu estava no caminho certo.

Embora minha vontade de permanecer no mesmo delicioso lugar fosse enorme, eu sabia que devia continuar. Assim então, escorreguei meu corpo mais pra baixo e fui depositando pequenos beijos por toda a extensão do corpo dela, abdômen, barriga, e por aí mais em baixo. Cheguei ao limite da calcinha e notei a arqueação do seu corpo. Desviei minha atenção para a coxa e após mais alguns beijos segurei no elástico da peça íntima e a retirei.

Quando conheci Maura nunca imaginei que um dia a teria assim, mas estava acontecendo e eu não voltaria atrás.

Depois de me livrar da única coisa que ainda a cobria, voltei para cima e me estabeleci novamente em cima dela, trocamos um longo beijo enquanto eu passava minha mão por toda lateral do corpo dela, apertei delicadamente a cintura e voltei mais para baixo, sem quebrar o beijo, suas pernas se acomodaram com a proximidade dos meus dedos, e quando cheguei ao lugar certo levantei a cabeça e olhei para Maura, que logo começou a acariciar minha coxa, me incentivando a continuar, e o foi o que fiz.

Cada movimento da minha mão acompanhado por um beijo no pescoço dela, clavícula e etc. Conforme os segundos foram passando, nossos corpos ficaram cada vez mais quentes, e os gemidos de Maura ainda mais intensos, até chegar ao momento em que o mais forte foi liberado e ela estremeceu abaixo de mim.

Tombei minha cabeça na curva do seu pescoço e apreciei o perfume. Ela continuava ofegante, mas mesmo assim se moveu na velocidade adequada até estar em cima de mim.

Nossos olhos se encontraram e o que eu vi nos dela me fez sentir segura. Aproximou o rosto do meu e me beijou, no início com calma e depois mais paixão. Quebrou o contato e passou a retribuir o que fiz para ela: pequenos beijos por todo o meu corpo. Assim como eu, capturou o cós da calcinha e a retirou.

Até aquele momento eu não fazia ideia do quanto ansiava por aquilo.

Para minha surpresa ela retomou a posição sobre mim, e reiniciou a distribuição de beijos, minha boca, meu queixo, pescoço, seios (onde se dedicou um pouco mais), meu abdômen, barriga e enfim, escorregou até chegar em determinada região. Olhou para mim e sorriu antes de colocar as mãos nas minhas pernas e separá-las devagar, para finalmente abaixar a cabeça e sumir da minha vista ao mesmo tempo em que me fez ver estrelas.

Tudo era tão recente e maravilhoso, eu sabia que devíamos conversar, porque mesmo tendo plena certeza do que fizemos, ainda assim era um passo importante.

Eu a acordaria, mas ela foi mais rápida e me surpreendeu ao se mexer e tirar a mão de mim.

Trocou de posição até ficar na mesma que eu e virou a cabeça para me olhar.

– Bom dia. - falei.

– Muito bom.

Me ajeitei melhor na cama e peguei meu celular no bolso da calça que estava no chão.

– Que horas são? - perguntou.

– Quase oito horas.

Ela se ajeitou também, com o lençol cobrindo o corpo.

– Estamos atrasadas pra alguma coisa?

– Não que eu saiba.

Passou a mão pelo cabelo e eu coloquei meu celular na mesinha ao lado.

Vamos Jane! Não pode ser tão difícil, vocês fizeram sexo depois de anos de amizade, isso não teria acontecido se ela não quisesse também, e cada segundo da noite de ontem mostrou o quanto queria.

Só fale alguma coisa, qualquer uma.

Abri a boca para começar mas um som me interrompeu, era o meu celular.

Droga!

– Rizzoli. - atendi e me surpreendi com a velocidade com que Frost era capaz de formar uma frase – Ei! Vai com calma Frost! Uma coisa de cada vez, me explica isso direito. - mais alguns segundos – Ok, e tem que ser agora?... Mas ele pode fazer isso?... Entendi... Está bem, estou indo pra aí... Sim, eu sei onde fica. Certo. - desliguei.

– O que foi? Problemas? - perguntou preocupada.

– Era o Frost, o pai da vítima foi encontrado morto em um beco.

– Meu Deus!

Levantei apressadamente e comecei a procurar minhas roupas.

– É melhor se levantar também.

– Por quê a pressa?

– Não é minha culpa, Frost disse pra ir rápido, parece que houve algum problema e o corpo não vai poder ficar lá por muito tempo. - coloquei a calcinha.

Olhei para o lado e vi que Maura havia soltado o lençol e estava com a parte de cima descoberta.

Respirei fundo.

Foco Jane, foco!

– Bem, eu ainda não fui chamada, então... - de repente o celular dela tocou, olhou para mim e deu um meio sorriso antes de atendê-lo – Drª Isles... Sim... Eu entendo... Tudo bem estarei aí o mais rápido possível. - desligou.

– O que dizia? - provoquei enquanto vestia a calça.

– Que agora estou com pressa também.

Um movimento rápido e logo estava em pé andando pelo quarto à procura das próprias roupas, e é claro que ainda nua, o que funcionou como alguma espécie de distração para mim.

Eu não percebi que estava parada com a blusa na mão olhando-a até que ela olhou de volta.

– O que foi? - perguntou.

Me senti livre pra ser sincera, afinal, depois do que tínhamos vivido, nada mais podia ser mantido em segredo.

– Você é linda.

– Ah... - abaixou o olhar – Obrigada.

Vesti minha blusa rapidamente, enquanto ela colocava calcinha e o sutiã.

– Acha que consegue tomar banho rápido?

– Você sabe que eu não costumo “achar”, mas nesse caso tenho que confessar que devido ao horário e pouco tempo que temos... Não, é melhor que eu só troque de roupa.

– Ok. - sorri – Vou fazer isso também.

Ela andou até o armário e começou a procurar por algo.

– Tem mais alguma de reserva no carro?

– Na verdade tenho sim, mas essas são de trabalho. - respondi.

Notei que ela separou um conjunto de calça preta e blusa vermelha.

Virou segurando-os.

– Vou pegar minhas roupas. - avisei.

– Certo. - sorriu.

Saí rapidamente e peguei as roupas no meu carro.

Quando voltei fui até o quarto.

– Oh, é mesmo roupa de trabalho. - comentou ao nos encontrarmos, ela obviamente já estava vestida.

– Tem algo contra? - perguntei.

– Não sei nem por onde começar.

Semicerrei os olhos.

– Tudo bem, não temos tempo pra isso. - falei ao começar a me despir.

– Tem razão.

Vi quando ela entrou no banheiro.

Troquei de roupa o mais rápido que pude e puxei o cabelo pra trás, o prendendo em um rabo de cavalo.

Logo Maura saiu impecável como sempre, cabelo arrumado, levemente maquiada e os indispensáveis brincos.

Eu estava sentada na cama.

– Pronta? - perguntei.

– Sim.

Pegou a bolsa e o celular e saímos do quarto.

Passou por Bass e lhe entregou um morango.

Peguei minha arma e distintivo que continuavam no mesmo lugar que eu havia deixado, ao lado do sofá.

Saímos, Maura foi abrir a garagem.

Esperei que ela saísse com o carro, e então notei a demora, que logo me deixou nervosa.

Entrei na garagem e vi o capô do carro aberto, e ela olhando para as peças.

– O que está fazendo? Temos que ir logo!

– Eu sei, e adoraria já estar dirigindo para a cena do crime, mas meu carro não está funcionando.

– Fez algum barulho estranho?

– Não, pelo contrário, não emitiu nenhum som. - abaixou a cabeça para mais perto do motor – Isso é tão estranho, ele estava em perfeitas condições ontem.

– Essas coisas são imprevisíveis.

– Não comigo, eu faço revisões regularmente.

– Não se pode controlar tudo Maura. - quando vi que ela pretendia continuar argumentando, falei – Vamos no meu carro.

– Tem certeza?

– Claro, estamos sem tempo. - peguei no braço dela.

– Certo, mas eu não posso depender de você o dia todo.

Saímos da garagem e então tive uma ideia.

Podia não ser das mais inteligentes, mas servia pra aquele momento.

– Vou ligar pro Giovanni. - tirei o celular do bolso enquanto caminhava em direção ao carro.

– Vai fazer o que? - ela parou.

– É a nossa escolha mais rápida, como eu já disse antes estamos sem tempo.

– Sim mas ele...

– Olha, só basta desligar o alarme do carro e colocar a chave... - olhei para a entrada da casa – Ali! Naquele vaso. - apontei.

Ela acompanhou meu dedo e finalmente aceitou.

Desativou o alarme e colocou a chave do carro e o controle da garagem dentro do vaso.

Entramos no meu carro, coloquei o cinto e ela também.

– A garagem dá acesso pra sua casa? - perguntei.

– Sim, por quê?

– E a porta está trancada?

– Sim, eu me preocupo muito com a segurança.

– Certo... E nenhuma das chaves que deixou no vaso abrem essa porta?

– Não. - inclinou a cabeça para o lado – Qual o motivo disso?

– Bom, nós sabemos como o Giovanni é, vai que ele decide entrar pra dar uma espionada nas suas roupas íntimas. - brinquei.

– Ele faria isso?

– Não, quer dizer, sei lá... O que importa é que a porta está fechada. - disquei o número dele, alguns segundos e atendeu – Hey Gi! Sou eu, Jane... Não, não é por isso que eu estou te ligando... Sim, eu sei... Então, o carro da Maura deu problema e eu estou levando ela pro trabalho, mas eu queria saber se você podia dar uma olhada... Não nela, no carro! - olhei para o lado e vi Maura sorrir – Está na garagem e as chaves num vaso ao lado do portão... Não, eu não sei o que aconteceu com o carro, eu...

Senti ela me cutucar.

– Diga que a válvula central apresenta um pequeno problema, e... - sussurrou, mas logo tratei segurar a mão dela e fazê-la parar.

Mas dessa vez, não desfiz o contato e continuei na ligação.

– Isso... Você vem? Ok... Então se conseguir arrumá-lo ainda hoje leve no meu trabalho que eu pego as chaves... Basta dar um toque no meu celular que eu te encontro na lanchonete... Está bem, obrigada.

Desliguei e liberei a mão de Maura para colocar o aparelho no bolso.

Joguei a cabeça para trás e suspirei.

– E então? - perguntou.

– Então que eu não sei quem é mais lerdo, sua tartaruga ou ele. - sorri e coloquei a chave no contato.

– Cágado. - me corrigiu – Ele virá ver o problema com meu carro?

– Virá, mas agora se concentre no quanto já estamos atrasadas. - liguei e saí com o carro.

– Cinco minutos não farão tanta diferença.

– Quero ver você dizer isso quando chegarmos lá e o corpo tiver sido removido.

– Só eu tenho permissão pra autorizar a remoção do corpo Jane.

– Acho que essas pessoas que o Frost citou superam sua autoridade.

Notei que ela abaixou o olhar e fez uma expressão pensativa.

– Relaxa, eu estava brincando. - toquei a perna dela.

– Ah... - sorriu.

O resto do caminho foi acompanhado por um confortável silêncio. Não coloquei nenhuma música para tocar e de vez em quando parava para observar Maura, que permanecia concentrada em olhar as pessoas por onde passávamos.

Minha mente também vagou por inúmeras coisas, mas ao chegar em uma, ela parou:

Amizade podia muito bem virar amor, esse tipo de coisa vivia acontecendo com várias pessoas ao redor do mundo e eu nunca acreditei ser algo errado, mas quando aconteceu comigo eu tive muito medo. Pra ser sincera mais medo ainda por minha paixão ser uma mulher. Eu quis fugir, fiz besteiras, disse besteiras... Isso até chegar ao ponto em que não podia mais me esquivar.

Ela sentia o mesmo, ela não achou tudo uma tremenda loucura, ela retribuiu cada olhar, cada gesto, cada toque...

Meu irmão me apoiou, minha mãe praticamente me obrigou a resolver tudo, e no fim a maioria dos meus medos pareciam tão idiotas.

A noite que passamos juntas não estava nos meus planos, era algo que eu considerava muito importante pra ser feito as pressas, por duas pessoas que acabaram de entender seus novos sentimentos.

Planos...

Se eu fosse parar pra pensar em quantos deles não deram certo ao longo da minha vida acabaria ficando louca, e muitas vezes a surpresa se revelou melhor do que eu imaginava. Eu não tinha a intenção de fazer nada do que fiz tão cedo, mas aconteceu e eu não me arrependia, assim como também sabia que precisávamos conversar.

Eram meus pensamentos, ninguém podia me ouvir, e se ouvissem eu negaria até a morte, mas eu conhecia o verdadeiro motivo por trás de toda aquela minha necessidade de falar sobre o que tínhamos feito.

Olhei para o lado mais uma vez e ao confirmar que Maura não estava prestando atenção em mim, me deixei levar pelas dúvidas.

Será que eu fiz tudo certo?

Sim, porque só tinha feito sexo com homens até a noite de ontem e nisso nunca ouvi reclamações, mas com uma mulher foi a primeira vez, e não era qualquer uma, era Maura.

E se eu deixei algo de lado?

E se ela esperava por mais?

Afinal, já havia experimentado na faculdade, e mesmo não tendo durado muito tempo, já era bem mais do que eu.

Claro que nunca perguntaria diretamente, mas sabia que se o assunto apenas surgisse tudo se ajeitaria.

Quando me dei conta já havíamos chegado à cena do crime.

Estacionei o carro do outro lado da rua e vi quando Maura retirou o cinto se preparando para sair, então decidi fazer algo.

– Maura? - chamei e ela virou para mim – Acho que essa manhã não começou como eu queria, mas...

– Mas a noite pode terminar muito bem. - ela disse aquilo com tanta segurança.

– Como assim?

– Você quer conversar não é?

– Acho que precisamos.

– E eu concordo, é bom deixar tudo claro. Mas essa conversa não vai influenciar o resto, certo?

– Eu espero que não.

– Jane, você...

A frase dela foi interrompida pelo som de alguém batendo no vidro, virei e vi Korsak do lado de fora.

Abri a porta e saí, enquanto Maura fazia o mesmo pelo outro lado.

O que será que ela ia me dizer?

Tomara que eu não tenha que esperar o dia todo pra saber.

– Hey Jane! - Korsak cumprimentou e eu sorri e acenei com a cabeça – Maura... - sorriu para ela.

– Sargento! - sorriu de volta ao chegar perto de nós.

– Como estão as coisas por aqui? - perguntei enquanto caminhávamos em direção ao corpo.

– Complicadas. Eu falei com Cavanaugh mas pelo que entendi ele está de mãos atadas, não temos muito tempo.

– Bom, então nesse caso eu vou na frente. - Maura disse e apertou o passo, tomando a frente e passando pela fita amarela.

O celular de Korsak tocou e ele parou pra atender, assim como eu continuei e também atravessei a fita.

– Você demorou. - Frost disse.

– Eu sei, tive uns problemas...

– Trouxe a Drª Isles?

Olhei para ele.

– Sim, o carro dela não pegou e ela me pediu carona.

– Sei... - aquele tom... Eu não gostava dele.

– Sabe o que?

– Nada. - pegou um caderninho – Eu anotei algumas informações, mas ainda temos que pegar o depoimento do cara que achou o corpo.

– Eu não gosto disso, primeiro a filha, agora o pai... Será que tem algo a ver com a família e não a garota em si? Pode ser um problema pessoal. - palpitei.

– É possível, mas até agora nada aponta pra isso.

– Até agora nada aponta pra nada. - comentei.

Me aproximei do corpo, e consequentemente de Maura, que estava abaixada perto dele.

– Encontrou alguma semelhança com morte da garota? - perguntei.

– Não, na verdade o estado está bem diferente. Ele não aparenta a mesma quantidade de ferimentos. Só esse corte aqui. - apontou para a cabeça do homem.

– Bom, isso não descarta a possibilidade de ter sido a mesma pessoa.

– Até porque seria muita coincidência se pai e filha morressem em um intervalo de 24 horas sem existir nada maior por trás. - Frost opinou.

Considerei o que ele disse, mas logo decidi mudar um pouco de assunto.

Ainda queria entender o motivo de toda aquela agonia no telefone.

– Me explica esse negócio da gente ter que se apressar.

– A gente?

Droga! Você e sua boca grande Jane!

– É... Quer dizer, aposto que a Maura também não esperava por essa ligação, certo? - perguntei olhando para ela, implorando por alguma frase que me ajudasse.

– Definitivamente não.

Voltei para Frost.

– Bom, é basicamente uma confusão com o dono da propriedade, ele conhece alguém, que conhece alguém que conhece outro alguém ainda mais importante...

– E essas pessoas deixaram Cavanaugh sem saída?

– Isso.

– Já vi que o negócio é sério. - virei para Maura – Consegue apressar um pouco as coisas?

– Eu não costumo fazer isso, mas posso abrir uma exceção hoje.

– Muito obrigada. - digo fazendo graça e ela me retribui com um sorriso.

Assim que tudo foi concluído, fomos até o prédio.

A manhã se arrastou interminável, e finalmente dando abertura para a tarde, onde nem sequer uma refeição decente eu consegui fazer.

Aquele dia não devia ser assim, não depois da noite maravilhosa que eu tive.

– Conseguiu? - perguntei ao Frost que estava verificando os e-mails da vítima.

– Ainda não, tudo tem senha, tudo é bloqueado. - reclamou.

– Bom, isso só prova que ele tinha alguma coisa pra esconder.

Maura continuava no necrotério, assuntos profissionais pra todo lado e nada da conversa que precisávamos ter.

Meu celular tocou alertando uma nova mensagem, era dela.

Encontrei algo.

Maura.

– Maura tem novidades. - levantei e vi que Korsak fez o mesmo – Aonde vai?

– Eu vou com você. - respondeu com naturalidade.

– Por quê?

– Porque sim ora. Eu não deveria?

Não! Talvez essa seja nossa chance de termos um momento a sós depois de tudo!

Mas o que eu realmente disse foi:

– Deveria, claro... - passei por ele que me seguiu.

Ao chegarmos no necrotério Maura estava observando algo em suas mãos.

Eu entrei, assim como Korsak fez em seguida.

– O que é isso? - perguntei a ela.

– Encontrei no estômago dele. - apontou para o homem sobre a mesa.

Me mostrou o que parecia um pequeno pedaço de papel amassado coberto por uma gosma nojenta do conteúdo estomacal.

– Parece papel...

– Sim, e tem algo escrito.

Me concentrei nas letras e números quase apagados e consegui entender.

– É um endereço!

Korsak chegou mais perto e anotou o endereço no celular.

– Vou pedir ao Frost pra verificar onde fica, pode ser importante. - andou até chegar a saída – Você vem?

– Em um minuto. - isso foi o melhor que eu consegui.

– Ele assentiu e deixou o local.

Virei a tempo de ver Maura devolver o pequeno pedaço de papel à tigela e retirar as luvas.

Passei a mão pelo cabelo e desfiz o rabo de cavalo.

– Alguma notícia a respeito do meu carro? - perguntou enquanto caminhava até a pia para lavar as mãos.

– Não, ainda deve estar com o Giovanni, ele ficou de me avisar quando terminasse.

– Está bem. - secou as mãos.

E mais silêncio, eu não gostava nada daquilo. Não queria esse clima estranho.

– Maura, ainda acho que a gente tem que conversar... - comecei.

– Eu sei... - olhou para mim e parou de falar, pra logo dar lugar a um sorriso, seguido de uma leve risada e o olhar desviado do meu.

– O que foi? - perguntei, mas ela não respondeu, apenas continuou sorrindo e colocou a mão sobre a boca – O que é tão engraçado?

Finalmente nossos olhos se encontraram.

– Seu cabelo... Ele está...

– Está o que?

– Me acompanhe.

– Mas...

Então ela segurou no meu braço, fazendo com que fosse com ela até sua sala.

Eu não estava entendendo nada, o que podia estar errado com meu cabelo?

Vi que ela pegou um espelho de tamanho médio de uma das gavetas da mesa e o entregou para mim, sem tirar o sorriso do rosto.

Queria que eu visse com meus próprios olhos.

Mas não podia estar tão ruim assim, certamente ela estava exagerando...

– Oh meu Deus! - exclamei assim que dei de cara com o reflexo no espelho.

Meu cabelo estava um emaranhado de nós, que juntos formavam um volume maior do que de costume.

Coloquei o espelho sobre a mesa.

– Por quê não me avisou?

– Só apareceu quando você removeu o elástico, então eu te avisei. - respondeu com naturalidade.

– É, mas antes ficou rindo de mim.

– Desculpe, não posso dizer que não foi engraçado, eu estaria mentindo.

– Droga! Se eu soubesse que a situação estava assim eu teria continuado de cabelo preso. – falei enquanto pegava o elástico no bolso da minha calça e tentava controlar os fios rebeldes.

– Veja pelo lado bom, ao menos só estávamos nós duas aqui, fazendo com que o sei nível de constrangimento não fosse tão alto. - disse com animação, e eu respondi com um suspiro pesado ao terminar de arrumar meu cabelo – E além do mais, esse é apenas o efeito de dormir com o cabelo molhado.

Oh, ela queria jogar... Tudo bem!

– Ah claro, quem te vê falando até pensa que você ia preferir que eu parasse o que estávamos fazendo pra secar o cabelo.

Talvez fosse arriscado fazer esse tipo de comentário, mas aquele dia estava longe de ser como imaginei, então deixei acontecer.

– Tenho certeza de que eu não gostaria disso.

– Foi o que eu pensei.

Nós sorrimos.

Eu não queria que fosse assim sempre, falando nas entrelinhas ao invés de irmos direto ao ponto, pois sabia que esse tipo de coisa nunca terminava bem.

Maura sentou na cadeira atrás da mesa.

– Você deveria ir para casa e tomar um banho. - falou ao mexer em alguns papéis.

– Desculpe? - perguntei ainda em pé de frente para ela, que olhou pra mim.

– Eu disse que você deveria ir pra casa e tomar um banho.

– O que está sugerindo?

– Nada, estou sendo direta. Para que seu cabelo melhore vai precisar dar mais atenção a ele.

– Sim, mas não posso sair agora.

– Tenho certeza de que o Det. Frost e Korsak não se importariam em dar conta de tudo por uma hora.

Pensei por um momento.

– É, eu realmente adoraria um banho, tudo foi tão corrido hoje...

– Também está se sentindo desconfortável?

– Um pouco.

– Bom, eu estou, e é por isso que vou passar em casa por um instante.

– E você pode simplesmente sair?

– Claro, finalizei a autópsia e todos os testes já estão sendo realizados. Além de que não vou demorar. - levantou e pegou a bolsa.

–Tudo bem, eu te levo.

– Ok. - sorriu.

Saímos juntas e eu liguei para Frost, avisando que precisaria ficar fora por mais ou menos uma hora, e ele garantiu que podia segurar as pontas e me manteria informada.

Estava chegando perto da porta de saída, quando meu celular tocou, olhei para a tela e vi o nome de Frankie nela.

– Fala Frankie... - atendi – Sei... Nossa, até que foi rápido... abri a porta e segurei para Maura passar, fiz o mesmo em seguida – E ela disse quando?... Ok. Obrigada por avisar. - desliguei ao descer as escadas.

– Algum problema? - ela perguntou quando paramos na calçada.

– Não, era o Frankie avisando que a minha mãe volta amanhã.

– Já? - a voz dela soou tão aflita.

Mas por quê?

– É, parece que a tal amiga teve uma recuperação milagrosa.

– Isso é bom.

Ela parecia tão estranha...

O que estava errado?

– Pois é.

Andamos lado a lado até meu carro, ela sentou no banco do carona e eu no do motorista.

Durante o caminho comentamos algumas coisas sobre o caso, apenas o suficiente para cobrir o tempo pelo trajeto.

Logo estacionei na rua de Maura.

– Me ligue quando estiver pronta que eu venho te buscar.

– Não precisa, eu chamo um táxi. - disse após retirar o cinto.

– Eu posso Maura.

– Eu sei que pode, mas não precisa, eu vou ficar bem.

– Se você diz...

E então um pequeno momento de indecisão surgiu.

Daqueles que você não sabe se deve ou não beijar a outra pessoa na boca, mesmo sendo o que mais deseja fazer.

Pelo menos eu me senti assim, apesar de parecer ridículo, já que havíamos dormido juntas, mas enfim...

Rompendo meus pensamentos, vi Maura se aproximar e depositar um leve beijo sobre os meus lábios.

Aquela sensação era viciante!

Separou nosso contato e sussurrou no meu ouvido:

– Vejo você depois. - quando me olhou nos olhos liberou um meio sorriso.

Eu ainda estava sob o efeito de tudo, portanto só consegui ficar parada e vê-la sair.

Ao me certificar que ela tinha entrado em casa, me deixei ser levada pelos pensamentos...

Maura estava indo tomar banho, ela tiraria as roupas e entraria debaixo da água quente, que molharia seu corpo nu...

Ah, tudo era tão convidativo...

Talvez na próxima Jane! Pensei.

Liguei o carro e saí.

Ao chegar em casa fiz tudo normalmente. Brinquei um pouco com Jo Friday e fui para o banho.

Lavei o cabelo e finalizei o banho sem muita demora.

Escolhi uma roupa e finalmente pude ajeitar meu cabelo, impedindo que armasse outra vez.

Peguei minha arma e distintivo, fiz carinho em Jo Friday e saí.

Em menos de 15 minutos já estava em frente ao prédio policial.

Desci do carro e entrei, indo direto para a lanchonete, onde avistei Maura com seus cachos loiros, tomando chá em uma das mesas.

Ela usava uma roupa diferente também.

Me aproximei.

– Puxa! Você foi mais rápida do que eu! - brinquei.

– Não sabia que estávamos competindo. - sorriu – E também acabei de chegar.

– Se sente melhor?

– Muito, e posso ver que conseguiu se entender com seu cabelo.

– A batalha foi dura, mas eu venci!

Ela riu e bebeu mais um pouco de chá.

– A propósito, meu carro não estava na garagem, Giovanni de fato o levou com ele.

– Não se preocupe, logo vai trazê-lo.

– Eu sei, mas devo confessar que me sinto um pouco incomodada, já que aprecio minha independência.

– Aceitar carona e andar de táxi não te faz dependente.

– É que... - mas parou e fixou o olhar em algo atrás de mim.

Virei e me deparei com Giovanni a alguns metros de distância.

Ao me ver ergueu algumas chaves, que só poderiam ser dar garagem e do carro de Maura.

Se aproximou.

– Problema resolvido! - entregou as chaves para ela.

– Eu falei pra você me ligar antes de vir! - reclamei.

– Eu liguei, mesmo! Umas três vezes, mas você não atendeu.

Peguei o celular e fiz cara feia.

– Como assim não... - parei ao ver as chamadas não atendidas – Acho que estava tomando banho e acabei não ouvindo tocar.

– Banho é? - perguntou com um olhar malicioso.

Semicerrei os olhos e me preparei pra cortar as intenções dele, mas fui interrompida por Maura, que se levantou.

 – O concerto te deu muito trabalho? - eu sabia que só tinha perguntado para evitar que eu dissesse algo.

– Ah não! Era apenas uma mangueira gasta... - mediu Maura de cima a baixo, e pra não perder o costume fez o mesmo comentário de sempre – Você está gostosa! - virou pra mim – Vocês duas estão!

Dei um sorriso forçado.

– E então, quanto eu te devo? - ela perguntou.

– Ah por favor, eu não posso cobrar e você!

– Não só pode como deve. - abriu a carteira.

Admito que no lugar dela eu teria aceitado ficar sem pagar, mas Maura era gentil como sempre...

– Ok, só o preço da mangueira então... - disse o valor, que não me pareceu muito, e ela pagou – Escuta, sei que pergunto isso sempre, mas um cara não pode perder a esperança certo? Então, vocês duas, como estão? Ainda...

– Juntas? - ela terminou por ele.

O que fiz em seguida poderia ser encarado como o de sempre.

Me aproximei de Maura, nossos braços se encostaram.

– Sim, nós estamos! - afirmei.

E então algo me ocorreu, ao fazer aquilo tive a percepção de que daquela vez era real. Não apenas uma mentira necessária pra fugir das investidas do Giovanni, e sim da mais pura, simples e recente verdade.

Ouvi Maura dizer um “obrigada” e ele informar que tinha deixado o carro dela do outro lado da rua, assim, se despediu e saiu, enquanto eu fiquei lá, no “piloto automático”.

Os dedos dela roçaram levemente pelo meu braço, me trazendo de volta para a realidade.

Tudo em seguida foi muito breve, ela sorriu como sempre, foi gentil e compartilhou alguns olhares significativos enquanto dividíamos o elevador, cada uma rumo ao seu andar específico.

Saiu primeiro do que eu, mas antes deu um leve aperto na minha mão e sorriu, e eu apesar de ainda um pouco fora de ar, não pude deixar de sorrir de volta.

O resto do dia se seguiu numa mistura de pistas, interrogatórios e uma perseguição.

Eu não sabia que tantas coisas podiam acontecer num curto espaço de tempo, mas elas não só aconteceram, como me renderam um relatório intensamente chato e detalhista, e de quebra uma forte dor de cabeça.

No começo ignorei, respirei fundo e tomei um pouco de água, mas conforme os minutos foram passando e a melhora não surgiu, tive que me dar por vencida.

Encostei na cadeira sem nenhuma delicadeza e suspirei, massageando minha testa.

– Hey Jane, o que há? - Korsak perguntou.

– Minha cabeça... Está me matando! - respondi ainda de olhos fechados.

– O dia hoje foi puxado, você precisa descansar. Vá pra casa, Frost e eu terminamos isso.

Olhei para ele.

– Não, eu... Posso ficar.

– Eu sei que sim, mas não precisa. Vai.

Pensei um pouco.

Não estava conseguindo manter minha concentração, e isso provavelmente faria com que acabasse cometendo vários erros no relatório, talvez fosse melhor sair dali antes de ferrar com tudo de vez.

Após decidir, assenti levemente, apenas para ser atingida pela dor de novo, e parar o movimento.

Peguei minhas coisas, murmurei um boa noite e saí a tempo de ver com o canto do olho Frost se levantar e pegar a pasta de cima da minha mesa.

Bom, pelo menos eles cuidariam de tudo.

Parei em frente ao elevador e apertei o botão, a porta se abriu e eu entrei, tive poucos segundos pra decidir o que fazer.

Num impulso que nem sei direito de onde veio, pressionei o botão do andar do necrotério.

Dor de cabeça, encontrar Maura, uma possível conversa...

Oh Deus, como iria ser isso?

Sem muito tempo para cogitar possibilidades, cheguei ao andar que queria e saí.

Estava consciente do horário, era tarde, já passavam das 21:00 hrs e aquele caso me manteve ali mais tempo do que de costume.

Notei que apenas a luz da sala de Maura estava acesa.

Entrei sem bater e sentei no sofá.

– O que aconteceu? - ela perguntou.

– Dor de cabeça. - murmurei tentando achar uma posição confortável, embora soubesse que naquele sofá isso seria impossível.

– Desculpe, você falou muito baixo.

Verdade, mas não podia me ajudar, aumentar o volume tornava tudo ainda pior.

– Eu disse que... Minha cabeça está me matando. - fechei os olhos.

– Dói? - ela estava mais perto, podia notar pela voz.

– Se eu digo que está me matando, é porque dói Maura, pensei que fosse óbvio. - resmunguei ao finalmente olhá-la.

Ela parecia tão tranquila como sempre, nem sequer reagiu a minha resposta.

– Tudo bem. - voltou para sua mesa, pegou algo na bolsa que estava ao lado da tela do computador e voltou – Tome isso, foi cientificamente comprovado como o mais eficaz dessa linha de remédios. - me entregou uma cartela de comprimidos – Tome apenas um, pois uma quantidade maior não é realmente necessária, já que os vários componentes...

– Só me dê o comprimido. - pedi, embora tenha sido muito mais rude do que o planejado.

Ela destacou um pequeno comprimido e o colocou na minha mão, em seguida foi até um jarro de água que ficava sobre uma pequena mesinha e despejou o liquido em um copo, entregando-o pra mim.

Após engolir o comprimido com a ajuda da água, coloquei o copo na pequena mesa em frente ao sofá e voltei a me recostar.

– Relaxe para que possa fazer efeito. - disse enquanto voltava para sua cadeira.

O silêncio reinou na sala, e eu comecei a me sentir mal por isso.

– Sinto muito, acho que eu fui meio rude.

Levantou a cabeça para me olhar.

– Está tudo bem. - voltou a atenção para o computador.

Ela não podia mentir, então devia mesmo estar tudo bem.

Eu normalmente questionaria essa resposta tão simples, mas tinha medo de piorar as coisas.

Droga! Aquele dia não devia ser tão complicado.

Como uma noite maravilhosa pode sobreviver a isso?

– O que está fazendo? - perguntei.

– Pesquisas. - simples, novamente.

Ok Jane, tente de novo.

– Sobre?

– Algumas bactérias que se alojam nos tecidos da pele, prejudicando o colágeno.

– Sei... E pra que?

– Você não quer saber de verdade, só está perguntando para que o silêncio não se estabeleça entre nós.

Sinceridade, um ponto positivo, mas também desconcertante.

– Talvez... - inclinei a cabeça para o lado e me surpreendi quando a dor não veio.

– Como está a dor? - ela parecia ler meus pensamentos, e não era a primeira vez.

– Melhor. - me mexi um pouco mais – O dia de hoje acabou comigo, essa dor de cabeça foi só a prova final disso.

– A dor não foi apenas causada pelo estresse dos fatos que ocorreram durante o dia, também é o resultado de você ter dormido com o cabelo molhado em um clima nada apropriado... E não podemos esquecer que não teve muitas horas de sono. – sorriu.

Sim, dormir não foi uma preocupação.

– É, e nem você. - não era assim que eu queria trazer esse assunto à tona – No entanto, você parece ótima.

– Isso é porque eu mantenho uma alimentação saudável, coisa que você deveria tentar.

– Não obrigada, eu estou bem.

Vi quando ela se ajeitou na cadeira, esticou o corpo e puxou um pouco o cabelo pra trás.

Você precisa falar Jane, vamos! Nunca nada foi difícil pra você!

Você sempre enfrenta tudo, e coisas muito piores do que Maura e seus olhos penetrantes, voz suave, sorriso gentil e boca de Google.

Você consegue lidar com isso!

– Então... - lambi os lábios – Nós... - ok, talvez eu não conseguisse – Ah, nós...

– Fizemos sexo. - completou.

Direto ao ponto!

Por quê eu ainda me surpreendia?

– Uau! Você é tão... - me olhou com curiosidade e eu lutei pra encontrar uma palavra – Direta.

Sério?

Nada mais criativo?

– Oh, desculpe, eu te deixei desconfortável?

– Não, eu só... É oficial agora, certo?

– O que?

– Nós.

– Oficial? - eu assenti – E antes não era?

– O antes não durou nem 24 horas Maura.

– Eu não vejo como pode ser um problema.

– E não é, quer dizer, e se fomos direto ao ponto rápido demais?

O que?

Qual era o problema comigo?

Mas antes de ter a chance para reformular minha pergunta:

– Você se arrepende? - desligou o computador.

De jeito nenhum!

– Não, não é isso.

– Ótimo, porque eu também não. - recolheu suas coisas – E sua dor de cabeça?

– Sumiu. - respondi, ainda tentando entender a mudança de assunto.

– Ah isso é bom. - parou em frente a mim e me estendeu a mão, eu aceitei e levantei – Você vai ficar mais tempo ou pretende ir embora?

– Eu estava saindo. - semicerrei os olhos – Mais alguma pergunta?

– Só mais uma. - então pegou uma mecha do meu cabelo entre os dedos, eu olhei para o gesto e depois para ela – Na sua casa ou na minha?

Aqueles olhos...

Um calafrio passou por todo o meu corpo, mas daqueles bons, daqueles realmente bons.

Nossa conversa pós-sexo não foi como eu pensei, mas como poderia quando tudo estava tão diferente?

Talvez eu devesse para de procurar normalidade e simplesmente aceitar o que a vida estava me oferecendo.

– Na minha. - afirmei.

Ela sorriu e se aproximou, pensei que fosse me beijar mas não, em vez disso se inclinou um pouco até que seus lábios estivessem perto o suficiente do meu ouvido.

– Te vejo em uma hora.

E saiu.

Já havia me deixado sozinha na sala dela e ido embora antes, mas nunca sobre as mesmas circunstâncias.

Nunca sobre a promessa de algo maior.

Eu conhecia aquele olhar, aquele tom, eu sabia o que ela queria, e finalmente resolvi aceitar isso, afinal, eu queria também.

Já que estávamos nessa juntas, eu iria até o fim.

Ela disse em uma hora, e não costumava se atrasar.

Eu tinha que ir pra casa.

A dor que me atormentava não havia deixado vestígios, e o único sentimento que me dominava era uma mistura cuja o resultado foi incrivelmente bom.

Maura estaria comigo dentro de uma hora, primeiro um jantar, talvez um filme em seguida, boa conversa, vários beijos e então a parte mais esperada, que sem dúvida se estenderia por toda a madrugada.

Sim, meu instinto tanto policial quanto feminino me diziam que aquele seria o começo de muitas noites iguais ou até melhores, que teriam o mesmo delicioso fim.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Eu demorei, sim é verdade, mas ainda mereço reviews, certo??



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