- Agora? - ele sussurra nervoso.
- Antes que eles liguem os microfones.
- Diga depois, eles já vão ligar.
- Mas...
- Depois você me fala! - ele me interrompe.
Fico em silêncio e, segundos depois, os microfones são ligados, juntos com as luzes. Nos expondo ao público.
- Nós somos do clube de música da escola particular Omaeda. - eu anuncio - E agora, iremos cantar algumas músicas de nossa autoria. A primeira é chamada Cantarella.
As pessoas aplaudem e Kaito se vira para mim, faço o mesmo e a música começa. Uma música com jeito de antiga, começa com um som de violino, que havíamos gravado antes, mas logo o resto da banda entra em ação.
Kaito começa a cantar, enquanto encenamos uma dança. Rodopiamos e encostamos nossas mãos como em uma dança de príncipes e princesas.

"Nossos olhos se encontram
De um certo jeito
Em um mundo acorrentado
Fingindo não saber
Mas mesmo assim
Minha centelha de interesse pode ser vista"

A música fica um pouco mais agitada, enquanto Kaito canta e eu atuo como segunda voz, emitindo sílabas e arrastando-as.

"Queimando... Meu coração
Eu não vou mostrar isso
E cresce junto uma respiração profunda
Que você pode sentir fazendo você se chocar"

Respiro fundo e entro no refrão junto com ele.

"Como qualquer sentimento normal de amor agora
Tenho certeza que você vai se apaixonar"

A melodia inicial começa novamente e continuamos a encenar uma dança. Ele pega em minha cintura e me deita um pouco em seus braços, voltando a cantar sozinho.

"Eu não deixarei rastros
Talvez sejam invisíveis
Sútis palavras
Que fazem você não se defender
Caindo em alguns buracos rasos..."

Ele me puxa, me deixando de pé novamente. Nossos olhares não se desgrudam por um só momento. Ele me rodopia com uma das mãos, então, ficamos sem nos olhar por alguns segundos, mas logo voltamos e eu volto a atuar como segunda voz.

"Se você tivesse conhecido
Esse poderoso remédio
Que só eu pude resistir"

Entramos no refrão novamente, com mais força, dessa vez.

"Uma enferrujada... Corrente se quebra
Correndo onde não há ninguém"

Depois desse pequeno refrão, a música para. Kaito começa a cantar sozinho.

"O barulho do relógio
É mais alto quando você está lutando"

Ele faz uma breve parada, para que eu cantarole e complete a melodia, para ser seguida pela banda.

"Venha me pegar!"

A banda explode com a mesma melodia do refrão. Enquanto eu e Kaito cantamos o refrão novamente, com nossos olhares de cruzando, porém, mais perto. Quase como um beijo.

"Nós podemos sempre nos esconder dentro dos jardins tensos,
Esperando eternamente a mistura do aroma do nosso suor,
Sinto que foi tomada"

Estendemos a última sílaba, e abandonamos a parte iluminada do palco ao som dos aplausos. Depois, eu volto, pois ainda tenho uma música para cantar. Ao fazer isso, percebo que Meiko está ao lado da bateria, com um teclado à sua frente. "Então era por isso que ela estava ali?". Dou de ombros, pois só tenho que me concentrar em uma coisa agora.
Entro na parte luminosa do palco novamente. Agora sim, é minha hora de brilhar.
- Bem, - começo a dizer - Eu espero que tenham gostado dessa música.
Sou respondida com aplausos e continuo.
- Agora, uma música de minha autoria. Chamada Rolling Girl!
Espero a música começar, de cabeça baixa e braços abertos. Ouço o som impaciente do teclado ressoar pelo auditório e começo a mexer um pouquinho os quadris. Depois, a banda explode em música, acompanhando o ritmo do teclado.

"A Garota apaixonada sempre olhou para sonhos inalcançáveis
Há barulho dentro de sua cabeça,
E ela está confusa, e ela está confusa."

Estendo a última sílaba e espero um pouco, para as pessoas ouvirem o momento instrumental. Depois, volto a cantar com emoção.

"'Sem problemas' foi murmurado, mas estas palavras não estavam perdidas?"
Falhou de novo, falhou de novo.
Depois de terminar sua busca por erros, Isso rola novamente!"

Minha voz se eleva e me preparo para o refrão, que me arrepia, pois lembro que compus essa música pra mostrar quem eu era. Pra fazer com que as pessoas saibam quem eu sou.
Levanto uma mão para o alto e estendo um dedo, fazendo um "1" com o indicador. Depois abro a mão e a trago para mim enquanto canto e danço.

"Mais uma vez, mais uma vez.
'Eu irei amar hoje também'
A garota disse, a garota disse,
Brincando com suas palavras significativas

'Você está bem agora?'
'Ainda não, eu continuo não vendo o significado.
Irei parar minha respiração, agora.'"

Minha voz chega ao limite várias vezes neste refrão, tanto que me deixa ofegante, enquanto danço ao som dos instrumentos. O som agitado e a letra da música acabam me emocionando, e lágrimas descem de meus olhos enquanto volto a cantar.

"A Garota Apaixonada está acabada em ruínas,
Fora do alcance de cores inacessíveis
Há vozes dentro de sua cabeça, e elas vão se misturando, misturando

'Sem problemas' foi murmurado, mas estas palavras estão perdidas
Como você vai acabar bem?
Então venha errar comigo;
Ela me tenta sobre esta colina"

Ao cantar isso, sorrio de um modo travesso e faço algo que ninguém esperava. Abro um pequeno facho na base de minhas costas, soltando a saia enorme e pesada do vestido, exibindo uma mais curta, mas muito detalhada também. Toda em preto e branco, como nosso tema.
Feito isso, volto ao refrão, deixando o espetáculo cada vez mais intenso. Fazendo a mesma coreografia de antes.

"Mais uma vez, mais uma vez
De alguma forma eu estou amando
A garota disse, a garota disse
Repetindo palavras silenciosas significativas

'Você está melhor agora?'
'Só mais um pouco, e você irá ver algo brevemente.
Irei parar minha respiração, agora'."

Assanho meu próprio cabelo e desfaço a trança que Yuki fez nele. " Desculpe, Yuki-chan". Volto a atuar como uma garota um pouco louca. Me ponho a cantar o refrão pela última vez.

"Mais uma vez, mais uma vez.
'Eu irei amar hoje também'
A garota disse, a garota disse,
Brincando com suas palavras com um sorriso

'Você está melhor agora? Está tudo bem agora.
Vamos, você deve estar cansada também, certo?'
Eu vou parar minha respiração, agora."

Junto comigo, a música para de repente e as luzes se apagam no mesmo instante, rapidamente. Depois, todos saem dos seus lugares e damos as mãos. As luzes voltam e todos nós nos curvamos.
- Obrigada a todos! - grito, ainda estou chorando.

As luzes se apagam novamente e nós recolhemos nossos equipamentos, para abandonar o palco. Foi uma experiência realmente incrível! E agora, me sinto confiante para dizer o que preciso.
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Chegamos à sala, onde nossas coisas estavam alojadas. Cada um pega seus pertences e saem. Rin e Len me perguntam se quero ir agora, mas digo que precisarei fazer algumas coisas, então eles dizem que vão me esperar no portão principal. Assinto e eles saem. Eu espero todos irem, até ficar sozinha com Kaito, que arrumava suas coisas em uma mochila.
- Kaito-kun. - eu o chamo.
- Ah, você queria me dizer algo, não é?
- S... Sim.
- Então, - ele se vira para mim - Antes, eu só queria te parabenizar. Você foi ótima. Até chorou. - ele passa um dedo sob meus olhos, limpando uma lágrima.
- B... Bem, - coro intensamente - Obrigada... Mas eu queria lhe falar uma coisa...
- Pode falar.
- B... Bom... É... É que... Eu... Eu... - gaguejo, mas respiro fundo e fecho os olhos. - Eu te amo, Kaito-kun!
Continuo com olhos fechados, sem coragem para abrí-los.
- Eu te amo, - repito - Desde o ano passado... Eu sempre olhei para você, mas sei que sempre fui invisível para você, até por causa da Lily...
- Shh... - ele me interrompe, colocando um dedo sobre meus lábios. Abro os olhos e vejo o rosto dele, iluminado pela luz do luar, que entra pela a janela ao nosso lado.
Logo, algo inesperado acontece. Ele se inclina em minha direção até encostar seus lábios nos meus. Sinto uma mistura de sentimos passarem por mim. Medo, insegurança, amor. Tudo de uma vez.
Ao fim, ele se afasta e me olha nos olhos, me hipnotizando.
- Eu já estou de saco cheio da Lily.
- Ah... - sai como um gemido, enquanto arregalo os olhos. Estou incrédula. Eles pareciam estar tão bem...
- Eu posso conversar com ela amanhã.
- N... Não precisa. Eu posso esperar as coisas se acalmarem ou... Eu não sei... Só não quero que isso fique muito... Suspeito, eu acho.
- Pode esperar? Pff. Não se preocupe.
- Espera. - eu o alerto - Você não me respondeu!
- Ainda preciso dizer algo?
- Mas... Você não disse nada!
- Exatamente.
- Eu preciso que você diga!
- Bem, se você quer tanto assim... - ele dá de ombros - Eu já tinha te visto algumas vezes. Você não era invisível para mim. Um dia, eu precisei ir à sala do diretor e acabei passando pela frente da sala de música. E escutei uma voz feminina cantando uma música que eu não conhecia, eu abri uma brecha da porta, sem ninguém reparar, e vi você. A dona daquela voz maravilhosa.
- Ah... - coro novamente.
- Foi por isso que aceitei o convite do Len para entrar no clube.
- Obrigada. - sorri, verdadeiramente feliz.
Nos beijamos mais uma vez, então, lembro dos gêmeos à minha espera. Digo à Kaito que tenho que ir e ele assente. Em seguida, saio da sala e vou para o portão principal, correndo. Quando chego lá, Rin e Len estão encostados em uma parede, entediados, me esperando.
- Desculpem a demora. - abro um sorriso amarelo.
- Argh, o que estava fazendo? - Rin resmunga.
- Resolvendo algumas coisas. Desculpem.
- Tudo bem, vamos logo. - Len está sem expressão, seu tom vago.
- Espera, Nii-chan! Não vai parabenizar a Miku? Ela deu um show na apresentação!
- Parabéns. - ele diz sem olhar para mim.
- O... Obrigada. - digo, sem graça.
Rin pega minha mão e nós saímos do colégio, a pé, mesmo. Já que tudo está deserto. Mas algo nos interrompe. Algumas pessoas que já estavam indo embora, pararam conosco e nos parabenizaram pelo espetáculo. Agradecemos e continuamos nosso caminho.
Len não fala comigo em nenhum momento, nem mesmo quando chego em minha casa, para se despedir. "O que houve com ele?". Dou de ombros e subo as escadas, para ir ao meu quarto.
Me jogo na cama e pego o celular da mochila. Olho o relógio e me surpreendo. Já são 22:30horas. Quando chegamos no colégio eram 20:45. Passou tão rápido...
Sorrio para o teto, agarro um travesseiro e relembro meus últimos momentos com o meu príncipe. Toco meus lábios, ainda não acredito que tudo aconteceu de verdade.
Só preciso esperar até amanhã, quando ele falar com a Lily. Mas... Qual será a reação dela? Mordo o lábio inferior. Pelo visto, terei que teimar um pouquinho para ter o garoto que amo ao meu lado.
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No dia seguinte, muitos alunos que haviam assistido à apresentação vieram falar comigo. Eu realmente tinha me destacado, exatamente como queria.
Hoje, na hora do recreio, a coordenadora do colégio anunciou quem havia ganhado o prêmio pela melhor apresentação do show de talentos.
- Eu estou honrada em anunciar, que por uma diferença mínima de votos, - ele dizia, animada. - Quem leva o prêmio do show de ontem é... O clube de música da escola Omaeda!
Meu coração bate forte, quando meus amigos dizem que devo pegar o prêmio, por ser a presidente.
Ando desajeitadamente, em meio de aplausos, até a coordenadora e recebo um prêmio pequeno de mármore, com uma plaquinha que continha alguns dizeres.
A mulher bate palmas para mim e me entrega o microfone, pelo qual estava falando, para que eu diga algo.
- B... Bem... - começo a dizer. - Muito obrigada aos que votaram ontem à noite. Eu... Só tenho a agradecer.
- A disputa de vocês foi muito acirrada. - a coordenadora me diz, quando o microfone é desligado e todos se afastam do lugar.
- Com quem disputamos?
- Um trio.
- Trio? - já imagino quem seja.
- O Hot Trio... Acho que era assim o nome. Três garotas que cantam e dançam músicas originais mixadas.
- Hum... E como são essas garotas?
- Uma loira, outra ruiva, e a última tem cabelo verde.
- Sei quem são.
- Hum... Suas amigas?
- ... Mais ou menos. - minto - Enfim, obrigada, senhora.
- Ah, eu não sou tão velha! Pode me chamar de Sawa.
- Bem... Sawa-sensei... Obrigada.
- Não há de quê, querida. - ela sorri e vai embora.
Volto à mesa onde meus amigos estão sentados, exibindo nosso prêmio. Eles examinam, se espantam e comemoram. Só Len não parece empolgado. Continua sem expressão alguma, e continua sem falar comigo. Isso já está me deixando preocupada...
Logo, a campa, que anuncia o término do recreio, toca, e todos nós vamos para nossas salas.
As aulas se sucederam como de costume. A professora que deu a ultima aula do dia recitou um discurso sobre como devíamos estudar para as provas da semana que vem e blá blá blá.
Eu e Rin fomos ao clube, e lá estavam todos. Menos uma pessoa. Lily. Fico gélida ao ver Kaito sozinho, Meiko do outro lado da sala, de cabeça baixa.
Quando percebe que eu o estava olhando, Kaito me chama, sorrindo. Hesito, mas sento ao seu lado, na mesa onde estranhei não ter visto Teto.
- B... Bom dia pessoal. - gaguejo.
- Bom dia. - nem todos respondem.
- Anh... Vamos cantar alguma coisa hoje?
- Não sei se estou afim de tocar. - Len murmura.
- Eu estou com preguiça. - avisa rapidamente, Gumi, jogada no seu lugar.
- A rainha Teto-sama sempre está disposta! - Teto brada, e percebo que ela está jogada com Gumi.
- Já falei que só há espaço para uma, aqui. - a garota de cabelos verdes resmunga.
- Cale a boca, eu sou uma rainha. Mereço respeito.
- Respeito é uma ova!
- Ei, vocês duas... - digo em vão, pois elas começam a discutir.
Desisto de tentar fazê-las para, e Kaito me abraça, o que me faz corar.
- Não percebeu nada? - ele sussurra em meu ouvido. Uma atitude inútil, pois todos estão olhando para nós.
- O que quer dizer? - indago, sussurrando.
- Eu falei com a Lily.
- É por isso que ela não está aqui?
- Sim. É por isso.
- Como ela reagiu?
- Tranqüila. Acho que também estava de saco cheio de mim.
- Hum... - sinto que Kaito está mentindo, pois lembro da razão de ela ter vindo para o clube.
Logo, algo inimaginável acontece. Kaito se levanta e todos continuam mirando-o. Ele sorri, travesso e se vira para mim.
- Eu gostaria de anunciar - ele brada - Que eu e Miku Hatsune, a nossa presidente, estamos oficialmente namorando!
Arregalo os olhos e fico vermelha até a alma. Todos batem palmas. Menos Len, que continua sem expressão. Me sinto mal. "mas, por que?". Finalmente eu tenho o que quero, Len deveria estar feliz por mim...
Algumas meninas perguntam como chegamos a isso e Kaito explica o acontecido. Outras pessoas fazem outras perguntas e ele responde todas, sorrindo. Depois, todos vão embora.
Como de costume, eu e os gêmeos vamos juntos. Mas eu peço a Rin que me deixe sozinha com Len por um tempo, ela assente e sai, dizendo que vai nos esperar no portão principal.
- Len. - eu o chamo.
- O que foi? - ele responde sem me olhar.
- Você... Por que está assim? - minha voz treme - Quer dizer... Você não falou comigo o dia todo!
- Eu... - ele vira para mim, finalmente. Seu rosto está com uma expressão abatida. - Só... Umas coisas aconteceram... Problemas... Que me deixaram um pouco triste.
- Você... Não quer me contar? - tento dizer o mais suavemente que consigo.
- Eu...
- Len. - eu toco seu rosto com as duas mãos, fazendo-o olhar para mim. - Somos amigos não é? Grandes amigos.
- Sim...
- Então... Quer me contar?
- ... Tá bom. - ele respira fundo, segurando uma das minhas mãos, que ainda agarram seu rosto. - É que eu não agüento ver como a minha irmãzinha cresceu.
Ele sorri para mim, só então, entendo que ele não está falando de Rin. E sim, de mim! Eu o abraço e sinto meus olhos se encherem de água.
- Não precisa ficar assim, tá legal? - eu o abraço mais apertado. - Não importa com quem eu fique ou deixe de ficar, vamos continuar sendo amigos. Grandes amigos. Quase irmãos.
- Pensei que já éramos irmãos. - nós dois rimos e vamos atrás de Rin, terminando o abraço.
Ao chegar, acho que ela percebeu meus olhos chorosos e os de Len, mas não disse nada. Seguimos nosso caminho, até nossas casas.
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À tarde, recebo uma ligação de Kaito. Trocamos nossos números hoje, no clube. Ele me chamou para um encontro, acabei aceitando, dizendo que em meia hora estaria no lugar marcado.
Começo então, a me arrumar. Tomo um banho, visto uma calça com jeans preto, uma camisa sem mangas, listrada com babados, sapatilhas azul-marinho e prendo os cabelos em duas marias chiquinhas. Não sei porquê, mas isso tudo está me lembrando Melt. Uma música que compus ano passado. Começo a cantarolar essa canção, enquanto deixo minha casa.
Pela primeira vez, vou sair com meu príncipe.