Depois de muito implorar, eu e Rin vamos para o cinema num shopping perto de casa. Eu precisava disso. De uma folga de tantos exercícios. Aqueles números já estavam me deixando tonta.
Compramos entradas para um filme romântico e pelo que a sinopse diz, é a história de um triângulo amoroso. Ugh! Penso. Odeio essas histórias melosas de shoujos. Odeio shoujos. Apesar de adorar romance, mas odeio shoujos. Sempre a mesma história, sempre a mesma baboseira. Ah, Ja falei que odeio shoujos?
Agora, eu e Rin estamos na fila para entra na sala do filme. Olho ao meu redor e, na fila ao lado, vejo algo que me faz corar. Kaito. Kaito estava ali, ele irá assistir um filme de terror, segundo a placa enorme do cinema.
Uma imensa felicidade me toca. Mas de que isso adianta? Como se o fato de ele estar aqui, muda o que ele não me enxerga. Ele não me vê. Estou aqui, Kaito-kun! grito nos meus pensamentos. Estou aqui!
Logo, o resto de felicidade que eu sentia, se foi. Pois ao seu lado está Lily.
Afinal, o que ele viu nela? Uma garota metida a rebelde que no fundo eu sei que teme ser expulsa ou coisa pior. Não culpo as amigas dela por serem... Diferentes, também.
Cul e Sonika têm cabelos tingidos, usam lentes de contato e roupas muito coloridas. Seguem a sua "líder" aonde quer que ela vá. Yowane Haku está sempre bêbada ou de ressaca. Sempre está metida em escândalos de quando estava porre e sempre usa blusas curtas com decotes que realçam os seios.
Baixo a cabeça. Triste. Rin acaba percebendo meu jeito.
– O que houve? - aponto para o que vi - Oh...
– Argh...
– Miku, lhe darei duas opções - ela estende dois dedos e suspira antes de falar - ou você o esquece de uma vez, ou faça ele te ver de uma vez!
– segunda opção. - digo sem pensar duas vezes - me recuso a esquecê-lo.
– ... Se eu fosse você, teria escolhido a primeira...
Eu a olho séria e nossa fila finalmente é liberada para o filme.
– Só espero que tenha feito a escolha certa... - ela fala antes de andar.
– Eu também.. - murmuro.
Então, entramos na sala.

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Até que o filme era legal. Era a história de uma garota que gostava de um popular bem mais velho que ela. Ele não a conhece, então ela vive um amor platônico, até que ele descobre e eles começam a sair juntos. Mas o melhor amigo da garota se confessa e ela fica dividida, mas acaba por decidir ficar com o amigo, pois ela confia mais nele. O popular logo arranja outra garota, mostrando que ela era apenas mais uma na vida dele.
Ao final do filme, as luzes se acendem e olho para Rin. Ela está chorando. Rio de sua cara e ela me xinga de coração de pedra algumas vezes.
Compramos sorvetes e eu vou para casa, já que minha amiga foi embora também.
Chegando em casa, encho minha banheira com água morna, dispo-me e mergulho meu corpo todo dentro dela, deixando só a cabeça para fora. Banhos são ótimos para pensar. Pelo menos para mim.
Começo a pensar. Pensar em como minha vida é entediante. Pensar no meu amor impossível com Kaito. Pensar nas minhas notas. Tentar lembrar da minha origem.
Saio do banho. Esvazio a banheira, vou para meu quarto e visto um vestido simples (estampa jeans, tomara que caia e a barra dele é franzida).
Deito na minha cama, com os cabelos soltos e molhados. Volto aos meus pensamentos tristes. E se Kaito não for a pessoa certa? E se eu estiver me iludindo de novo? Mas... E se eu estiver me trancando? Me proibindo de ser feliz!? O que devo fazer?
Pego um lápis e um caderno que sempre uso para essas coisas. Pensar nisso tudo me deu um certo tipo de inspiração. Escrevo o primeiro título que me vem a cabeça.
"Romeu e Julieta"
Mas o analiso e acabo por reprová-lo. A obra de Shakespeare fala sobre um amor proibido. E meu amor por Kaito não é proibido. É impossível.
Tento pensar em outra coisa. Alguma outra princesa talvez. Opto por escrever o nome de minha favorita. Risco o nome "Julieta" no título e escrevo ao lado: "Cinderela".
"Romeu e Cinderela"
Perfeito. Simplesmente perfeito. Mundos diferentes. Um amor impossível. A pequena e excluída Cinderela e o grande e famoso príncipe Romeu.
Penso um pouco e começo a escrever o corpo da música.

"Não deixe que meu amor se tranforme em um drama como o de Julieta
Me leve para qualquer lugar longe daqui

É só isso que eu te peço"

Nessa primeira estrofe eu quero dizer exatamente o que está escrito. Sem rodeios.

"Papai e mamãe por favor vão dormir
Desejo a vocês bons sonhos
A essa hora os adultos deveriam estar dormindo
Uma doce bala de ilusões
Minha perna denuncia como estou nervosa
Até onde vamos chegar essa noite?"

Fico imaginando se Julieta não gostaria que seus pais tivessem sofrido o mesmo fim que ela teve no final da trama. Mas descarto essa hipótese, pois como uma boa filha, Julieta amava seus pais. Eu não sei o que é isso. Mas não pense que fico triste por isso. Foi para um bem maior, o meu dom, que eu não recebi pais.

"Não seja rude, me trate com carinho
Eu não gosto de morder coisas ainda
Culpe os doces que mamãe sempre me fez...
Se existe algo que eu não entendi,irei descobrir
Isso não é normal?
Me mostre tudo o que você esconde
Então eu lhe mostrarei tudo o que tenho..."

Essa última parte saiu bem tensa. E se pensar maquiavelicamente, entenderá o que quis dizer. Isso mesmo. Coro e volto a escrever as coisas que vêm na minha cabeça.

"Eu sempre quis amar que nem a Cinderela
Mesmo que só tenha um uniforme para vestir
Vamos deixar a mágica parar o tempo, ao menos até que alguém entre
Eu sempre esperei para fugir como Julieta
Mas não me chame por esse nome horrível
Não tenho certeza se estamos ligados pelo destino
Mas preciso acreditar nisso ou então ficarei entediada
Amor, você vai morar comigo mesmo?"

Essa parte saiu mais como um desabafo. Sempre quis amar de verdade, fazer loucuras por amor. Mas não tenho certeza se irei achar o alguém certo para isso e, por mais que ache, sempre irei carregar essa dúvida.

"O Brilho que nos une era emprestado
Eu prometo que serei uma boa menina amanhã
Então me perdoe por enquanto"

Se estiver pensando de modo errado e me trancando diante da felicidade, quero que ele me perdoe. E prometerei não ter mais desconfianças.

"Tenho renda negra na barra das minhas roupas
A porta do quarto tem as dobradiças quebradas
Então, como podemos um dia vamos avançar?"

Tenho meus defeitos... Inseguranças... Meus problemas. "renda negra na barra de minhas roupas". E se isso continuar, crescerá um relacionamento mal estruturado. "dobradiças quebradas". " então, como poderemos avançar?"

"É dificil para mim te morder, eu sinto sua dor
Eu sei que estou apaixonada, eu sei
Mas papai parece odiar quando você vem
Você estendeu a mão e me puxou para você
Mas tudo que fez foi romper meu colar
Por que você não me leva embora, meu Romeu?
Tão longe até que não possamos voltar"

Quando o vi pela primeira vez, eu soube que iria me apaixonar, mas um tempo depois meu coração se quebrou em mil pedaços, pois alem de Kaito ter começado a namorar Lily, eu soube que ele nunca iria me reparar.

"Os sinos batem que nem em Cinderela
Vou garantir que perderei o sapatinho de cristal
Então prometa que vai me achar rápido
Antes que os pesadelos me encontrem

Ela deve ter feito tudo que fiz,

Deve ter mentido sobre isso ter sido um acidente
E claro, roubei sua desculpa
Porque quero me entregar a ele
Veja, eu ainda estarei aqui quando amanhecer"

"vou garantir que perderei meu sapatinho de cristal". Prometo que irei fazer algo para me destacar. "então prometa que vai me achar rápido". Me veja logo. "antes que os pesadelos me encontrem". Antes que eu me arrependa.

"Você ao menos tenta ver meu coração?
Você consegue ver o quanto te desejo, não é?
E isso não é o bastante, sei que quer mais
Faça tudo que quiser,mesmo que não faça sentido
Parece que a felicidade
É encontrada em caixas pequenas
Então mostre-me que escolhas devo tomar
Me avise, ou vou acabar te desapontando..."

A felicidade pode ser desencadeada de pequenas ações, então me mostre que você é a pessoa certa. Me mostre que devo te escolher. " ou vou acabar te desapontando...".

"Papai e mamãe tão ganaciosos, eles continuam com a mesma vida de antes
Mas claro, vou aceitar quem eu sou,
Mesmo que eu não tenha meu machado de ouro

A mocinha que mentiu demais, Cinderela
Todos dizem que ela foi comida por um lobo
Então o que vou fazer quanto as minhas escolhas?
Me diga,ou serei devorada também
Me salve antes que coisas ruins aconteçam...!"

Me assusto um pouco com o que escrevi dessa vez. "comida por um lobo". Decisões ruins levam a tragédias. Quero que ele me mostre o caminho que devo tomar "antes que coisas ruins aconteçam...!".
Me dou por satisfeita e paro de escrever. Agora só falta cifrar.

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– Nhah, por favor, Len-kun!
– Mas Hatsune-san, eu estou ocupado - ele resmunga.
– Hunf, então o que está fazendo?
– Anh... Compondo e... Cifrando...
– Mentira!
– N.. Não é mentira!
– É sim! - resmungo - você não sabe mentir! Igual à Rin!
– Tá bom, eu vou! - ele berra
– Yaay - cantarolo - venha logo, Len-kun!
– Você fica tão meiga quando consegue o que quer... - ele diz irônico.
– Só está bravo porque perdeu uma discussão! - rio
– Argh... Enfim, já estou indo... Me espere que já vou.
– Tudo bem! - cantarolo.
– Até..
– Thau.
Desligo o telefone e aguardo Len no meu quarto. Fico lendo e analisando minha nova música.
Meia hora depois da ligação, ouço a campainha tocar. É o Len. Abro a porta e sorrio para ele.
– Bem vindo, Len-kun! - continuo cantarolando
– Tsundere... - ele murmura.
– O que?
– N.. Nada!
Levo-o até meu quarto e sentamos em minha cama. Ele pega o caderno onde escrevi a música e a analisa.
– É uma música um pouco triste... - ele põe dois dedos no queixo e não desgruda os olhos da página - ... Quer um ritmo lento ou agitado?
– Agitado, claro!
– Tudo bem...
– Trouxe o teclado?
– Sim.
Ele pega um teclado portátil vermelho e o põe no colo. Tenta alguns ritmos e depois me encara.
– Gostou de algo que fiz aqui?
– Hm... Ainda não... - afirmo.
Ele continua tentando até que faz um ritmo que gosto muito.
– Esse! - grito quando ele o toca.
– Esse? - o garoto repete a ultima tentativa.
– Sim, esse!
Ele faz alguns ajustes e adiciona detalhes à melodia, até que escreve as notas no caderno e cifra minha música inteira.
– Pronto! - ele anuncia.
– Nhah, obrigada, Len-kun! - pulo e o abraço - Ah, já sei! Vou te chamar só de Len agora! Me chame só de Miku, ok?

– Anh... Ok...
– Ah, Len! Trouxe seu baixo? Sabe que prefiro você tocando baixo!
– Sim, eu trouxe e sim, eu sei - nós rimos e ele tira o instrumento de uma capa do seu formato.
O loiro começa a tocar uma melodia que me é familiar. I Like You, I Love You. Rin que compôs quando estávamos no nono ano. Começo a cantá-la enquanto Len toca.
Fico olhando para o baixista. Seus cabelos loiros presos em um pequeno rabo de cavalo,seus olhos azuis um pouco escuros, seus dedos ágeis contra as cordas do instrumento.
É por essas coisas que estou no clube de música. Clube de música... Paro de cantar, o que faz Len parar de tocar.
– O que houve? Sabe que gosto quando canta.
– Eu sei... - miro o chão - É o clube...
– Lembrou, foi?
– Sim...
– Se não me engano, precisamos de três membros novos... - ele põe os dedos no queixo novamente - ... Ou eles o fecham, não é?
– Sim... - digo - E acho que vamos ter que arranjar quatro... Pois temo que Meiko vai sair...
– Ah... - ele cora - Meiko...
– Oh.. - me lembro do que aconteceu entre eles e o abraço de novo - Len... Me desculpe...
– Está tudo bem, Miku... - ele sorri um pouco triste - Na verdade... Acho que o que sentia por Meiko era só uma queda... Sabe, ela me deu um saquinho de chocolates e isso me motivou a falar tudo... Mas depois vi ela entregando uma caixa em formato de coração para o Kaito e eu soube o motivo da minha rejeição...
– E você não está magoado?
– Na verdade, não. Arranjei algo para me ocupar.
– E o que é?
– Uma garota - ele cora.
– Nhah, e quem é?
– Não sei se quero falar...
– Fale, Len!!
– ... Neru... Akita Neru... Ela também me entregou chocolates, então estou me ocupando com ela para esquecer o que sentia por Meiko.
– Que cruel! Você está usando ela!
– Eu sei... Me sinto mal por isso, então acho que irei resolver de uma vez.
– Faça isso. - eu o largo.
– E você?
– Eu o que?
– Miku, - ele me olha com cara de "você sabe do que estou falando" - eu li a sua música. O que aconteceu?
– Bem, - eu me ajoelho na cama e ponho as mãos sobre as pernas - eu estou um pouco triste, sabe...
– E por que essa tristeza toda?
– É que... - começo a lagrimar - Meu amor por Kaito-kun é impossível.
– Não pense assim, pequena. - é a vez dele me abraçar - Se pensar assim, seu amor vai continuar sendo impossível.
Começo a chorar de verdade, mas retribuo o seu abraço.
– Não chore... - ele diz com a voz trêmula - Se for pra chorar por ele, deveria desistir. Um homem nunca pode fazer uma garota chorar. Nem que seja sem querer. E se ele estiver te fazendo chorar eu juro que o mato.
– Estou tentando parar... - digo e rio um pouco.
– Não está, não. Se estivesse já teria parado.
– LEN! - grito irritada.
Ele faz menção de ir embora mais eu o impeço e o puxo para outro abraço.
– Quer me fazer parar de chorar? - pergunto sorrindo.
– S.. Sim!
– Toque para mim, de novo. Uma música diferente.
– Só se você cantar.
– Tudo bem. - faço uma pausa e volto a falar - Você está sendo um amigo melhor que a Rin, sabia?
– Sério? - ele ri - Fico feliz, então...
Agora Len está tocando Love is War. Uma música que compus no nono ano, junto com I Like You, I Love You de Rin. Mas uma música que usei para descarregar os mesmos sentimentos que sinto agora.
Len está sendo um grande amigo para mim... E nesse momento... Nos tornamos melhores amigos um do outro.