Capítulo 16 - Tentativa de Suborno

Contendo um grito raiva, peguei a roupa horrível que Ashley tinha deixado em cima da cama do hospital. Aquela vaca queria me provocar, só pode. Com tanta roupa no meu guarda roupa ela tinha que pegar uma blusa com estampas de patos que eu nem sabia que tinha?

Depois da minha ceninha idiota com Blake e do café da manhã oferecido pela enfermeira, o médico entrou em meu quarto, explicou toda a situação mais detalhadamente e falou que se era da minha vontade evitar visitas, esta seria atendida, ainda mais por que eu não poderia ficar estressada. Aquele meu ataque quando acordei pela primeira vez no hospital quase fez alguns pontos na minha cabeça arrebentarem. Vocês não fazem ideia do quanto eu comemorei ao saber que não veria Ashley e David, mas eu sabia que isso não iria durar pra sempre.

E não durou. Hoje, três dias depois da minha entrada no hospital eu estava voltando pra casa, sim, apenas um dia depois de toda a confusão com Blake querendo falar sobre você-sabe-o-que. Eu tinha machucado feio a cabeça, mas pelo que parecia, isso não era motivo suficiente para eu ficar naquele quarto evitando aqueles dois pelo resto da vida como eu queria. Pelo menos a vaca teve a decência de deixar a roupa enquanto eu tomava banho. Mas isso não muda o fato de que era uma roupa com estampa de patos.

Terminei de calçar as sandálias que Ashley também havia deixado e olhei para a porta branca, onde eu teria que encarar minha realidade. Eu realmente não queria abrir aquela porta, minha vontade era me esconder debaixo da cama e ficar por ali.

Odeio hospitais, por mais que eu quisesse ficar em um, eu os odeio. Por causa da minha mãe, foi em um deles que tentaram salvar sua vida, sem sucesso. Lembrava-me quase tudo dos dias mais infelizes da minha vida, os dias em que passei com meu pai, nós dois sentados em poltronas, cansados, esperando por um milagre que nunca viria. O que me fez pensar no quanto David era um bom ator. Sério, ele tinha me convencido de que parecia triste pela morte de minha mãe e tudo mais. Sínico.

Balancei a cabeça expulsando essas lembranças da minha mente, era horrível relembrar-las. Com passos hesitantes fui até a porta e girei a maçaneta para dar de cara com ninguém do outro lado. Nada de David, Ashley ou Blake.

Estranhando não ter ninguém me esperando, continuei andando pelo corredor branco olhando para os lados em busca de alguma pessoa para me ajudar, só parei de andar quando um garoto apressadinho esbarrou em mim.

– Oh, desculpe-me! – Pediu com os olhos verdes um pouco arregalados.

– Sem problemas, eu também não estava prestando atenção. Com muita pressa? – perguntei casualmente, querendo saber onde era a entrada do hospital.

– Na verdade sim, a minha namorada foi internada na emergência.

– O que houve?

Ok, eu não sei por que estou puxando assunto com esse desconhecido. Talvez seja pelo fato de que isso fosse me atrasar mais um pouco e demoraria mais para eu ser obrigada a olhar na cara daqueles dois.

– Trocaram o sanduíche dela por um de camarão, e ela é a alérgica.

– Nossa. Mas quem faria uma coisa dessa?

– Faço uma boa ideia de quem tenha sido – Sua boca contorceu em uma careta e vi que ele tinha covinhas. Covinhas! – Eu realmente tenho que ir. Foi bom com falar com você...

– Sophie. – falei abrindo um pequeno sorriso sem mostrar os dentes. Eu estava usando uma camisa com estampa de patos na frente de um garoto bonito! Que tinha namorada, mas mesmo assim, ele era bonito, e eu tinha patos na minha camisa.

– Ok, Sophie, – Ele estendeu a mão. – eu sou o Harry e a minha namorada se chama Bela.

Apertei sua mão e murmurei um “Até mais”, que nem sei se ele ouviu já que saiu correndo atrás da tal de Bela. Garota sortuda.

Ah, droga! Eu me esqueci de perguntar onde era à entrada do hospital.

Querendo me bater por ter esquecido de perguntar isso para aquele garoto, Harry, continuei andando pelo único corredor que tinha.

Caramba. Quantos metros pode ter um hospital? Por que eu acho que andei mais de um quilômetro e esse corredor ainda não acabou, e também não vi mais ninguém que pudesse me ajudar.

Espera.

Aquilo é uma luz no final do túnel? Haha, como eu sou engraçada.

Acelerei o passo e vi que era a recepção do hospital. O lugar estava bem frio e sem muitas pessoas. Nenhum sinal de alguém conhecido.

Onde eles se meteram?! Não sabia se ficava aliviada por não ter que vê-los ainda, ou desesperada, vai que eles tinham me esquecido. Se bem que isso era impossível, Ashley tinha deixado minha roupa em cima da cama algum tempo atrás, ou pelo menos eu achava que tinha sido ela.

– Senhorita Monroe.

Me virei rapidamente.

Era meu motorista, John. Mas por que diabos ele estaria aqui? Não me diga que ele é quem vai me levar pra casa.

– Eu vim buscá-la a pedido de seu pai.

O QUE? Sério que eles não vieram nem me buscar? Meu pai nem tentava fingir que se importava com a filha.

– Foi você que deixou a roupa na minha cama? – perguntei com a voz estranha.

– Sim, senhorita.

Argh. Isso era pior do que Ashley querer me provocar com uma camisa ridícula com estampa de patos.

Descontando minha raiva em qualquer pessoa que eu visse pela frente, fui fechar minha entrada com a recepcionista e devo dizer que não fui nem um pouco educada com a mulher, se bem que ela também foi grossa comigo.

John apenas me acompanhou, indicando onde estava o carro, sem dizer nada.

Quando você acha que as pessoas não podem te surpreender mais, elas te surpreendem. Eu não queria ver David quanto mais Ashley, mas eles poderiam ter a consideração de vir me buscar. É óbvio que eu daria um gelo neles, mas eles tinham que ter vindo.

Pisando duro, saí do carro sem nem agradecer o motorista, subi as escadinhas vendo o jardim que estava sempre bem cuidado com as mais diversas flores que com certeza não eram cultivadas por Ashley. Alguém iria morrer hoje, eu só não sabia quem e não me importava se iria abrir os pontos em minha cabeça, se isso acontecesse pelo menos David se sentiria culpado.

Ou não, tratando-se dele não se pode esperar nada.

Abri a porta pronta para gritar.

– SURPRESA! – Ouvi um monte de gente gritando e confetes sendo jogados em mim.

O.que.está.acontecendo.aqui?

Vi todos os amigos drogados de Blake. Nate e Jason sorriam pra mim, Ethan segurava um pacote de confete que nem havia sido aberto e Ruby ao ver que a olhava passou os braços ao redor do pescoço de Blake desajeitadamente. Ela queria que ficasse com ciúmes ou algo do tipo?

Também vi minhas colegas, Violette, Melody e Milla e todas sorriam enquanto David surgiu entre elas, seguido por Ashley segurando um bolo. Sério, que palhaçada é essa?

– Tomara que você melhore logo. – Melody falou sorrindo.

– Verdade, você não pode perder a festa que Mark vai dar na casa dele final de semana que vem. – Violette disse aproximando-se junto com Milla.

Eu ainda não entendia direito o que acontecia. Aquilo era uma festa de boas vindas?

– Hã... Obrigada.

– SOPHIE! – Esse foi o Nate que correu para me abraçar e depois pediu desculpas dizendo que tinha se esquecido de que eu estava machucada.
Não tinha nenhuma reação além de murmurar algumas palavras.

– Bela blusa - Ouvi Ruby comentar e lancei a ela um olhar mortal.

– Ei. – Jason disse sorrindo para mim. As pessoas agora pareciam ter se afastado para conversar ou fazer outra coisa.

Ashley tinha deixado o bolo em cima da mesa, depois que percebeu que eu não iria falar com ela. Até parece.

– Oi. – Sorri de volta.

Ele inclinou-se e deu um beijo em minha bochecha lançando uma piscadela para mim.

– Aqui. – Jason me entregou um copo de refrigerante e sentou-se no braço do sofá da sala.

– Obrigada.

– Você deve ter a cabeça de ferro para aguentar isso. – Ele apontou para onde acreditava estarem meus pontos. – Já é a segunda vez, teve aquela quando nós fomos andar na pista de skate.

Ri um pouco pensando como era agradável falar com Jason, era tão mais fácil lidar com ele do que com Blake, a única coisa que me incomodava era o olhar de alguém que parecia queimar encarando-me por trás.

Conversamos mais um pouco e percebi que ele era muito, muito diferente de Ethan. No primeiro dia em que eu os vi, pensei que eram parentes por causa da semelhança física, mas nem isso eu conseguia achar que eles pareciam mais. Jason era um tipo de garoto atraente completamente diferente de Ethan. Não havia como compará-los.

– Sophie. – Ouvi alguém me chamar e virei bem a tempo de descobrir que Blake era quem me encarava, mas ele logo virou-se para Ruby que estava ao seu lado, também desviei os olhos para Ashley que havia me chamado.

As coisas entre mim e Blake estavam tão estranhas e a culpa era minha. Se eu não tivesse o beijado, por que quem começou foi eu e cada vez que eu me lembrava disso sentia vontade de abrir um buraco no chão e me enterrar. Mas ele também tinha sua parcela de culpa, se aproveitou de um momento em que eu estava muito frágil e retribuiu o beijo.

– Eu e seu pai temos uma surpresa para você!

Fiz uma careta imaginando o que deveria ser. Acho que Jason viu porque logo depois soltou uma risada.

Minha raiva de David e Ashley ainda era enorme, mas eu não podia extravasar isso com tantas pessoas presentes. Eles iriam achar que eu tinha algum problema mental, o que não era mentira se você lembrar-se dos meus terrores noturnos e blecautes.

– Sei o quanto você sente saudades de Annie e Dallas, - Começou meu pai. Algumas dos meus colegas tinham parado para ouvir também. – e é por isso que...

– Nós compramos passagens para eles virem passar quinze dias aqui com você!