Adormeci e minha alma voou

Observou o corpo inerte

Levou meu coração

E ponderou

Se desvirtuaria a mente

Saiu pela janela

Correu sem pernas

Planou sem asas

Olhou sem olhos

Sonhou sem reservas

O coração acelerou

Quis gritar

Quis se perder

Vibrou fora do peito

Ao qual iria a retornar

Deitou sobre nuvens

Desbravou desertos

Valsou sobre as águas

Brilhou com auroras

Escalou cordilheiras geladas

Decidiu visitar estrelas

Se aventurou por castelos

Mergulhou em abismos

No mais profundo oceano

Por estradas infinitas andou

Enfrentou demônios dracônicos

Duelou com elementais furiosos

Se apaixonou por amores impossíveis

Coroou reis em domínios celestes

Conquistou pedaços do paraíso

O coração rugiu

Enlouquecido de amor

Radiante e extasiado

Realizando o sonho

Que o corpo desejou

Alma virada em entidade

Do corpo trocou a identidade

Adquiriu forças e poderes

Voou com as próprias asas

Que do milagre surgiram

O Universo viu nascer

Um apocalipse acontecer

Planetas conquistou e acreditou

Que um verdadeiro amor

De Shakespeare poderia viver

O palpitar falhou

A alma sentiu dor

O peso aumentou

O coração despencou

O sonho acabou

A alma retornou

O coração acomodou

O corpo despertou

A saudade se instalou

Mas a memória se perdeu.