O Deus Sem Nome e o Galho de Álamo escrita por Luiza


Capítulo 17
Nos aliamos a um pequeno gênio


Notas iniciais do capítulo

Deixei você curiosos aqui? Espero que sim... Eu acho que alguns esqueceram de mim, porque eu só ganhei três reviews no último cap.

Eu queria saber: Até agora, quais seu personagens favoritos?

Boa leitura, e me respondam, hein!



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Tentei controlar a tontura, para não desmaiar. Tanner acordara Will, que ainda estava sentado no assento, tentando se concentrar. Tanner estava pálido.

–O que está acontecendo?- perguntou, pressionando as têmporas.

–Não sei- respondi- Tenho um palpite, mas...

O trem recomeçou a andar.

–Como isso pode estar andando sem o motorista?- exclamou Will.

Alguém adentrou nosso vagão, e nós gritamos em sobressalto. Era um menino, que devia ter uns dez anos, doentiamente magro, seus cabelos loiros e encaracolados sujos e cheios de folhas, como se andasse dormindo pelo chão.

–Oi, sou Tyler- falou, apressado- Como ainda estão aqui?

–Ótima pergunta- murmurei- Não sabemos por que todos saíram.

Ele ofegava como se tivesse acabado de correr uma maratona, com seus olhos cinza-tempestuosos arregalados. Um silêncio constrangedor tomou conta do vagão, então falei:

–Sou Rose, esses são Will e Tanner.

–Prazer, sou Tyler. Não, espera, eu já disse isso, certo. Deuses, isso está me confundindo.

Will, Tanner e eu nos entreolhamos. Ele acabara de dizer “Deuses”? Acho que o estávamos encarando, porque ele perguntou:

–O que?

–Você...-tentei explicar- Você falou Deuses.

–Humm, não eu...- ele ia negar, quando viu a camiseta de Tanner, e soltou um suspiro de alívio- Vocês são semideuses? Estão numa missão?

Respondi que sim, então ele pareceu meio confuso.

–Você disse que se chamava Rose?

–É, foi isso o que eu disse.

–Ah, claro sei quem você é- tudo parecia fazer perfeito sentido para ele agora- Você é Rose Leonards, estão procurando o Galho de Álamo.

Fiquei surpresa. Ele parecia maltrapilho e descuidado, além de obviamente desnutrido, mas agia com confiança, e seus olhos faiscantes mostravam uma inteligência extrema.

–Como sabe disso?

–Minha mãe. Ela me põe a par de todos os acontecimentos quando vai me visitar.

–Sua mãe...?

–Atena- falou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Afirmei com a cabeça lentamente e tirei de dentro da mochila um pacote de biscoitos que havia comprado na loja de conveniência do posto de gasolina. Entreguei-o para Tyler. Ele não parecia o tipo de pessoa que aceitava coisas dos outros, como esmolas, preferia ser totalmente independente, mas ele agarrou a embalagem e a abriu. O garoto tentou se controlar, mas parecia não comer há dias, então devorava as bolachas com uma ferocidade surpreendente.

–O que aconteceu com você? Porque não está no Acampamento?

Esse parecia um assunto meio delicado, mas ele logo recuperou a compostura e fingiu uma voz displicente.

–Quando eu nasci, fui entregado na casa de meu pai, em um berço de ouro carregado desde o Olimpo por uma ave celestial. Mas meu pai não estava nem aí. Me manteve em casa até eu completar seis anos, me tratando como uma espécie de doença contagiosa, e então me expulsou de lá. Minha mãe me guia, me ajuda a sobreviver e me dá comida de vez em quando, mas diz que eu tenho que chegar ao Acampamento por meu próprio mérito. Acontece que fica muito longe daqui, e eu não quero acabar em um orfanato no meio do caminho.

Eu estava total e completamente desgostada. Como um pai abandona uma criança de seis anos na rua, e sua mãe, mesmo sendo uma deusa, não o leva até um lugar seguro? Isso me estressou muito. Ele era meu primo, fazia parte da família e precisava de um lar, obviamente. Tudo que conseguir dizer foi:

–Tudo bem, você vai com a gente. Vamos te levar conosco até o Acampamento depois.

Ninguém discordou, e Will murmurou:

–Com um a menos ou a mais ao lar retornarão.

Afirmei com a cabeça. Tyler, que estava abismado com minha proposta, correu até mim e me abraçou. Ele era meio baixinho para a idade, acho, pois era bem menor que eu.

–Muito obrigado- falou- Mesmo, muito obrigado.

Tanner sorria para mim, como se dissesse “Fez a coisa certa”. Mas nós ainda tínhamos um pequeno problema... A porta do vagão foi escancarada novamente, revelando três criaturas com capas pretas, dentes podres e mãos ossudas que pareciam corroídas por traças. Dementadores.

Mas aquilo era impossível! Dementadores haviam sido banidos de todos os lugares há mais de vinte anos e, pelo que eu me lembre, não tinham varinhas, muito menos permissão para usar uma das maldições imperdoáveis.

–D-d-d-de...- gaguejou Will- Rose, faça alguma coisa!

O dementador da frente começou a se alimentar da alma de Tanner. Eu queria fazer algo, mas estava apavorada de mais, Atônita de mais. Eu sabia o feitiço para repeli-los, mas nunca o havia feito. Precisava de uma memória, qualquer uma que fosse boa o suficiente.


Minha mãe segurava a minha mão e subia a colina, sorrindo. Ela arrumou a toalha de piquenique logo abaixo de uma enorme árvore, mas não importava aonde fossemos, o sol estava sempre lá, e eu adorava isso. Nós nos deitamos para olhar o céu, e tentar achar formas nas nuvens, enquanto minha mãe cantava uma melodia suave.



–O que acha do nosso piquenique em família, Rosie?


A eu de sete anos respondeu:

–Não é em família. Richard não está aqui- o sol brilhou ainda mais intensamente.

Minha mãe sorriu.

–É em família sim. Você vai entender um dia, meu raio-de-sol- e começou a me fazer cócegas.

Aquele momento nunca fizera tanto sentido para mim quanto naquele momento, e me deixou extremamente feliz. Uma felicidade que nem mesmo os Dementadores mais horríveis conseguiriam arrancar de mim.

Expecto Patronum!- exclamei, o mais claramente possível, e o mais majestoso dos leões despontou de minha varinha, em sua forma espectral, afugentando os Dementadores ás pressas. Nunca pensei que o feitiço exigisse tanto esforço, e desmaiei, caindo bem a empo de Will me segurar.

______________

Bip. Bip. O barulho estava começando a me deixar com dor de cabeça. Bom, mais do que eu já estava. Acho que eu estava deitada no chão.

–Ah, que droga!- exclamou quem eu achei ser Tyler, muito irritado. Um chute.

–Se você ficar chutando o painel nunca vai conseguir consertar- Tanner tentou acalma-lo- Você é filho de Atena, não de Hefesto. Paciência.

–Ei gente- a voz de Will parecia mais próxima-, ela está acordando.

Consegui abrir um pouco os olhos, a visão embaçada não me deixava ver muita coisa, mas... Novamente, a jaqueta de Tanner estava sobre meus ombros, e eu não conseguia parar de tremer.

–Você devia parar de ser cavalheiro- falei para ele, tentando me sentar-, e se preocupar um pouco com você também. Eu não fui atacada, mas você foi.

–Não estou com frio- argumentou, mas seu queixo bateu em contraponto.

–Aham, estou vendo. O que aconteceu?

–Aqueles monstrengos congelaram o motor e o painel de controle- murmurou Tyler, apertando uma série de botões brilhantes- Estamos parados de novo.

–Essa é a cabine do motorista?- os três fizeram que sim sem olhar em minha direção- Estamos muito longe?- afirmaram novamente.

–Uns vinte quilômetros- respondeu Tyler, ainda concentrado nos botões.

–Não é tão longe assim. Nós podíamos- um estampido vindo do painel cortou minha frase.

O menino soltou algumas palavras não muito bonitas em grego antigo e virou-se para nós.

–Queimou. Nós vamos ter que conseguir outro transporte.

Descemos do trem, nem um pouco animados em ter que andar vinte quilômetros, mas que escolha tínhamos, certo?

–Você não trouxe sua vassoura?- perguntou Will, e eu respondi que não- Ótimo...

–Vassoura?- Tanner pareceu impressionado- Tipo, vassoura voadora?

Lancei um olhar preocupado para Tyler. Não sabia o que ele ia achar disso. Notando meu olhar, ele disse:

–Eu sei que você é uma bruxa, a propósito. Minha mãe me disse isso também.

–Oh, tudo bem. Só me lembre de nunca contar um segredo para a sua mãe. E, sim Tan, uma vassoura voadora.

–Não é só uma vassoura!- exclamou Will- É uma Nimbus 3006! Aquilo voa! Literalmente.

Eu ri do comentário. Era verdade, é claro, era a melhor vassoura do mercado atual.

–Tomara que me ajude a entrar no time- comentei- Se voltarmos vivos, eu quero dizer.

–Tá brincando?- ele ignorou meu último comentário- Você vai ser a melhor artilheira que a escola já viu.

–Artilheira?- perguntaram os outros dois.

–É- falei- Do time de Quadribol.

–O que Hades é Quadribol?

–Simplesmente o melhor esporte da terra!- respondeu Will, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo- Três artilheiros, dois batedores, um goleiro e um apanhador em campo com vassouras. Os artilheiros tentam marcar pontos com a goles, e os batedores desviam os balaços, que são tipo bolas encantadas que podem acabar arrancando sua cabeça. E o apanhador vai atrás do pomo de ouro, que é uma bola minúscula com asas. Quando ele captura, o jogo acaba e ele ganha cento e cinquenta pontos para seu time. É incrível.

Eu totalmente concordava que era o melhor esporte da terra. Will e eu compartilhávamos a paixão pelo Quadribol, mesmo eu torcendo pelas Harpias de Holyhead e ele para os Falmouth Falcons. Costumamos fazer apostas com todo o salão comunal sobre quem ganharia a temporada de jogos, ou a Taça da Liga. Eu geralmente ganhava, pois as Harpias estavam em um ótimo momento nos últimos dois anos, até Ginny Weasley se aposentar, e ele acabava tendo que pagar minha Cerveja Amanteigada.

Andamos por mais ou menos meia hora, enquanto explicávamos a Tyler e Tanner todas as regras do jogo, e eles pareciam estranhamente interessados. Mais meia hora, e estávamos sem mais assunto. Mais meia hora. O cansaço começava a tomar conta de mim, e tudo o que eu queria era sentar e comer alguma coisa. Eu até sugeriria isso, mas não tínhamos comida. Havíamos saído dia dezesseis, três dias atrás. Além daquele, restavam-nos três dias até o solstício de verão, o grande encontro dos Deuses, e nosso prazo de devolução para o Galho. Eu já estava começando a pensar que nunca chegaríamos à Washington a tempo de evitar uma guerra, quando eu vi. Provavelmente, era a coisa mais linda que eu já havia visto, conduzido pela mulher mais bonita que eu já havia visto.

A carruagem púrpura Era puxada por dois pegasus malhados, e as rédeas refletiam todas as cores do arco-íris. O majestoso veículo aterrissou bem ao nosso lado, e dele saiu a sorridente mulher. Eu não daria a ela mais de vinte anos. Seus longos cabelos loiros estavam enfeitados com uma coroa de simples flores-do-campo, e ela vestia uma túnica grega de um ombro só fixada em sua cintura por um cinto rosa-shocking que combinava perfeitamente com a cor de suas unhas. Seus olhos incrivelmente verdes estavam delineados também com as cores do arco-íris e seus lábios, coloridos com um intenso tom de vermelho. Seu sorriso era impecável, e eu pude perceber que os meninos estavam de boca aberta. Sem falar, é claro, em suas asas brancas, que se localizavam nas costas e nos tornozelos.

–Querida!- exclamou, abrindo os braços para mim e me dando um abraço. Sua voz era calma e delicada, como a de um anjo- Seu pai estava totalmente certo, você é linda!

–Obrigada- falei, meio confusa- Mas você é...?

–Ah, sim, onde estão meus modos? Sou Eos, a Deusa do alvorecer, trabalho para seu pai há muito tempo. Ele me mandou busca-los e leva-los até Washington.

–Mas eu pensei que os deuses não poderiam intervir nas missões de seus filhos semideuses.

–E não podem, mas seu pai nunca foi muito de respeitar as regras, certo?

Ela riu calorosamente. Irradiava uma leve luz rosada, exatamente da cor do céu ao nascer do sol.

–Eles são lindos!- disse Tyler, aproximando-se dos cavalos.

–Fico feliz que tenha gostado, gracinha. Esses são Lampo e Faetonte. Agora subam, vou leva-los até a cidade.

Subimos na carruagem sem teto ou paredes, e logo estávamos voando sobre a estrada, logo abaixo das nuvens. Eu estava feliz por estarmos chegando, e também por meu pai ter mandado ajuda, mas eu sabia que o fim estava próximo. Fosse isso bom ou ruim, iríamos ao encontro de Dárion, e tentaríamos recuperar o que fora roubado.

Mais três dias. Apenas isso.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Deixem reviews!