O Deus Sem Nome e o Galho de Álamo escrita por Luiza


Capítulo 15
Nosso estranho encontro com os pretzels da maldade


Notas iniciais do capítulo

Leitores! Preparados para a missão? Monstros, revelações, viajem e tudo o mais...
Antes de começarmos, eu queria agradecer à "A Fã de Clarisse de La Rue xD", a Luna, por me ajudar na composição desse capítulo. Sua ajuda foi muito útil :D
Também queria agradecer a "IJustBelieve" que escreveu uma recomendação linda de mais! Só os escritores sabem como é bom ler as opiniões de vocês, e eu estou muito feliz mesmo, obrigada a todos que comentam, e aos que não comentam também. Vocês fazem meu dia!
/Lu



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Você vem comigo, sussurrou a voz fria do deus em meu ouvido.

Eu estava novamente em frente ao trono vermelho, mas dessa vez meu corpo estava lá também. Mais uma vez, a imagem do homem não estava nítida. Ele estava diante de mim, e abriu um sorriso tão gelado que fez um arrepio percorrer minha espinha. Tentei correr, mas eu não podia. Meus pés estavam presos.

Dárion segurou meu braço esquerdo, e minha cicatriz, a que fora feita pela quimera, ardeu em chamas, numa dor excruciante que me fez ver dois enormes pontos pretos em frente aos meus olhos. Eu gritei, agonizando, mas tudo o que ele fez foi repetir:

–Você vem comigo.

A cena mudou.

Eu estava no Olimpo, mas não o mesmo Olimpo que eu havia visitado em meu outro sonho. Os tronos eram os mesmos, mas a sala era mais modesta, mais simples. Haviam duas enormes janelas, por onde pude ver a vista. Bem embaixo de onde eu estava, descendo uma enorme montanha, encontravam-se milhares de casinhas brancas com telhados azuis, e um mar que parecia feito de tinta da mesma cor.

Sentado no trono maior, o bem do meio, estava um menino que não deveria ter mais de nove anos, com cabelos pretos como grafite, na altura dos ombros, e olhos brilhantes também incrivelmente pretos, fingindo dar ordens a criados invisíveis. Na outra extremidade do salão estavam um homem de postura pomposa e ar de superioridade, com cabelos curtos e barba preta, e uma mulher elegantíssima, usando uma túnica grega esvoaçante de um tom marfim e uma coroa de louros nos cabelos castanhos brilhantes e encaracolados. Zeus e Hera.

Como num passe de mágica, apareci ao lado deles. Àquela altura, eu já havia percebido que ninguém podia me ver.

–Não sei o que faremos com ele, querido- sussurrou Hera para o marido- A situação vem se agravando. Até mesmo Ártemis teve seus poderes copiados.

–Eu sei- respondeu Zeus seria e gravemente- Pobre garota. O único homem, ou melhor, menino em que ela confiava além do irmão. Achei até que Dárion a faria desistir desse voto ridículo de castidade.

Então aquele menino tão pequeno e indefeso era Dárion?

–Oh, santo Olimpo!- exclamou a mulher, abanando-se com a mão- O que faremos, Zeus? Se o povo descobrir...

–Não vão!- interrompeu Zeus, tentando convencê-la.

–Mas e se descobrirem? Ficariam malucos! Declarariam guerra contra nós!

–Você acha que teriam alguma chance?- Perguntou Zeus, descrente, o que era engraçado levando em consideração que foi exatamente o que Dárion falara em meu último sonho.

–Não os subestime- aconselhou Hera- são mais fortes do que parecem.

A cena mudou novamente. Se passava na mesma sala do Olimpo, mas parecia uma espécie de reunião. Em frente ao semicírculo de tronos dos olimpianos havia um outro, branco e simples, onde se encontrava a versão jovem de Dárion, preso no assento pelos pulsos.

Pude ver lágrimas nos olhos de que eu deduzi ser Afrodite, a deusa do amor, e até mesmo do pequeno Apolo, que tinha aparência de um menino de onze anos.

Obviamente, as lágrimas escorriam sem dó nem piedade pelo rosto de Dárion, deixando sua túnica molhada e seus olhos vermelhos, mas a expressão de Zeus era dura como um bloco de concreto.

–Eu decreto- falou em alto e bom som-, que a partir de hoje, o deus Dárion será exilado do Monte Olimpo para sempre, e apagado da mente do povo grego, pelo crime bárbaro de copiar os poderes de outros Deuses. A partir de hoje, você é oficialmente um deus sem nome!

Ao ouvir essas palavras, a Menina De Onze Anos Ártemis levantou-se e saiu da sala, pisando firme, e Afrodite começou a soluçar incontrolavelmente. Atena tentava acalma-la enquanto Zeus dava ordens para levar o próprio filho embora. Dárion gritava e esperneava, repetindo que não era sua culpa, ele não havia feito de propósito, tentando, em vão, soltar-se dos dois enormes guardas que o carregavam para fora da sala pelos braços.

Seu último vislumbre foram os olhos muito azuis de meu pai, que abaixava a cabeça para secar as lágrimas.



Will e Tanner me sacudiam para tentar me acordar, chamando meu nome.

Levei a mão instintivamente ao meu braço direito, onde a cicatriz ainda ardia. Eu ainda estava meio grogue, mas consegui perguntar, com a voz embargada:

–Já chegamos em Washington?

–Não- respondeu Tanner- Não estamos nem na metade do caminho. Paramos num posto de gasolina qualquer.

–Tem uma loja de conveniência e uma lanchonete- disse Will- Achamos que poderia estar com fome.

–Acharam totalmente certo- murmurei, e meu estômago roncou como confirmação- O que aconteceu enquanto eu dormia?

–Não sei, me diga você! Ainda bem que o ônibus já estava vazio quando você gritou. Estava sonhando?

–Estava, como sabe?

–Isso é uma coisa comum entre semideuses- respondeu Tanner- mas eu nunca vi ninguém tão agitada como você – então ele corou e apressou-se em dizer:- Não que eu ficasse olhando muito. É só que... você estava muito agitada mesmo, e eu... Quer saber, eu vou ficar quieto.

–É melhor, mesmo- eu e Will falamos juntos. Ele continuou:- Com o que você sonhou?

–Humm... depois eu conto. Estou precisando de um hambúrguer!

Andamos para fora do ônibus, onde três moças vestidas com um avental xadrez davam amostras grátis de pretzels de canela com chocolate. As três usavam crachás com seus nomes. Uma delas, uma jovem bonita de cabelos pretos, tinha o nome “Tammi” colado no peito, e as outras duas, uma de Cabelos castanhos, com o nome “Audrey”, e a terceira, que tinha cabelos tão loiros que pareciam até transparentes, tinha “Halley” escrito no crachá. Franzi o cenho. Essa última, Halley, era muito branca mesmo. Tanto que as veias pareciam brilhar. Suas mãos eram doentiamente esqueléticas e seu rosto encovado me dava até arrepios. Tinha alguma coisa errada. Estava a ponto de alertar os meninos quando eles avançaram nas bandejas de doces.

Eu não os culpava, é claro. Eram pretzels muito bonitos mesmo, pareciam uma delícia. Quem sabe? Talvez ela tivesse algum problema, ou sei lá.

Certo. Era isso mesmo.

Pretzels. O cheiro de canela, sendo derretida pela massa ainda quente, adentrou minhas narinas. Que mal faria comer um doce? Um só.

Tammi viu o jeito com que eu olhava para as bandejas e sorriu.

–Vamos, querida, coma um pretzel! Estão uma delícia!

Meu alarme interior disparou, mas eu tentei ignora-lo. Andei até ela e peguei um dos muitos docinhos do prato. Will e Tanner já se deliciavam com as amostras, e todas as vendedoras sorriam.

–Gostaria de mais um, William?- Perguntou Audrey, oferecendo-o a bandeja. Estranho. Eu tinha certeza de que Will não havia se apresentado.

–Ah, claro!- exclamou, pegando mais um, apesar de suas mãos estarem cheias. Os dois estavam rindo como bobos, o que fez com que as três também rissem. Coloquei o doce na boca. A coisa mais gostosa que já havia comido na vida! Depois de um tempo eu também estava rindo.

Não havia mais ninguém lá fora, além de nós seis. Todos os passageiros lanchavam no pequeno restaurante. Passageiros? Porque eu estava pensando em passageiros, mesmo? Pas-sa-gei-ros. Palavra engraçada...

Os pretzel já estavam quase no final, e isso me deixava triste. A loira, Halley, esticou a bandeja com o último doce para mim.

–Quer fazer as honras, Melrose?

Melrose? Foi isso que me fez acordar.

Se você é um semideus, aprenda: Se as pessoas só te chamam pelo apelido, quando alguém se refere a você pelo nome de verdade, só pode significar duas coisas. 1) É um monstro, ou 2) É sua mãe zangada. Mas os dois não são tão diferentes assim, certo?

Fui chegando mais perto de Will, e murmurei quase inaldivelmente:

–Monstro.

–O que?- perguntou, confuso.

Com todo o cuidado para que as três não ouvissem, falei de novo:

–Monstro.

Will franziu o cenho, e então pareceu despertar. Virou-se para Tanner, e sussurrou algo em seu ouvido, o que o fez parecer alarmado.

–Algum problema?- perguntou Tammi.

–Humm, não- respondi, tentando parecer calma- É só que... nós realmente precisamos ir. Obrigada pelas amostras e tudo o mais- eu já estava me virando, seguida pelos meninos, quando ela segurou meu braço, cravando as unhas perfeitamente pintadas de vermelho em minha cicatriz.

–Pensou que fosse fugir tão fácil, filha de Apolo?- Os olhos dela haviam acabado de mudar de cor, para um vermelho intenso. Olhei para para baixo, para suas pernas. Não podia ficar mais bizarro que isso. Uma era feita inteiramente de bronze, e a outra era peluda como a de um lobo. Como eu não havia notado antes? Nem isso, nem seus dentes pontudos de vampiro.

E as outras duas... Audrey tinha serpentes no lugar das pernas, e Halley não parecia mais transparente. Ela era. Como um fantasma.

Tentei me soltar, mas toda vez que puxava o braço, a cicatriz doía mais. Já havia começado a se abrir, e estava sangrando. Tammi sorriu, e deslizou o dedo indicador suavemente por toda a extensão do corte.

–Parece que você está sangrando, semideusa- E então levou o dedo à boca, como se estivesse provando o glacê de um bolo.

Eu estava me esforçando muito para não chorar.

–O que vocês querem?- perguntei.

–Ah, não é óbvio?- disse a fantasmagórica Halley- Temos que mata-los. Os três.

Tanner já havia sacado sua lança-desodorante, e a apontava para Tammi.

–Jura? Pensei que só nos quisessem como café-da-manhã- murmurou.

–Na verdade, o café vai ser um... bônus- respondeu, sem afrouxar as unhas em meu braço- Nosso mestre nos mandou para acabar com vocês.

–Seu mestre?- indaguei- Você quer dizer Dárion?

Ela sorriu e me deu um tapinha na bochecha.

–Menina esperta.

É, pensei, muito esperta.

Joguei a perna esquerda para cima e a empurrei para trás com o pé, me livrando de suas garras.

–Corram!- gritei para Tanner e Will, que estavam meio surpresos com meu golpe, mas que me obedeceram.

Corremos para os fundos do posto, onde tinha uma espécie de estacionamento de funcionários, com apenas dois carros. Obviamente, os monstros vieram atrás. Saquei minha espada, e Will uma flauta de bambu muito bem feita, mas que me parecia totalmente inútil no quesito combate.

–Tá tudo errado aqui!- murmurou para nós- Monstros não atacam assim. Se for mais de um, vão ser da mesma espécie, e não três completamente diferentes.

–Quem se importa, Will? Só quero acabar com elas de uma vez!

As três riram.

–Acabar com a gente?- caçoou Audrey- não podem acabar com a gente!

E então a situação ficou realmente estranha. As três começaram a se fundir!

Viraram uma espécie de massa cinzenta, e se uniram, voltando a tomar cor em uma forma completamente diferente: Uma serpente de uns quatro metros de altura, com olhos de bronze e costas peludas, com dois braços fantasmagóricos enormes, mas que pareciam poder pegar qualquer coisa. Também acho importante mencionar que as presas eram quase do meu tamanho, e que o hálito era ainda pior do que o de uma cobra comum. Sangue, veneno e cadáver.

–Humm- murmurei- Monstros deveriam mesmo fazer isso?

–Não- respondeu Will- Não mesmo.

–Ótimo.

Voltei a olhar para o mostro que na verdade eram os monstros, ah, vocês entenderam. Fitei-a por um tempo, mas depois me referi a Tanner:

– Que animal é este? - perguntei ainda com os olhos nele.

– Sei lá, nunca vi um destes antes - respondeu-me o imprestável.

– Nossa grande ajuda... - se eu queria isso eu teria perguntado à mim mesma.

– Você sabe, por acaso? - perguntou irritado.

– Não, mas... - comecei.

– Mas nada, se você não sabe, não pode falar nada! - Ele me interrompeu. Tudo bem, ele estava começando a me irritar seriamente.

– Eu ... - Eu ia começar a falar novamente

– CALEM A BOCA E PRESTEM ATENÇÃO NELAS, SERÁ QUE PODEM PARAR DE BRIGAR POR PELO MENOS UM MINUTO? - Gritou Will com a paciência esgotada. A parte boa, é que ele nos alertou, e a parte ruim, é que fez o mesmo com a fera que ainda não sabemos o que é. E estamos longe de saber como derrotá-la.

Fiz um plano rapidamente, e logo o compartilhei:

– Olha, vamos fazer assim, Tanner, pegue a sua lança e o abata pela direita, e eu vou pela esquerda. Juntos, acho que podemos dar um jeito.

– E eu? - Perguntou Will

– Eu, anh, é... Jogue latas nele, é isso aí! - falei meio incerta, não sabia o que Will poderia fazer em uma luta, creio que ele não tenha uma espada escondida, e isso foi o melhor que eu encontrei para ele. Will ficou meio irritado, então Tanner veio me salvar dizendo:

– Ela estava brincando, Will - disse com uma gargalhada - Pode usar a sua flauta, e fazer alguma mágica- completou.

Eu fiquei meio "MASOQ?", mas não falei nada, só fiquei quieta. Afinal, não quero piorar a minha situação.

Fixei meu olhar no monstro e disse:

– Gente, tá na hora de irmos derrotar um monstro- ele... eles, como for, já estava a nossa frente, não precisamos nem andar muito, só uns seis ou sete passos.

Desembainhei a espada e comecei a atacar, junto com Tanner.

Eu nunca admitiria isso para ele, mas ele Tanner era um lutador incrível. O melhor que eu já vira, na verdade. A maioria dos seus irmãos eram grandes e corpulentos, mas ele era ágil, e atacava com golpes que eu nunca vira, fazendo cortes na pele da víbora. Eu também estava tentando, mas sem muito sucesso, e acho que foi por isso que o monstro parou de prestar atenção em mim, e se concentrou apenas nos ataques de Tanner. Era óbvio que ia chegar uma hora em que ele ficaria cansado, e quando isso aconteceu, uma das mãos fantasmagóricas da fera o pegou pela cintura, fazendo a lança cair de sua mão.

Will correu para o meu lado, e começou a assoprar algumas notas na flauta de bambu. A melodia era estranhamente similar a pôneis malditos, mas eu acho que funcionava, pois algumas raízes começaram a perfurar o asfalto e se enroscar no corpo do monstro. Não acho que ele realmente se importou, porque também pegou Will pela cintura, e o elevou.

–Ah, mas que droga!- murmurei.

Imagina um troço como aquele, tentando matar você, seu melhor amigo e seu aliado? Sim, aliado porque eu e Tanner não somos amigos. Continuando, eu estava dando estocadas constantes e ritmadas, mas a Senhorita Sou Três Monstros Diferentes começou a notar um padrão, e a me golpear também. Ela me deu uma rabada feia no rosto, que me lançou para longe. Eu estava começando a me sentir cansada, e se não me apressasse, todos acabariam mortos antes da metade do caminho. Eu não daria essa satisfação para o maldito deus!

Gritei para que Will e Tanner pudessem me ouvir:

–Tapem os ouvidos!

–Por quê?- gritou Tanner de volta.

–Só me obedeçam, por favor!- eles se entreolharam e fizeram o que pedi.

Respirei fundo e fechei os olhos. A primeira musica que veio na minha cabeça foi Iris, do Goo Goo Dolls. Eu precisaria de toda a concentração possível, para que o monstro pudesse me ouvir bem. Comecei.

And i’d give up forever to touch you | ‘cause i know that you feel me somehow | you’re the closest to heaven that i’ll ever be | and I don’t wanna go home right now. And all I can taste is this moment | and all I can breathe is your life | and sooner or later it’s over | I just don't want to miss you tonight | And I don't want the world to see me |'Cause I don't think that they'd understand | When everything's made to be broken | I just want you to know who I am.

Abri os olhos logo depois do refrão, acho que já seria o suficiente.

A cena com que me deparei, admito, era um tanto quanto patética: Uma cobra enorme com braços-fantasma e costas cabeludas com os olhos de bronze totalmente desfocados (isso era possível?), e segurando dois meninos com as mãos pressionadas contra os ouvidos e com caras abismadas. Tentei soar o mais firme possível quando disse:

–Solte-os!- uh-oh. Acho que eu deveria ser mais especifica, pois o monstro, literalmente, os soltou. Será que eu não fazia nada certo?

Puxei a varinha e, no desespero do momento, gritei:

Aresto Momentum!– Will e Tanner pararam alguns centímetros do chão antes de cair, o que não provocou nenhum dano ou ferimento. Ah, pobre Adams, agora parecia ainda mais abismado. Olhava de meu rosto, para o do monstro hipnotizado, para a varinha na minha mão sem parar. Resolvi ignorá-lo por um instante quando senti o peso em minha mão direita. Era meu arco.

Toquei as penas das flechas atrás de minhas costas e puxei uma, que tinha um escrito na lateral: Explosiva.

Disparei-a onde achei ser o coração do monstro, que explodiu em uma montanha de pó.


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Notas finais do capítulo

Entããããããããão? Gostaram? O que acham que tá acontecendo? Porque os monstros estão agindo estranho? As respostas estão na cara de vocês! Sexta, no Globo Repórter.
/Lu