Gil e a detetive

Ao estacionar o meu carro pessoal na porta do prédio de Sofia percebo que nenhum de nós sabe como proceder. Nós comemos, rimos, conversamos. Eu não nego também que há certa química entre nós. Desde aquela primeira cena em que trabalhamos juntos, Sofia demonstrou claramente certo interesse em mim. Já havia algum tempo que eu me encontrava em uma situação semelhante, então era esperado que eu me sentisse lisonjeado com a atenção. Até mesmo Warrick que vive cheio de mulheres em cima deles se sentiria assim. E eu sou solteiro, saudável...não vi mal algum em corresponder ao flerte.

Talvez naquele momento eu não esperasse que nada demais acontecesse entre nós. Mas o fato é que Sofia se mostrou uma mulher muito interessante e, milagre dos milagres, seu interesse em mim não desapareceu. Ajudava muito o fato de que ela era supervisora do turno diurno então não havia nenhum impedimento burocrático caso nós quiséssemos levar nosso relacionamento a um nível maior. Lembro de ficar remoendo isso nas hora vagas,mas como estávamos em turnos diferentes não tivemos muitas oportunidades para qualquer coisa. Então Ecklie fez o favor de demover Sofia e coloca-la para trabalhar sob minha supervisão.

Quisera o destino naquela ocasião tirar uma com a minha cara. Não consigo acreditar que Ecklie, no auge de seu desprezo pela minha pessoa, teria a sagacidade de fazer isso comigo. Colocar duas mulheres as quais meu interesse passou do profissional para trabalhar para mim. Não vou entrar nem no mérito do meu time perfeito desfalcado.

Olho novamente para Sofia, que no momento está soltando seu cinto de segurança. Rapidamente faço o mesmo e sigo até o lado do carona para abrir a porta para ela. Não importa aonde essa noite vai dar, sempre serei um cavalheiro. Ao que parece Sofia gostou do meu gesto, levando em conta o sorriso em seu lindo rosto.

Sem trocar uma palavra a acompanho até a porta de seu prédio. Agora é o momento...tenho certeza de que em sua cabeça passam perguntas do tipo, devo convidá-lo para subir ou simplesmente agradecer pela noite e ir para casa sozinha? Eu bem nem sei o que eu espero que ela faça. Sei que não consegui convencê-la de ir embora, ela está chateada demais com Ecklie para querer ficar obedecendo aos jogos dele. E isso significa que não teríamos nenhum entrave burocrático caso algo acontecesse. Mas...

–Gil?

Olho para ela e percebo um que de riso em seu rosto.

–Onde você estava ainda agora?

–Divagando...

–Posso perguntar sobre o que?

Retribuo a pergunta dela com um sorriso.

–Pensando em como ás vezes gostaria de ser um homem diferente...um homem que não pensasse tanto...

–Pois não devia...você é um homem extremamente interessante do jeito que você é.

Gil sorriu novamente. Ele gostaria de ,ao menos um dia, poder se ver pelos olhos de Sofia, assim entenderia o que ela via nele.

O silêncio se alastrou mais um pouco, com uma troca de olhares singela. Sofia queria que Grissom desse o primeiro passo, que mostrasse um pouco do que sentia. Mas ele não era assim, ela bem sabia.

–Escuta, Gil, poderíamos passar o resto da noite aqui fora ou então...eu poderia te convidar para entrar, tomar um café...o que você acha?

Gil gostaria muito de poder dizer sim a ela. Até agora, este tinha sido um dos melhores encontros que ele tivera nos últimos cinco anos. E por todos os motivos que ele passara o dia enumerando, sabia que seria uma experiência que o deixaria extremamente satisfeito. Passar a noite com Sofia retiraria toda a tensão que ele vinha sentindo e, além do mais, não acarretaria em nenhum problema em sua vida pessoal. Sofia era linda, descomplicada, inteligente. Ele queria dizer sim. Mas no final não foi isso que saiu de sua boca.

–Acho melhor terminarmos nossa noite por aqui, Sofia.

Sofia tinha um olhar desapontado, mas ela não estava inteiramente surpresa. Apesar de Gil dar todos os sinais do mundo que ele era atraído por ela, Sofia nunca sentiu dele uma convicção de querer fazer algo dessa atração.

–Ok...então a gente se vê amanhã. Boa noite , Gil- ela deu um beijo na bochecha do supervisor, abriu a porta de seu prédio e entrou.

Gil ficou ainda uns minutos parados, olhando mais uma chance de ser feliz com o sexo oposto ir embora de sua vida. Mas ele sentia que não seria certo se envolver com Sofia, não agora, quando ele estava aproveitando de uma relação tão boa com uma certa morena.

Gil entrou em seu carro e dirigiu noite adentro, deixando-se levar pela música que tocava no rádio. Não havia uma direção certa que ele quisesse seguir, mas quando a letra de uma certa música soou dos auto-falantes, ele sabia que só existia um lugar que ele queria estar agora.