Mulher América escrita por Lady Snow


Capítulo 7
Capítulo 7- Rotina.


Notas iniciais do capítulo

N/A: Bem, esse capítulo não é muito emocionante, mas ele é necessário. Desculpem pela demora, andei sem inspiração, hehe. Tenham todos(as) uma boa leitura. Vejo vocês nas notas finais ^^



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Um mês depois.



Suor, calor, fome, cansaço, irritação. Essas eram as palavras para descrever os soldados. Um sol escaldante tomava conta do céu azul, as nuvens brancas e gordas passeavam lentamente pelo céu, poucos pássaros piavam, devido o desânimo que aquele calor exagerado causava. O vento era abafado, ou se era fresco, não fazia diferença alguma em seus corpos de sangue quente. Tiro ao alvo era o exercício deste horário, todos já tinham realizado, exceto por Chris, que mostrara-se resistente aos desafios, todos os outros, menos este. Sentia dificuldade ao mirar a arma, sequer tinha passado perto do meio do alvo. Sentia ódio daquela tarefa, julgava à si própria uma tremenda inútil! Mas o que é que podia fazer?! O treinador gritando em seu ouvido e a chamando de "inapta", "inútil", "garotinha mimada", não contribuía à seu favor.


– Vamos, Wright! Estamos com fome!


Uma rajada de vozes grossas e ferozes soou no campus, apoiando o qualquer soldado que gritara enfurecido e reconhecedor das necessidades dos colegas. Achavam agora, sem quaisquer sombra de dúvida, que ali não era lugar para aquela mulher. Tudo isso é claro que teve uma parcela de inveja da parte deles. Chris era excepcionalmente boa nos exercícios físicos, inicialmente, ela resistira um pouco por falta de um bom treino intensivo, mas agora o soro estava enfim desempenhando seu verdadeiro papel. Ela sentia orgulho de seus feitos, mas o reconhecimento que ganhava era quase um nada, na verdade, era um nada. O treinador era machista como qualquer outro soldado ali, exceto pelo rapaz que tentara salvá-la havia um mês. Descobriu que o nome dele era Richard Thompsom e vinha de uma família problemática, seus pais eram divorciados e seus irmãos moravam em Los Angeles. Estava, basicamente, sozinho e portanto, resolveu tentar a sorte como militar, até porque, sempre senira certo fascínio por esta escolha de serviço. Era honroso e bem recompensado e ele gostava do que lhe era proposto.


Chris engoliu em seco. Vamos, você consegue. Pensou ela. Mas só pensou. Sua mão suava e tremia, a arma escorregava em sua mão e ela tinha de mexer os dedos para continuar com ela na mão, gotas de suor percorriam trechos estraégicos em seu corpo, estratégicos para sua raiva. Porque onde escorregavam, causavam-lhe incômodo e inquietação, se continuasse assim ela em breve sentiria a necessidade de secar aquelas gotículas agonizantes.


– Vamos, soldado! Está parecendo uma mocinha filhinha de papai.


Aquela frase. Ah, como ela odiou aquela frase, e odiou também à todas as que foram ditas que causaram-lhe certa nostalgia. Eu não tenho pai. Sussurrou ela entredentes, mais do que para si mesma do que para o brutamontes que denominava seu treinador. Firmou a arma e apertou o gatilho, o estrondo encheu os ouvidos e ela fechou os olhos, rezando internamente com todas as suas forças para que a bala tivesse, pelo menos, acertado o alvo, e não passado de raspão como das outras várias vezes. Seu coração batia frenético e uma algazarra masculina encheu seus ouvidos, abriu os olhos rapidamente olhando em volta, os homens ostentavam sorrisos aliviados e por fim, ela encarou o alvo que ficava à sua frente. De 5 círculos do alvo, ela acertou o 3º, bem na borda, por pouco não acertou o 4º. Revendo seus outros disparos feitos até agora, aquele tinha sido o mais próximo, e ela se sentiu feliz. Até mesmo o treinador parecia levemente satisfeito.


– Dispensados, vermes. Hora do almoço, façam bom proveito, moças, porque depois já sabem o que lhes aguarda. E não é um horário no salão.


Com alguns muxoxos, eles correram até o refeitório, mas não menos felizes por finalmente irem comer. Teriam uma hora até o restante dos exercícios do dia, à noite eles iriam até uma parte longíqua do bosque, fariam uma trilha noturna como se estivessem preparando um ataque surpresa, armados e transpassando um lago lamacento. As armas, pelo que foi informado, eram as de maior porte e mais pesadas, Chris não estava nem um pouco contente. Não que realmente odiasse o Exército, não, ela até gostava, mas aquilo não era algo que ela julgava perfeita para fazer. Ah, se tivesse feito escolhas melhores em sua vida... Ou melhor, se tivesse outra vida! De preferência, uma bem mais estruturada e com algum aconchego familiar. Suspirou, comeu seu almoço com tanto descaso, que sequer sentiu o gosto do alimento, não sabia nem o que tinha comido. De repente, o seu banheiro minúsculo lhe pareceu atrativo o suficiente para que ela se dirigisse até ele com certa pressa, o banho frio acalmou-lhe os ânimos e a limpou de toda a humilhação, o banho serviu como um mantra e um descarrego. Parecia que todas suas cargas negativas tinham esvaído-se pelo ralo. Ela fitou o banheiro, a tintura verde desbotada, uma teia de aranha aqui e acolá, uma pequena janelinha de vidro manchado de verniz, o box de uma lona de plástico transparente, a pia desgastada, o pequeno espelho estilhaçado na ponta, e o pequeno armário de madeira antiga. E lógicamente, o vaso sanitário, parecia o utensílio mais novo ali. Apenas os canos eram um pouco entupidos. Em um fim de semana, ela pôde limpar todo o pequeno cômodo, e sentia-se bem mais à vontade com ele limpo e de certa forma, organizado. Bem, comparado ao estado inicial, agora estava bem melhor.


Finalizou seu banho e jogou-se na cama com um suspiro cansado. Suas pálpebras fecharam-se, mas o sono não estava ali. Seniu uma súbita vontade de escrever uma carta. Mas, à quem destinaria? Não tinha parentes, nem amigos, nem namorado. Que grande ironia. Uma vontade estranha e incontrolável de escrever uma carta, mas não tinha para quem mandar. De repente, percebeu que para escrever uma carta, não tinha que necessariamente, entregá-la. Era uma espécie de desabafo, não? Podia funcionar e a descarregar um pouco do que seu interior e seu psicológico sentiam. Sentou na cadeira de madeira velha e pegou papel e caneta, jogou na escrivaninha e rabiscou algumas palavras, mas nada era o que realmente gostaria de ter escrito. Soltou um murmúrio de lamentação. Sentia e pensava tanta coisa, palavras existiam, e por que é que elas não chegavam até sua mão direita? Na verdade, era canhota. Mas a velha senhora bibliotecária do orfanato dizia que gente canhota tinha má sorte. E visto do ponto de vista do que ela vivia, achava que a velha estava certa. A velha era carrancuda, era gorda, seus olhos eram pequenos e castanhos, os cabelos eram quase todos brancos e seu rosto rechonchudo nunca demonstrara algum sinal de simpatia. Parecia sempre zangada, resmungava sempre que podia e odiava as crianças barulhentas. Julga-se então, que ela não estava no lugar correto. Mas sua vida era aquela, e não tinha nenhuma outra da qual pudesse tomar. Por mais estranho que pareça, Chris sentia uma certa afeição pela velha e a mesma, até que não odiava tanto Chris. Ela era uma criança silenciosa e fria, olhava os outros com desprezo e insignificância, como se a felicidade delas lhe fizessem pouco caso, embora internamente, ela soubesse o quanto aquilo a afetava. Não era nada anormal ela sentir-se daquela forma, mas um dia a velha lhe disse, uma das poucas palavras que trocaram na vida, uma frase que tiveram um grande significado em sua vida, que até então, ela não tinha se lembrado.


"Criança, busque a sua satisfação. Independente de qual ela seja. Não seja como eu, busque aquilo que foi destinada à buscar. Seja qual for, não tenha medo do seu destino. Ele é unicamente seu, e deve aceitá-lo."

Mas, ao que ela foi destinada à buscar? Eis a questão.

Então, as palavras foram fluindo em sua mente, e sua mão entendeu o recado. A letra fina e elegante preencheu o papel amarelado, ela sentiu-se infantil, pegou-se imaginando ser como uma escrivã medieval, escrevendo uma carta ditada pela própria boca do Rei. Riu com o próprio pensamento e balançou a cabeça negativamente, voltando à sua escrita. As palavras vinham como uma torrente de água, forte e natural. Não tinha ideia do que escrevia, mas sabia que era o certo a se fazer. Além disso, era até emocionante, tudo que é escrito impensadamente, neste caso, sai com mais facilidade, verdade e profundidade. Uma folha pela metade estava preenchida, devia estar descansando para as próximas tarefas, mas escrever estava dando-lhe uma boa sensação, e não queria parar. Palavras vinham, palavras íam, encheu finalmente quatro folhas antigas. O papel amarelado agora estava manchado de tinta preta, em uma caligrafia elegante. Não sabia como mantera a caligrafia escrevendo tão rápido, mas ao ler o que ela própria tinha depositado ali, fez com que os 35 minutos tivessem valido à pena. Sorriu satisfeita com seu resultado, mas não queria revelar aquilo a ninguém. Mordiscou o lábio inferior pensativa, vasculhou o quarto com os olhos em busca de um bom lugar para esconder. Enumerara as folhas para que não se perdesse, tinha decidido-se a escrever mais, sempre que sentisse que precisava desabafar de alguma forma. Ali ninguém era amigo de ninguém, então, tinha de aliar-se ao papel e a caneta. Fitou então a gaveta da escrivaninha, seria um lugar muito óbvio, mas resolveu abrir a gaveta. Ela não era muito larga, mas bem comprida e ao bater nela, viu que tinha um fundo falso. Não havia nada ali, o que a deixou desapontada. Seria interessante se achasse qualquer coisa ali, pelo menos haveria alguma coisa da qual pudesse se entreter em alguma insônia, que até o momento, parecia uma ideia absurda. Um dia inteiro de treinamento para uma noite de insônia? Parecia impossível ao seu ver, mas nunca se sabe. Alinhou as folhas e guardou-as abaixo do fundo falso. O fundo tinha um palmo de altura, o que parecia até assustador, comparado ao tamanho da gaveta, mas era a verdade. Depositou impecávelmente a folha lá e colocou o pedaço de madeira por cima. Sorriu. Seu segredo agora estava bem guardado. Dormiu o que pôde até a corneta ser tocada indicando que já era hora de voltar ao treinamento. Bufou contra o travesseiro. Em um mês já estava estafada da rotina, e não queria nem sonhar com o tempo que ficaria ali. Porém, conseguiu animar-se ao se recordar de seu novo amigo, não, não era Richard. Eram as palavras e o papel amarelado. Teria ela voltado à adolescência para escrever diários ou algum desabafo? Não importava. Era reconfortante e, se era para ficar bem, ela o faria.


Vestiu o outro uniforme de treinamento e andou com rapidez até a formação horizontal dos homens. Dessa vez foram usados obstáculos para trabalho em equipe, uma bomba armada para cinco minutos ficava com um grupo de 5 pessoas cada. Tinha um circuito a ser percorrido pelos soldados, em cada obstáculo de forma distinta, ficava à espreita algum soldado esperando seu companheiro dar-lhe a bomba para que ele corresse pelos pneus, subisse no muro feito de madeira, pulasse, passasse os fios de arame enfarpado, rastejasse no chão sob um comprido circuito de arame acima de suas cabeças, corresse contra os concorrentes e atirasse a bomba para longe, a fim dela estourar e não atingir ninguém. Ou, para quem resolvesse arriscar uma sorte maior, desarmá-la. Por mais simples que parecesse, não era. O campo em que faziam esses treinamentos, tinha, pelo menos, 8km de perímetro. O território era retangular, bem abaixo do sol, com uma ou duas árvores de sombra não muito altas, um raro gramado e o resto areia, para que o atrito fosse maior e mais difícil de passar. Isso com certeza devia dar alguma resistência. Os obstáculos eram postos estratégicamente para atravessar um por vez em ordem, se caso errassem, caíssem ou qualquer outra falha que viesse a acontecer, teriam de começar do começo com a bomba ainda em mãos, sem alterar o tempo dela. O tempo para a realização reduziria bastante, e eles teriam de ser extremamente rápidos caso quisessem cumprir a tarefa. A bomba não era uma bomba perigosa, era um explosivo "fraco", com pouca substância para que não causasse um estrago muito grande. Porém, ela era um pouco sensível, e se caso o soldado que a portasse acabasse derrubando-a, ela explodiria de imediato. Dentro do explosivo, possuía apenas um punhado de "estralinhos", aquelas coisas que os garotos atentados gostam de usar para assustar as pessoas com os barulhinhos e extremamente comum. Mas é lógico que, os soldados não sabiam disso, e se soubessem, não levariam o treinamento à sério, portanto, decidiram que os fariam achar que era uma bomba de verdade e que quando ela explodisse, poderia matar e/ou ferir alguém seriamente. Cada obstáculo variava entre meio e um quilômetro de distância um do outro, ou seja: eles precisariam ser muito rápidos se quisessem obter êxito.


O apito soou, o primeiro grupo lançou-se correndo, com tropeços e xingamentos, os corações frenéticos e assolados pelo medo. Um medo de perder, de ser castigado ou o pior: a bomba explodir. Os cinco homens correram afobados, lançavam-se contra os obstáculos como se realmente estivessem em uma missão com uma bomba prestes à explodir. Correram, gritaram, tropeçaram, gritaram ordens, rastejaram no chão, um a um os grupos realizaram a tarefa, até mesmo Chris. Porém, quando esta sentiu dificuldade em segurar a bomba e escalar o "muro", ninguém se dispôs a ajudá-la, então ela segurou a bomba cuidadosamente na boca, enquanto o suor salgado escorria em sua face e ardia nos olhos. Por fim, ela conseguiu, e assim que o treinamento acabou, o treinador apenas gritou um "dispensados" e nada mais. Estranho. Ele sempre fazia algum comentário, independente se fosse bom ou ruim. Viu que seu treinador seguiu o 1º Tenente, ambos conversavam aos sussurros. O que seria? Uma olhadela de canto do 1º tenente para ela foi o suficiente. O maldito iria aprontar com ela, sabia que o velho faria da sua vida um inferno, mas ele não sabia era que ela já estava habituada e, se não estivesse, ela seria forte até onde conseguisse, jamais daria sua honra de mão beijada àqueles homens.


Ao serem dispensados, ela comeu um rápido lanche e voltou para o quarto, um novo banho e dessa vez, seu pijama de flanela. Era 17h30, a simulação noturna teria início às 22h, teria um bom tempo de descanso e o jantar pela frente. Sua cama parecia muito convidativa, e foi o que fez. Deitou-se com um suspiro contente, como era bom. Não que fosse uma cama muito confortável, mas nas circunstâncias em que se encontrava, ela era maravilhosa. Não demorou muito para que adormecesse e sonhasse com um lugar escuro, uma silhueta masculina que ao invés de caminhar, parecia deslizar pelo chão, sua voz era lenta, sedutora e perigosa. "Venha, Chris. Em breve nos veremos, venha comigo..." Ele estendia sua mão, mas ela não podia enxergar muito mais que seus olhos aguados e azuis. Um azul gélido. Quase anormal. Mas era muito belo, incontestávelmente belo. "Venha" .Disse ele mais uma vez, e então, o sonho se dissipou e ela sentiu como se o chão se abrisse em um um buraco e ela fosse sugada para dentro dele. Acordou sobressaltada e ofegante. Aquilo tinha, no mínimo, sido muito estranho. Teria algum sentido especial? Ou fora apenas um delírio seu? Quem sabe... Quem sabe. Um leve tremor passou por seu corpo, ela queria esquecer aquilo, afinal, era apenas um sonho. Não era?! É claro que era. Convencia ela à si mesma.


Arrumou-se e foi para sua próxima tarefa, dando uma rápida olhadela em sua gaveta, em seguida, rumou-se para o bosque e iniciou a simulação com todos os outros, passando por lama grudenta e escorregadia, funda. Insetos, ah, como eram insuportáveis e alguns, dolorosos. Achou que desistiria pela metade, mas ao se recordar da olhadela do 1º Tenente e sua promessa, parou de fraquejar e prosseguiu. Quando chegou em seu quarto, entrou no chuveiro o mais depressa possível e livrou-se da sujeira, lavou suas roupas e a pendurou no banheiro, indo dormir em seguida. Essa era sua rotina, durante um bom tempo, um tempo de desesperança e sentimentos negativos, que serão detalhados no próximo capítulo.


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Notas finais do capítulo

N/A: Espero que tenha ficado bom... Qualquer errinho, por favor me informem, fiquei morrendo pra revisar esse capítulo todo... mas enfim, mereço reviews? *-* Aliás, quem quiser dar alguma sugestão do que gostaria ler (não vale hentai, viu?!) por favor, me digam, estou aqui para agradar vocês =] até a próxima! :*