Assassins Creed: Liberdade escrita por O Mentor


Capítulo 8
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente.
Trago para vocês mais um capítulo fresquinho. Esse demorou um pouco porque eu acabei viajando neste meio tempo. Enfim, aí está. Ficou um tanto curtinho, mas ele é como uma introdução ao próximo capítulo, que eu pretendo deixar com bastante ação.
Boa leitura!



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 Afonso de Magalhães nunca havia estado em um cerco em seus 16 anos de vida. E não estava gostando do que via.

 Empoleirado em um deque de observação logo no topo do edifício principal do Esconderijo, ele observava aquela cena brutal. Ele podia ver os corpos. Dezenas deles. Todos no chão, em posições estranhas, manchados de vermelho. Haviam duas cores principais de uniformes: o branco, dos Assassinos, e o azul, dos invasores. Afonso ainda não havia conseguido identificar quem eles eram. 

 Logo que o ataque começou, o jovem e Cauã estavam no subsolo do arsenal, visitando uma sala que não tinha contato humano desde que Miguel de Magalhães voltou para Portugal. Assim que ouviram o rugido dos canhões, a gritaria dos homens e som das armas, voltaram para a superfície com ansiedade e tensão. Ambos se dirigiram para o edifício principal, onde usaram o deque de observação para avaliar o que estava acontecendo exatamente. Era um cerco. Alguém estava tentando invadir a base. 

 Como responsável pela defesa do Esconderijo, mas ainda assim um guerreiro, Cauã deu uma rápida estudada no campo de batalha e em suas estratégias, assim como o posicionamento inimigo. Então, soltou um grito de guerra, sacou uma clava de ferro e retornou para o interior do edifício, ressurgindo alguns segundos depois pela porta de entrada, seguindo na direção do combate. Afonso permaneceu sozinho ali em cima, onde se encontrava naquele instante.

 Apesar de nunca ter estado em um cerco antes, ele conhecia algumas noções básicas de guerra, naturalmente, e havia tido algumas aulas sobre isso em seu mês de treinamento no Esconderijo. Forçando-se a ignorar o pânico e a tensão, avaliou o campo de batalha mais uma vez. Ele já havia notado um óbvio e satisfatório fato: os invasores haviam trazido apenas um canhão. E também não pareciam ter uma força de cavalaria. Suas tropas pareciam se basear na infantaria, armados basicamente com espingardas. Em alguns pontos em meio à eles, Afonso conseguia notar alguns oficiais, que comandavam seus destacamentos. O jovem ficou assombrado ao constatar a falta dos mesmos nos Assassinos. Parecia que a maior parte de seus combates era individual, apesar de receberem ordens de posição e formação dos dois homens com maior autoridade por ali: Cauã e João.

 Alguma coisa rugiu, seguida de uma explosão em algum ponto das paliçadas. Cerca de três defensores Assassinos caíram, perigosamente imóveis. Afonso constatou que havia sido o poder destrutivo daquele canhão. Aquela peça poderia ser um fator decisivo para a batalha. Apesar disso, ninguém parecia disposto a interceptá-lo. Obviamente, teriam que passar por toda a formação inimiga para alcançá-lo. 

 Foi só então que Afonso notou um detalhe interessante, visível apenas daquele ponto elevado. Apesar de cercado por alguns homens para defendê-lo, o canhão estava bem próximo da floresta densa, bem no canto da trilha. Não havia soldados por aquele lado. Caso alguém conseguisse se mover sem ser notado pelo meio das árvores, se aproximar por ali e então interceptar o canhão, as chances dos Assassinos aumentariam muito. Afonso recuou, adentrando novamente o edifício e saindo do mesmo pela porta no térreo, encontrando alguma forma de passar pela massa de Assassinos defensores, até chegar a Cauã.

 - Mentor! - Afonso chamou-o hesitantemente. 

 - Pois não? - Cauã respondeu, os olhos ainda concentrados na batalha. Novamente o rugido retumbante do canhão se fez presente, desta vez atingindo um espaço dentro das paliçadas. Assassinos foram jogados para todos os lados, alguns feridos e alguns mortos. O indígena grunhiu ao ver aquilo. 

 - Mentor, eu sei como parar esse canhão. - Afonso continuou, o rosto sério. - Eu posso me aproximar pela floresta, pelo sul. Poderei me mover sem ser notado e inutilizar o canhão. Posso até mesmo matar o canhoneiro e usá-lo a nosso favor. Vim pedir sua permissão.

 O rosto de Cauã se endureceu.

 - Você só pode estar maluco. Você só tem um mês de treinamento! Vai acabar morto. Isso aqui é um cerco real. Aqueles soldados vão te matar assim que o virem. Não é um treinamento com espadas sem corte.

 A expressão de Afonso permaneceu impassível.

 - Eu sei disso. Mas também sei que consegui sobreviver a perseguição dos soldados enquanto vinha para cá, um mês atrás. Sobrevivi à emboscada que eles fizeram naquela mesma trilha. - ele apontou para o leste. - Também sobrevivi na senzala e conseguiu matar o templário. Vamos, eu não sou tão iniciante. Eu sei me cuidar. E tanto eu quanto vocês sabemos que nossas chances irão dobrar se aquele canhão estiver fora de operação.

 Cauã pareceu pensar por um momento. Novamente a peça de artilharia rugiu, a bala de chumbo voando pelos ares até atingir um ponto no meio da formação dos Assassinos. Cinco deles caíram. A expressão do mentor passou de raiva para desespero.

 - Certo, você pode ir. - ele falou, afinal. - Tome cuidado. Não morra. E leve isto. - ele jogou alguma coisa para o mais jovem segurar. Ao tomá-la nas mãos, ele a observou com curiosidade. Parecia uma espécie de bolsa de couro, recoberta por uma substância gosmenta. Ela estava cheia com alguma coisa, embora Afonso não tivesse certeza do que era.

 - O que é isso?

 - Uma bomba. Mas não é uma qualquer. A substância que a recobre foi desenvolvida no século XV, pelos Assassinos otomanos. É extremamente grudenta. Você poderá colá-la ao canhão, tomar uma distância segura e atirar nela com a sua pistola. A explosão será suficiente para cumprir nosso objetivo. - sua expressão se tornou mais séria. - Mas tenha certeza de estar longe quando ocorrer a explosão.

 - Sim, senhor. - Afonso concordou e engoliu em seco. Tinha a impressão de que aquilo poderia explodir em suas mãos a qualquer momento.

 - Então vá. Não me decepcione. 

 O jovem assentiu levemente e correu. Atravessou o Esconderijo até uma porta lateral que ele sabia haver nas paliçadas, que o levaria até a floresta. Ele conseguia ouvir atrás de si os sons crueis da batalha que se desenrolava. Espadas se chocando com baionetas, mosquetes disparando sem piedade e os gritos de ambos os lados. A sinfonia que se formava era arrasadora. Afonso sabia muito bem que, caso não parasse aquele canhão, ele ouviria muito em breve o brado de vitória dos invasores.

 Finalmente conseguiu chegar na floresta. As árvores altas e esverdeadas assomavam sobre sua cabeça, criando sombras estranhas que o cobririam e o fariam quase invisível, graças às cores de sua nova vestimenta de Assassino. Ele ficou grato por isso. Caso usasse todas as habilidades que havia aprendido no Esconderijo, conseguiria alcançar o canhão sem qualquer problema.

 Ele se lembrou que, na Europa, os Assassinos aprendiam apenas a se moverem despercebidos pela multidão. Serem invisíveis em meio ao povo urbano. Na maior parte da América, eles haviam um bônus. Uma terra com uma grande porção de território selvagem, seria igualmente importante aprender a se mover despercebido por esse tipo de terreno. Afonso se esgueirava lentamente por meio das folhagens, arbustos, usando as sombras como uma cobertura ideal. O trajeto estava sendo mais rápido do que esperava, o que aumentava as suas esperanças de conseguir destruir o canhão a tempo dos Assassinos virarem o rumo da batalha. O som da luta e da gritaria de seus novos irmãos logo atrás de si fez Afonso querer acelerar. Mas ele se controlou. Sem que ele soubesse, uma das frases mais famosas de seu pai era: Quanto maior a precisão, o silêncio e o controle em uma missão, maiores as chances de ela dar certo. Mova-se guiando-se pela lógica e pelo instinto. Nunca deixe que suas emoções venham à tona.

 Era incrivelmente difícil fazê-lo naquele momento.

 Estando preso por ambos os lados na floresta, ele não tinha qualquer orientação que o indicasse que estava seguindo na direção certa. Se não estivesse ouvindo o constante rugido dos disparos do canhão o guiando para o leste, ele provavelmente já teria tomado um rumo errado e se perdido no meio da floresta que margeava Salvador.

 O percurso finalmente terminou. Afonso escutou uma confusão incompreensível de gritos vindo logo à sua esquerda. Isso significava que estava próximo da trilha, separado apenas pela grossa cobertura de árvores fechadas. Agachando-se para fazer menos barulho, avançou pelas sombras até um ponto em que a floresta se divida da trilha principal por apenas um arbusto médio. O Assassino esgueirou-se e escondeu-se atrás deste, atento à qualquer sinal de que estivesse próximo de seu alvo. A resposta veio logo em seguida na forma de um rugido quando o canhão cuspiu com fúria e crueldade mais um de seus projéteis letais. Quando ouviu o impacto da bala em algum lugar no Esconderijo e o baque seco de pedaços de madeira ricocheteando para todos os lados, Afonso constatou que haviam atingido as paliçadas. Ele praguejou pelo Esconderijo não ser murado por paredes de pedra, equipadas com seus próprios canhões. Ele não fazia ideia se isso ocorrera por falta de dinheiro ou criatividade dos líderes anteriores. Ele supôs que fosse a segunda opção.

 Afonso concentrou-se na missão. Cuidadosamente observou por cima do arbusto. À sua frente, estavam posicionados cerca de uma dúzia de soldados em uniformes azuis, segurando espingardas. Não estavam em posição de combate, o que acontecia quando não esperavam que um ataque fosse ocorrer ali, logo atrás das linhas de combate. Um erro tolo e fatal, Afonso pensou. Ele também notou que havia um homem com um uniforme levemente diferente. Carregava uma espada ricamente decorada e personalizada em sua bainha, o que deveria significar que fosse um oficial. Provavelmente rico. Logo atrás dele, estava o alvo do Assassino. O canhão reluzia sob o Sol quente do fim de tarde, enquanto era calmamente recerragado por uma equipe especializada. Não estavam armados. Mais um erro de confiança extrema. Pagariam caro por isso, embora Afonso ainda não soubesse exatamente o que fazer em seguida.

 Se atirar em plena vista e tentar enfrentar todos os homens era suicídio. Ele tinha pouquíssimo treinamento. As suas habilidades e a natureza da missão envolviam algo mais... discreto. Ou pelo menos, discreto até certo ponto. Com cautela, ele agachou-se novamente e avançou ainda mais no interior da floresta tropical, as folhas se tingindo de vermelho enquanto o Sol fazia sua curvatura para mergulhar sob a borda da Terra. 

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- Diogo, cubra o flanco esquerdo! Fernando, ajude os defensores ao sudeste! Ipupiara... Pelo amor de Deus, homem, bata na cabeça dele com mais força! 

 Bem distante de Afonso, Cauã usava toda a sua experiência militar e habilidade como guerreiro para massacrar seus inimigos. Era assim que havia desenvolvido sua arte de luta. Embora ele soubesse que Miguel de Magalhães estivesse certo em muita coisa, discordava de seus métodos na guerra. Planejar, traçar esquemas e esperar o inimigo? Isso era besteira. A guerra não era uma arte ou uma brincadeira. Era algo sério, com objetivos. Não se desvie deles, ele pensava. Leve a luta até o inimigo e o massacre. Não dê tempo para que se reagrupe. O ataque é sempre a melhor opção. Era assim que havia crescico e ensinado. Mesmo tendo a vida salva por Miguel, não trocaria seus ideiais. Apenas incorporaria alguns novos que se identificasse. Estranhamente, isso não parecia incomodar ou chatear o português. Isso havia sido um dos motivos para que o indígena tivesse aceitado entrar para a Irmandade. Era como se estivesse em uma família novamente desde a sua aldeia. Uma família que não o julgava por aquilo que era. Pelo contrário. Eles o aceitavam.

 Com precisão impressionante, Cauã virou-se a tempo de bloquear a baioneta de um soldado perplexo, que havia se aproximado silenciosamente por trás, e usar sua clava para desferir um golpe certeiro na lateral da cabeça do agressor. O som de ossos se esmagando veio logo antes do cadáver cair sobre o chão poeirento. Com tristeza, o mentor olhou para o próprio braço. Havia um arranhão de leve logo acima do pulso. Constatou que estava ficando enferrujado e, talvez, velho demais para essas coisas. 

 - Que se dane! - ele gritou, a adrenalina por estar dentro de uma batalha enchendo seu corpo novamente. Como um animal selvagem, ele atravessou as fileiras organizadas dos defensores Assassinos, procurando o seu próprio lugar na linha de frente. Porém, no fundo de sua mente, uma preocupação insistia em incomodá-lo. Parecia que Cauã, o Mentor dos Assassinos Brasileiros, torcia para que o novato Afonso de Magalhães retornasse em segurança para o Esconderijo.


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Notas finais do capítulo

Aguardo suas reviews. E não percam o próximo capítulo!
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