Ele III: Com Ele escrita por MayLiam


Capítulo 55
Com Ele: eu já vi isso.


Notas iniciais do capítulo

Voltei. Quero que saiba que este fim de semana responderei cada comentário e agradecerei cada recomendação como se deve.
Beijos e boa leitura!



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–Quero que liguem pra ele agora. Alguém aqui é capaz de fazer seu trabalho direito? Katherine?! Caroline?! - somos recepcionadas com gritos de Damon quando chegamos para levá-lo a mais uma consulta sobre o bebê. Vejo um monte de gente indo e vindo pelos corredores. E uma Caroline descabelada passa por nós e nem nos nota.

–Katherine, pelo amor de Deus!

–Eu não consigo falar com o homem. Ele entrou num voo ou algo assim, eu não sei.

–Onde você estava?

–No meu horário de almoço, não era pra ele estar aqui antes das duas, eu não fazia ideia, ele mudou todo o cronograma, e o pessoal da apresentação está me deixando maluca, meu bip e celular não pararam.

–Não é desculpa. Eu mal comi. Você sabe como ele fica.

–Não era pra eu estar fazendo isso. Eu deveria estar cuidando dos papeis que Stefan me pediu.

–Você trabalha pra ele também. Como você deixa o homem pegar um voo?

–Eu controlo a agenda do Damon, não do senhor Valestein, Caroline.

–Caroline! - Damon grita novamente interrompendo a discussão das duas, Sofia e eu estamos paradas e perplexas. É como se nós não existíssemos.

–Isso te é familiar? - ela pergunta pra mim e sorri e eu apenas afirmo. É como se eu tivesse me vendo anos atrás. Só que eu sou a Katherine.

–Deixa que eu vou. - falo para Caroline que arregala os olhos finalmente me notando. - Ele queria falar com Alan? - ela assenti. - De quantas horas é o voo Katherine? - ela engole, checa nas anotações e empalidece.

–Pouco mais de cinco. - Caroline fecha os olhos numa expressão de dor.

–Ele queria falar com ele antes de confirmar os negócios na apresentação das quatro. - ela me explica.

–Ok. Vou falar com ele. Me espere aqui. - digo pra Sofia que apenas assenti, erguendo as mãos e procurando um lugar pra sentar. Respiro fundo e entro pela porta de vidro.

–Porque é tão difícil responder um chamado meu? - ele para bruscamente ao perceber que fala comigo. Seu olhar está confuso. - O que está fazendo aqui?

–Bem, boa tarde pra você também. Vim te buscar. Temos consulta com a obstetra. - ele fecha os olhos e parece sentir dor.

–Eu esqueci totalmente. - diz suspirando frustrado enquanto bagunça seus cabelo.

–Que pena. Sofia está esperando lá fora. As meninas n ão conseguiram confirmar com Alan e ele está num voo de cinco horas. Sugiro que remarque as apresentações de hoje, pra depois que voltarmos ou amanhã. Melhor amanhã. Vamos? - ele está atordoado.

–Ele entrou num voo de cinco horas? - ergo as sobrancelhas. É tudo o que ele pode ouvir?

–Sim, Damon. Vamos?

–Katherine! - ele grita com uma voz assustadora e me faz pular. - Katherine!!! - insiste. E uma jovem pálida entra hesitante na sala.

–Damon?!

–Alan está em um voo de cinco horas? - sua voz soa suave e fria.

–Sim, eu não consegui fal...

–Você faz alguma ideia da imbecilidade que fez?

–Eu tentei, Damon...

–Eu te pago garota. Eu pago você pra fazer bem o seu trabalho, que não é uma tarefa muito difícil, nem que te exige demais. Eu odiaria pensar que você acha que o fato de estar namorando meu irmão te dê algum tipo de imunidade nesta empresa.

–Não, Damon. Ela não pensa assim. - Stefan fala da porta, fazendo todos nós o olharmos. - Qual o seu problema? Você pode falar com o Alan depois.

–Não se mete. - Damon diz com uma voz sombria e se volta pra Katherine. - Você deu muita sorte que eu ter esquecido meu compromisso com Elena pra hoje a a tarde. Do contrário eu iria as apresentações sem falar antes com o senhor Valestein e você estaria no olho da rua.

–Damon, menos.

–Já pedi pra ficar de fora. Você saia de minha sala. - diz apontando pra Katherine ela prontamente obedece. - Você - olha pro irmão - fica aqui, preciso te dar umas coordenadas sobre as últimas duas horas em que estarei fora, e você - olha ora mim - me espera lá fora, quero falar com meu irmão a sós. Eu já saio. - eu mal tenho reação, do nada me vejo no lado de fora sentada ao lado de Sofia.

–Que cara é essa?

–Ele é um idiota. - digo e ela sorri.

–Ai Elena, como se você nunca o tivesse visto assim. Acaso é novidade?

–A quantos anos você não o vê assim?

–Uns três ou quatro, não sei bem. Não faz diferença. É o jeito dele.

–Ele está voltando a ser o mesmo tosco, insensível, arrogante de antes.

–Foi por este ser que você se apaixonou.

–Não de primeira e você sabe. Seu pai me tirava do sério naquelas época.

–E aquilo era pura e simplesmente falta de amor. E adivinha: é exatamente deste mal que ele sofre agora. - ela pisca e sorri pra mim.

–Não começa. - falo e ficamos esperando Damon sair. Quando ele sai, é como uma bala, caminha na frente, abre todas as portas que encontramos e sede passagem pra gente, em gestos corteses, mas bruscos e mecânicos. Fica todo o caminho distante, mesmo com a filha falando sem parar com ele, suas respostas são secas e frias. Ele não para de olhar para o aparelho em suas mãos e responder mensagens, em uma ou duas vezes chega a esboçar sorrisos, o que me gera a curiosidade de saber com quem ele está falando.

Quando chegamos ele salta do carro e estende a mão pra Sofia e depois para mim, eu seguro firme sua mão, e, no impulso para saltar do carro sinto tudo ao redor girar, e antes que perceba, sou amparada pelos braços dele.

–Tudo bem? - ele me pergunta.

–Elena?! - é a voz de Sofia bem ao meu lado.

–Está tudo bem, foi só uma tontura. - explico ajeitando minha postura e me livrando dos braços de Damon.

–Vamos entrar. - ele fala sério.

A consulta com a doutora foi tranquila, ela chamou atenção sobre a minha alimentação e me pediu pra ter cuidado, pois minha pressão estava um pouco baixa. Damon estava ao meu lado, porém não lá. Sofia estava tão atenta quanto eu, mas ele seguia dando total atenção ao seu aparelho, e isso estava me irritando. Ao final da consulta, no caminho de volta ao carro eu me voltei na direção dele.

–Você não precisa nos acompanhar, vamos fazer umas compras ainda. Sugiro que pegue um taxi. Você deve ter muito a fazer. - falo ele ele ergue a sobrancelha.

–Tem certeza? - pergunta ansioso.

–Sim. Pode ir. - ele dá de ombros, se inclina e deixa um beijo no rosto da filha, e ela me lança um olhar curioso. - Mason deixa vocês em casa. Tenham um bom fim de tarde.

–Tchau, pai. Até mais tarde, no jantar.

–Até. - ele se volta pra mim. - Tchau! - vem em minha direção e deixa um beijo rápido em minha testa. Ele pensa que precisa manter as aparências com a filha, claro. - Você está bem? - me pergunta quando me encara, com certa dúvida no olhar.

–Sim, te vejo mais tarde. - ele assenti e se vai, caminhando para fora do estacionamento.

–Achei que você queria passar mais um tempo com ele. Observar. - Sofia fala confusa enquanto me acompanha até o carro.

–Já sei o que preciso fazer, e com quem eu vou conseguir. - digo determinada.

–Estou bem curiosa, Elena.

–Vou grampear o celular do seu pai. - ela abre a boca no exato momento em que Mason se move com o carro de volta pras ruas.

.....

–Tem certeza de que quer fazer isso? - ainda dá tempo de recuar.

–Você passou os últimos dias defendendo a inocência de seu pai e agora está receosa.

–Não é sobre ele, é sobre você. Estou preparada pra qualquer coisa que possamos ver lá dentro, mas e você? - reviro os olhos e saio do carro, ela vem atrás de mim.

Por duas semanas observei atentamente as ligações e mensagens de Damon. Tive acesso livre e total a elas, e o mais bizarro, com um recurso desenvolvido pelo próprio, mas que nunca saiu pro mercado. Damon nunca autoriza comércio de tais aplicativos, o que é muito ético, mas não significa que ele nunca faça uso pessoal deles uma ou duas vezes; e isso me deixa de consciência limpa, pois ele já pode ter usado comigo, com certeza. Aquele mania de controle dele...

O fato é que eu descobri o nome dela. A mulher com que meu marido vem falando e encontrando e estou prestes a interceptar um encontro dos dois. Liza Forks. Sofia me disse eu deveria ganhar um prêmio por ser a mulher mais ciumenta do ano. Mas isto vai além dos ciúmes.

Quando paremos de frente ao apartamento, eu suspiro, estou pronta. Mas é ao tocar a maçaneta que meu corpo paralisa. As vozes vindas de lá... Não pode ser!

–Isso é culpa sua.

–Você veio de cabeça cheia. Pare de reclamar.

–Au! Não aperta com muita força. Faz devagar.

–Assim?

–Isso. Eu adoro suas mãos.

–Sua pegada está mais forte.

–Uso as pernas melhor que você. - eu arregalo os olhos e Sofia me olha confusa.

–O quê? - ela pergunta e eu faço sinal pra que não fale e colo meu ouvido na porta.

–Isso é muito gostoso.

–Você anda muito estressado.

–Casamento, trabalho, filhos...

–Você reclama demais, Damon.

–Citei os problemas cardíacos, as brigas, a frustração...

–Oh, tadinho. Por isso eu cuido direitinho de você.

–Se cuida. Não me sinto assim a anos.

–Mas ainda vamos trabalhar com isso. Você ainda tem muita energia pra descarregar.

–Eu adoro quando você descarrega comigo.

–Eu também.

–Hum... Isso Liz, é bem aí.

–Mais forte?

–Gira um pouco. Põe a mão aqui. - ele suspira e meu estômago está dando voltas, não posso ficar mais.

–Elena fala comigo. - Sofia pede e me viro pra ela.- Elena, que foi?

–Vamos embora. - falo começando a nadar, meu coração está palpitando tão forte, minha cabeça está girando, eu só quero alcançar o elevador.

–Elena! - é um grito de Sofia, e está tudo escuro.

.....

–Tá me dizendo que ela corre risco de perder o bebê? - a doutora apenas afirma.

–Damon ela sofreu um choque muito forte, estamos fazendo o possível, mas eu não descarto a possibilidade. Vamos estabilizá-la. Ela perdeu muito sangue.

–Você só pode estar de brincadeira comigo. - só queria saber como algo assim pode acontecer.

–Pai! - Sofia segura meu braço e eu me esquivo de primeira, ela se retrai.

–Damon... - Alaric pede.

–Não. - falo o olhando com fúria e depois encaro minha filha - Você e ela me devem explicações, das mais severas.

–Não acho que ela vá querer falar com você. - minha filha sussurra.

–Isso é ridículo Sofia. Por que ela não ia querer falar comigo?

–Ela me pediu pra manter o senhor longe dela, enquanto gritava de maneira estérica, quase não pude a conter. - explica a doutora.

–Damon, seja lá o que a Elena ouviu daquela porta, foi o que causou tudo isto e, provavelmente ela interpretou errado. - Alaric explica.

–Mas é claro que ela interpretou. Ela grampeia meu celular, rastreia minhas ligações, me segue até meu local de treino e surta na porta da casa da minha treinadora. Adoraria muito saber o que diabos a fez surtar. Foi um grito de socorro meu? Só pode...

–Pai...

–Nem vem com essa coisa de pai. Como você compactua com uma coisa dessas? E ela, meu Deus Sofia, algum dia será capaz de confiar em mim e defender minhas causas?

–Eu estou do seu lado e eu te defendi. Eu só levei a Elena lá pra ela sanar de vez as dúvidas dela, eu não faço ideia do que ela acha que ouviu. Meu plano não era esse.

–Claro, seu plano genial era me seguir e me flagrar fazendo-se lá Deus o quê.

–Se eu desconfiasse de sua fidelidade por um segundo eu jamais deixaria a Elena pensar em algo parecido, mas eu estava tão convicta de que... Você não deveria ter feito aquilo com ela.

–E o que diabos eu fiz? - grito.

–Ei! - Alaric alerta. - É um hospital aqui. Vocês dois.

–Porque você não pergunta pra ela quando ela acordar. Ah... É. Ela não quer te ver! - ela grita e vejo tudo negro a minha frente.

Que inferno! Agora a única coisa que consigo pensar é que minha Elena está doente e correndo o risco de perder nosso filho, está com raiva de mim e não faço ideia do porque de tudo isso. Parece brincadeira. Arfo e me deixo cair sentado, em suspiro.

–Damon?! - Alaric está do meu lado, segurando meu ombro.

–Papai...

–Está tudo bem. - ofego. - Eu estou bem. Só quero saber o que houve.

Isso não pode estar acontecendo. E de dentro de minhas memórias mais sombrias eu encontro uma explicação.

(sete anos antes)

–Andie, espera!

–Fica longe de mim!

–Não é o que você está pensando, me deixa explicar.

–Só, fica longe de mim Damon! - seus olhos estão cheios de lágrimas, ela está pálida e trêmula em minha frente.

–Por favor. Somos apenas amigos. Não é nada demais.

–Depois de tudo o que passei para te dar esta criança, você... - ela prende a respiração e agarra o ventre. - Ai! - é uma lufada de dor.

–Andie! - corro pra cima dela e a amparo. - O que você tem?

–Damon não me deixa perder. Não me deixa perder. - ela diz e sua visão se fecha e ela está desmaiada em meus braços.

–Damon! - Rebekah grita ao longe, se aproximando de nós dois. - Ai meu Deus! - ela ofega ao observar o sangue que começa a manchar a roupa de minha esposa.

–Chama uma ambulância, Rebekah. - eu peço tremendo e ela de imediato saca o celular. - Vai ficar tudo bem. - falo enquanto abraço minha esposa. - Tudo bem, Andie.

As últimas horas foram angustiantes, mas nada comparadas aos meses que se seguiram depois daquele incidente. Tudo piorou quando ela descobriu que não teria mais chances de ser mãe. Tudo que ela queria era me dar um filho, o dito sonho de todo homem bem sucedido como eu. Mas eu daria toda minha fortuna, pra que eu pudesse voltar no tempo, e naquele tarde Andie não tivesse imaginado algo que ali nunca existiu. Os anos de sua depressão, nossa separação e no fim, sua péssima relação com a ex amiga. Eu nunca pararei de me culpar por aquilo.

Seja lá o que aconteceu com Elena hoje, não seria capaz de suportar outra culpa dessas em minhas costas. Eu nunca traí a Andie, e certamente nunca traí Elena. Pelo menos desta vez quero ter a chance de dizer isso a minha mulher.


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Notas finais do capítulo

até mais.