Saímos do lago secos, quer dizer, mais ou menos, Percy saiu seco, eu saí encharcado, mas ele segurou em meu braço e em alguns segundos eu fiquei completamente seco, logo os garotos de Hefesto nos alcançaram, não consegui olhar para eles, Percy contou para eles o que havia acontecido, mas ocultou uma parte, ele contou que nós estávamos remando, mas o garoto de Hefesto se aproximou e sem querer o havia acertado, o que era verdade.

   Mas ele disse que o garoto, cego de raiva, havia partido para cima de mim e nós caímos de lago, e que o garoto tentou me afogar, mas bateu a cabeça no barco e tinha desmaiado, eu tinha voltado para a superfície e ele havia morrido afogado.

   O que ele não contou era que eu havia empurrado o garoto para baixo, eu tentei explicar que não tinha sido minha culpa, mas ele não parecia muito convicto.

  Fomos para a casa grande, de algum modo Quiron já sabia que ele estava morto, deviam ter sido as fofoqueiras das náiades, ele olhou para mim de um jeito estranho, parecia... Horrorizado?

   -Percy, Gary, entrem, os demais podem voltar para o chalé fazer uma mortalha... – Sua voz falhou.

   Eles me olharam ressentidos e foram para seu chalé, eu e Percy nos sentamos em um dos sofás, Quiron como já estava na forma de cavalo se ajeitou em sua cadeira de rodas,  o diretor do acampamento Sr. D entrou na sala com um shorts, camisa com estampa de tigre e sandálias, ele era assustador em seus um metro e meio de altura, com cabelos encaracolados e olhos negros.

    -Quiron, Perry e Gray fizeram alguma coisa que precisa de punição?- Revirei os olhos, porque ele insiste em falar errado nossos nomes?

    -Na verdade, Sr. D- Quiron falou- È o que quero saber, Gary, você matou aquele garoto?

    -Matou?- Os olhos do Sr. D quase saltaram das órbitas- Gary, explique-se ou seu pai não vai ficar muito feliz em te receber e...

    Não sei por que, Quiron mandou um olhar mortal para o Sr. D, mas...

    - Meu pai?- Gritei e me levantei- O que sabem sobre meu pai?

    - Garoto- Sr. D invocou um leopardo do meu tamanho na horizontal, mas quando ele ficasse em pé (o que eu não gostaria de ver), ele seria duas vezes maior que eu, seu pelo era dourado e seus olhos brilhavam como rubis.

   -Sr. D não!- Quiron gritou, mas nesse instante o leopardo avançou.

  Ele saltou em minha direção, parecia que o tempo tinha parado, Percy estava se levantando em câmera lenta. Quiron estendeu a mão, mas recolheu em seguida porque o deus do vinho olhou mortífero para ele.

   O leopardo brandiu a garra, eu coloquei as mãos no rosto para me proteger e nesse instante uma coisa estranha aconteceu.

   A garra do leopardo rasgou minha pele e imediatamente ele ficou negro e murchou, seus olhos perderam o foco e ele se desmanchou em pó.

   Os olhos dos três presentes no recinto se arregalaram, Quiron trocou olhares com o Dionísio, pareciam que sabiam de um segredo que não podia ser revelado.

   -Vão ficar de segredinhos?- perguntei, eles ficaram em silencio- Ótimo, estarei sendo metralhado pelos filhos de Hefesto, ok?

   Pensei que eles iam falar alguma coisa, mas ficaram em silencio, inclusive Percy, que não quis olhar em meu rosto.

    Saí tempestuosamente da casa grande, segui olhando para cima, vi que as nuvens brancas contornavam o vale, mas um circulo de nuvens negras pairava sobre o acampamento. Sem querer esbarrei em uma pessoa, vi que era um homem alto, com cabelos brancos como a neve, seus olhos eram incrivelmente vermelhos como sangue, mas o mais engraçado era sua roupa: ele usava um pijama.

   Era uma camisola branca, com desenhos de nuvens cinza, usava pantufas azuis de ursinhos.

   Eu tinha certeza de que conhecia aquele cara, já tinha visto ele em algum lugar, de repente me lembrei das aulas que Annabeth me dera sobre deuses, me ajoelhei e disse:

   - Lorde Hipnos, deus do sono e dos sonhos.

   Ele assentiu.

   - Várias pessoas não se lembram ou mostram respeito pelos deuses menores- Sua voz era de quem tinha acabado de acordar.

   Um garoto gordinho, com um tufo de cabelos brancos apareceu do meu lado, reconheci Clovis.

   -Pai- ele disse com a voz sonolenta, achava um milagre ele ter acordado e  saído do chalé- O que faz aqui?

   - Vim ver seu amigo, Gary.

  -Eu?- indaguei.

 -Aaaaaa, aquele assunto... – Clovis apagou, quase bateu a cabeça no chão, mas Hipnos estalou os dedos e Clovis levitou, com as mãos coladas no corpo, ele começou a levitar em direção ao chalé.

  -Venha- o deus falou- vamos conversar.