Meu cabelo tá uma porcaria, foi a última coisa que eu disse antes de sair de casa. Trágico. Tinha perdido a primeira aula, para variar, e entrei na segunda, matemática, cuja professora não foi, para variar. A primeira coisa que Nessie disse quando eu entrei na sala:

— Você perdeu um teste de biologia valendo três pontos.

Olhei-a alarmada.

— Bonito isso, mocinha? — continuou, rindo.

Fitei Lauren e ela confirmou.

Saí da beira delas e notei que as coisas de Edward estavam atrás de Nessie, meu lugar. Puxei a cadeira atrás dele e coloquei ao lado de Nessie, perto da mesa da professora.

— É sério isso, véi? — indaguei, sentando na cadeira.

— Mentira, besta — desmentiu Nessie, rindo.

— Poxa, Nessie, não era pra você dizer! — resmungou Lauren, rindo também.

— Bitches — murmurei.

— Você! — rebateu Nessie, rindo mais ainda.

— Vou sentar aqui não — falei, levantando da cadeira e colocando-a entre Nessie e Lauren. Eu que não ia sentar do lado de professora alguma.

Edward entrou na sala, olhando diretamente para o meu lado. Veio até nós e sentou na ponta da mesa da professora, escutando nossa conversa.

— Toma, e muito obrigada — disse Lauren, entregando meu livro Jogos Vorazes. — Já terminou de ler Um Dia?

— Eu tô no meio — falei sorrindo, guardando meu livro na mochila.

— Aff, você disse que estava no meio semana passada.

— Eu tenho o que fazer — rebati.

Edward apenas nos assistia, calado.

— Vamos ficar lá em baixo — chamei-as.

Dirigimos para a porta e vi Edward descer da mesa.

Na escada...

— Vocês viram Edward sentado na mesa? — perguntei. — Deixamos ele no vácuo.

Nessie riu.

— Ele achou que a gente ia ficar lá conversando com ele.

Ficamos um bom tempo lá em baixo, jogando papo fora. Edward desceu, olhou para a gente, deu uma volta no pátio e subiu de novo. O sinal bateu para a terceira aula — inglês — e quando subíamos, vi Edward descendo com sua mochila nas costas.

— O professor de inglês não veio? — perguntei-o.

— Veio.

— E você tá indo pra onde? — disparei, arrependendo-me depois. E eu lá perguntava a Edward o que ele fazia ou deixava de fazer!

— Beber água.

Ok. Beber água. Quantos bebedouros havia lá em cima? Aliás, ele passou por um vindo cá em baixo. E por que mesmo ele veio cá, justamente quando bateu? Certo, eu não estava insinuando nada, mas Edward só veio me relembrar que tínhamos aula de inglês agora, do jeito dele, claro.

Subíamos tão devagar que Edward ainda nos alcançou. Passei na minha sala para pegar minha mochila; uma renca descia a escada que eu teria que subir para minha sala. De longe vi Edward conversar com algumas pessoas. Ao me ver, ele veio até mim.

— A sala tá trancada — disse.

— Ele tá na 306 — falei.

Olhei para a esquerda a fim de ver se a sala era lá, e decidi ir para a direita, mas Edward teve a mesma ideia que eu, e nos trombamos pelo ombro. Ele não estava com o casaco hoje, mas seu braço estava tão quente que parecia que havia um tecido entre nós. Ele abriu a porta e entramos. A sala estava com o recurso do data show e havia uma filmadora sobre a mesa. Joguei minhas coisas na primeira cadeira, logo atrás da mesa do professor, e Edward colocou a dele na segunda, na fila ao lado.

— Vou chamar o Quil, ele não sabe que a sala é aqui — avisou Edward, abrindo a porta. Quil estava no corredor.

— Vocês fizeram o dever do discurso? — indagou o professor.

— Eu fiz — eu disse. Edward e Quil também. — Eric veio hoje? — perguntei a Edward, ele negou, depois de mandar eu repetir umas duas vezes a frase e ele ter que se abaixar para perto de mim para escutar.

Eu não tinha falado baixo.

— Primeiro vocês irão treinar a fala em português — explicou o professor. — Como a outra turma ficou muito desorganizado as falas, vocês só irão ler apenas 15 segundos. Começa você, Bella.

Peguei meu discurso e comecei a ler. Edward leu o dele e Quil por último. O professor pediu que treinássemos o discurso em inglês agora.

— Como se pronuncia essa palavra? — indaguei, mostrando ao professor o meu caderno. Ele jogou a palavra no google tradutor e não só eu ficou repetindo-a, como Edward também.

Ele também ficou em dúvida de uma palavra lá, perguntou ao professor e depois a mim. Fiquei feliz com isso. Logo treinamos a fala em inglês também, Quil fora o primeiro dessa vez, e devo dizer, pessimamente péssimo! A pronuncia dele era horrível e Edward ficava rindo do coitado o tempo todo e olhando para a minha cara. Depois ele leu seu texto — e, diga-se de passagem, sua voz em inglês ficava muito sexy —, e depois foi minha vez. Li tão rápido e fiquei orgulhosa por meus quase oito anos de inglês terem valido a pena.

O professor resolveu ajudar Quil a melhorar a pronuncia, e enquanto tentava explicá-lo como soletrava cada palavra, fiquei conversando com Edward, por incrível que pareça. Ele pediu para ler o meu discurso, parado ao meu lado, e eu dei o papel para ele. Foi engraçado vê-lo imitando minha voz. Depois pedi para ler o seu, e ele disse que estava muito simples. Não sei se foi coisa de minha cabeça, mas notei Edward me fitando de um jeito... carinhoso. Terminei de ler a última parte “Vote in Edu”, com a voz grossa, fazendo um biquinho. Ele olhou estranho para mim, mas logo se aprumou.

Edward tinha acabado de se afetar com o meu gesto.

— Ainda bem que eu joguei playstation na minha infância — disse.

— Playstation?

— É, aprendi um monte de palavras nos jogos.

— Ahhh...

— Minha pronuncia é horrível.

— Não é nada — rebati —, tenho colegas que fazem curso e você que não faz fala melhor que eles.

— Vou entrar ano que vem.

— Onde?

— Em um CCAA perto lá de casa.

— Não curto muito o CCAA, o UEC é bem melhor.

— Você já terminou o curso?

— Terminei o avançado — respondi. — Falta fazer o fluente. Terminei lá no CCAA.

Olhei para onde Quil estava, com o professor ao seu lado, e mais adiante, quando olhei a janela da sala com o vidro fume. Notei que dava para me ver lá, e fiquei surpresa com a cena: eu sentada em minha cadeira e Edward de pé, atrás dela, com os braços cruzados, o rosto abaixado, encarando-me por segundos seguidos. Ele não percebeu o mesmo que eu, e para todos os efeitos, era como se eu não soubesse de sua observação sobre mim.

Sorri.

Edward estava me olhando!

Ele sentou atrás de mim. Seu lugar não era ali, mas desde que voltara depois de “chamar” Quil lá fora, permaneceu por aí. Mais um ponto para mim. Escutávamos Quil tendo dificuldade para pronunciar as palavras, e Edward se acabava de rir, chamando-me. Tadinho do menino. Levantei para me espreguiçar e senti o olhar de Edward em mim. Fui até o notebook do professor e arrastei meu dedo para mover a seta no data show, mas nada aconteceu. Vi um mouse sem fio ao lado e fui até lá, Edward ainda me olhando, e eu sabia disso porque levantei minha cabeça e o peguei no flagra.

— Olha, mouse sem fio — eu disse a ele.

O professor terminou de ensinar às palavras a Quil e fomos gravar o vídeo. Primeiro ele nos filmou em português, e depois apenas nosso áudio em inglês. Quando terminou colocou no notebook e abriu nosso vídeo na tela — minha cara estava horrível, mas ok — e tirou o áudio em português deixando apenas o de inglês, como se fosse uma dublagem. Nos matamos de rir com o resultado final, ainda mais quando o professor colocou a voz de Edward no meu vídeo. Fiquei parecendo um travesti nessa hora, aff!

Edward estava extremamente adorável nessa aula, sempre falando comigo, sem nenhuma patada e eu jurei ver olhares demorados de sua parte sobre mim. Isso apenas me fez ter esperanças para a festa de encerramento que teria um dia depois das provas finais. Eu já tinha comprado minha roupa, Lauren e Nessie iriam, e Edward também estava confirmado. Seria a hora da verdade, ou assim eu esperava.

Nas aulas seguintes não houve mais nada. Fizemos teste na aula de química e fomos liberados mais cedo.

Na sexta não teve aula por ser feriado.

No sábado seria o aniversário de Edward, bem no dia da prova da UCC. Decidi que daria meus parabéns pessoalmente na segunda.