Minha segunda-feira foi uma porcaria e pronto. Depois do ótimo fim de semana que eu tive — e sim, sem nem lembrar que Edward existia —, esperava algo melhor para hoje, mas, bem, eu devia estar acostumada a não pôr expectativas nesse garoto, porque eu me frustro em todas.

Cheguei na segunda aula de propósito, ainda não sabia se teria aula mesmo ou não, por causa do evento que ocorreu na escola no fim de semana. Assim que entrei no corredor que me levaria para minha sala, Edward saiu de lá juntamente com um colega nosso e, ao me ver, sorriu e virou a cara de um modo dramático, ainda sorrindo. Balancei a cabeça negativamente e entrei. Se havia dez pessoas ali, era muito. Gentinha preguiça essa!

A professora de geografia chegou e foi logo colocando um questionário gigante no quadro. Edward ficou ao lado dela, falando besteiras, enquanto eu comecei a conversar com Lauren, a única do meu grupo que tinha ido. Eu estava falando sobre o livro que ela tinha me emprestado, Um Dia, que estava chato, quando Edward veio sorrindo para nosso lado e parou para nos escutar.

— Não é nada chato — rebateu Lauren.

— É sim, é monótono e chato! — eu disse.

— Você que é chata — intrometeu-se Edward, com um de suas faces irritantes. Revirei os olhos.

Durante a aula eu o pegava olhando para mim, tanto é que, em uma dessas trocas de olhares, ele sorriu e abaixou a cabeça, balançando-a negativamente em seguida. Fomos liberados mais cedo pela falta de aluno, e depois de nossa mini conversa mais cedo, não falei mais com Edward nesse dia.

Na terça cheguei no horário, mas sem esperanças alguma em relação a Edward. Entrei na escola com Irina, que tinha acabo de chegar também. Ela adiantou em minha frente e pôs seus fones de ouvido, quando escutei Edward chamando-a do terceiro andar, pela janela. Irina não escutou, pois estava ouvindo música. Eu tampouco levantei meu rosto para olhá-lo, mas ele começou a me chamar também.

— Que é?

— A aula vai ser na sala 303, fale a Irina aí.

Nem respondi. Odiava ter que admitir que ele apenas havia falado comigo porque Irina não o respondeu. Eu não queria ser segunda opção de ninguém. Subi as escadas indo direto para a sala que ele havia indicado, Nessie e Lauren já estavam lá, no velho canto da parede; Edward estava sentado no fundo da sala.

— E esse grito de Edward aí te chamando? — indagou Nessie, sorrindo.

— Que grito?

— Aí fora.

— Nossa, vocês ouviram daqui? — indaguei assustada.

— A gente estava aí fora no corredor.

— Ah — respondi, dando um meio sorriso. — Ele só falou porque Irina não o respondeu.

Ela nada disse. A professora entrou na sala e começou sua palestra sobre o vestibular. Escutei Edward chamando Irina do fundo da sala, pedindo para que ela sentasse ao seu lado, mas ela deu de ombros e mandou ele vir para frente. Ele levantou prontamente de sua cadeira e a arrastou até o lado da amiga, consequentemente, uma cadeira atrás mim. Disse algo a ela e simplesmente permaneceu ali.

Jessica chegou um tempo depois sentando entre ele e Lauren, atrás de mim. Eu estava sentada ao lado de Nessie. De soslaio vi Edward a cumprimentando, e me segurei em minha cadeira. Por que ele tinha que ser gentil com todas, menos comigo? Por quê?

A aula ocorreu tranquilamente. Hora ou outra eu virava para trás para acompanhar alguma piada das meninas e, de quebra, via Edward, que também me olhava rápido e desviava o olhar. Peguei-o umas duas vezes prestando atenção em nossa conversa.

— Ah, Bella, sabe quem tava lá em baixo sozinho na sala? — indagou Jessica.

— Quem? — perguntei curiosa.

— Caio.

Soltei um muxoxo. Caio era minha “paixão” ano passado, e por um tempo fiquei entre ele e Edward, mas acabei largando o primeiro. Ele era mais impossível que Edward, pelo menos esse eu conversava algumas besteiras, Caio, por outro lado, nunca havíamos trocado um “oi”, e olha que estudávamos na mesma sala!

— Que bom — respondi entediada.

— Imagine você lá em baixo com ele? — continuou ela. Eu queria matá-la, tinha quase certeza que Edward estava escutando tudo.

— Ele ia correr dela — comentou Lauren, rindo.

— Ia mesmo! — concordei, rindo com ela.

— Queria ver se fosse “Ted” — disse Nessie, maliciosa, dizendo o codinome que havíamos posto em Edward. Não me pergunte o porquê de Ted.

— Não ia acontecer nada — eu disse, querendo mudar logo de assunto.

A professora terminou a palestra e ficou em sua mesa, resolvendo algumas questões de um jornal que Edward tinha levado para ela. Enquanto eles conversavam, desenhei um cubo 3D em minha mesa e escrevi “Lauren” na frente.

— Olha, Lauren, desenhei a sua nova palafita. — Jessica se acabou de rir e Lauren revirou os olhos.

Continuei olhando para a figura e vi que ela tinha “se mexido”. Levei um susto com isso e continuei olhando, até que ela se mexeu novamente.

— Nessie! Meu desenho se mexe! — eu disse, espantada.

Ela me olhou como se eu tivesse fumado algo.

— É sério, fique olhando para a figura. Tem hora que o foco fica desse lado, aí o nome de Lauren fica inclinado, e tem hora que é esse aqui, e o nome dela fica reto — expliquei, apontando as faces do cubo.

Ela ainda me olhou estranha, mas fez o que eu pedi, só que não conseguia ver nada. Depois de muito tentar, sugeri que trocássemos de lugar, e ela conseguiu ver. Ficamos rindo que nem duas idiotas. Contei para Jessica e ela veio ver nossa idiotice. A aula já tinha terminado, e só estava meu grupo na sala, com Edward e a professora.

— Conseguiu ver? — perguntei, e ela negou, olhando assustada para nós duas. — Olhe aí, Lauren.

Lauren conseguiu ver e Nessie tentou mais uma vez. Era engraçado ver as caras e bocas que as meninas faziam. Edward passou por nós, olhando-nos como se fossemos de outro mundo, indo arrumar sua mochila.

— Edward, venha cá! — chamei-o, contente.

— Não — respondeu, ainda com aquela cara.

— É sério, quero te mostrar um negocio. 

Ele veio até mim, relutante, e parou ao meu lado. Expliquei novamente o que acontecia com o cubo e ele me olhou, entediado.

— É claro que isso acontece, você muda o foco de sua visão.

Revirei os olhos por ele ter estragado o barato de nossa diversão. A professora ficou curiosa e veio ver do que tanto ríamos, e ela confirmou o que Edward tinha dito. Descemos para nossa sala, já que tínhamos nos mudado por causa do recurso. Ao chegar lá, notei que Edward tinha sentado no meu lugar.

— Ahhh, meu lugar, Edward! — fiz birra, desviando dele. Ele estava de costas para mim.

Puxei a cadeira que estava atrás. Ele se virou para mim, rindo.

— O quê? — indagou divertido.

— Meu lugar!

Saí arrastando a cadeira por ele e coloquei entre Nessie e Lauren, na sua frente. Comecei a conversar com minha amiga, quando Edward fez alguma coisa nela que não vi, e ela disse algo a ele, que também não escutei. Estava tentando ignorá-lo. Ela voltou a falar comigo, quando ele segurou meu braço, com a mão gelada.

— Quem é que segura com o toque gelado?

Fiquei olhando para sua cara de mongol.

— Robert — eu disse, meiga.

— Deus é mais! — ele riu e soltou meu braço.

Revirei os olhos e voltei a conversar com Nessie, quando Edward voltou a segurar o meu braço. Que menino besta, Senhor! Ignorei-o dessa vez, e um tempo depois, ele soltou. Abri meu estojo e vi um pente de boneca pequeno que eu tinha guardado ontem, estava na sacola de lembrancinha de um aniversário de criança que fui no fim de semana. Peguei-o e tive uma ideia.

— Deixa eu pentear seu cabelo, Nessie? — pedi, e ela olhou para o meu “pente” e começou a rir. — Peguei no aniversário. — Ela riu novamente e balançou negativamente a cabeça. Comecei a pentear as pontas do seu cabelo. Edward estava nos olhando. — Deixa eu pentear seu cabelo, Edward?

Ele me olhou, sério.

— Isso é para pentear cabelo de rato — disse, enquanto folheava o jornal que tinha as questões que estava resolvendo mais cedo com a professora de matemática.

Eu ri. Que idiota, aff.

Depois dessa ele saiu de lá e ficou sentado perto dos amigos. Não voltou mais para o seu lugar.

Na aula de história o professor começou a corrigir o teste surpresa que tinha passado aula passada. Nessie inventou de desenhar em minha unha com minha caneta corretiva. Ficou uma porcaria, tudo borrado; Jessica, ela e eu nos acabamos de rir com as maluquices que ela fazia. Até que conseguiu desenhar a “pata” de um animal.

— Isso é a pata de um jegue? — perguntei, olhando a pegada enorme. As duas se mataram de rir. — Olha, Lauren, a pata de um bichinho.

Nessa hora Edward estava parado ao lado de sua cadeira, guardando algo em seu estojo.

— Parece um cachorro manco — ela disse.

— Oi? — Edward se virou, como se ela o tivesse chamado. Não me aguentei e caí na gargalhada, esse menino estava bêbado, só pode! Lauren me seguiu, enquanto Jessica e Nessie nos olhavam sem entender nada.

— Lauren disse que esse desenho parecia um cachorro manco e Edward pensou que estava chamando ele! — Nós quatro nos acabamos de rir, enquanto ele saia de mansinho do nosso lado, mas tratei logo de gritá-lo: — Edward! Não sabia que você era um cachorro manco!

Ele disse alguma piada lá, todo sem graça, que nem escutei direito. Eu estava morrendo de rir ao invés disso.

Voltei a conversar com minhas amigas quando ele parou em minha frente mais uma vez, agora me enchendo tentando tocar minha testa com seu dedo. Bufei. Ele estava fazendo muito disso ultimamente. Mais uma vez segurei seu braço, sempre tão quente, desviando-o de mim. Eu já estava quase dizendo que ele fazia aquilo de propósito para que minha mão deslizasse por seu braço.

Depois desse incidente, não nos falamos mais. Ele não desgrudou de Kate-insuportável, e logo o professor nos liberou. Corri para sair o mais rápido dali. Odiava a influência que Edward tinha na minha vida.