More Than Words escrita por DezzaRc


Capítulo 14
Duplos Sentidos




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Nessie me ligou de manhã cedo, querendo saber o que teve na aula ontem. Perguntei se ela iria hoje, e afirmou, relembrando-me de levar o dinheiro para comprarmos os ingressos da festa de encerramento. Sua ligação apenas me deu motivação para me arrumar logo e ir para a aula cedo, e assim o fiz. Ao chegar lá, ela estava em sua cadeira, a primeira da segunda fila, e Edward atrás dela. Percebi que os dois ficaram mais próximos ultimamente. Enquanto eu falava sobre meu oxford que tinha calçado hoje, Edward parou atrás dela e tocou em sua cabeça um pouco mais forte que o normal, fazendo-a levar um susto.

— Ai, Edward! — resmungou, passando a mão na cabeça. — Meu avô que faz isso comigo!

Ele se acabou de rir, passando a mão na cabeça dela, como se isso fosse mudar alguma coisa.

— Seu avô?

— É! — confirmou ela.

Depois de seu ataque de risos, ele saiu de lá e ficou na frente de sua cadeira, olhando-me de um modo sinistro. Ergui uma sobrancelha, estranhando seu comportamento.

— Você está bem? — indaguei, quando aquilo começava a ficar incomodo.

Ele ficou alguns segundos parados, na certa escolhendo bem suas próximas palavras.

— Eu nunca estou bem quando você vem.

Ui.

E saiu de lá.

Isso tinha um significado duplo ou era impressão minha? Tipo, podia ser mais um de seus cortes, do teatrinho de que me detesta e blá, blá, blá, mas também poderia ser um “você mexe com minhas emoções”. Tudo bem, não, já sei.

Depois de muito insistir, coloquei minha cadeira ao lado de Nessie, bem na hora que Edward resolveu voltar ao seu lugar. O professor de biologia já tinha chegado nessa hora, e começou a corrigir uma atividade de ontem, que não copiei por não ter vindo. Abri em uma página qualquer, assim como Nessie, fingindo que tínhamos feito. Lauren já tinha chegado nessa hora e se sentou ao nosso lado.

— E aí eu pergunto: “Lauren, teve alguma coisa na aula de biologia ontem?” — ironizei, com uma voz arrastada. — “Nããããão”.

Nessie riu, concordando. Edward estava prestando atenção em nossa conversa, apesar de estar mexendo no celular. Ele pegou o caderno na mochila e fez o mesmo que nós.

Na aula de física teve horário vago, pois o professor tinha sofrido um acidente ontem de ontem. Nessie aproveitou para comprar os ingressos da festa na mão de Marcus. Edward estava ao seu lado na hora, quando ela comprou o seu.

— Você nem esperou eu te dar o dinheiro — eu disse, quando ela voltou. Não tava a fim de ir lá sozinha.

— Me dê que eu compro, parece que tem medo de gente — resmungou, pegando meu dinheiro e o de Lauren.

Escutei quando Edward perguntou de quem eram esses agora, e quando ela disse meu nome, ele disse: “Aquela branquela vai?”. Marcus riu e falou que isso era preconceito com minha cor, além de Nessie tê-lo repreendido dizendo um: “Não fale assim da minha amiga, não!”.

Quando ela saiu de lá, ele o seguiu e parou em nossa frente.

— Você vai comer água, é, Lauren? , ganhou meu respeito agora! — disse, batendo em sua mão. Ele olhou para mim, e sorrindo, disse: — Eu sei que você não vai beber.

Ele voltou para onde estava.

Nessie propôs que fossemos a uma sala vazia, para ela me ensinar alguns passos de dança. Ela, assim como Jessica, disse que me ensinariam a dançar, já que eu era péssima, e não podia fazer feio na festa de encerramento. Peguei meu celular e nós três fomos para a sala vaga na frente da nossa.

Nessie se movia tão graciosamente, eu parecia mais um sino me remexendo. Jessica chegou um tempo depois e entrou na “batalha”. Lauren apenas nos assistia, rindo hora ou outra de minhas danças robóticas.

No terceiro horário estávamos peguentas e suadas, mas valeu a pena. Como foi aula de química, descemos para uma sala próxima a coordenação. Edward já estava lá quando entrei, em um lugar perfeito, diga-se de passagem: um pouco atrás da mesa da professora, com cadeiras vagas ao seu lado. Nessie sentou no canto da parede. Jessica ao seu lado e Lauren na frente de Nessie. Puxei uma cadeira e coloquei ao lado de Jessica, sobrando uma cadeira de distância entre Edward e eu, que estava um pouco à frente. Conversei com minhas amigas, fingindo que aquilo não me importava. Escutei sua cadeira arrastar, mas não sei definir se foi mais para perto de mim, ou se afastando. Provavelmente a segunda opção.

A professora mandou responder as perguntas que estavam no slide no quadro. Ainda com meus queridos óculos, não consegui enxergar direito, então pedi para que Lauren colocasse sua cadeira ao meu lado, e assim o fez. O começo de sua cadeira se encostava com o final da de Edward.

Pedi para que Lauren lesse o que estava escrito no quadro. Já tínhamos respondido duas quando Edward se virou para nós, perguntando algo relacionado à atividade. Lauren o respondeu e eu apenas fiquei fitando a cadeira, esperando a professora mostrar a terceira questão. Ele se virou e então comecei a cantarolar no ouvido de Lauren, que apenas me fitava entediada. Enquanto balançava minha cabeça e fazia um barulho irritante com a garganta, Edward se virou de novo, com outra dúvida, entre endotérmica e exotérmica, e apenas confirmei com a cabeça o que ele queria. Não satisfeito, insistiu de novo, e eu e Lauren dissemos “É!” ao mesmo tempo.

Edward se fazendo de burro. Essa era boa.

Estava cantarolando o ritmo de outra música no ouvido de Lauren, para irritá-la mesmo, quando Edward se vira novamente, dessa vez fixando os olhos em mim e balançando a cabeça negativamente.

Slut.

Revirei os olhos e continue a cantarolar. Era comum ele me xingar também.

Ele sorriu e abriu seu caderno em uma página em branco. Espiei por cima de seu braço e vi um meio sorriso brincando em seus lábios, enquanto ele riscava palavras como “whore”, “slut” e “bitch” na folha. Quando terminou, levantou o caderno e me mostrou. Abri o meu também em uma folha qualquer, ele assistindo-me, quando risquei apenas um “_|_” no papel em branco e o mostrei.

— Não entendi — disse, com as sobrancelhas erguidas.

— É isso aqui — explicou Lauren, levantando o dedo do meio para ele.

Ele voltou a olhar para mim, e dei-lhe um sorriso torto, erguendo umas das sobrancelhas, como em sinal de desafio. Seus olhos se comprimiram, e eu aproveitei para piscar por baixo dos cílios, olhando-o. Adorava fazer essas expressões, e ver as suas reagindo a cada uma.  Eu sabia que eram provocativas, assim como ele devia saber. 

— Segura o braço dela de novo para eu escrever “I hate Robert”.

Isso de segurar o braço foi o seguinte: em um belo dia na aula de química, entediante, diga-se de passagem, eu estava sentada num grupinho com minhas amiguinhas, no canto da sala. Edward estava sentado perto da mesa da professora, um espaço vazio separava sua cadeira das nossas. As meninas estavam brincando de fazer tatuagens com canetas, e só faltava eu, que a todo custo, não queria fazer isso. Odiava me riscar.  As três decidiram que eu iria fazer aquilo por bem ou por mal, então, olhando-me maliciosas, Jessica debruçou-se sobre minha cadeira, segurando-me pelo braço. Por impulso, tentei sair correndo, mas ela era mais forte que eu, e logo prendeu meu outro braço. Eu apenas gritava tentando me soltar, mas não adiantava em nada.

Jessica me fez voltar a sentar, e agora ela segurava um braço meu, e Nessie o outro. Edward, vendo a confusão do outro lado, deu um pulo de sua cadeira, sorridente, e correu até nós, parando atrás da cadeira das meninas.

“Vai riscar Bella, é?”, indagou ele, diabólico.

Eu já estava vermelha nessa hora de tanto rir e gritar.

Jessica sussurrou um “Quem chamou ele aqui?” e apenas deu de ombros. Edward apertou sua caneta e agarrou meu braço, que estava na mão de Nessie, riscando o antebraço. Vadio.

“Eu odeio Crepúsculo”, Lauren leu, à medida que ele ia escrevendo.

Seu rosto estava próximo de minha cabeça, e eu apenas me concentrava naquilo, pouco me importando com o que ele estava fazendo no meu braço. Aliás, eu tinha ciência de seus dedos quentes tocando minha pele desnuda. Mentalmente, pensava em como tocar naqueles cabelos macios, e eu já sabia como. Jessica soltou meu braço e logo o levei até os cabelos sedosos de Edward, puxando seus fios em seguida. Uma sensação boa dominou meu corpo e ele me soltou, ainda com aquele sorrisinho na cara.

Ele voltou pro seu lugar e as meninas tatuaram uma pimenta em minha mão, não sei porquê. Edward depois me perguntou o que elas desenharam e eu o mostrei. Ele apenas ficou fitando o lugar por alguns segundos, em silêncio. Só eu via o apelo sexual naquele símbolo?

I hate Edward — corrigi-o, ainda fitando-lhe, desafiadora, fazendo um biquinho no final. Ele fitou meus lábios.

— Bom saber — ele sussurrou.

Não sei porque, mas notei seu tom de voz diferente ao dizer aquela frase, e logo outra pairou em minha mente: “O amor e o ódio andam juntos”. Será que ele havia distorcido minhas palavras em sua mente? Mas o melhor de tudo era que ele ainda lembrava daquele incidente de riscar minha pele. Aliás, Edward, por vezes, me surpreendia relembrando frases que eu disse há algum tempo. Se ele não se importasse comigo, as esqueceria facilmente, e não era isso que acontecia.

Ele voltou a prestar atenção na professora, que agora explicava uma questão, e então retornou sua atenção a mim, mais uma vez, e aproveitei para lhe perguntar:

— Você conhece a banda Sidarta?

— Toca o quê?

— Não sei, ela é daqui da cidade — pause, para me lembrar de onde os garotos eram, e, para isso, espremi os olhos de um jeito dramático fitando o teto e franzido a boca —, de uns garotos que estudam no Marista — completei, fitando-o de novo.

— Conheço não.

— Será que vocês poderiam ficar em silêncio? — perguntou a professora já sem paciência, por Edward toda hora virar para trás.

— Fica conversando, Edward — murmurei, só para ele ouvir.

— Ela que fica me conq... desconcentrando, professora — disse alto, para ela ouvir, e não olhou mais para trás.

E sim, ele falou “conq” rapidamente, logo emendando em um “desconcentrando”. Falei isso para Lauren ao meu lado, e ela disse que ele não falou nada, mas eu estava fitando seus lábios na hora, e eu escutei perfeitamente quando ele disse isso.

Conquistando. Eu estava muito surpresa!

A professora desceu o slide e então pudemos ver o restante das questões. Lauren tinha respondido algo lá, e fiquei em dúvida se estava certo ou não. Aproximei-me da cadeira de Edward, e com a ponta fina de minha lapiseira, cutuquei seu braço.

— Deixa eu ver uma coisa — falei rápido, lendo seu caderno. — Ele colocou falso.

— Tá vendo? — rebateu ela.

Edward me fitou, tentando parecer sério, mas eu via um sorriso entre seus lábios.

— Você me furou — disse.

Dei-lhe um sorriso meigo, e ele apenas sorriu mais ainda, tentando riscar meu rosto com sua caneta. Afastei-me rapidamente de suas investidas, quando ele virou a ponta pro outro lado, agora me cutucando com o fundo da caneta. Ele mudou sua direção para o meu braço, e quando o tirei, ele tentou acertar minha barriga, mas arrastei a cadeira para trás, até que ele desistiu.

Jessica veio falar para mim sobre o novo nome de Leah. Escreveu um nome nada a ver em minha cadeira, que não entendi, e perguntei o porquê de sua escolha.

— É o nome travesti dela.

Acabei-me de rir. Como ela era maldosa. Quando ouviu a palavra “travesti”, Edward logo se interessou e ficou nos observando.

— Travesti? — indagou Lauren, sem entender.

Expliquei-lhe o motivo em seu ouvido. Era porque Leah tinha exagerado no lápis de olhos no desenho da sobrancelha hoje, estava algo grosso, grande demais e bem escuro.

— Aaaaah! — disse, depois de entender.

Olhei para Edward e lhe perguntei:

— Como é travesti em inglês?

Transexual, eu acho.

— O nome popular — pediu Lauren.

— Deve ser transexual mesmo — disse.

— Acho que não — eu respondi.

— E como é viado em inglês? — indagou ela.

Fag.

Ele me olhou, esperando que eu confirmasse.

— Sou uma garota direita, não conheço esses palavreados.

Ele riu, como se eu tivesse contado uma piada, e então tentou tocar minha testa com o seu dedo, e antes que minha mão tocasse seu braço, ele desviou, indo cutucar Lauren.

Mostramos a atividade à professora e fomos para o intervalo, no qual ficamos em uma sala e Jessica e Nessie tentaram, mais uma vez, me ensinar a dançar. Eu tinha melhorado um pouquinho.

Como toda sexta, teria um teste depois do intervalo e aí poderíamos ir para casa. Hoje seria inglês, e eu faria rapidinho. Edward saiu da frente e foi sentar no fundo. Terminei o teste antes das meninas e dele, e sentei na escada do lado de fora, esperando Lauren, pois não queria ir embora sozinha.

Longos minutos depois, e quem saiu foi Edward. Eu estava sentada no final da escada, escrevendo no celular, quando o garoto deu um pulo da parte de cima da escada e aterrissou em um estrondo em minha frente. Detalhe: havia mais de quinze degraus ali.

Meu. Deus.

Uma vadia loira da outra sala estava ali parada, e quando ele a viu, abraçou-lhe e eu desviei os olhos nessa hora. Tinha a impressão que ele me observava por cima do ombro dela. Sem nem olhar para trás, os dois desceram juntos.

Argh!

Minutos depois e a lerda da Lauren saiu, descendo as escadas, sem nem me ver. Chutei-lhe a canela quando passava por mim, e ela fingiu que tinha levado um susto. Idiota. Descemos conversando sobre besteiras, e quando viramos o corredor, vi que Edward ainda estava na escada, em um bolinho na saída, conversando. Ao me ver, se despediu das pessoas e foi andando em nossa frente, parou em outro bolinho mais adiante. Eu e Lauren saímos, mas eu sabia que logo ele nos alcançaria.

Não era a primeira vez que eu notava Edward sair na mesma hora que a gente. Tinha vezes que eu saía com as meninas, bem mais tarde que ele, e ele ainda estava por lá, e quando saíamos, ia junto.

Quando estávamos perto do ponto dele — Emmett tinha nos acompanhado —, vi Edward despontar atrás de mim, parando ao lado do amigo. Ele ficou escutando nossa conversa por alguns segundos e atravessamos juntos a pista; ele passou em minha frente para falar com alguém que não prestei atenção, dando um salto que nem um maluco. Olhei a cena, assustada.

— Pessoas loucas a gente não contraria — disse Emmett, e eu e Lauren concordamos.

Edward voltou a andar com a gente.

— Teve uma questão errada no teste de inglês, ele pedia passado simples e não tinha nenhum — eu disse.

— Foi mesmo, só tinha futuro. Eu chutei uma lá e você? — Edward respondeu.

— Acho que acertei tudo.

Ele olhou para frente rapidamente e murmurou um “Meu ônibus, tchau” para nós, e saiu correndo.

O ônibus dele ainda estava lá em baixo, parado no engarrafamento, e iria parar novamente no ponto.

— Eu pensando que o ônibus era esse — disse Emmett, apontando um ônibus parado no ponto.

— É maluco mesmo, e ainda corta os carros na rua — eu disse.

Dessa vez ele sentou na fileira ao nosso lado e nos olhou na janela, na verdade olhou para mim.

— O ônibus vai parar no ponto de novo, maluco — gritou Emmett.

Ele balançou a mão no ar, como quem diz “Deixa para lá”, e pôs a dizer:

— Branca azeda, branca azeda!

Revirei os olhos.

Edward era tão idiota! 


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Notas finais do capítulo

Como prometido, postei na quarta. Obrigada a todas que comentaram, e espero que mais leitores apareçam para a luz... q Hoje estou um pouco triste, foi um último dia de aula lá da escola, e como estou no terceiro ano, não vou ter mais o conforto de ano que vem os verei novamente. Mas ok, a vida continua.
Talvez eu poste um amanhã, se minha preguiça deixar e os comentários dobrarem (nem um pouco má).
Beijinhos e sigam o tumblr do meu livro: http://oenigmadosschneider.tumblr.com/



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