Um toque francês escrita por lufelton


Capítulo 8
Capítulo 8- Afaste-se




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Então ele tinha namorada.

Claro que tinha. Que besteira a minha pensar que ele não tivesse. Afinal, ele é um rapaz bonito, elegante, educado, galanteador. Não existem motivos para ele estar solteiro.

Nunca existiram.

Mas eu não me importo.

Até porque não gosto dele.

– Melhor voltarmos... - ele disse, ainda encarando o chão.

– Ah... Claro, vamos! – disse tentando fazer de conta que nada tinha acontecido.

Mas isso nunca funcionou comigo.

– Por que não me contou? Quer dizer... Eu... - diga alguma coisa, pensei.

– Você tem?- ele interrompeu. Parecendo mais surpreso do que deveria estar. Ou, talvez do que deveria me mostrar.

– Não, mas eu não iria dizer isso. Na verdade, só iria dizer que... Bem, se ela não gosta... – era realmente constrangedor falar sobre isso, mas eu tinha que me impor.

– Deixe isso para lá, Drew. - disse, mostrando-se despreocupado. – Qual a atividade extra que você irá se encarregar?- mudou de assunto.

– Bem, eu... Dança. Vou fazer dança. E você? – preferindo também trocar de assunto.

Ele apenas sorriu.

– O quê é? Não quer me contar?- desafiei-o.

– Não é isso... É que não me considero tão bom assim e por isso me sinto envergonhado de falar para as pessoas, entende? - disse tentando evitar revelar-me.

– Na verdade, não entendo. – observo-o revirando os olhos e sorrindo ao mesmo tempo. – Mas admito que eu até seria capaz de entender, se você me contasse o que é...- tentei persuadi-lo.

– Tudo bem, você venceu. Eu desenho... Mas acredite, são péssimos! Não sei como posso insistir em um dom que eu não possuo. Você vai odiá-los.

– Calma!- dei uma risada. – Por mais vontade que eu esteja de vê-los, ainda não posso julgar...

– Espera aí. Você quer ver?- ele disse, parecendo muito surpreso.

– Bom... Eu quero. - disse e, logo seus lindos olhos azuis brilharam de alegria.

Ao chegarmos, tudo parecia silencioso.

Não é que Morin tinha razão? Definitivamente, não fomos pegos.

Caminhávamos em direção à sala e passávamos pelos tais corredores que haviam despertado minha atenção. Os dois que possuíam, respectivamente, quadros e recados.

– Esses quadros são realmente muito lindos. Mas nunca tinha visto nenhum deles. Nem na internet, nem em livros. – disse um pouco confusa.

– E você nunca os veria, até porque eles são feitos pelos alunos de Strangers Place, os quais se encarregam de pintar e desenhar.

– Algum desenho seu está aí?- perguntei, procurando a obra mais perfeita da parede, aquela que obviamente seria dele.

– Não. – disse parecendo um pouco entristecido. - Mas eu nunca mostrei para eles.

– Já estou começando a achar que você é um fresco. Por que nunca mostrou a eles, monsieur Morin?- forcei uma cara de braba.

– Nunca tive coragem! E não adianta me olhar desse jeito, mademoiselle Kimberley. – ele riu.

Antes que pudesse responder, o sinal havia tocado. Era o fim da palestra, e eu e Morin ainda estávamos no corredor dos quadros.

– Merda! – despachou. - Vamos Drew, temos de correr. – disse, saindo correndo e me pegando pelo braço para acompanhá-lo.

No momento em que estávamos na frente da porta, várias pessoas começaram a sair da sala, muitas se esbarrando em nós. Até que um grupo de meninas avistaram Morin e foram até a nossa direção. Tive uma leve impressão de que elas continham várias intenções em seus olhares, quando esses eram dirigidos à Morin.

– Morin! -a morena que se encontrava ao meio das outras duas garotas tomava a iniciativa. Ela sorria e passava as mãos pelas pontas do longo cabelo preto. - Puxa, quanto tempo! Como foram as suas férias de verão? Como vai Claire?- fiquei pensando se o objetivo dela era realmente saber se Claire estava bem. Estava na cara de que ela a preferia bem longe do seu caminho, desde que estivesse somente ela e Morin. Fiquei refletindo tanto nisso, que nem havia notado dela não ter dado a mínima para a minha existência.

– Oi, Sophie. Foram boas, obrigada! –disse, forçando um sorriso.

Ela sorriu e após perceber que ele não iria lhe dizer nada além disso, prosseguiu:

– As minhas foram boas também! Eu, Amanda e Melanie- apontou para as duas meninas ao seu lado- fomos para Torquay, na Austrália. Aposto que você iria adorar surfar lá, é demais!- ela sorria feito uma nojenta. Vontade não me faltava de lhe dizer que ninguém havia lhe perguntado nada. Mas até que ela tinha sido útil ao revelar que Morin surfava.

Há alguma coisa que essa estúpida perfeição não saiba fazer?

–Ah... Obrigada pela dica, Sophie. - disse e depois virou a cabeça em minha direção. - Drew, creio ter escutado a professora Robin nos chamar, vamos?

Senti os olhares das três garotas fuzilarem em minha direção, mas não me importei, apenas concordei com a cabeça.

– Você tem certeza de que ela nos chamou? – disse quando estávamos no meio da sala. – Eu não escutei nada.

– Nem eu. – ele disse, sorrindo. Estava claro que ele só tinha dito aquilo para fugir daquela tal de Sophie. Fiquei um pouco feliz com isso, sem entender o motivo. Talvez seja porque isso tenha me deixado em disparada na frente de Sophie.

Pare.

Isso não é uma competição.

Ele tem namorada e você...

Não.

– Ei! Morin! Estamos aqui. –agora eram uma garota e um rapaz que estavam chamando pelo seu nome. Eles estavam recolhendo seus materiais enquanto moviam as mãos, tentando chamar a atenção de Morin.

Após avistá-los, abriu um sorriso e foi até eles.

Deixando-me ali, sozinha, apenas permitindo que eu escutasse a sua conversa.

– Desi! Ed! Como é bom ver vocês. – disse, abraçando-os.

– Nem vem com essa lambeção para cima de nós, Morin. Um mês de férias é insuficiente para me deixar com saudades de você. – disse a garota loira que empurrava Morin para longe dela. - O que Claire fez com você, hein?

– Ah pega leve, Desi... Eu estava com saudade dessa belezinha aqui. – disse o garoto ao lado da menina loira, fazendo Morin quase levantar do chão.

– Isso porque você é um idiota, Ed. – sorriu cinicamente. – E eu realmente não me importo que vocês gostem de se comportar feito dois gayzinhos e que, às vezes, concordo que AS duas deveriam ficar juntas, mas não comecem com essa agarração aqui, ok? Estamos em um lugar aglomerado. - disse, fazendo-me rir baixinho.

– Como posso ficar com Morin se sei que você jamais suportaria a dor de me perder, Desi? – disse beijando-a.

– Ah lá vão eles, beijando-se de minuto em minuto! – Morin riu. – Ah quase me esqueci, essa é Drew! Ela é nova aqui. – disse apontando para um lugar vazio, um lugar que deveria ser ocupado por mim.

– Você quer dizer – a menina loira apontava para mim- ela é Drew, não é? Ou você andou pondo nomes às mesas da escola? – e riu, fazendo seu namorado rir também.

Então ela veio até mim.

–Oi! Sou Desirée e aquele idiota que chamo de namorado é Edmound. - brincou ela, apontando para o tal Ed, que me acenou. - Bem vinda ao inferno! – sorriu.

Ela parecia ser muito amigável. Na verdade, ser engraçada era o que a definia. Ela continha cabelos loiros esbranquiçados que realçavam sua silhueta magérrima e bronzeada. Seu namorado, Edmound, era bonito também. Mas nem tanto quanto Morin. Ele tinha cabelos castanhos que caiam sobre sua testa, destacando seus olhos verdes.

Até que formavam um belo casal, pensei.

– Ah, obrigada! – disse rindo. – Você não faz ideia de como me deixou empolgada. – brinquei.

– É sempre bom assustar as novatas. – sorriu.

– Monsieur Morin e Mademoiselle Kimberley! Aqui estão os formulários de suas aulas e espero não ver mais nenhuma falta de vocês dois durante o resto do ano, se não teremos problemas por aqui. – disse a professora Robin, retirando-se da sala.

– E não verá, sua vaca. – disse baixinho.

– Opa, essa é das minhas! – disse Desi, apontando a cabeça para mim.

– Sem querer interromper seus pensamentos nem tão carinhosos sobre a professora Robin, Drew. Mas fomos informados que hoje teríamos somente essa aula de palestra e que ficaríamos livres o resto do dia. Como se fosse adaptação para volta às aulas, entendem? – dizia Ed. – Estava pensando se vocês gostariam de caminhar pela Champs Elysées. Completamente sem rumo. Estou com saudade de Paris, cara! - ele falava abrindo os braços, como se estivesse encenando alguém livre, prestes a voar.

– É realmente impossível para você não me constranger na frente das pessoas? – disse Desirée. – Mas até que foi uma grande ideia, também estou com saudade daqui. Vamos nós 4 e eu chamarei a Claire para nos acompanhar! O que acham? – disse demonstrando empolgação.

Mas... O que eu acho dessa caminhada com a presença de Claire ao lado de Morin? Uma péssima ideia.

– Bem, é muita gentileza sua me convidar Desi, mas estou um pouco cansada, não sei se seria uma boa ideia. – inventei uma desculpa. Coincidentemente, a pior de toda a minha vida.

Percebi que não fui a única a notar isso.

– Tem certeza de que não quer ir? – agora quem perguntava era Morin, olhando irresistivelmente aos meus olhos, como se os forçassem a dizer a verdade.

– Sim.

Não.

Nunca estive tão certa de que não quero isso. Mas é melhor que as coisas sejam assim. Faz apenas dois dias que eu o conheço, não é possível que exista amor, desejo, paixão, vontade.

Impossível.

É melhor eu me afastar dele, pois não quero me machucar novamente.

Afastar-me: a única coisa certa a fazer.

– A gente se vê por aí então, Drew. – disse Desi, pegando os braços dos dois meninos e os conduzindo ao corredor.

Por um momento, pensei ter visto Morin olhar para trás. Procurando por mim. Mas poderia ser apenas uma ilusão.

Iludir-me: a única coisa errada a fazer.



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