Um toque francês escrita por lufelton


Capítulo 3
Capítulo 3- Welcome to Paris




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Passamos quase o resto do dia separando minhas roupas, sapatos e objetos íntimos. Foi bem cansativo, mas valeu a pena. Amber me prometeu mandar emails o tempo todo e Peter também. Foi uma despedida simples e triste. Minha mãe chegou em casa não muito tempo depois da saída deles, mas não disse nada além de:

– Seu pai foi buscar sushi para nós. - e, como esperado, não olhou em nenhum momento para mim. Ela está fazendo um excelente castigo pelo desaforo de ontem, pensei.

Acabei não vendo papai ontem, pois dormi muito cedo. Porém, ao chegar, ele parecia normal. Como se não soubesse de nada do ocorrido.

– Oi filhota! Pronta para ir amanhã? Sua mãe me disse que você ficou muito animada com a notícia... - ele dizia sorrindo.

Dei uma olhada rápida em direção à minha mãe. Mas ela nada fez, nem me olhou e nem disse nada. Depois de tudo que eu fiz para ela, ela havia me protegido. Que tipo de monstro eu sou?

–Prontíssima! Amber e Peter vieram aqui se despedir e aproveitaram para me ajudar a arrumar minhas malas. Já deixei tudo pronto para amanhã. Não vejo a hora!- disse isso, forçadamente, da forma mais alegre que eu pude. Minha mãe havia salvado a minha pele ontem e eu não iria estragar tudo hoje.

Meu pai deu um grande sorriso e me entregou o prato de plástico com sushi. Peguei-o de suas mãos e fui para o quarto. Antes de devorar a minha janta, pensei em fazer uma última tentativa para ligar para Michael, já estava ficando preocupada.

Chamou. Chamou. Chamou. Atendeu

–Alô?

– Michael? Oi, sou eu. Drew

–Drew? Ah, oi. Tudo bem?

–Na verdade, nem tanto. Você nem imagina, vou para Paris amanhã.

–Sério? Que ótimo Drew! Quando você volta?

–Aí é que está. Eu não volto. Vou cursar minha faculdade lá.

– Tá brincando? Que irado.

–Irado? Eu estou aqui, quase morrendo de tanto chorar, pois não quero passar nem 5 minutos da minha vida naquele lugar e você diz que é irado?

–Pô, Drew. Achei que você quisesse ir. Foi mal.

–Tudo bem, amor. Eu estou meio irritada hoje. Será que você poderia passar por aqui amanhã de manhã? Meu embarque é ao meio dia.

–Amanhã? Puxa Drew. Não vai dar. Minha mãe vai precisar de mim amanhã...

– Mas e como nós vamos nos ver?

– Ah, quando der.. Quando você vier passar suas férias aqui dá uma ligada para a gente se encontrar.

–Como assim quando der? E o nosso namoro? Como fica?

–Namoro?

Aí que eu me toquei. Somente eu estava namorando ele. Não ele a mim. Fiquei tão chocada com essa pergunta que nem tinha percebido que tinha deixado o celular em um silêncio constante.

–Drew? Você está ai?

–Estou

–Drew, você achou mesmo que estávamos namorando? Quero dizer... Você é gata e legal, mas nunca me interessei em namorar com alguém, entende?

–Claro... Eu sinto muito, sabe... Por isso.

–Sem problemas. Boa viagem para Paris. Beijo e se cuida!

–Michael, espera...

Tarde demais... Ele havia desligado. Era como se todas as coisas da minha vida estivessem evaporando, como se elas nunca tivessem existido. Era assim que eu me sentia. Perdi o apetite. Joguei todo o sushi no lixo, pus meu pijama e deitei com meu Ipod. Escutava a música Somewhere Only We Know, no volume máximo. Não sentia vontade de pensar, comer, raciocinar, chorar. A única coisa que eu queria era estar acordando amanhã, como se fosse um novo dia ou, uma vida nova.

–Drew! Drew! Acorda! É hoje, hoje você vai para Paris!

Não podia ter sido acordada de um jeito pior. Meu pai gritando na porta de meu quarto, como se fosse ele quem estivesse prestes a viajar. Ao me levantar, tive aquela sensação de que não ter dormido absolutamente nada. Deve ter sido por causa do Ipod, pois o deixei ligado, aos berros, a noite toda. Pelo menos, acordei o suficiente cedo para me arrumar e pegar as coisas que faltavam. Verifiquei meu celular. Nada de mensagens de Michael. Só 2 de Amber me desejando boa viagem e me lembrando de mandar notícias quando chegasse. Tomei banho, café, fiz a maquiagem, botei uma roupinha bacana e logo peguei as malas junto com o meu pai, que me ajudou a colocá-las dentro do porta-malas. Mamãe não havia trocado palavras comigo a manhã inteira. Só falou comigo quando foi para perguntar se eu preferia leite frio ou quente. Mas não considero isso um diálogo.

Não sei até quando ela vai ficar desse jeito comigo, por mais que eu mereça. Mas o que importa agora é como vou seguir a minha vida. Sozinha e em um país diferente, com uma língua e leis diferentes. Só pode ser um pesadelo. Devo estar dormindo ainda, mas meus instintos discordavam, pois antes que eu pudesse perceber, já estava dentro do carro com o cinto de segurança posto partindo para a estação de St. Pancras. Ao chegarmos lá, papai ficou perguntando para todos os funcionários que concediam informações na estação o local exato de meu cartão de embarque, para podermos ser os primeiros da fila. Já era 11h55, meu trem partiria em exatamente 5 minutos, os quais seriam utilizados como uma breve despedida minha aos meus pais.

Papai foi o primeiro quem me abraçou. Disse que me amava muito e que queria que eu fosse muito feliz na França. Eu dei um sorriso e disse que o amava também. Que os visitaria quando eu estivesse estabilizada.

– Bom, despeça-se de sua mãe que vou até ao banheiro. Estarei te esperando lá fora, querida. Boa viagem, Drew.

Ainda me restavam 3 minutos, os quais estavam sendo desperdiçados. Pois eu e minha mãe não nos tocávamos, apenas olhávamos uma para a outra. Então, suspirei e tomei iniciativa.

– Mamãe, eu queria te pedir desculpa por aquela briga horrível que tivemos. Você estava certa. Eu fui muito injusta.

Ela ficou me observando e disse lentamente

– Drew, eu só quero que você saiba que eu não fiz isso pelo seu mal. Apenas faço aquilo que gostaria que tivessem feito por mim, gostaria de ter uma mãe que me desse tudo do bom e do melhor. Mas não tenho. - lágrimas caíam de seus olhos. Porém, hoje eu posso viver essa experiência e tento proporcionar o melhor possível para você, o melhor que eu nunca tive! Então, vá e aproveite. Não se preocupe em ligar, nem se pergunte se irei ficar preocupada se chegar tarde no hotel. Simplesmente, aproveite. - ela me deu um abraço apertado e eu retribuí. Ela estava completamente certa. Nunca na minha vida me senti uma pessoa tão ruim.

– Eu te amo, divirta-se!- ela disse, limpando as lágrimas.

–Eu também te amo, muito! Vou aproveitar ao máximo! Você vai ver! Adeus mãe.- e subi no trem com os olhos encharcados. Não queria que ela visse essa cena, não queria que ela se sentisse culpada outra vez. Nem que ela sofresse mais. A partir de hoje, o novo estaria entrando em minhas portas.

O trem não demorou muito para partir assim que entrei, então chequei o meu cartão de embarque e sentei ao lado de uma janela na segunda fileira, da classe econômica. Tudo parecia vazio e silencioso. Perto de mim só se encontrava um casal, o que me fez pensar em Michael. Como ele pode ter feito isso comigo? Como pode me iludir tanto, prometer-me tanto para que, no momento em que eu mais precisasse dele, ele me fizesse me sentir tão desiludida, traída, machucada.

Não importa. Fechei os olhos com muita força, como se quisesse dormir repentinamente. Levou um tempo, mas acabei cochilando.

Depois só acordei com aqueles avisos automáticos do trem, dizendo: Bem vindo, você acaba de chegar em Paris!


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