Se Janina antes tinha alguma esperança de sair com vida daquele lugar, estas lhe abandonaram a um bom tempo. Dias inteiros se passaram e a moça continuava tendo como companhia apenas sua própria solidão.

Procurou em sua mente diversas formas de encontrar uma saída, mas nenhuma era cabível para ela, ainda mais levando em conta seu “estado”.

Se a gravidez deveria fazer com que ela ganhasse peso, nem de longe estava dando certo, visto que a menina emagreceu visivelmente nos últimos dias. Não por falta de comida, por que mesmo em cativeiro o “chefe”, como chamavam os seus subordinados, fazia questão de que desse comida para ela, já que era conveniente que esta não morresse de fome.

Andrews encontrava-se sentado no sofá de sua casa, concentrado na leitura de um jornal. Na seção policial a foto de Janina ainda estava estampada, e ao lado mostrava a foto de Emanuel Cantini com uma feição desolada na face, seguida de uma pequena declaração: “Perdi minha filha, por conta talvez de um descuido meu. Não fui um bom pai, e sei que isso me acompanhará para sempre. Não desistirei de encontrar um culpado para o homicídio, que ao que tudo indica foi o que ocorreu. Mas do que qualquer forma de justiça, eu gostaria de uma nova oportunidade. Daria minha vida para ter uma nova chance de cuidar dela.”

Andrews sorriu diante das palavras do homem. Emanuel não sabia, mas para o rapaz essa era a confirmação antecipada de que seu plano daria certo.

–Rindo sozinho a uma hora dessas da manhã And?_Derek perguntou adentrando a sala._Assim posso pensar que está apaixonado ou algo parecido...

–Tão cedo e você já vem me infernizar com seu estoque de baboseiras Derek?_Andrews respondeu sem retirar da face à expressão de felicidade.

–Pelo jeito a noite foi boa mesmo._Derek sorriu safado e Andrews balançou a cabeça._Nem consegue parar de sorrir.

–Acaso me chamo Derek para ficar feliz por conta de uma noitada com vadias?_Andrews revidou ainda sorrindo._Ou melhor, eu me chamaria Derek caso ficasse rastejando atrás de uma patricinha mimada que só sabe me esnobar...

Derek fechou a expressão e lançou uma almofada na direção do amigo que apenas desviou e sorriu mais largo.

–Diz de uma vez infeliz, o que é que você quer..._Andrews perguntou parando de rir.

–Parece que você tem visitas._Derek deu de ombros._E não adiante fazer careta porque eu já disse que você provavelmente estaria dormindo, mas como você sabe bem, Jonas e Saymon Haala sabem ser bastante insistentemente irritantes.

–Olha Derek, eu estou de ótimo humor e por isso vou ignorar tanto você quanto esses dois estúpidos. Diga a eles que estou completamente ocupado dando continuidade ao projeto que envolve o Cantini. E caso insistam ameace usar de seu “potencial” com eles._Andrews disse se levantando do sofá e seguindo rumo ao andar de cima.

Derek deu de ombros e seguiu rumo a parte de fora da casa.

–Lamento informar senhores, mas o senhor Montanova encontra-se muito ocupado no momento dando continuidade ao projeto que envolve o Cantini, e por isso não poderá atender. _Ele informou com expressão de tédio._Quando ele quiser recebê-los ele mesmo os chamará.

Saymon Haala franziu o cenho e usou do maximo de sua força para não ser indelicado com o jovem a sua frente. Ele sabia que na hierarquia do poder naquele lugar, o lugar dele era um pouco mais abaixo do que o que era destinado a Derek. Todos sabiam da enorme amizade de Andrews Montanova para com Derek e esse era o motivo que fazia com que todos demonstrassem respeito para como rapaz. Saymon nunca escondeu a antipatia que sentia para com o pai de Derek, antipatia essa que causou a morte de Sávio Andeza. Derek ainda não sabia, mas Saymon planejava o mesmo destino para ele, era necessário apenas que o rapaz agisse da maneira que estava agindo agora. Se colocando em seu caminho.

–Vejo que para falar com o senhor o Montanova teve tempo suficiente certo?_Foi Jonas quem respondeu.

–Pois é. Ele teve tempo ainda de me dar ordens expressas para que eu usasse dos meios necessários para evitar que ele fosse incomodado._Derek respondeu ainda sem alterar sua expressão.

–Não será necessário nada disso meu rapaz._Saymon contrapôs._Apenas estamos de saída.

Dizendo isso os dois homens se retiraram deixando Derek sozinho com seus próprios pensamentos.

No interior da casa Andrews estava a passos lentos se direcionando ao quarto de Janina. Antes disso ele passou em seu próprio aposento e pegou uma câmera digital. Para ele esse era o momento em que ele começaria a colocar em pratica todo o desenrolar de seu plano. Se Emanuel Cantini queria uma segunda chance, Andrews daria isso a ele.

Abriu a porta do quarto da moça e a encontrou jogada sobre a cama. Fechou a porta atrás de si e se aproximou rapidamente da moça no intuito de checar sua respiração. Ela tinha feições de como se estivesse morta. Percebeu que ela estava respirando, mas deteve-se a analisar o estado da moça. Ela tinha os cabelos soltos espalhados pela cama e de longe se via o quão estavam maltratados. Tinha emagrecido consideravelmente e era notável a falta que a luz do sol estava fazendo. Ele era inteligente suficiente para perceber que aquilo seria um ponto a seu favor. Não que ele realmente se preocupasse em ela estar viva ou vegetando, mas notou que o estado da moça poderia ajudar na decisão de Emanuel.

Ele sacudiu a moça que despertou em um susto e logo encontrava-se sentada na cama.

Ela estranhou a presença dele por ali afinal há tempos ela não o via. Ela tinha medo e este era praticamente palpável.

–Desfaça essa maldita cara de medo antes que eu te de motivos para continuar com ela._Ele disse em um tom de voz assustadoramente frio.

–O q...que...voc...você quer de..mi...mim?_Ela perguntou tropeçando nas palavras e com a voz rouca devido ao tempo sem falar nada.

–Quero que se levante e de um animado “oi” para o seu papai._Ele disse simplesmente dando de ombros.

–Meu pai está aqui?-Janina perguntou se levantando e voltando a cair na cama devido a uma tontura.

Andrews se virou para ela e lhe lançou um olhar curioso.

–Além de os sintomas normais, a gravidez ainda te deixou burra?_Ele perguntou rude._Mas é claro que não está, mas eu li em algum lugar que ele queria muito o direito de ter uma segunda chance com você, já que ele foi um péssimo pai e blábláblá...E como eu sou uma pessoa muito caridosa decidi que darei essa chance a ele.

Janina deixou uma lagrima escorrer no canto dos olhos. Ela em momento algum queria que o homem que ela mais amava na vida se sentisse culpado do que estava acontecendo com ela. Era culpa dela, inteira e completamente dela. Provavelmente ela merecia aquilo, para servir de lição para não ser sempre tão burra.

–Está chorando por que garota?_Andrews interrompeu os pensamentos dela._Acaso te dei motivos para isso?Achei que ficaria feliz em saber que seu pai descobrirá que você não está realmente morta....

–Por que você não me deixa ir embora? Por que me pegou e por que quer me manter aqui? Me responda por favor, eu preciso saber..._Ela disse em um sussurro.

–Eu não tenho que dizer nada e você não precisa saber de exatamente nada. Seu papel aqui é apenas sobreviver e cumprir tudo que eu mando você fazer. E no momento quero que fale para essa câmera tudo que tem vontade de dizer ao seu pai. Só não perca seu tempo falando mal de mim ou tentando dar uma localização por que será tudo em vão._Andrews disse tudo isso em uma voz calma e sem expressão alguma.

–Mas antes._Ele retomou a palavra._Gostaria de saber de uma coisa.

–Pergunte..._Janina sussurrou.

–Não me lembro de te pedir autorização para isso, mas o farei._Ele disse novamente em tom rude._Quem é o pai do seu filho?

Janina empalideceu diante da pergunta e tratou logo de responder em um fio de voz:- Meu filho não tem pai...

–Ora vamos garota..._Andrews riu em escárnio._Eu sei de onde vêm os bebês e sei também que uma garota não pode “fabricar” um sozinha. Então poupe meu trabalho de ter que arrancar essa informação de você e me responda de uma vez.

Janina adquiriu um olhar distante e logo recomeçou a falar:

–Digo que meu filho não tem pai, somente por que o cara que me ajudou a “fabricar” ele não quis saber de mim depois disso e apenas me abandonou.É um insignificante...

–Quero um nome._Andrews a interrompeu.

–Julio Salvares é o nome dele._Ela respondeu amarga._Mas meu pai não sabia sobre ele e nem que estou grávida.

Andrews sorriu internamente, mas se limitou a não dizer nada. Com um aceno de cabeça ele aproximou a câmera da moça e deu sinal para que ela se aproximasse. Nesse meio tempo ele colocou o aparelho de pé sobre um tripé no chão. Contou silenciosamente até três e deu inicio a gravação.

Janina olhou fixamente para o aparelho e logo começou a falar.

–Olá papai... Sei que é estranho me ver, depois de pensar que estou morta, mas não tenho muito tempo e por conta disso terei de ser breve. Não posso te dar explicações pois nem eu mesma as tenho e peço somente que faça o que tiver de ser feito e em momento algum se sinta culpado de nada. Você foi e ainda é o melhor pai do mundo. Eu amo você e peço que nunca se esqueça disso, independente do que venha a acontecer.Não faça nada do que irá se arrepender depois e saiba que nada do que fizer me fará te amar menos.Fique bem Sargento.

Andrews viu as lágrimas nos olhos da garota e logo se aproximou par que entrasse no angula da câmera.

–Olá! Emanuel Cantini certo?Sei que deve estar se derretendo em lagrimas agora, e por isso vou aproveitar o momento para dar a você todas as noticias de uma única vez. Essa sua filha costuma se fazer de boa moça não é? Confesso ao senhor que esse jeito de puritana dela costuma me irritar bastante._Ele sorriu sinicamente, mas isso não era notável devido a mascara que ele usava._Mas ela me contou umas coisinhas que aparentemente o senhor ainda não abe não é Sargento? _Ele usou o apelido com o qual Janina se referia a Emanuel anteriormente._Mas isso não vem ao caso agora, a menos que o senhor queira saber é claro.... Eu não costumo contar segredos alheios, mas acho que o senhor tem o direito de saber... Não é Nina?_Ele puxou a garota para perto de si, ela mantinha os olhos fixos nele sem saber que reação ter._O senhor Emanuel Cantini, será vovô._Dizendo isso em um movimento rápido ele arrancou a blusa da moça expondo a pequena barriga de quase ter meses dela._A propósito... Eu sou Andrews Montanova, pai do seu neto._Ele disse sorrindo e arrancou a mascara que cobria seu rosto, dando a Janina a primeira visão do rosto de seu algoz.