Meu pai acompanhou eu e Nico até os quartos. Passamos por alguns quartos, e ele abria todos para que escolhêssemos. Nico gostou do sétimos que achamos, decorado com caveiras. Era simples, uma cama com lençóis pretos e algumas almofadas de caveiras, o papel de parede também nesse estilo, um closet não muito grande e uma estante. Bem simples e legal.

Mas comigo foi mais demorado. E os quartos estavam acabando. Percebi que Hades começava a fazer uma cara de quem estivesse preocupado, mas eu não pude deixar de notar um sorriso divertido no canto da sua boca.

– Bem, ou é esse ou você dorme no sofá - ele disse, e então abriu uma porta. A última do corredor.

Sério, as vezes, eu acho que meu pai me conhece antes mesmo de mim. Ou até mesmo lê os meus pensamentos.

O quarto era escuro. Havia um colchão na parede ao lado da porta. Tinha um pequeno apoio pra ele, mas nem dava pra ver. Os lençóis eram pretos com pequenas caveiras. Logo acima dele, tinha um armário. Na parede de frente para a porta, havia uma estante que imitava o desenho de uma árvore. Acho que eu ia fazer uma visitinha a biblioteca de Atena, pegar alguns livros emprestados. Talvez eu os devolvesse.

Na parede a direita da estante de árvore, havia uma guitarra preta, um baixo - preto também - , uma bateria e vários amplificadores. Ah!, não podemos esquecer dos dois microfones que lá esperavam. Em frente aos instrumentos, estava uma parede vazia. No chão dela, havia almofadas quadradas de todas as cores espalhadas. Quase na lateral da parede, ao lado, estava uma porta. Deveria ser o banheiro.

Eu olhei para o meu pai

– Muito obrigada - foi o que consegui dizer.

Ele suspirou.

– Ainda bem que achamos um quarto pra você. Boa noite querida - então, com um beijo na minha testa, se virou e sumiu.

A primeira coisa que fiz, foi procurar minhas coisas no armário. Para ser mais específica, minha capa de invisibilidade. A coloquei, e corri para fora do templo de meu pai. Agora, precisava achar o templo de Atena. Ou qualquer outro lugar que tivesse livros que eu goste.

Olhei para os lados, tentando procurar algo que parecesse da deusa. Ao alto do monte, eu vi um templo meio dourado e prata. Tinha uma coruja desenhado nele. Acho que era o templo dela. Corri até lá.

Sei o que você deve estar pensando. Se for um ladrão ou uma ladra, deve ser isso: "por que você não se teletransporta?" Não se esqueça que eu corro o enorme risco de acabar desmaiando de cansaço lá. E ela é a deusa da sabedoria. Vai me fazer picadinho se me encontrar.

Ou, se você não é ladrão nem uma ladra, deve ser: "Que falta de educação! Roubar é feio!" Não se esqueça da minha benção de Hermes. E eu amo livros!

Não demorei muito a chegar lá. Rodeei o templo, procurando alguma entrada que desse para a biblioteca. Em um momento, uma semideusa estava olhando para fora. Eu me escondi embaixo de sua janela, para que não me visse. Segundos depois, fui lembrar que estava invisível.

Achei uma janela para a biblioteca quando estava quase desistindo. Consegui me segurar nela, e a abrir. Pulei para dentro, e me dei com a coisa mais bela que eu já tinha visto.

Era gigante. Tinha dois andares, com as prateleiras repletas de livros, mais livros empilhados nas mesas, no chão e em todo o canto. Comecei a pesquisar tudo aquilo, até achar alguns que eu gostasse. O problema, foi que em minutos, minhas mãos estavam cheias.

Eu retirei o capuz da minha capa, pois não tinha ninguém lá. Com alguns livros que peguei, me sentei no chão e comecei a folheá-los, procurando favoritos para eu levar para meu quarto.

Estava folheando o sétimo livro quando ouvi um barulho. Não tive tempo de me manter invisível novamente. Uma mulher com cabelos pretos acastanhados bagunçados, vestindo um roupão amarelo-claro e com chinelos de dedo apareceu. O pior, foram seus olhos. Olhos cinza tempestade. E estava irritada. Ou pelo fato de eu invadir a biblioteca, ou pelo fato de eu te-la acordado. O que acho meio difícil, pois tomei cuidado para não fazer barulho. Ela era Atena.

E eu tinha invadido o templo dela. Ou pior, a biblioteca.

– Bem, você precisa de algo? - Ela disse, esfregando os olhos. Depois me mandou um sorriso que dizia: "Acho bom você fazer o que eu estava pensando, caso contrário eu te transformo em pó."

A única coisa que fiz foi engolir em seco e esperar que ela não me matasse.

- Em? Você precisa de algo? - Ela perguntou novamente, colocando as mãos na cintura.

- Ahn... Bem... Eu estava dando uma olhada nos livros - eu menti, e acho que deixei isso meio claro. Ela olhou para o lado e riu. Como se realmente esperasse isso. Talvez fosse verdade.

- Por que não veio de dia?

- Eu gosto da noite.

Ela arqueou as sombrancelhas e deu de ombros. Então se abaixou e levantou a capa do livro que estava folheando.

- Instrumentos Mortais... Uma boa coleção para filhas de Hades - então, pegou a capa de mais alguns - Jogos Vorazes, as Crônicas dos Kane... Voc6e gosta bastante de ficção.

- Então Percy Jackson é ficção?

Ela olhou para mim um tanto assustada.

- Não... Não é não. Um bom livro. Aquele herói também. Apesar de sempre estar perto da minha filha - ela suspirou - Mas fazer o que, né? Não podemos evitar o amor.

E ela olhou para minha pulseira-corrente. E eu a escondi. Então, a deusa se levantou e andou até algumas prateleiras, saindo do meu ponto de vista. Quando voltou, estava com vários livros nas mãos. Ela se sentou com as pernas cruzadas, abriu um e começou a ler. 

- Fique a vontade - ela disse, voltando os olhos para mim, logo que eu não tinha parado de olhar para ela. Então, comecei a ler Cidade de Vidro.