– Não... - Eu disse quando nos separamos. Ele olhava atônito pra mim. Realmente não esperava nada disso. - Eu... não posso.

– Por que? - Disse ele, tristonho. Não sabia se conseguiria resistir a isso.

– Ártemis... As Caçadoras...

– Mas você não foi aceita, certo? - Me interrompeu.

– Não. - Disse, desviando meus olhos para o céu. - Mas ainda respeito a tradição.

– Você se envolveu com um homem.

Olhei pra ele. Parecia implorar para que eu desistisse de que estava pensando. Meu coração dizia o mesmo. Queria nunca ter que decidir isso.

Suspirei e assenti.

– Mas mesmo assim...

– Pelo menos me deixe ficar por perto. - Ele me interrompeu novamente, e tocou meu rosto com as pontas de seus dedos. Sua mão era quente. - Deixe-me te proteger. Nem que seja por alguns dias. Não me deixe só.

Olhei para ele com dó. Conhecia aquele olhar. Ele não queria perder alguém importante, não de novo. Mas eram tão poucos dias! Ele nem me conhecia direito.

– Ok. - Eu disse me levantando. - Vou dormir. Boa noite.

– Boa noite. Bianca? - Chamou.

– Sim? - Me virei para fitá-lo. Eu quase chorava.

– Desculpe.

Então, ele se levantou e foi para o seu chalé. Pude ver que estava triste. O que eu tinha feito?

Peguei um pedaço de madeira que estava por perto, e o joguei na água. Voou longe, e quando tocou a superfície, espirrou água para todos os lados.

– AAAAAAHHH!- Gritei, extremamente irritada. Minhas pernas ficaram bambas e eu cedi, caindo de joelhos, machucando-os no piso de madeira. Me sentia mais idiota do que tudo. Até havia esquecido o que Afrodite fez. Enterrei meu rosto nas mãos e chorei. Implorava para que ele não ficasse bravo comigo.

Depois de um certo tempo, eu me levantei, e corri para meu chalé. Cheguei e bati a porta. Não havia ninguém lá. Tocava Was It a Dream? - 30 Seconds to Mars.

Ótimo, Pensei. Mais algo pra me jogar no fundo do poço.

Me troquei, e lavei o rosto. Pude ver que meus olhos estavam inchados. Depois disso, me joguei na cama. Apaguei.

Acordei com um balanço no meu ombro. Aline me sacudia feito uma louca.

– Bianca, você viu sue pai? - Perguntou ela, preocupada.

– Ahn... Não... - Respondi, sonolenta. - O que houve?

Me sentei na cama, e ela também.

– Ele sumiu. Ninguém o vê faz horas, e não o acharam em lugar nenhum e nem no submundo. Jared disse que você conversava com ele - meu coração pesou. - Ele disse algo?

Balancei a cabeça, negativamente. Me levantei, troquei de roupa e fiz a higiene matinal. Abri o armário, peguei minha capa, e uma mochila. Coloquei mais uma blusa, um casaco e uma calça. Olhei pra ela. Pareceu entender minha mensagem.

– Vou pegar minhas coisas. E precisamos conversar com Atena.

– Eu vou de qualquer jeito.

Saímos do chalé, e tranquei a porta. Avisei a Aline que iria guardar a chave, e me dirigi a Casa Grande. Entrei, e guardei a chave no chaveiro ao lado da porta. Quando saí, vi Atena sentada, lendo um livro sobre guerra. Ela fechou o livro e olhou para mim.

– Nem vem - comecei - ele é meu pai. Vou atrás dele.

– Bianca, nem nós conseguimos achar ele - ela disse. - Você acha que conseguirá?

– E por que não?

Ela suspirou, e assentiu a cabeça.

– Tome cuidado.

Fiz uma reverência, e fui ao chalé de Hécate. Jared estava lá, com uma mochila, bermudas jeans, all-star e uma blusa azul-clara. Ele olhou para mim, e depois se voltou para Aline, que logo se levantou.

– O que ela disse? - Ela perguntou.

– Tome cuidado. - Respondi.

Eles assentiram, e saímos do chalé, indo em direção ao penhasco. Havia um túnel com uma escada lá. Pude ver que tinha vários campistas nos olhando. Entramos no túnel e subimos as escadas. Jared na frente, Aline logo atrás e eu por último. Fomos parar no meio da floresta. Ninguém falou nada, só seguimos Jared. Ele parecia... Triste? Não, não. Algo pior.

– Então - ele parou e olhou para mim -, você sabe onde ele está?

– Se não tiver andando por ai, o que duvido muito - falei - deve estar sequestrado. E sem seu Elmo.

– Ele estava com ele ontem a noite - Jared se calou por um momento. Então, continuou: - Não consegue, sei lá, sentir algo?

Os dois olharam esperançosos para mim. Fechei os olhos, e me concentrei. Quando os abri de novo, vi um gigante correndo em minha direção. Estavamos em um lugar muito alto, e dava para ver Nova Iorque de lá, pois o chão era de vidro. Pude ver o meu pai me alertando, eu gritei, e me virei para correr. Mas algo me segurou por trás, e eu me debatia. Alguém com uma voz familiar e longe gritava meu nome. Até que abri os olhos de verdade. Estava quase caindo no penhasco. Podia ver algumas pedras que eu havia derrubado caindo. Me viraram bruscamente, e percebi que Jared me segurava pelos ombros. Ele e Aline olhavam espantados para mim.

– O QUE VOCÊ PENSOU QUE ESTAVA FAZENDO? - Berrou ele. Me assustei e muito, e, então, ele me trouxe para longe do penhasco. - Tudo bem?

Não respondi.

– Você estava com os olhos vermelhos - Aline disse. Me recuperei do choque, e franzi a testa.

– Olhos vermelhos? - Perguntei, confusa.

– É - Jared respondeu. - O que você viu?

– Um lugar alto, um gigante me perseguindo e... Meu pai preso.

Eles se entreolharam.

– Como o gigante parecia? - Perguntou Aline.

– Uma pessoa gigante. Duh!

– Bem... Eu acho que seu pai foi sequestrado por Oceano.

– Por que raios isso iria acontecer? Pra que?

– Pois ele pode libertar Cronos - respondeu Jared. Ele se virou e começou a caminhar. - Vamos, temos que procurar um avião com teto de vidro.

Então, fomos salvar meu pai.