Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 2ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 7
Todo Mundo Odeia Promessas


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente...
Eu sei que demorou, mas demorou menos que os últimos...
Pra quem pensa que eu abandonei, eu não vou abandonar isso até terminar a história INTEIRA...
Então fiquem tranquilos e acompanhem...
^.^



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POV. CHRIS (Brooklin – 1984)

                Pra me eleger presidente do grêmio eu fiz promessas demais pra uma vida inteira. Eu sabia que não podia cumprir todas elas – se bem que eu sabia que não ia conseguir cumprir nenhuma – mas de certa forma eu me confiei que eles não iam lembrar depois. Mas, como eu tenho um azar desgraçado que todo mundo bem conhece, eles lembraram. Mais ou menos um mês depois que eu fui eleito, as cobranças começaram. Eu tava indo pra casa quando pelo menos dez alunos pararam eu e a Lizzy na saída.

                “Você prometeu armários novos!”

                “Você prometeu carne de verdade na cantina!”

                “Você prometeu livros desse século!”

                Eu e a Lizzy nos olhamos e ela me deu um olhar de ‘meus pêsames’. Fiz a única coisa que podia pra sair ileso.

                “Vou providenciar.”

                A gente saiu de lá sentindo os olhares de todo mundo queimando nossas costas. Me senti meio culpado por meter a Lizzy nisso, afinal ela nem queria participar, mas se ofereceu por minha causa. Ela me trouxe pra realidade com a pergunta que eu não queria escutar.

                “E ai? O que vai fazer?”

                “Não sei. Eu provavelmente não tenho chance de fazer nada, por mais que eu vá atrás. É um cargo simbólico.”

                “Também acho.” Ela parou de andar e me olhou com cara de preocupação. “Será que vão depor você?”

                “Será?”

                No outro dia eu comecei a achar que a Lizzy tinha algo de adivinha no sangue. Primeira manchete do jornal da escola: SERÁ QUE O PRIMEIRO PRESIDENTE NEGRO DA ESCOLA VAI SER DEPOSTO? O Greg chegou pra gente com uma cara de horrorizado.

                “Cara, é sério isso aqui?”

                “Acho que é.”

                “E você vai deixar isso acontecer? Depois de tudo o que a gente fez?” Ele falava de um jeito que parecia que o deposto seria ele e não eu. É claro que eu tava incomodado. Significava que eu não tinha conseguido nada a não ser mentir pra ser eleito. Mexia com o meu ego, mas eu resolvi deixar pra lá.

                “E o que eu posso fazer?”

                Eu tinha passado boa parte da tarde do dia anterior conversando com a Lizzy sobre isso e a gente não tinha chegado a nenhuma solução possível. Ela concordava comigo que todas as promessas que eu tinha feito eram demais e que ninguém da escola ia concordar em fazer nenhuma mudança do tipo. Então, eu não tinha nada a fazer. Mas pro Greg, eu deveria gritar, espernear e mais outras coisas.

                “Cara, você tem que lutar. Foi uma conquista nossa e você vai deixar acabar assim? Vai desistir?” Por que todo mundo quer que eu faça alguma coisa? Tava começando a me irritar.

                “Se foi uma conquista nossa, por que você não faz alguma coisa?”

                “Porque não fui eu que fui eleito.”

                “A essa hora eu preferia ter perdido pro Caruzo.” Ele bufou e saiu. Rolei os olhos e resmunguei, “Tá difícil, meu Deus.” Olhei e pra Lizzy e ela só me encarava. “O que foi?” Ela sorriu e balançou a cabeça.

                “Nada. Bora pra aula.” Ela me puxou pelo braço e me levou em direção à sala.

POV. LIZZY

                A gente passou a tarde juntos, discutindo o que fazer, mas sem chegar a nenhum acordo. Eu disse que ele já tinha tentado de tudo, mas...

Flash Back

                “Como você vai contar pro Greg?”

                “Não faço a mínima ideia.” A gente tava no Doc’s: ele trabalhando e eu vadiando. “Ele vai pirar, eu sei, mas o que eu posso fazer?” Ele parou um pouco e me encarou. “Acha mesmo que não me depor?” Eu não ia mentir pra ele.

                “Acho.” O rosto dele era a decepção e ele desviou os olhos dos meus. Era frustrante. Depois de tanto trabalho pra campanha, e ver acabar assim. Não me deixava pra baixo por eu ser a vice da chapa; eu tava preocupada era com ele.

Cheguei mais perto e fiz ele olhar pra mim.

“Ei, não fica assim. É só um cargo. Você fez o melhor que pôde.” Ele bufou e se afastou pra limpar outra prateleira.

“Até parece. Você sabe que eu não fiz, e é justamente isso que me incomoda.”

“Por quê?”

“Por que eu fui um inútil. Nem conseguir manter um cargo simbólico eu consigo.”

“Chris...”

“To mentindo?”

“Você sabia que seria difícil.”

“Não tanto assim. Eu não posso mudar nada e a culpa não é minha. Mas a pior parte é que eles me culpam e eu me sinto culpado.” Ele largou o que tava fazendo e sentou no chão, encostado na parede. Procurei o Doc com os olhos, mas uma estante tava o meio, bloqueando a visão. Porém algo me dizia que ele tava ouvindo tudo. Me ajoelhei perto do Chris e peguei sua mão.

“A culpa não é sua.”

“Eu sei.”

“Então não deixe ninguém dizer que é.”

“Então me diz por que eu tenho a sensação de que poderia ter feito mais?” Franzi as sobrancelhas.

“Quando a gente não consegue fazer uma coisa direito ou quando não tem nada que a gente possa fazer, fica um pouco dessa sensação de inutilidade. E outra, o que mais você poderia fazer? Você fez o que qualquer líder teria feito: foi lá e viu se podia fazer alguma coisa, mas não podia. Então para de se culpar.” Falei a última frase bem mais séria que o resto e ele me olhou.

Ele me encarou por tanto tempo que eu comecei a ficar um pouco desconfortável. Quando eu ia perguntar se tava tudo bem, ele me puxou pela mão, se ajoelhando de frente pra mim e me abraçou. Pega de surpresa, eu fiquei um pouco sem reação, mas logo retornei o abraço.

“Para de ficar pensando besteira, bobo.” Ouvi ele rir.

“Eu sabia que você não ia me deixar pra baixo.” Fiquei envergonhada, mas levei na brincadeira.

“Claro. Encher o teu saco quando você tá triste não tem graça nenhuma. É legal quando você revida.” Ele se afastou pra me olhar.

“Ah, é?” Dei de ombros e fiz minha melhor cara de cínica.

“É.” Ele riu e beijou meu rosto. Involuntariamente fechei os olhos e aproveitei o momento. Há muito tempo eu vinha sentindo coisas estranhas quando ele tava perto de mim. Uma felicidade inexplicável quando ele tava comigo, um vazio quando ele tava longe. Eu sabia muito bem o que era, mas tava sem coragem pra admitir. E aquilo era assunto pra outra hora...

POV. CHRIS

                Como eu não tinha conseguido fazer nada, dois dias depois disso ficou claro que eles iam me depor. O Greg tava uma pilha de nervos e a Lizzy tava toda delicada comigo. O que eles acham que vai acontecer? Eu sair gritando pelo colégio e me jogar embaixo de um carro?

                Meio estranho pra mim, eu sei, mas eu sinceramente não tava mais me importando se ia ficar no cargo ou não. Eu sei que tinha dito pra Lizzy que isso me fazia parecer um inútil, mas depois de pensar um tempo eu percebi que era exatamente o contrário. Eu, sendo negro, consegui me eleger presidente do grêmio de um colégio que só tinha gente branca. Subi no palco pro discurso SEM discurso e ainda assim consegui ser eleito. Isso tinha que contar pra alguma coisa.

                Depois de pensar um pouco reconheci que o que a Lizzy disse era certo – ô novidade – eu fiz o que pude. A culpa não era minha por não continuar no cargo. Ok, talvez seja um pouco. Pra falar a verdade eu prometi umas coisinhas sem noção, né? Mas eu tentei fazer e era aí que estava o ponto.

                E foi com esse pensamento que eu entrei na sala pra audiência de deposição. A Lizzy tava sentada logo atrás de mim com um Greg cor de cera do lado dela. Beleza, eu ia ser deposto. E por algum motivo que eu não sei explicar, eu tava muito calmo. A sala ficou em silêncio e a vice-diretora começou.

                “Essa audiência de deposição foi convocada por vários estudantes que reclamaram da corrupção do nosso presidente em exercício.” Em exercício? Que exercício? Como se ela tivesse me deixado fazer alguma coisa. “Como toda e qualquer audiência, o acusado terá a oportunidade de se defender. Chris?”

Eu ia falar, mas todo mundo começou a gritar me chamando de corrupto e outras coisas. Não sei por que, mas eu quase cheguei a rir. Eu não tinha preparado defesa nenhuma. Que eles me depusessem e pronto. Mas eu mudei de ideia quando escutei uma palavra vinda de trás de mim. “Mentiroso.” Não virei pra ver quem tinha falado, mas senti a raiva ocupar o lugar de costume, fazendo minha cabeça latejar.

A cena da Lizzy chorando quando descobriu que eu tinha deixado que espalhassem uma fofoca sobre ela pela história do beijo no rosto veio na minha cabeça com toda a força. Eu tinha jurado que não faria mais algo do tipo pra não ser mais chamado de mentiroso, por que ela odiava mentira. Eu não sabia o que eu podia dizer pra limpar minha barra, mas eu não ia ser deposto com fama de mentiroso. Essa promessa eu vou cumprir.

“Bom, quando eu fui eleito há dois meses eu prometi várias coisas, e eu acreditava que podia cumprir essas promessas. Mas a verdade é que eu não posso. E não é por não querer, é por não poder mesmo. Eu tentei de várias formas mudar as coisas, mas não funcionou. Vice-diretora, a senhora se lembra que eu e a Lizzy fomos perguntar o que eu podia fazer?” Sorri internamente com o plano que tinha se formado na minha cabeça, apesar da raiva.

“Lembro.”

“Lembra o que a senhora me disse?” Ela arregalou os olhos e ficou muda. “Ah, não lembra? Ok, pois eu pergunto pra alguém que lembra. Lizzy?” Virei e olhei pra ela, que estava com um leve sorriso no rosto. Depois de conhecer ela há tanto tempo eu soube que aquele era o sorriso do orgulho. Ela prontamente levantou e falou.

“A vice-diretora disse que esse era um cargo simbólico e que o Chris não poderia fazer nada.” Agradeci a ela com um sorriso e virei outra vez.

“Não foi isso que a senhora disse?” Surpresa, ela assentiu e confirmou.

“Foi isso.” Muita gente na sala tava cochichando e eu imaginei o que estariam falando. Agradeci a ela e continuei.

“Há três dias eu não queria ser deposto...”

“E agora você quer?”

“A verdade? Não me importo mais. Minha única razão pra vir aqui hoje foi pra ninguém me chamar de mentiroso, e acabei de mostrar pra todo mundo que não sou. Se quiserem me depor, deponham. Minha consciência tá limpa.”

                Pra confirmar minha suspeita, eles atenderam ao meu pedido lindamente. Fui o primeiro presidente negro e o primeiro a ser deposto. Eu era uma inovação. O Greg ia tendo um infarto, mas depois se conformou.

                Na volta pra casa fui conversando com a Lizzy sobre o assunto. Ela ainda parecia preocupada comigo.

                “Foi sério aquilo?”

                “O quê?”

                “Quando disse que não ligava se fosse deposto.”

                “Claro. Fui lá pra dizer que não minto e ia mentir?” Ela assentiu, ainda séria. Eu preferia ela rindo.

                “Então você achou melhor desistir?” Neguei.

                “Parece desistir, mas não é. Desistir seria se eu pudesse fazer alguma coisa e não fizesse, o que não é o caso.” Ela me olhou e ergueu a sobrancelha.

                “Desde quando ficou tão maduro?”

                “Eu tomo sol todo dia. Uma hora tinha que fazer efeito.” Ela riu alto.

                “Bobo.” Mas logo depois ela ficou séria e eu soube que ela ia insistir no assunto. “Mas...”

                “Lizzy... é sério. Eu não ligo. Ok?” Ela assentiu e recomeçamos a andar. Por reflexo peguei a mão dela e entrelacei nossos dedos. Pelo canto do olho vi ela corar um pouco. “Acho que eu tenho uma promessa pra fazer.” Ela achou melhor levar na brincadeira e riu.

                “O quê? Mais uma? Vai cumprir essa?”

                “Claro. Essa depende de mim e só.”

                “O que é?” Dava pra ver que ela tava curiosa. Parei e olhei ela nos olhos.

                “Nunca vou te abandonar. Vai ser minha melhor amiga pra sempre.” Sua boca se abriu de surpresa e eu me senti estranhamente puxado pra frente, como se ela fosse um imã. Quando ela falou, sua voz veio baixa.

                “Pode mesmo cumprir essa promessa?”

                “Posso e vou.” Ela sorriu, sem graça, mas se aproximou de mim e me beijou no rosto. A sensação boa de sempre veio e eu sorri. Ela sorriu e entrou em casa, me deixando com a impressão de que eu ia adorar cumprir essa promessa.

***


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Notas finais do capítulo

Relações evoluindo....
A autora criando vergonha na cara....
Só falta vocês voltarem a dar reviews... ='.'=
#please



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