Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 2ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 11
Todo Mundo Odeia Ovos


Notas iniciais do capítulo

Demora absurda, mas eu não sabia o que escrever...
Como dizem, a pressa é inimiga da perfeição...
Então, quero reviews pra saber como ficou...



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POV. CHRIS (Brooklin – 1985)

                Minha mãe era psicótica com várias coisas como: não misturar roupa listrada com xadrez, não deixar louça na pia, fazer faxina toda semana, se preocupar com o que os outros falam... Mas o maior medo psicótico dela era a gente levar algum bebê pra casa. Pra mim era meio irônico já que quase nenhuma garota queria chegar perto de mim, quanto mais fazer... você sabe... aquilo. E outra: eu nunca tinha beijado uma garota, ou seja, possibilidade de levar um bebê pra casa: 0%. Pelo menos isso era o que eu pensava. Mas como o universo adora provar que eu to errado, eis que se deu uma coisa mais ou menos assim... E foi a outra psicótica da minha vida, a Srta. Morello, quem me provou que eu não precisava de garota nenhuma pra ter um bebê.

                “Bem, turma, essa é uma atividade que vocês farão em dupla. Vou deixar que escolham seus parceiros, mas eles precisam ser do sexo oposto.” Olhei pra Lizzy e ela piscou pra mim, sorrindo. Beleza! “Vocês serão os orgulhosos pais de um bebê.” Como é? Ela passou na cadeira de um de cada dupla entregando um ovo. “A partir de hoje e durante uma semana, vocês vão cuidar desse ovo como se fosse um bebê. No final da semana, vão me entregar uma redação sobre como é ser pai e mãe.”

                “Mas por que um ovo?” Greg.

                “Por que é uma coisa delicada que requer cuidado e atenção, Gregory. O que me lembra: vocês não podem quebrar, trocar, perder ou comer o seu bebê. Cada um contém um carimbo meu, então eu vou saber se fizerem isso.”

                Peguei um papel e escrevi um bilhete pra Lizzy: Quero meu bebê frito. Dois minutos depois ela me devolveu com: É uma boa, mas eu prefiro esmagado... na cara dela. Ri e olhei pra ela, que tava tentando não rir enquanto a Srta. Morello passava perto da cadeira dela.

                “Chris...” Ai. Lá vem! “você tem um par ou vai ser pai solteiro?” Quêêê??? Essa mulher é sem noção mesmo!

                “A Lizzy é o meu par.” Ela ficou meio envergonhada.

                “Ah, sim. É que eu tenho um incentivo pra você.” Sabia que ia me arrepender por perguntar, mas segurei na mão de Deus e fui.

                “O que é?” Ela enfiou a mãe na cestinha de onde tava tirando os ovos e tirou um ovo... marrom.

                “Espero que a Lizzy não se importe.” Fiz de tudo pra não rolar os olhos. É claro que ela não se importa. A racista aqui é você, sua louca sem noção!

                “Tudo bem, professora.” Lizzy. “Não tem problema. Eu não me importo com a cor da pele, ao contrário de alguns.” Ela tinha usado aquele tom de voz mortal que ela normalmente usava pra dar indiretas sarcásticas. Mas a Srta. Morello fingiu que não entendeu. Ou realmente não entendeu. Do jeito que ela é lenta... Até hoje pensa que eu sou abandonado pelo meu pai...

                “Ótimo. Mas, lembrem-se: são todos iguais, por dentro.” Ouvi a Lizzy bufar atrás de mim e ‘desliguei’ meu cérebro pelo resto da aula. Alerta: nível de besteira muito elevado no ar. É melhor eu dormir ou me ocupar com qualquer outra coisa, senão vou ter um derrame.

                Depois da aula/martírio, eu combinei com a Lizzy pra ela ir lá em casa depois do almoço pra gente apresentar o ‘bebê’ pra todo mundo. Na casa dela, ela decidiu fazer sozinha pra evitar confusão.

                “Depois da história da gripe na semana passada... é melhor a gente não provocar.” Acabei concordando com ela. A mãe dela não era exatamente a musa da delicadeza.

                Já lá em casa a cara de todo mundo foi quase hilária. Disse pra Lizzy que era melhor a gente contar pra mãe primeiro ou ela ia dar um chilique suprema e a gente não ia conseguir falar mais nada. Tudo acertado e eis que foi assim...

                A mãe reuniu todo mundo na sala, depois que a Lizzy chegou e começou a falar.

"A partir de hoje nós vamos ter mais um membro na família." Caras de espanto.

"Você vai ter um bebê?" Pai.

"Ele não dorme no meu quarto." Drew.

"Eu não vou trocar fralda." Tonya. A mãe riu e falou.

"Não sou eu que vou ter o bebê, são o Chris e a Lizzy."

A Tonya olhou pra Lizzy e perguntou. "Você tá grávida?"

"Pensei que vocês fossem só amigos!" Drew.

"Que história é essa, Rochelle?" Pai.

Olhei pra Lizzy e ela tava se segurando pra não rir; apesar de ser engraçado eu fiquei com um pouco de vergonha. A mãe riu, mas resolveu explicar. Ela pegou o ovo na cestinha que a Lizzy tava segurando e mostrou pros outros.

"Esse é o novo membro da família. Esse ovo é o dever de casa do Chris e da Lizzy. Eles vão cuidar dele como se fosse um bebê." Todo mundo: Ah tá. "A Lizzy eu sei que é cuidadosa, mas se verem o Chris maltratando esse bebê, me digam... aí ele vai chorar como um." Porque só eu me ferro aqui? Pode isso, diretor?

Depois disse eu fui deixar a Lizzy e o ovo na porta da casa dela. A gente tinha decidido revesar quem ficava com o ovo, assim nós dois teríamos tempo livre.

"A mãe acabou com o meu plano." Eu tava emburrado com isso.

"Que plano?"

"Deixar o ovo na geladeira a semana todo e só entregar a redação." Ela franziu o cenho e parou num degrau da escada, me olhando.

"Não quer fazer o trabalho?" Suspirei.

"Lizzy, eu não preciso de um ovo pra saber como é ser pai. O Drew e a Tonya me deram serviço demais." Ela assentiu levemente com a cabeça e recomeçou a descer.

"Tudo bem." Por quê eu tenho a impressão de que não tá nada bem? Puxei gentilmente seu braço pra que ela parasse e a encarei. Ela parecia triste.

"Ficou chateada?" Ela negou com a cabeça. "Parece que sim."

"Eu pensei que você ia achar legal, mas aparentemente você já tem o trabalho pronto há anos. Então... esquece, eu faço sozinha, tudo bem." ela se soltou de mim, descendo o resto da escada, saindo e fechando a porta. Eu fiquei com cara de idiota, parado onde ela tinha me deixado. O que foi que aconteceu?

Senti vontade de correr atrás dela e pedir desculpas, mas... pelo quê? O que eu fiz de errado? Subi as escadas com a cara mais emburrada da face da Terra. Só consegui arrumar uma folga depois do jantar, por que ou a mãe me chamava ou o Drew tava no quarto. Depois de entrar no quarto e ter o pensamento de 'enfim vazio', fechei a porta e me joguei na cama. Meio com medo, mas chamei.

"Lizzy?" Não demorou muito e...

"Oi!" A voz veio muito mais alegre do que eu esperava.

"Ah... oi. Você tá bem?" Minha pergunta saiu meio incerta. Tive a impressão de que a qualquer momento ela ia gritar comigo.

"Claro! Por que não estaria?" Quê??? Ela é bipolar???

"Não sei. Quando você saiu daqui mais cedo parecia meio... triste?"

"Não. Imagina. Não foi nada."

"Sério?"

"Claro!" Decidi usar a técnica dela que sempre funcionava comigo.

"Não mente pra mim." Dois segundos de silêncio, um suspiro e ela desistiu.

"Ok. Eu fiquei um pouco chateada, mas já passou."

"Por quê? O que eu foi que eu fiz?" Ela ficou calada. "Lizzy, foi por causa do que eu falei sobre o trabalho?"

"Foi. Você disse que não queria fazer..." Interrompi ela.

"Eu nunca disse que não queria fazer. Eu falei que já sabia como era. Eu sempre cuidei do Drew e da Tonya sozinho; é claro que teria sido diferente se alguém tivesse me ajudado. Teria sido mais fácil e mais divertido." Ela ficou em silêncio por alguns minutos. "Lizzy?"

"Tá dizendo que você quer fazer?"

"Claro que eu quero fazer o trabalho com você, boba. Da próxima vez me pergunta o que eu quis dizer ao invés de ficar emburrada e me matar do coração." Ouvi ela rir. É um bom sinal.

"Desculpa." Não faço mais."

"Ok. E como tá o Besourinho?" A voz dela veio um pouco irritada.

"Besourinho? Colocou o nome do meu filho de Besourinho?!" Gargalhei com essa. "E não ria, seu cara de pau!" Ri ainda mais. Minha barriga ficou doendo de tanto que eu ri. Cada vez que eu tentava parar, ela falava alguma coisa, tipo: "seu idiota!" ou "não to vendo graça nenhuma!", e eu desatava a rir de novo. Ela podia não saber, mas tava me torturando.

"Lizzy, para, pelo amor de Deus!" Falei já meio sem fôlego. Eu já devia ter ficado azul pela falta de ar. "Eu não consigo respirar. Por favor." Apertei minha barriga tentando conter a dor e ergui a cabeça, buscando ar. Respirei fundo algumas vezes até conseguir respirar direito. "Ai, Lizzy. Você quase me matou sem ar agora."

"Bem feito! Que raio de nome é Besourinho?!"

"Deixa esse nome, por favor? Eu achei engraçado e foi o pai que escolheu." Ela suspirou.

"Tá. Mas se algum dia eu tiver um filho, você vai ser a última pessoa pra quem eu vou pedir sugestão de nome." Eu ri.

"Tudo bem. Você me entrega ele amanhã depois da aula?"

"É. Boa noite, Chris."

"Boa noite, Lizzy."

POV. LIZZY

Besourinho, sei. Criatividade pra nome: 0, mas foi engraçado. No começo eu não queria que ele soubesse que eu tava chateada. Ele podia dizer que era frescura, que era só um trabalho besta e eu sabia que era, mas eu não pude evitar ficar meio triste por ele não querer fazer. Eu achava que ia aproximar mais a gente e eu queria isso. Talvez assim ele começasse a... Ok. Para, cabeça! Mas aparentemente ele notou que eu fiquei estranha. Foi melhor assim; a gente conversou e se resolveu logo.  A gente tá bem de novo e pronto. Eu tenho que aprender a controlar essa coisa chamada sentimento; se é que dá pra controlar. E é melhor eu tomar cuidado ou ele vai acabar notando...

No dia seguinte a gente encontrou o Greg com a cara mais emburrada do planeta.

"O que foi, Greg?" Ele fez careta.

"Eu e a Jeyne discutimos por causa do ovo." O Chris riu e foi pegar as coisas dele no armário.

"Já? Eu e a Lizzy também."

"Sério? Discutiram por quê?" Minha vez de fazer careta.

"Ele não queria fazer o trabalho e..." O Chris fechou a porta do armário com uma forcinha a mais e virou pra mim, me encarando; sua voz saiu meio irritada.

"Lizzy..." Lembrei da nossa conversa e abaixei os olhos.

"Desculpa." Virei pro Greg. "Eu entendi errado o que ele falou e fiquei chateada. Depois ele veio conversar comigo e a gente se entendeu."

"Ah tá."

"Mas por quê você e a Jeyne brigaram?" Chris.

"Ela quer que o bebê vá pra Yale e eu quero que seja Harvard."

"Quê? Faculdade já? Vocês tão viajando?" Concordei.

"Pois é. Eu tava dizendo pro Chris pra gente só tomar conta do ovo e ele me ajudar na redação. Ah, e por falar nisso," virei pro Chris, "você vai levar o Besourinho pro Doc's, né?" Ele assentiu. "Por favor, presta atenção nele ou alguém vai levar ele pra casa. Seja um pai atencioso!" Ele riu e bateu continência pra mim.

"Sim, senhora capitã!" Dei língua pra ele.

"Fresco." E fomos andando na direção da sala.

Depois da aula eu fui pra casa e ele pro Doc's. Fiz ele me prometer umas quinhentas vezes que não ia desgrudar do ovo e que não ia deixar o sobrinho do Doc, um cara meio psicótico por armas e guerra chamado Monk, atirar no ovo. Ele disse que eu tava exagerando. Que era só deixar o ovo escondido e ia dar tudo certo.

"Ok. Mas se alguma coisa acontecer..."

"Não vai. Eu prometo." Ele beijou meu rosto e desceu a rua em direção à loja.

Ainda assim eu fiquei com um pressentimento ruim. É claro que eu confiava nele, mas coisas ruins sempre aconteciam com ele e aquela era nossa nota do semestre. Fui pro meu quarto e tentei ler um livro, mas minha cabeça sempre voltava pra loja. Meu pai chegou mais cedo do trabalho e foi falar comigo. A gente conversou por uns minutos e depois ele saiu, mas o Chris e o ovo não saíam da minha cabeça. Depois de rolar na cama sem conseguir fazer nada por mais ou menos três horas, resolvi ir lá no Doc's só pra conferir.

Mas como será que ele vai reagir se ele achar que eu to desconfiando dele? Mas eu não to! E eu preciso ir lá, só pra conferir, pra ver se tá tudo bem. Ah, que se dane! Tá faltando enlatado mesmo! Finjo que vou comprar e ainda posso ficar um tempo conversando com ele...

Com um sorriso no rosto, levantei, disse ao papai que ia comprar os enlatados e desci as escadas correndo. Eu não sabia a surpresa que me esperava.

POV. CHRIS

Entrei no Doc's ainda rindo do exagero da Lizzy. Parecia até que o ovo era um filho de verdade. Ela tá levando esse negócio muito a sério.

"Qual é a graça, Chris?"

"Oi, Doc. Tava rindo dos exageros da Lizzy. Ela tá psicótica com a história do ovo." Fui até o balcão e escondi o ovo embaixo da bancada. Depois peguei meu avental e minha flanela pra começar a limpar as prateleiras.

"Ah. Esse é o ovo, então. Besourinho, é?"

"É. Ela quase ficou louca com o nome." Falei, rindo outra vez, e ele também riu.

"Mulheres, Chris. Sempre atenciosas aos mínimos detalhes."

"To começando a perceber."

Fora isso a tarde correu normal e eu comecei a pensar que ia conseguir ter um dia sem incidentes. Eu até ia, mas... só que não. Umas 16: 30 o meu carma resolveu aparecer: Tasha. Ela foi fazer as compras da semana, como sempre, e me pediu pra ajudar ela a levar as sacolas pra casa.

"Por favor, Chris?" Ela falou com aquele sorrisinho de lado que fazia minha mente ficar branca. Naquela hora eu não tava nem lembrando da promessa que eu tinha feito pra Lizzy, muito menos do ovo.

"Posso, Doc?" Ele me olhou de um jeito...

"Tá bom, mas não demora. Quero fechar cedo hoje. Tenho outra coisa pra fazer." Assenti, sorri e fui com ela.

Assim pensava eu: Que dia ótimo! Ainda ganhei um tempo com a Tasha! Só que ela não foi logo pra casa, ela quis passar na padaria que ficava na rua de trás. Então a gente teve que arrodear o quarteirão e entrar na rua pelo outro lado. Deixei ela em casa e fui logo pro Doc.

"Por quê demorou? Onde a garota mora?"

"No final do quarteirão, mas ela ainda tinha que passar na padaria."

"Hum. Sei."

Com o efeito Tasha longe de mim, eu lembrei do ovo. Quando me inclinei pra frente procurando o ovo... o canto mais limpo do mundo.

"Doc, cadê o ovo?" Ele simplesmente me olhou.

"Não sei. Você é o pai, você devia saber." Fechei os olhos e respirei fundo. Droga! A Lizzy vai me matar.

"Droga! A Lizzy vai me esfolar vivo!" O Doc voltou a ler o jornal dele e nem me olhou.

"Eu avisei."

"Avisou nada! E agora, o que é que eu faço?" Ele deu de ombros e continuou a ler. "Você também não ajuda em nada."

No final das contas eu acabei comprando um ovo marrom e levando pra casa. Lá eu peguei um lápis vermelho e repliquei o carimbo da Srta.Morello.

"Ótimo. Assim ninguém percebe a diferença." Foi o que eu pensei. Iludido...

POV. LIZZY

Sim, eu fui no Doc's. Sim, o Chris não estava lá. Sim, eu fiquei muito revoltada. E sim, eu peguei o ovo e deixei aquele idiota sem saber o que fazer. Eu quero só ver se ele vai ter coragem de me contar. É claro que eu pedi pro Doc não contar nada pra ele e eu espero que ele não tenha contado. Eles são amigos, então não sei o que esperar. Mas eu não acredito que ele deixou o ovo pra correr atrás da Tasha! Irresponsável. Ah, mas eu vou pegar ele! ele vai ouvir! É claro que não é surpresa pra mim ele correr atrás da Tasha. Machuca, eu fico com ciúmes, doe... mas ele se torna um irresponsável por causa dela!

Cheguei em casa e corri pro meu quarto. Um nó se formou na minha garganta ao pensar nele com ela, mas eu sacudi a cabeça e tentei pensar em outra coisa. Tentei pensar em como ele tava sendo irresponsável ao ignorar o nosso trabalho do semestre pra ir deixar as compras da Tasha. Quantas vezes eu fui fazer as compras da semana e ele não me ajudou a levar as sacolas? E isso não é nenhum pouco pessoal! Eu to pensando na nossa nota... É sim!

Não falei com ele de noite e aparentemente ele não sentiu a minha falta pois não tentou falar comigo também. Deve estar sonhando com a Tasha, o idiota! Bufei de raiva e fechei os olhos bem forte. Adormeci com uma frase na cabeça: Eu vou dormir e não vou sonhar com você...

No outro dia eu esperei ele descer pra gente ir junto pra escola. Ele só me disse 'bom dia' e mais nada. Amarrei a cara e fiz birra. Também não falo! A gente trocou de ônibus e eu continuei calada; ele mais mudo não podia ficar. Só quando a gente desceu do ônibus pra ir pelo caminho de sempre foi que ele falou.

"Lizzy..." A voz dele saiu pouco mais que um sussurro. Olhei pra ele pelo canto do olho e vi que ele tava meio envergonhado.

"O quê?" Falei seca.

"Me desculpa." Parei de andar e virei pra ele com os olhos arregalados. Será que ele tá pedindo desculpas por...? "Eu perdi o ovo." Uma pontada de decepção me cutucou o peito. É claro que ele não notou...

"Perdeu? Como?" Ele encarou os próprios pés.

"Eu... fui fazer uma entrega e quando voltei ele tinha sumido." Arqueei uma sobrancelha.

"Um entrega? Foi vizinha à sua casa essa entrega?" Ele me olhou, assustado.

"Você viu?"

"Não, eu soube. Um passarinho me contou."

"Foi o Doc?" Rolei os olhos e contei logo tudo.

"Eu fui lá ver como você tava e quando cheguei você tinha saído com a Tasha." Antes que eu pudesse evitar, o nome dela saiu da minha boca com umas gotinhas de desdém. "Muito bonito pra quem deveria ser pai." Ele suspirou fundo, aparentemente sem remorso algum.

"Lizzy, você tá exagerando. É só um trabalho." A raiva me fez trincar os dentes.

"Só um trabalho?! Não, Chris, é a nossa nota do semestre! Por isso eu pensei que você fosse levar isso a sério!"

"Eu to levando a sério!" Jura?!

"Tá mesmo? Que parte do 'você deixou o ovo sozinho pra correr atrás da Tasha' eu perdi? Você foi irresponsável! Seu dever era tomar conta do ovo! Não precisava ficar olhando ele direto, mas tinha que ao menos ficar perto! Mas não! Você largou ele lá pra ir atrás de um rabo de saia!"

"Lizzy, não foi assim! Eu fui só deixar as compras pra ela!"

"Que seja! Não devia ter deixado ele pra trás! Se era muito pesado, podia deixar comigo que eu não ia reclamar!" Ele abriu a boca pra falar, mas nada saiu. Lentamente ele fechou a boca e abaixou a cabeça.

"Você tem razão. Se quiser fazer o trabalho sozinha e me deixar sem nota, eu falo com a Srta. Morello. Eu vou entender." Suspirei fundo, tentando tomar uma decisão.

"Eu acho que vou fazer sozinha." Ele olhou pra mim, triste, mas depois assentiu.

"Tudo bem. Eu falo com a Srta. Morello."

"Não. Eu falo." Ele confirmou com a cabeça e entrou no colégio.

Fiquei olhando e ele entrar, sem saber o que fazer. Eu não gostava de ver ele triste; doía em mim. Sacudi a cabeça e entrei também.

A gente mal se falou a manhã inteira; quem salvava as conversas era o Greg que parecia nem perceber o clima de enterro. Ele já tava meio na fossa pela Jeyne, então o senso de percepção dele tava nulo. Depois da aula, a gente voltou pra casa e ele foi o caminho inteiro olhando pela janela. Eu queria puxar conversa, mas não sabia o que dizer ou se ele queria falar comigo. Por fim, a gente chegou em casa e ele murmurou um 'te vejo depois' e entrou.

Fiquei com um peso na consciência, mas sem saber exatamente o porquê. Entrei e passei o resto do dia no meu quarto, escutando minhas músicas de rock favoritas pra ver se isso me animava. Nada. Pensamentos de culpa rodavam na minha cabeça e não iam embora de jeito nenhum. Afinal, que tipo de melhor amiga eu sou? Ele comete um deslize e eu deixo ele na mão?

Analisando calmamente as minhas atitudes eu percebi que eu exagerei (vocês: hum, é mesmo?). Eu agi por impulso... Meu Deus, em quê eu me tornei? Eu deixei ele na mão por causa de ciúmes! Foi a coisa mais egoísta que eu já fiz! Levantei da cama de um pulo. Preciso falar com ele.

Olhei o relógio: 17:10h. Ótimo. Ainda dá tempo. Desci as escadas na surdina e ouvi minha mãe cantando na cozinha. Beleza! Ela vai demorar horas aí. Saí de casa e corri até o Doc's, mas ele não tava lá.

"Ele ligou pedindo dispensa e mandou o Drew pra cobrir o horário." O Drew apareceu atrás de uma prateleira e acenou pra mim.

"Valeu, Doc." Saí correndo de lá e entrei na casa do Chris. Em menos de dez segundos já batia na porta. Pouco depois a dona Rochelle veio abrir.

"Oi, fofa."

"Oi, dona Rochelle. O Chris tá aí?"

"Tá. Ele disse que não ia trabalhar hoje porque ia estudar. Achei estranho, mas é claro que não reclamei."

"Realmente é estranho."

"Entra. Ele tá na mesa." Entrei e ela saiu, subindo a escada.

Para a minha surpresa, o Chris tava sentado na mesa, cercado de livros, escrevendo. Fiquei com vergonha de chamar e atrapalhar ele, mas eu não lembrava de a gente ter prova esses dias.

"Oi?" Ele levantou rápido a cabeça. Quando me viu, me deu um sorriso triste.

"Oi. Aconteceu alguma coisa?" Como eu vou falar isso? Pra ganhar tempo, falei outra coisa.

"Não foi trabalhar?"

"Eu precisava estudar. Tenho prova na sexta." Franzi o cenho.

"Que eu me lembre a gente não tem prova."

"Eu tenho. Vou pedir a Srta. Morello pra fazer prova extra ao invés do trabalho." Senti um aperto de culpa no peito. Olhei pros meus pés assim como ele tinha feito mais cedo.

"É sobre isso que eu vim falar." Com esforço levantei a cabeça e olhei em seus olhos. "Desculpa. Eu exagerei. Fui incompreensiva; todo mundo erra e eu não tentei te entender. Aquilo é o seu trabalho e eu tinha que fazer o meu melhor pra entender o seu lado. Desculpa."

Ele continuava me olhando sem expressão nenhuma e eu pensei que ele não fosse me desculpar. De repente ele me estendeu a mão; instintivamente eu andei na direção dele e a segurei. Ele me encarou por alguns segundos e depois me puxou pra ele, me abraçando com a cabeça encostada na minha barriga. Pelo susto, não consegui me mexer por alguns segundos, mas logo abracei ele de volta, encostando meu queixo no alto de sua cabeça. Suspirei e ele apertou o abraço.

POV. CHRIS

"Tudo bem. Tá desculpada." Levantei a cabeça e olhei pra ela, sem soltá-la. "Eu sabia que você só precisava de tempo pra pensar. Queria que você entendesse que é o meu trabalho. Por mais que eu goste da Tasha, se fosse qualquer outra pessoa eu teria que ir deixar. Você entende, né?" Ela assentiu e acariciou meu rosto. Fechei os olhos pra sentir melhor o carinho.

"Entendo. Desculpa."

"Shhh. Tá bom." Fiquei em pé e olhei pra ela; suas bochechas tavam vermelhas de vergonha.

"Ainda quer fazer o trabalho comigo?" Sorri.

"Claro que sim. Prometo que vou levar a sério." Ela assentiu. "Agora me abraça." Não pretendi que saísse como uma ordem, mas ela não se importou e obedeceu. "Não gosto quando a gente fica mal."

"Nem eu. Mas agora tá tudo bem, né?"

"Tá, sim."

O resto da semana foi muito cansativo. Por quê? A mãe descobriu pelo Drew, via Doc, que eu deixei o ovo sozinho pra ir ajudar a Tasha. A reação não foi das piores; ela não me bateu, mas passou a semana enchendo a minha paciência. Não consegui dormir direito uma noite sequer. Ela me acordava de madrugada pra 'trocar a fralda' ou 'dar a mamadeira'. A Lizzy notou que eu fiquei com olheiras e acabei contando pra ela. Feliz foi a sexta feira que eu ia entregar a redação e me livrar daquele ovo maldito. Que a Lizzy não me escute falando isso!

A Srta. Morello me pediu pra ser o primeiro a ler a redação e eu e a Lizzy fomos lá ler. Quando ia passando pela cadeira do Caruzo, ele colocou o pé pra eu cair. É claro que eu caí, mas antes de eu sentir o chão frio na minha cara, instintivamente, segurei na primeira coisa que pus a mão. Infelizmente, pro Caruzo, era a manga da camisa dele. Ele veio com tudo por cima da cadeira - com ovo e tudo - e ia caindo por cima de mim, mas a Lizzy me puxou pelo cotovelo e eu caí pro outro lado.

Não preciso nem dizer o quanto eu ri quando vi o Caruzo todo melecado com gema de ovo, né? Todo mundo riu, mas eu pude ouvir a Srta. Morello dizendo "Você quebrou ovo, Sr. Caruzo. Vai ficar sem a primeira nota do semestre.". Olhei pra Lizzy e ela indicou a frente da sala com a cabeça.

"Deixa esse idiota aí e vamos tirar nosso A." Dei uma última olhada pro Caruzo tentando se levantar e concordei.

"É. Vamo lá."


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Notas finais do capítulo

Eu sei que eu não mereço, mas... Reviews? Por favor? :)



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