Atena escrita por bia_scabbia


Capítulo 10
10 – Anywhere




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         Um segundo. Menos do que isso. Foi o tempo necessário para Atena tomar impulso e responder à última pergunta de Guilherme, mais como um ataque do que como uma resposta propriamente dita.

E não foi com palavras.

Por que tinha feito aquilo? Nem ela podia responder. De olhos fechados, era impossível ouvir qualquer pensamento. Aquele silêncio total causava uma sensação muito boa, que há muito tempo ela não sentia. O beijo? Idem.

         Não foi um beijinho rápido. Mas seria melhor se tivesse sido, porque eles estavam praticamente no meio do pátio, no meio do recreio, e no meio de todos os alunos do 2º grau do turno da manhã. Ou seja, muita gente. Muita gente mesmo. E, considerando o fato de que Atena ainda era comprometida, aquilo não tinha sido uma decisão muito sábia. Até porque, por um acaso, o namorado dela era Rubens. E Rubens era, também por um acaso, conhecido (e admirado) pelo colégio inteiro.

Não, não foi uma decisão nada sábia.

         Mas eles só perceberam todas essas coisas quando se separaram. Havia uma pequena multidão em volta deles, alguns curiosos, outros zoando, e ainda outros muito surpresos. Entre esses, estava Mônica. Aquela era uma das poucas situações em que ela não tinha exatamente nada a dizer.

         E nem Atena tinha. Depois de se afastar de Guilherme, só conseguia pensar em uma coisa:

O que foi que eu fiz?

Que era exatamente o que ele se perguntava, olhando para ela ainda sem acreditar no que acabara de acontecer. Atena também pensou em se desculpar, sair correndo para algum lugar escondido e pensar num jeito de desfazer aquilo tudo. Mas nada disso adiantaria.

         Rubens também fazia parte do grupo de pessoas que estava ao redor. Tinha uma expressão de vergonha extrema no rosto, que estava vermelho. Desapareceu tão rápido que quase ninguém percebeu. Se ficasse ali por mais tempo, sabia que seria zoado. “Acho melhor investir em outra o mais rápido possível. Não posso ficar com fama de corno!”, pensava.

         Mônica, percebendo que aquilo já tinha ido longe demais, puxou Atena pelo braço e começou a se afastar com ela. “Vocês estão olhando o que?”, falava para o resto dos alunos, com voz autoritária. “O show já acabou, não tem mais nada pra ver aqui”. Concordando com o que ela dizia, todos voltaram a suas atividades anteriores. Só que o único assunto era Atena.

Ou “a piranha que traiu um dos caras mais lindos do colégio”.

Era só o que ela conseguia ouvir. E não era nada agradável. Por todos os lados, não importava para onde olhasse, tinha alguém pensando mal dela. E até coisas ruins que ela nem tinha feito. Todos a olhavam como se fosse uma assassina saindo da prisão. Os adjetivos relacionados a ela iam de “piranha” (ou outra palavra com P) a “retardada”.

Atena, Guilherme e Mônica voltaram para a sala sem dizer nada. Mônica não sabia se ficava feliz ou se ria daquilo, ou ainda se brigava com os dois. Preferiu deixar que o tempo amenizasse a tensão. Guilherme continuava confuso, também. Mas com um sorriso satisfeito escondido no canto da boca.

“Que ótimo! Agora todo mundo me odeia! Droga, porque eles não cuidam de suas vidas?”, pensava Atena, indignada, enquanto pegava o livro da próxima aula. Mas sabia que não devia ter feito aquilo. Nenhum dos dois deveria.

E, mesmo assim, nenhum dos dois estava tão arrependido.


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