VII- Passeio

Minha semana havia se passado sem grandes novidades. Depois daquela segunda-feira eu não vira mais Felipe, mas ele havia me mandado uma sms na quinta a noite para confirmar nosso passeio no sábado, eu disse que estava tudo certo.

Roberta havia pego catapora e não fora o resto da semana na escola, eu fui visitar ela na quarta-feira, já que eu tivera catapora quando era pequena e não corria risco de pegar. Passei a semana toda distribuindo currículos em todos os locais que eu encontrava que precisavam de empregados, mas até agora não tivera nenhum retorno. Acho que o fato de eu ser menor de idade contribuía para isso.

Devo confessar que quando acordei no sábado eu estava muito ansiosa para sair com Felipe. Eram exatamente 08h quando me levantei. Felipe havia me falado que passaria para me pegar as 11h, iríamos almoçar em algum lugar, provavelmente no shopping e depois iríamos ao cinema.

Tomei um banho e lavei meu cabelo. Vesti uma calça jeans clara que possuía diversos rasgos nas pernas, ela era fresquinha para o dia de hoje, coloquei uma bata azul claro com branco de alcinha, era a primeira vez na semana que vestia algo mais aberto, já que a maioria dos roxos já havia sumido, e os outros estavam bem claros, e deixei meu cabelo solto, já que estava molhado. Sai do banheiro indo até meu quarto, eram 08h34min, eu tinha muito tempo ainda. Penteei meu cabelo, coloquei um pequeno brinco de pérolas, um relógio branco e passei um pouco de pó em cima dos poucos roxos que sobravam, meus pais não desconfiaram de nada.

Fui até a cozinha e encontrei, em cima da mesa, um bilhete da minha mãe dizendo para eu cuidar bem da minha irmã no passeio e para comer alguma coisa antes de sair. Não pude evitar de sorrir, minha mãe sempre se preocupava comigo. Para não desobedecer ela, e também porque eu realmente estava com fome, decidi comer uma tigela de Sucrilhos. Quando terminei, já eram 09h.

Voltei ao meu quarto e acordei minha fofinha, e como sempre, ela enrolou um monte até finalmente se levantar e ir tomar banho, Mirella era muito independente para uma menininha de apenas 4 anos, acho que o fato de nossos pais terem que trabalhar um monte para sustentar nossa família contribuiu para isso.

Separei uma bermuda jeans e uma regata lilás com flores roxas para ela vestir, e uma rasteirinha preta para ela calçar. Coloquei minhas meias e meu all star branco e já estava indo chamar ela no banheiro quando ela entrou no quarto.

-Você ta lindinha minha mana linda, teu namorado vai ficar encantado. - Disse ela, quase tive uma AVC na hora, de tanto que eu ri, mas não pude deixar de ficar constrangida.

-Obrigado minha linda, mas o Felipe não é meu namorado ta?! Somos só amigos.- Ela apenas deu de ombros e começou a se vestir. Passei um gloss incolor em meus lábios e apenas isso, não gostava de me maquiar demais. Peguei uma bolsa gelo pequena e coloquei minha carteira-com um pouco do dinheiro da minha indenização para pagar os gastos do dia, o mesmo gloss que eu havia passado e meu celular. Ella e eu já estávamos prontas, mas ainda faltava uma hora para as 11h. Ficamos vendo TV, enquanto ela comia Sucrilhos, até ouvirmos batidas na porta, eram 10h43min. Fui, quase correndo, abrir a porta. E lá estava parado Felipe, com uma calça jeans escura, uma polo branca e um all star preto, ele estava...lindo.

-Felipe, oi. - Falei sorrindo.

-Olá Sophia, como você ta? Eu sei que estou adiantado, mas se você não tiver terminado de se arrumar eu posso esperar, sem problemas.

-Eu to bem, já estou pronta. Só vou chamar a Ella, já volto. - Não esperei a resposta dele e fui até o sofá. - Ella, vamos? - Ela apenas desligou a TV e me acompanhou em direção a porta.

-Oi, então você que é a famosa irmã da Sophia. - Falou Felipe a Ella, enquanto eu fechava a porta.

-Sou Mirella, e você é o namorado da minha irmã né? - Arregalei meus olhos e me virei para ela, não creio que a baixinha tinha falado isso para ele.

-Mirella, já te falei que o Felipe é meu amigo ok?! Se continuar com isso, vai ficar em casa. - Falei, tendo certeza de que estava completamente vermelha. Minha irmãzinha apenas riu e foi em direção ao portão. Me virei para Felipe. - Me desculpe, ela é meio...criativa.

-Não tem problemas.

Fomos conversando animadamente até a parada, onde pegamos um ônibus até o maior shopping da cidade, eu já havia ido até lá, mas apenas uma vez, com a Roberta.

Era quase meio dia quando chegamos, então fomos direto almoçar, acabamos escolhendo o McDonalds, afinal, quem não gosta de Mc Donalds? Felipe insistiu em pagar a conta, mas eu neguei e neguei e neguei de novo, até que ele parou de insistir. O almoço foi divertido, mais do que eu imaginei que seria, Felipe era super atencioso com a Mirella.

Depois do almoço demos uma volta pelo shopping e comemos morango com chocolate, novamente briguei com Felipe até que ele desistisse de pagar a conta. Acabamos pegando a seção das duas horas no cinema, e optamos por ver um desenho, já que era o único que parecia apropriado para Ella. Dei o dinheiro para Felipe ir comprar as entradas e ele me deu dinheiro para pegar uma pipoca para ele, fui até a fila da pipoca e comprei uma salgada para ele e uma doce para mim e Mirella, peguei uma H2O para cada um e esperei Felipe.

Estávamos no meio do filme quando percebi que Felipe estava abrindo minha bolsa, perguntei o que ele estava fazendo e ele disse apenas que sempre tivera curiosidade em ver uma bolsa de mulher por dentro, apenas ri e deixei que ele visse.

Depois do cinema fomos para uma pracinha que tinha ali perto, e Ella logo foi brincar com as outras crianças. Eu e Felipe nos sentamos em um banco, em baixo de uma árvore e ficamos conversando.

-Ella é realmente uma menina maravilhosa. - Falou ele.

-É sim, não sei o que seria de mim sem ela.

-Eu sou filho único sabe, mas sempre quis ter um irmão. Alguém com quem me divertir como estamos fazendo com a Mirella hoje, minha mãe nunca quis ter outro filho, disse que deformaria seu corpo. - Ele riu, sem humor nenhum. Não falei nada. - Então, - disse ele suavizando a expressão. - a partir de hoje a Ella é minha irmã também.

-Acha que é fácil assim para roubar a irmã dos outros? - Perguntei rindo.

-Qual é, a Ella me ama, por ela eu seria até seu namorado. - Disse ele, me fazendo corar.

-Não me lembre disso. Acho que vou deixar ela de castigo quando chegar em casa.

-Só por causa disso?

-Quer um motivo maior?- Perguntei, erguendo uma sobrancelha.

-Seria tão ruim assim me ter como seu namorado? - Por sorte, naquele exato momento apareceu um homem vendendo algodão doce e usei isso como desculpa.

-Vou comprar um algodão doce, você não quer um também?

-Quero um azul.

Quando eu abri minha bolsa para pegar o dinheiro para pagar o algodão doce, percebi que o dinheiro que eu havia dado para o Felipe pagar o cinema estava todo ali. Então entendi o que ele queria com a minha bolsa, fiquei irritada. Levei o algodão doce dele e comei a discutir por causa do dinheiro, estávamos discutindo a uns cinco minutos quando Ella chegou e pediu para ir para casa, se não fosse ela ter interrompido teríamos continuado a discussão por toda a tarde.

Chegamos em casa e já se passava das 18h, Ella entrou rapidamente, dizendo que iria tomar um banho. Fiquei sozinha com Felipe na rua.

-Bem...obrigada pelo passei, foi realmente divertido. - Falei, sorrindo para ele. Já desistira de pagar pelo cinema, uma hora encontraria uma forma de pagar.

-Eu que agradeço, a muito tempo que não saia e me divertia assim. Mas estou chateado.

-Por que? - Perguntei, não gostava de magoar as pessoas.

-Você ainda não me respondeu se seria tão ruim assim ser minha namorada. - Eu não acreditava que ele ainda se lembrava disso, pensei que tivesse esquecido depois da discussão.

-Felipe eu...bem...- Não sabia o que responder, ele riu.

-Não precisa me responder hoje fada, mas uma hora quero que me diga. - Disse ele, se aproximando e dando um beijo na minha testa. - Boa noite. - Não falei nada, estava pensando demais, então ele apenas se virou e estava se afastando do portão quando eu tomei uma decisão. Sai correndo atrás dele.

-Felipe.

-Sim? - Perguntou ele, se virando.

-Acho que não seria tão ruim assim. - Disse sorrindo e voltei correndo para minha casa, mas não sem antes perceber o gigantesco sorriso que se formara nos lábios dele.