― Você é demais, Thalia. ― Disse, quando saímos. As ultimas aulas foram totalmente fáceis de aguentar depois desse anjo caído atropelar o meu caminho. Muitos rostos desconhecidos misturam-se numa confusão de cabelos, peles e conversas. Todos com seus amigos e grupos. Sinto-me nua e a Thalia é como se fosse uma roupa intima (que máximo de comparação, Annabeth!).

            Eis que alguém ― infelizmente ― puxa meu braço. E mais infelizmente ainda: esse alguém é Percy Jackson.

            ― Sabidinha, ― de onde ele tirou essa? ― já que você é a minha tutora particular, deveríamos marcar de estudar hoje mesmo. Quero provar que consigo ser inteligente se quiser. Quando e onde, loira?

            Thalia me encarou da pior maneira que conseguiu. Traduzindo: ela estava louca pra rir. Ele a cumprimenta e ela dá um sorriso depois de resmungar um “idiota”.

            ― Ele perguntou quando e onde, loirinha. ― Juro que quando ele foi embora, eu voei na cara dela.

            ― Olha, eu não sei nem chegar na minha casa direito, cheguei fazem três dias e tenho coisas para comprar e desempacotar. Pra você ter ideia, a única cosa que está pronta na minha casa é o cômodo da biblioteca.

            ― Ótimo, tudo o que precisamos são livros. Estarei lá pelas três da tarde, ok?

            ― Tudo bem ― falei, com ar de duvida. Ele estava se convidando para a minha casa. Percy Jackson na minha casa.

            ― Agora eu preciso saber onde é. ― Ele sorriu e, instantaneamente, sorri. Thalia estava se controlando para não cair na gargalhada. Falei o endereço e dei o meu número de telefone. ― Até lá, Sabidinha. Tchau, Thalita.

            (Todo o bom humor dela esvaiu-se num passo de mágica)

            Compramos sorvete (Thalia disse que abriram recentemente uma cafeteria fofíssima ao lado da nossa escola, não consegui resistir) e fomos caminhando no ritmo que ela apelidou de “atividade mental do Percy”.

             ― É. Somos totalmente diferentes, mas sinto que vamos ser alguma coisa. ― ela disse quando chegamos na portaria. Concordei e entrei. Imediatamente, recebi uma SMS dela:

“Prepare-se para o Sr. Jackson, menina Chase”

            Contra-ataquei:

                        “Só porque você nasceu pronta para os Srs. Castellan e Di Angelo”

            Peguei pesado demais.

            Luke Castellan é um garoto do terceiro ano que faz a maioria das garotas se derreterem. Vejamos... ele tem cabelos num tom de areia, porte atlético. E que porte, hein.

            ― Mãããe, cheguei! ― Imediatamente lembrei que ela não viria almoçar comigo.

            Tomei o banho mais refrescante de toda a minha vida. Prendi os cabelos num coque mal preso, coloquei uma camiseta de banda qualquer, um shorts e meias, pois deslizar no chão é a melhor coisa do mundo.

            Percy Jackson chegou meia hora antes do combinado, então ele me flagrou de ponta cabeça no sofá zapeando a TV. Ele estava vestido com uma calça jeans, uma camiseta verde (que destacou tanto os seus olhos que eu quase babei) e um all-star branco. Fiz a melhor coisa que uma garota que não é do nível dele poderia: levei um susto e caí do sofá.

            ― Você esqueceu a porta aberta, não vi problema e―

            ― Tarde demais, Percy Jackson. Você me assustou e eu caí de uma maneira não tão heroica do sofá. Eu te odeio.

            ― A culpa não é minha se és tão desastrada.

            ― Pare com isso, idiota. Temos trabalho a ser feito.

            Entramos na biblioteca. Honestamente, é o melhor canto desse apartamento. Grande, espaçoso, com tons de madeira clara e branco. Possui a melhor vista, um janelão gigante para a rua e uma janela com a parte de baixo estofada. No meio do cômodo, uma mesa gigante e algumas cadeiras. Algumas poltronas espalhadas pela sala. Quem vê pensa que muita gente frequenta esse lugar... E, o meu favorito: num cantinho à direita, há uma pequena passagem para um jardim.

            ― Wow. Que lugar...

            ― Eu sei. Bem wow.

            ― Podemos...?

            ― Que seja.

            Peguei alguns livros, apontei algumas figuras, expliquei teorias. Conversamos praticamente sobre todas as matérias. Ele fez muitas perguntas, atento até demais ao que eu dizia. Aprendia rápido. Ficamos horas e horas assim...

            Três horas de puro estudo, isso porque é a primeira aula. O mais engraçado de tudo é que eu nem fiquei cansada (mas isso não impediu meu estomago berrar de fome).

            ― Você poderia pegar algo para comermos, sabe?

            ― Que folga, Jackson! Eu nem sei se tem algo na dispensa.

            ― Sua barriga está apitando, impossível não ter algo.

            ― Tudo bem, tudo bem. Eu pego alguns cookies e chocolate gelado.

            ― Mas está frio...

            ― Chocolate gelado é bom no frio e no calor, sr. Jackson. Seus argumentos são totalmente inválidos.

            Brinquei na cozinha. Faço cookies regularmente com a minha mãe, é quase uma tradição. Sempre usamos corantes de diversas cores, o que torna a coisa bem mais divertida e gostosa. Normalmente brigamos pelos cinzas e azuis.

    Peguei alguns cookies roxos, outros amarelos e até um excluído verde-limão. Levei tudo numa bandeja até a biblioteca.

    ― Estou abrindo uma exceção apenas por hoje, ok? Normalmente é proibido comer na minha biblioteca. Nossos livros valem mais que a sua alma. ― Fiz a cara mais séria que pude e ele desatou a rir.

    ― Tudo bem, tudo bem. Poderíamos ter ido para a cozinha, mas você nem quis me chamar. Tenho de me convidar para tudo, tutora. Você me dá inteligência e eu te dou educação.

Comemos e ele pediu outro chocolate, porém me recusei a fazer outro. Até discutimos pelo cookie verde-limão, o que foi a coisa mais madura do mundo. Rimos bastante. Finalmente começamos a falar sobre a escola.

― Você é a nova amiguinha da Thalia, não? Ela não é flor que se cheire. Sempre andou com a Rachel ― que eu automaticamente associei a ruiva ― e elas pareciam grandes amigas. Tudo bem, a Thalia é briguenta e tem um gênio muito forte. Na verdade, eu até apanhei dela uma vez, mas já faz muito tempo. Discutimos por culpa de um refrigerante. ― Olhei para os cookies e abri um sorriso. Ele pareceu irritado. ― A culpa não é minha se refrigerante de cereja é melhor! Onde eu estava? Ah, sim. O Nico diz que ela é muito―

            Nico, Nico, Nico. Lá vamos nós.

            ― Nico é aquele garoto pálido que anda contigo? Fiquei com certo medo dele, mas ele parece ser amigável.

            ― Esse mesmo. Enfim, espero que você e ela se deem muito bem. ― Seja lá o que ele foi falar do Nico, desistiu.

            ― Eu estou torcendo. Ela parece muito legal, sério. Nunca me dei tão bem de primeira com uma pessoa. Cheguei até a julgá-la, mas ela provou-se ser muito interessante. Espero tê-la como amiga nessa nova vida.

            ― Julgá-la? Só por que ela anda com a Rachel? A Rachel é uma boa pessoa, Annabeth. Ela parece ser mimada e sem graça. ― Os olhos dele brilharam de uma maneira estranha. Não quero saber o que significa. ― Ela tem algumas qualidades sim.

            Nos encaramos por um bom tempo. Não conhecia essa garota muito bem, não pude dizer as minhas primeiras impressões.

    ― Pare de me olhar desse jeito.

            ― Que jeito, Percy Jackson?

            ― Por que você sempre me chama pelo nome completo? Pra você, Sabidinha, eu sou Percy. Pee, no máximo.

            ― Seu nome é muito sonoro, Percy Jackson.

            E eu poderia dizê-lo por horas e horas. Percy Jackson, Percy Jackson, Percy Jackson, Percy…