Continuação...

Era verdade que finalmente havia descoberto as maravilhas proporcionadas pelos amaciantes de roupas para que as toalhas não se parecessem com lixas.

Mas ainda no dia anterior esquecera de descongelar uma comida, e o jantar fora servido com quase duas horas de atraso. Pelo menos os vegetais ficaram saborosos, servidos logo após serem cozidos.

Chegou até a receber conselhos. Mike e Jasper a alertaram sobre as vantagens de usar fogo baixo. Parece que a esposa de Mike era boa cozinheira, embora pouco confiante.

Não que os homens costumassem falar sobre a vida pessoal em demasia. Ou a respeito de qualquer coisa, a propósito. Normalmente limitavam-se a comer em silêncio, ficando em pé quando convidados a falar.

Não usavam chapéu enquanto comiam. E sempre tinham o cuidado de removê-lo quando estavam na presença de Bella. Mais à vontade com a arte da conversação eram Angella e Leah Benton, que haviam lhe telefonado após a celebração de quatro de julho, oferecendo-lhe receitas fáceis para ela tentar fazer. Até mesmo deixara de pensar em seus objetivos de carreira na área de propaganda. E isso estava aliado, em grande parte, ao fato de Luke não gostar de brócolos.

Quando o menino lhe disse que não comeria o vegetal embora nunca tivesse experimentado, ela considerou a hipótese de usar corante alimentício azul para transformar os brócolos em "um tipo de vida azul de outro planeta".

Até chegou ao ponto de colocar brócolos azuis em um pote com rótulo do "Planeta Zargot" que criara em seu laptop e imprimira, antes de decidir que estaria traindo a confiança de Luke se fosse adiante.

Foi quando percebeu que queria trabalhar na venda de produtos nos quais realmente acreditava, como o Molho Para Churrasco Billy, e não com produtos que exigiriam que ela enganasse o consumidor para que fossem comprados.

E quanto a Luke, Bella tinha feito sopa de pimentão vermelho, receita de Angella, e o menino adorara. Além disso, comia feijões verdes como ninguém. Por isso não havia necessidade de obrigá-lo a comer brócolos.

O som da voz de Billy interrompeu sua divagação.

— Não estou dizendo que você é incompetente. Digo apenas que pode estar apaixonada. Há uma diferença.

— Não estou apaixonada!

A raiva de Bella fez Billy dar dois passos para trás.

— Ei, estou apenas tentando ajudar.

— Então ajude-me a colocar esta luminária do outro lado do sofá.

Por hora, ele limitou-se a obedecer.

—----

Bella pela primeira vez notou que faltava um botão na camisa de Edward quando ele se sentou à mesa para almoçar no dia seguinte. Era uma das poucas camisas que não tinha botão de pressão.

Ele provavelmente a usava porque Bella estava um tanto atrasada com a lavagem de roupas por causa da reforma da sala de estar.

— Está faltando um botão. Vou pregá-lo.

— Não tenho tempo — Edward começou a falar, mas ela já estava com uma agulha, linha e botão na mão.

— Não, não tire a camisa.

Não precisava que Edward ficasse ali, de peito nu, na cozinha dela. Bem, a cozinha era dele. Mesmo assim, não o queria seminu.

Bem, era preciso admitir. Realmente não o queria seminu. Queria-o totalmente nu.

"Pare com isto!", ordenou-se. "Faça apenas seu trabalho. Pregue o botão e impressione-o com suas habilidades na costura".

— O botão fica perto da cintura. Puxe a camisa para fora da calça, e eu pregarei o botão sem que você precise se despir.

Quando Edward obedeceu, ela disparou a falar, evidentemente nervosa.

— Não sou tão boa com uma agulha quanto sua bisavó era. Eu vi os bordados dela no escritório. São impressionantes!

Com a cabeça para baixo, manteve a atenção focada na agulha e na linha. Dentro e fora. Dentro e fora. Na única vez que olhou para cima, quase bateu a cabeça no queixo de Edward.

Ele, por sua vez, não falava muito. Mas Bella podia sentir o calor que seu corpo emanava, atraindo-a para mais perto. Seus dedos tremiam. Devia ser porque tentava costurar com rapidez. A tensão irradiava de ambos.

— Pronto!

Terminou enrolando a linha ao redor do botão diversas vezes. Somente então percebeu o que havia feito.

— Oh!

— Não gosto que uma mulher com uma agulha na mão diga "oh!" — exclamou Edward.

— Parece que sua camisa de alguma maneira foi costurada na minha.

— De alguma maneira? — repetiu. — Sei exatamente como. Você está tentando me deixar louco!

— Ei — rebateu -, foi um engano de verdade...

O restante da sentença foi abafado pelos lábios de Edward sobre os dela. Conforme já acontecera no celeiro, não houve qualquer hesitação nem clima estranho antecedendo o beijo. Apenas um calor imediato e um desejo instantâneo.

Edward repetiu a provocação com a língua no céu da boca de Bella de um modo que ela achava incrivelmente sedutor. Mãos ásperas envolviam seu rosto, mantendo-o no lugar.

Mal tinha consciência de que ainda segurava a agulha, mas teve o bom senso de usar a outra mão para puxá-lo para mais perto.

Ah, assim era melhor. Não podia haver uma agulha entre os dois naquele momento em que estavam abraçados tão fortemente. Nada poderia ficar entre eles.

Apenas o som de uma voz grave foi capaz de separá-los.

— Puxa vida!

—----

Bella afastou-se de Edward tão rapidamente que arrancou o botão recém-costurado.

Não apenas isso, mas o tecido da camisa também se rasgou, abrindo um enorme buraco na cambraia azul.

Devia estar envergonhada por causa do flagrante em situação comprometedora, mas parecia anestesiada. A constatação de que Edward não era tão indiferente a ela como alegara ser era inebriante.

A despeito de todos seus clamores em contrário, o modo como a havia beijado era especial.

Beijara-a como se precisasse dela, tanto quanto de ar para respirar e água para beber. Como se Bella fosse necessária para sua existência. Como se não pudesse agüentar um minuto mais sem saborear sua boca e acariciar seu rosto.

Dissera-lhe que Bella o estava deixando louco. Nenhum homem dissera isso antes para ela. E sentia-se da mesma maneira em relação a Edward.

A expressão dele, entretanto, não lhe dava mais pistas. Billy, por sua vez, parecia ter comido uma das refeições horríveis de Bella e estava ansioso por cuspi-la.

Alguém tinha de romper o silêncio.

— Eu estava pregando um botão na camisa de Edward.

Não era a mais brilhante das explicações, mas felizmente Billy não fez qualquer comentário.

— Tudo está... bem... agora — acrescentou ela.

Melhor assim. Embora houvesse sido apanhada em flagrante, seu coração estava transbordando de felicidade.

Não era a única dominada por aquela atração selvagem. Edward era tão vítima quanto ela. Bom saber que estavam em uma rua de mão dupla. Não era a única apaixonada...

Bella arregalou os olhos. Apaixonada? Seria isso mesmo? Se fosse, explicaria muita coisa.

Apaixonada. Por Edward. A ideia era assustadora e excitante. Precisava de tempo para organizar os pensamentos.

— Vou deixá-los a sós — murmurou Bella.

Assim que ela deixou o ambiente, Billy virou-se para Edward.

— Está maluco, filho?

— Provavelmente — murmurou, colocando a camisa de volta para dentro da calça.

— Aquela garota está caída por você como uma novilha em uma poça de lama.

— Aquela garota é nascida e criada na cidade — rebateu Edward. — De modo algum é como uma novilha em uma poça de lama. Talvez seja uma linda borboleta que ficará aqui enquanto tudo estiver bem e que irá embora quando houver o primeiro contratempo.

— De jeito nenhum ela é uma borboleta. Uma borboleta teria voltado para New York no mesmo dia. Ou no dia seguinte, quando os gêmeos a amarraram à cama. Ou no outro, quando viu Dallas no banheiro. Ou...

Edward estendeu as mãos em relutante concessão.

— Está bem, então ela manteve a promessa e ficou. Mas será apenas durante o verão.

— Ela não é uma flor delicada. Aquela mulher pode viver aqui. Tem fibra suficiente para fazer uma nevasca retroceder. Mesmo assim é delicada e paciente com as crianças. E está transformando este lugar em um lar, caso ainda não tenha notado.

— Notei.

— Percebi que notou. — Billy fixou nele seu olhar perscrutador. — Foi por isto que estava beijando Bella?

Ele deu de ombros.

— Como você falou, foi uma loucura.

— Apenas se você estiver arrependido.

Edward arrependia-se apenas de sentir atração por uma mulher que certamente iria embora. Era como flagrar um estouro de boiada e pedir ao gado que se acalmasse.

Mas não poderia dizer com honestidade que se arrependia do beijo. Não. Fora tão bom! Mais do que bom.

Não era um homem poético capaz de fazer belas descrições.

Sabia apenas que um beijo nunca o afetara daquela maneira antes. Mas isso não mudava os fatos.

— Ela não é do nosso tipo.

— E qual é o nosso tipo? — Billy quis saber.

— Ela não é daqui.

— Tania era dos arredores — Billy ponderou. — Isto não pareceu ajudar em nada.

— Tania era uma garota da cidade — Edward falou, enfatizando a última palavra.

Billy deu de ombros, obviamente não impressionado com a lógica do filho.

— Os problemas de Tania vinham do caráter dela e não da geografia.

— Não precisa defender Bella assim.

Edward estava ficando bravo pelo modo como seu pai agia. Pelo que sabia, era Edward o injuriado ali, dividido por um dilema.

— Ela é bem capaz de cuidar de si mesma. E quanto a mim, após meu primeiro casamento imune ao amor. — Dissera as palavras para tentar sentir-se melhor. — Meu coração pertence aos meus filhos.

Billy o encarou com ceticismo, o mesmo olhar que lhe dirigia quando criança, nas ocasiões em que sabia que Edward estava prestes a fazer uma bobagem.

— Ela gosta muito desta fazenda. Você será um tolo se deixá-la partir.

— Bella não irá a lugar algum até as crianças voltarem para a escola. Então retornará à velha rotina, e eu...

— Estará aqui, onde estava antes disso tudo começar — Billy o interrompeu. — Tire as vendas dos olhos, garoto. Elas estão afetando sua visão. Não precisa se sentir intimidado ou temeroso. Estou lhe dizendo, ela é uma pessoa estável.