2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 17
Loucuras na casa do louco




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No capítulo anterior, Cebola teve a idéia de que a turma se reunisse para providenciar a fuga deles para longe, mas eles estão esbarrando com vários problemas e obstáculos.

Encontrar a casa do Louco não foi uma tarefa difícil. Bastou apenas ele indicar o endereço e nada mais. Mônica, Cebola, Cascão, Magali e Franja encontraram a casa sem nenhum problema. Afinal, quem mais em sã consciência teria uma casa com telhado cor de rosa e tombada para o lado?

O fato de a casa dele ficar entre dois prédios tornava aquilo ainda mais estranho. Pelo visto, o bairro estava passando por transformações, onde pessoas vendiam seus terrenos para construtoras ávidas em construir prédios e lucrar vendendo apartamentos minúsculos a preços exorbitantes.

Licurgo tinha ouvido tudo o que seus alunos tinham dito com atenção. Quando Mônica lhe procurou pedindo para que conversassem com ele, o louco já sabia do que se tratava. Os pais daqueles jovens estavam resistindo a idéia de irem embora e eles precisavam de ajuda.

Após explicar seu plano, Cebola perguntou.

- O que acha, prof.?
- Eu acho que vamos tomar um pouco de sorvete para esfriar as idéias.
- ???
- Esperem um pouco. Vamos ver o que temos aqui...- ele foi caminhando para a cozinha e falando ao mesmo tempo. – tem de guacamole, azeitona, tapioca, bacuri e de jiló. De qual vocês vão querer?
- Hã... eu não vou querer não, obrigado. – Franja não se sentia disposto a provar nenhum daqueles sabores.
- Ora, não façam cerimônia! Eu particularmente gosto do de parmesão com pimenta, só que esse acabou. Tudo bem, seus indecisos! Já que não querem escolher, então vão provar um pouco de cada!

Os jovens entraram em pânico quando Licurgo colocou na frente de cada um uma taça de bom tamanho contendo várias pequenas bolas de sorvete com sabores que ninguém jamais pensou em provar.

- Vocês também podem colcoar cobertura a vontade. Tem catchup, mostarda, leite condensado, maionese e vinagre balsâmico. – ele foi falando enquanto colocava um pouco de cada em seu sorvete.

Magali acabou colocando leite condensado em seu sorvete numa tentativa de disfarçar os sabores malucos que aquele homem tinha colocado em sua taça e após provar, acabou gostando apesar de estranhar os sabores de guacamole e azeitona.

Após comer umas boas colheradas, ele finalmente lembrou-se da razão da visita deles.

- Sabe o que eu acho do seu plano, Cenoura?
- O quê?
- Que é tão sem sentido quanto sorvete de chocolate com baunilha ou goiabada com queijo! Seu plano é totalmente louco!
- Mas...
- Mônica, por acaso você andou dando coelhada na cabeça do Cenoura de novo?
- Hã?
- Que coisa! Roubar é contra a lei. Será que ninguém aprendeu isso na escola?

Cebola se recuperou do susto e tentou se defender.

- Tá, a gente sabe disso, só que a situação é diferente!
- Não tão diferente a ponto de justificar esse tipo de coisa. Será que vale a pena salvar a vida e estragar a alma?

Eles ficaram olhando para o estranho homem enquanto ele lambia sua taça de sorvete calmamente e sem se importar com a presença deles. Mônica perguntou.

- O que a gente faz então? Nossos pais não acreditam na gente.
- Roubar não vai fazê-los mudar de idéia.
- Só que não podemos ficar parados esperando o dia chegar. – Franja também falou após engolir seu sorvete com dificuldade.
- É claro que vocês não podem ficar parados! Sedentarismo faz mal pra saúde!
- ...

O professor assumiu um ar mais sério e falou olhando para eles com um olhar tranqüilo.

- Eu sei que é difícil, sei que vocês terão que trabalhar muito duro, mas esse deve ser o caminho.
(Cebola) – O problema é que conseguir um emprego já difícil pra nós. A maioria só vai poder trabalhar em meio período recebendo uma mixaria. Quer dizer, acho que na melhor das hipóteses, talvez consigam passagem para um, talvez dois ou três se tiverem muita sorte.  

Franja concordou e completou.

- Nesse passo, nunca vamos conseguir o dinheiro pra fugir daqui! Só se deixarmos alguns parentes para trás e isso não é justo!

Licurgo balançou a cabeça e falou muito sério.

- Entendam uma coisa desde já: muitos ficarão pelo caminho. Não será possível salvar a todos.

Magali colocou sobre a mesa a taça que ainda estava pela metade. Seu estômago se revirou de tal forma que ela não conseguiria comer nem o mais delicioso sorvete do mundo.

Cebola abaixou a cabeça, procurou engolir as lágrimas e encarou seu professor novamente.

- Pode ser que não seja possível salvar todo mundo, só que com os recursos que a gente tem agora, não vai dar pra salvar quase ninguém! E na boa, será que adianta ficar com moralismo agora? O mundo vai acabar mesmo e a maioria das pessoas não vai precisar desse dinheiro!
- Não se trata apenas de sobreviver, Cenoura. É muito mais do que isso.

Ao ver que os jovens estavam prestando atenção, ele continuou ajeitando seus óculos.

- Depois que tudo acabar, restará aos sobreviventes juntar os cacos e seguir em frente. Tudo será reconstruído e renovado. Não podemos deixar que essa nova civilização seja apoiada por uma base podre. Esse tipo de mentalidade não terá espaço no novo mundo.
- E o que a gente faz então?

Ele deu um sorriso maroto e respondeu.

- Se o problema é um lugar para ficar, então sosseguem que eu já dei um jeito nisso.
- Como? – todos perguntaram ao mesmo tempo com os olhos arregalados.
- Ao contrário da grande maioria das pessoas, eu já sabia de tudo isso, embora não soubesse a data certa. Mas sabia que ia acontecer, então me preparei com antecedência, muita antecedência.
(Franja) – Quer dizer que você já tem um lugar pra viver quando tudo acabar?
- Não só para mim como para dezenas de outras pessoas também. Vai ter lugar para todo mundo lá. E se não der... Bem... A gente dá um jeito, certo? sempre vai ter espaço para mais um!

Eles ficaram um tempo sem falar nada, só olhando para a cara do professor. Mônica quebrou o silêncio.

- E onde fica esse abrigo?
- Na Chapada dos Guimarães, é claro! Onde mais poderia ser? A dos Veadeiros é boa, mas essa é o melhor lugar para estar quando tudo isso vier abaixo!

Franja coçou a cabeça, trocou alguns olhares com Cebola e quis saber.

- Por que esse lugar é seguro? O que tem lá?
- Existem na Terra locais de grande concentração de energia cósmica. No caso da Chapada dos Guimarães, eles são beneficiados pelo Corredor Bivac.
- O que é isso? Nunca ouvi falar! – Franja perguntou coçando a cabeça.
- Humpt! E ainda se diz cientista! O Corredor Bivac é um corredor eletromagnético que abastece a região com grande quantidade de energia cósmica. É isso que protege esse local. Há outras áreas assim na terra, mas essas estão mais longe ainda. A Chapada dos Veadeiros também tem boa concentração de energia cósmica, mas a dos Guimarães é uma escolha melhor.

Cebola deu de ombros e disse.

- Então tá, mas nós ainda temos um problema: como vamos conseguir chegar até lá? Você já tem o abrigo, mas nós ainda não temos o dinheiro pras passagens!
- Se querem um conselho, melhor começarem a trabalhar desde já. Posso recomendar empregos, dar sugestões, mas apenas isso. O resto terá que ser pelo esforço e mérito de vocês. Vamos, não façam essas caras! Vocês sempre saíram de grandes apertos!
(Mônica) – Mas nunca presenciamos o fim do mundo, dá um desconto pra gente né?
- Tolinha, o mundo não vai acabar! Está certo que muitas catástrofes irão ocorrer, mas isso não significa o fim da raça humana. Ao longo da história, civilizações apareceram e desapareceram.

Não adiantou insistir muito, Licurgo permaneceu irredutível. O dinheiro tinha que ser obtido por meios lícitos. Nada de roubar, desviar, enganar ou lesar as outras pessoas. Aquilo estava fora de cogitação. Eles foram embora dali bastante desanimados. No meio do caminho, Mônica viu como seus amigos estavam com a moral baixa. Não era para menos, ela própria não fazia a menor idéia de como conseguir aquele dinheiro. Quando precisava de um complemento para a mesada, ela passeava com cachorros e conseguia alguns trocados. Ela nunca tinha trabalhado fora na vida e não sabia como ia conseguir o dinheiro para ela e para seus pais.

Apesar de todas as dificuldades, sua teimosia acabou falando mais alto e ela virou-se para os amigos.

- Olha, gente... acho que não tem jeito. Vamos ter que pôr a mão na massa!
(Cascão) – De trabalhar e me sujar eu não tenho medo não! Acontece que eu não vou conseguir ganhar um salário que dê pra comprar passagens pra mim e pros velhos!
(Magali) – O Quim ainda pode trabalhar e fazer bolos, mas e eu? Nem cozinhar direito eu sei!
(Cebola) – É mesmo, mô! O que a gente pode fazer?

Franja permaneceu em silêncio, ouvindo os amigos. A situação dele era relativamente boa porque além do salário que ele recebia trabalhando no museu, ele também tinha invenções em seu laboratório que se vendidas, poderiam render um bom dinheiro. Mônica continuou.

- O que a gente pode fazer? Vou falar a verdade? Não faço a menor idéia e estou morrendo de medo! Mas ainda assim desistir eu não vou! Se eu não conseguir, foi porque não fui capaz e não porque não tentei!

Cebola sorriu e colocou um braço ao redor dos ombros dela.

- Você tá certa. Eu também não vou desistir. Vou dar um jeito, me virar do avesso, sei lá! Mas desistir eu também não vou!

Cascão acabou sendo contagiado pelo ânimo dos dois.

- Que Mané desistir o quê! Eu também vou dar o melhor de mim!
(Magali) – Eu também!
(Franja) – Eu não vou desistir tão fácil. A gente acaba dando um jeito!

Com os ânimos redobrados, eles voltaram para a casa do Cebola a fim de continuarem o planejamento. Ninguém ali pretendia entregar os pontos com tanta facilidade.


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